Adotada Pela Loucura

Capítulo 45- Eu quero ir embora.


Olá de novo. Bem, eu só vim dizer que vou parar de assustar vocês com os meus comentários estúpidos e tediosos. Ou talvez não pare, porque preciso dar um tapa na cara da sociedade.

[...]

Eu coloquei a cabeça mais fundo no sofá.

– Cara...

– O que?- Ele disse comendo metade do pacote.

– Vocês são muito drogados... no bom sentido. Nunca fiz a porra de uma guerra de nuttela.

– Normal. Somos todos estranhos. Metamorfoses Ambulantes.

Eu abri um sorriso.

– Algumas pessoas têm preconceito, por as pessoas serem malucas, doentes, ou más.

– Já fui amigo de um cara desse tipo.- Ele fez uma pausa coçando o olhos e tentando piscar.- Eu mandei ele se foder.

– Só isso?- Disse arqueando a boca.

– Não, matei ele depois.- Ele colocou o resto do pacote na boca, e se levantou.

– Zoeragem legal essa a sua.- Eu disse baixo.

– A zoeira faz parte do nosso corpo. É normal.- Ele disse se jogando no sofá.

Eu fiquei em silêncio por alguns instantes.

– Cara, você já sorriu de verdade?

Ele fez uma cara de confuso pra mim e começou a morder a própria mão.

– Acho que não...- Ele disse baixo olhando pra parede.

– Você ao menos já tentou? Quer dizer, hoje em dia é legal ser fora da lei pra algumas pessoas, porque elas acham que vai ser legal, mas depois elas se sentem estranhas...

–... O que?- Ele disse.

– Hum... vou tentar explicar. Elas acham que têm problemas mentais, e fazem aquilo que está na moda. Depois se arrependem e querem voltar ao normal, mas não têm mais volta...

– Ah, entendi. Tu é muito confusa garota. Falando em garota, cadê aquela sua amiga com medo de balões?

Eu comecei a rir, tinha esquecido que Alicia tinha medo de balões, principalmente aqueles que são luvas.

Flash-Back...

Era aniversário da Alicia, e eu tinha feito um cartão, comprado um presente, e o amarrado com vários balões.

Eu caminhei até o quarto dela, e bati na porta, ela abriu com cara de sono.

– Ah, oi Annie...- Ela deixou os olhos semi abertos, e depois os arregalou.- JESUS CRISTO, O QUE É ISSO?!

Olhei pro presente.

– Am... Feliz Aniversário.

– Ba...Balões?- Ela disse apontando pra eles.

– É, pensei que gostaria.- Disse sorrindo.

– Tira eles da minha frente...- Ela disse quase chorando.

– Porquê?!

– Eu odeio balões, olha a cara deles!- Ela gritou apontando pra alguns deles.

– Mas nem um deles têm cara...- Disse baixo.

– CLARO QUE TÊM! Olha pra esse! Parece que ele está dizendo " Tu tá ferrada na minha mão..."

– Alicia...

– MATA ESSAS COISAS!

– SÃO BALÕES! Como eu mato isso?!

– Sei lá, facadas, estoura... Tanto faz, essas coisas NÃO SÃO DE DEUS, ZEUS, BUDA E TUDO MAIS!

– Tá, pega pelo menos a caixa.- Eu disse.

Ela tirou o presente da minha mão, que estava junto com o cartão e foi fechando a porta devagar com os olhos semi-cerrados.

A porta se fechou e eu estourei os balões.

– O.k, isso vai pra " Lista de coisas que tenho que saber e lembrar, sobre a Alicia". - Eu falei estourando o último.

Flash-Back//

– É mesmo, tenho que falar com ela... A gente podia visitar ela, né?

– NOPE, se você entra em um orfanato, precisa adotar, se não adotar as freiras te matam.- Ele disse.

–...

– É sério, quando fui pela primeira vez em um da cidade procurando você, e sai sem nem uma, fiquei com pavor de freiras. Elas te encaram como se você fosse queimar no inferno.

– Mas você vai.- Eu disse.

– Obrigado pelo consolo.

Eu vi algo pular de lá de cima, o que fez eu cair de costas do sofá.

– SE FUDEU!- Jeff gritou apontando pra mim, com as costas no chão.

– Ha-ha, claro, regra número um do que fazer quando uma pessoa cai.- Disse revirando os olhos.- Uma ajuda também seria bem-vinda.

Jeff me puxou e começou a rir Jane olhou séria pra mim.

– Foi mal, eu tenho costume em fazer isso.

