Prólogo


Manoela Saraiva – 4 de abril de 2013.


É difícil de entender, mas ouvi dizer que as pessoas realmente felizes não têm as melhores coisas. As melhores roupas ou os melhores carros. Elas conseguem viver com o pouco que tem e ainda sim carregam um sorriso no rosto. Nem todos conseguem compreender como podem elas ser tão felizes, assim como nem todos sabem amar, pois amar é uma arte, mas nem todos são artistas.

Foi pensando nessas ideias que consegui entender os anseios e sonhos de uma pessoa, uma criança, especificamente.

Há anos atrás conheci uma menina linda, com personalidade incrível e bondade extrema. Pâmela foi minha amiga por anos e eu talvez tivesse sido sua única companheira além da mãe Sally Guimarães. Por mais que eu procure, sei que nunca conhecerei um alguém tão puro e iluminado como aquela menina.

Faz anos que não a vejo, quero dizer... Ela está aqui na minha frente agora, mas é como se não estivesse. Pâmela sempre tão alegre iria adorar que eu compartilhasse sua história e então aqui estou eu para contar tudo que vivi com minha amiga. Escrevo esse relato desde que toda a tragédia começou e agora penso em quando terá um fim.

Bom, antes que me perguntem quem sou eu, meu nome é Manoela Saraiva, colega de classe de Pâmela e a única que a conheceu bem. Ela nunca soube o quanto eu a adorava. Para mim, Pâmela sempre foi uma amiga, mas eu nunca tive a oportunidade de dizer isso á ela.

Toda a história desta minha amiga se passou nos anos 90 quando eu e ela éramos crianças. Ela tinha muitos sonhos e um deles envolvia a música. Assim como eu, ela era amante dessa arte e nós compartilhávamos muitas vontades e sonhos que envolvessem a música. Pâmela queria ser cantora e tenho certeza que ela conseguiu seu objetivo.

Mas nem tudo tem sido fácil pra nós. Morávamos em São Joaquim da Barra, uma pequena cidade do interior de São Paulo.

Eu e Pâmela vivíamos em uma área afastada do centro e as informações e novidades custavam á chegar. Nunca tivemos dinheiro e então vivíamos em condições muito precárias.

A rotina escolar me cansava muito e a única fuga disso tudo era a música. Eu ficava horas estudando para melhorar e um dia ser a melhor musicista. Pam fazia o mesmo, mas ela gostava de cantar. Várias vezes eu a ouvia cantar baixinho no banheiro ou quando estava sozinha na sala de aula. Tenho que confessar, sua voz era linda, mesmo sendo tão jovem.

Nossas vidas pareciam traçadas á um único destino: o anonimato. Parece que iríamos sempre continuar sozinhas, sem futuro e esperança, mas depois do acidente, devo dizer que tudo realmente mudou para ela e para mim também.

Foi numa terça-feira de abril quando tudo aconteceu. Ninguém esperava pelo acidente, pela tragédia e pelo coma...

Sim, isso mesmo. Minha colega sofreu um atropelamento acidental e isso lhe trouxe sequelas terríveis. Ela teve traumatismo craniano e... Bom, isso á levou ao coma vigil, o qual a pessoa fica anos deitada numa cama sem ao menos responder a qualquer estímulo. Já perdi a conta de quantos anos eu estou aqui, só a observando. Tão calada, tão serena, tão frágil.

Já não sou aquela adolescente esquisita e entendo bem melhor toda a situação dela agora. Mas por favor, não pensem que desistimos. Eu e sua mãe ainda temos esperança que ela irá acordar e quando o fizer, eu vou estar aqui para ser a amiga que ela nunca teve.

Sei que Pâmela jamais iria aprovar essa visão pessimista que eu tenho. Afinal, ela sempre foi tão alegre que parecia não ter problema algum. Por isso, eu vou deixar que ela mesma conte a própria história á quem ler esse relato. Em mãos, tenho o diário dela e com isso poderemos conhecer melhor quem foi a jovem Pâmela.