– Parkour pela casa? Claro, faço isso toda manhã.- Disse.

– Não, pular da escada mesmo.- Ela abriu um sorriso.- CARA, tá muito quente.

– Oh, Really?- Jeff disse.

– Jeff. Para. Com. A. Ironia.

– Não. Pode. Me. Obrigar. Sou.Mais.Velho.Caralho.

– Gente poderiam parar de falar pausadamente?

– Não.

– Isso é legal. Você também faz.- Jeff disse.

– Mas eu posso, vocês fazendo fica escroto.

Ele revirou os olhos e começou a fazer um gesto pra eu ficar quieta.

– Desculpa, não sou muda ou surda pra entender sinais.

– Então só fica quieta porque quero terminar a discussão.

Eu levantei os braços pra cima.

– MI-MI-MI. Pode continuar, barraqueiro.

– Enfim.- Disse Jane.- Sou mais madura que você Jeff, acho que até a Malennie concorda.

Os dois olharam pra mim.

– O Jeff pediu pra eu ficar quieta, não vou dar opinião.- Falei cruzando os braços.

Jane esfregou as duas mãos na cara com força.

– Tá,tá, pode falar.- Jeff disse.

– Jane têm razão.

– O QUE?!- Jeff gritou.

– Se.fodeu.

– Ah, qual é, pelo menos eu nunca fui muito otário, pra deixar, VOCÊ, MORRER.- Ele disse olhando pra Jane.

– Ah, AGORA A CULPA É MINHA?!

– É.- Eu disse séria.

– Se ela disse é porque tá certo.- Jeff disse abrindo mais o sorriso.

– Claro, uma gosma por todo o lugar, consumindo tudo, quase comendo meu corpo viva e eu vou ajudar as pessoas.

Eu fiquei quieta por um tempo segurando a risada.

– Eu pensei merda.- Eu falei abrindo um sorriso malicioso.

– Meu deus, para com isso. Nem eu pensei.- Jeff disse se afastando de mim.

–Não é meu problema se eu sou assim.

– É sim.- Jeff disse.- Agora a gente devia ficar em silêncio, são oito da noite estamos gritando.

– São vizinhos. Não importa.- Jane disse.

– Verdade, vizinhos não são legais.

– Tanto faz, tá tarde vai dormir.

Eu apontei pro relógio, faltava pouco pra nove horas.

– Se aquilo é tarde, eu não sei o que é cedo.- Disse balançando o dedo.

– Malennie.

– É, Annie. Repita isso e te mostrarei Nárnia.

– Muito medo de você.- Jeff disse.

– Na verdade deveríamos ter, é cada merda que acontece quando estamos com ela.- Ela disse apontando pra mim, como se fosse uma coisa.

– Quanto amor,Jane.

– Que isso, te adoro.- Ela disse.

– Imagino.-Disse.

– Blá-blá-blá, Malennie você precisa ir dormir. Zalgo disse que você precisa ficar de repouso.

Eu revirei os olhos.

– Tá! Boa noite pra vocês. Não façam coisas erradas se é que me entendem.- Eu disse subindo as escadas.

– NÃO SOU CASADO COM ELA!- Jeff gritou.

– SÓ SOMOS AMIGOS... INIMIGOS!- Jane gritou.

– E eu acredito.- Disse entrando no meu quarto e me jogando na cama.

Eu peguei em um sono pesado, não ouvindo nem os dois gritando, ou vendo Smile chegar ao meu lado.

Estava afundando, não conseguia abrir os olhos, barulho de água pra todo lado. Eu abri os olhos, vi meu cabelo comprido, levantando-se, eu estava em uma água esverdeada, respirando.

Nadava a procura de uma saída, algo me puxando para baixo cada vez mais, e quando olhava pra trás, via a água descendo e ficar negra. Acabei batendo em um vidro o olhando perto, vi Jane e Jeff olhando pra mim e rindo sem parar. Jane estava com um bebê no colo, e as outras pessoas, e familiares, estavam todos rindo. Alicia estava com um olho vermelho, e outro verde, sangrando e rindo. Lia também... Philip apontava pra mim sem parar.

Olhei pro lado oposto do vidro, e vi minha mãe de sangue, chorando, rasgando a pele dos braços e balançando a cabeça. Meu pai ria de mim também. Olhei pra trás do vidro, estava presa em uma espécie de aquário. Outras crianças aparentemente da minha idade, mortas, boiavam por toda parte. Algumas sorrindo, outras com os olhos costurados e bocas.

Coloquei minhas mãos no vidro e continuei olhando pra todos, apertei meus olhos e arranhei o vidro, que se partiu e tudo quebrou. De repente estava em um fundo escuro, com as pessoas esperando minha morte, eu com um vestido vermelho e preto, com uma fita no cabelo, e botas pretas longas. Amarrada por correntes e amordaçada. Eu olhava preocupada, me mexendo tentando arrancar as correntes. Comecei a puxar elas, que foram se soltando, meu braço escorregava pelo sangue escorrendo. Eu tirei a mordaça, e sorri. Arranquei a fita do meu cabelo e a joguei no chão. Comecei a correr por algum lugar, com minha roupa caindo, se transformando com uma calça ensanguentada, uma blusa também. Metade de meu rosto estava normal, e a outra parte com os olhos negros, um sorriso com dentes afiados e olheiras amostra. Ouvia as pessoas gritando a minha morte. Até que parei, fazendo meu tênis rangir. Eu vi uma cova com meu nome escrito, e Jane do lado dela, rindo.

Você nunca será bem-vinda... Malennie.

Levantei com os olhos sangrando, tentei os limpar, e olhei pra janela. Já estava de manhã. Eu ouvi Jane gritando, e Jeff também.

Eu desci as escadas correndo, e Vi Jane chorando e Jeff tentando a calmar.

– OQUE ELA VAI PENSAR DISSO?!- Jane gritou.

ELA VAI TER QUE ACEITAR!

Eu fiquei parada na frente dos dois assustada, os dois olhando pra mim.

– Eu... eu sei o que aconteceu com você. Jane.- Eu disse olhando pra ela com o sangue ainda escorrendo.

– Ai merda.- Jeff disse baixo.

– Ma...Malennie, a gente precisa falar sobre isso.

Eu comecei a chorar.

– FALAR? FALAR?! Você me odeia Jane, fala logo. EU SEI, EU NÃO ME IMPORTO. EU NÃO QUERIA SER A ESCOLHIDA, EU NÃO QUERIA. PODIA SER QUALQUER UM, MENOS EU. EU SÓ TRAGO PROBLEMA PRA VOCÊS NÃO É?!

– Malennie se acalma!

– COMO?! Vocês não deveriam ter me escolhido! Jane, está na hora do acerto de contas! Fala pra ele.- Eu disse olhando pra Jeff.- DIZ, oque você fez comigo. OU EU MESMA DIGO.

– Oque diabos está acontecendo aqui?!- Jeff disse.

– FALA JANE!

– O que ela quer dizer com acerto de contas, Jane?- Ele disse olhando pra ela com raiva.

Ele a colocou contra a parede.

– DIZ. -Ele disse.

Ela chutou o estômago dele e o jogou contra o sofá. Jeff se levantou, e a pegou pelo braço o apertando com força. Ele puxou e torceu o braço dela, ela gritou, e com o outro braço socou a cara dele. Ela ficou em cima dele e segurou os dois braços dele.

Ela pegou uma faca do bolso e a encravou no braço dele.

– SUA ESTÚPIDA.- Ele gritou a jogando pra longe, e ele retirando a faca de seu braço.

– EU NUNCA QUERIA TER TE CONHECIDO JEFF.

– VAI PRO INFERNO JANE!- Jeff estava quase matando Jane, e eu puxei ele pro outro lado.

– CHEGA! Eu tô muito perturbada. Jane eu sei o que há com você. Eu sei, que me odeia. Sei que não queria nunca que eu tivesse nascido. Eu também, não queria.- Eu fiz uma pausa.- Mas a merda de uma briga, não vai adiantar em nada. Se o que eu estou pensando, está acontecendo com você... Eu quero ir embora daqui.

Jeff me olhou desesperado e Jane abriu um sorriso.

– Você não pode fazer isso!- Jeff gritou segurando meu braço.

– EU POSSO.- Eu disse.- Eu sei que ainda não sou da família... e que se eu não quiser mais ser a escolhida... eu posso escolher isso.

Eu olhei pra ele. Ele jogou meu braço, e vi pela primeira vez uma lágrima escorrer pelo rosto dele.

– Você não ousaria... Depois de tudo isso? Você esqueceria de tudo. De mim, Lia, Smile...

– Se eu não sou bem-vinda.- Eu olhei pra Jane.- Espero que pelo menos, esse novo membro da família seja.

Que o passado volte.

" Minha querida, sempre esperei o melhor pra você, mas será que você está fazendo o melhor... pra você?"

[...]