Accelerator e Last Order- 6 anos depois...

Ferimentos e arranhões valeram a pena...


Eram 14:35, quando olhei no relógio. Meu primeiro pensamento foi: por onde a Aiho poderia estar? Bem, eu sei, ela é independente, mas acho estranho demorar tanto para chegar, principalmente nos finais de semana. Ela geralmente está por aqui neste horário, sei disso porque quando me canso de ficar no colégio, volto para casa às escondidas.

Passei boa parte de meu tempo, refletindo sobre minhas amigas, e acho que isso não me ajudou em nada! Fico sempre curiosa quando vejo a Yue contando algo para a Shirai (ou Shirai contando algo para a Yue), mas nunca tive “coragem” de perguntar o que é. Minha curiosidade nunca vai ultrapassar meu orgulho. Faço de tudo para não parecer que estou interessada nas besteiras delas. Infelizmente, isso está ficando cada vez mais difícil.

Eu sou uma garota perdida! Acho que nunca parei pra pensar o quanto ruim são minhas notas. Bem, não são terrivelmente ruins, mas de todo jeito, são ruins! Entre 12 matérias, acabo perdendo em quatro ou cindo! As que consigo passar, geralmente então na média. Não me considero uma aluna desinteressada, o problema é que os professores nunca estão ao meu favor. Mas a Judgment também tem sua culpa. Se não precisassem tanto de mim, eu teria tempo o suficiente para me dedicar.

Não entendo como a Shirai consegue notas tão boas (com boas eu quero dizer: razoáveis, pelo menos ela não perde). Acho que a repetência dela deve ajudar, até porque, são os mesmos assuntos. Basta ter uma boa memória.

Enquanto eu estava refletindo sobre minhas “belas” notas, meu celular começou a tocar. Peguei-o, cujo estava encima da cama, e olhei o número para ter certeza de que não era a Yue ou a Shirai. Se fosse uma das duas, eu com certeza não iria atender. Mas não era nenhuma delas, era a Sayaka.

– Sayaka?

– Last! Como você está?

– B-bem. Eu sei que você não ligou para perguntar isso...

– Você adivinhou. Não liguei para perguntar isso, mas estou querendo ser educada...

– Hum, continue.

– É o seguinte, eu queria saber se você está ocupada.

– Por agora, não estou.

– Então, Last. Poderia me encontrar no parque, em frente ao lago?

– Para que?

– Eu queria conversar com você. Mas não é uma conversinha boba do dia-a-dia.

– Agora?

– Sim.

– Vou demorar uns dez minutos.

– Então tá. Te vejo no parque.

– Até.

Desliguei o celular antes de a Sayaka terminar de falar, mas com certeza não teria importância.

Coloquei o celular dentro do bolso do meu casaco branco, junto com as moedas inúteis, que eu já estava prestes a jogá-las no lixo. Ou simplesmente devolver á Misaka Mikoto. Ela não faz nem ideia de que eu tenho cópias das moedas dela.

Desci as escadas bem rápido, e quase caí encima do gatinho da Kikyou. A velha mania dele de ficar subindo e descendo as escadas sem rumo estava começando a me atrapalhar.

A Kikyou estava sentada na poltrona, lendo um livro, como de costume. Tentei sair disfarçadamente, mas ela notou quando eu estava tentando abrir a porta. A maçaneta estava completamente emperrada, e acabei fazendo barulho ao abrir a porta com força.

– Last Order, para onde vai?

– E-e-eu vou me encontrar com uma amiga.

– Não volte tarde.

– Certo.

Fechei a porta rapidamente, mas a maçaneta estava impedindo de trancar a porta. O que tinha de errado com aquela porta?! Fiquei puxando a maçaneta, mas mesmo assim, ela continuava emperrada. Então desisti de vez, e saí correndo antes que a Kikyou pedisse para fechar.

Passei pelo portão rapidamente, e comecei a correr pela calçada. Andar sozinha pelas ruas está ficando cada vez mais tenso para mim. Não é frescura, é medo mesmo! Pavor e desconforto! Mesmo tendo acabado de sair de casa, eu não via a hora de voltar!

Point of View – Accelerator

Coloquei a papelada da Anti Skill dentro de uma das gavetas da escrivaninha e fechei-a. Eram 14:45, e eu continuava entediado. Abri a porta do quarto, dei uma olhada rápida no corredor dos quartos, e percebi que não havia ninguém por perto. Dei dois passos para frente, e único barulho que ouvi naquele momento foi apenas dos meus pés no piso de madeira. Estranho...

Passei pelo quarto da Aiho, e a porta estava completamente escancarada, mas não havia nada “fora de ordem”. O quarto da Kikyou continuava a mesma coisa e por algum milagre, o quarto da pirralha estava mais arrumando do que antes. Talvez ela tivesse tido um senso do que é “bagunça” e resolveu dar um jeito naquele lixão.

Desci as escadas, e sem querer, pisei no rabo do maldito gato. Será que em vez de leite, ele tomasse energético?! Todos os dias, tardes e noites, esse gato insano fica subindo e descendo as escadas sem parar! Gato estranho!

Avistei a Kikyou lendo um livro de capa azul marinho, que aparentava ter mais de seiscentas páginas.

– Qual o problema que o seu gato tem?

– Ele está um pouco agitado esses dias. – Disse a Kikyou, desviando a atenção do livro para mim.

– Ele é estranho.

– Então, você já pensou sobre a proposta da Anti Skill?

– Não. Nem faço a mínima ideia do que fazer, mas isso está começando a ficar entediante.

– A proposta?

– Não, os meus dias!

– Ah, entendo. Last Order saiu agora a pouco.

– Para que preciso saber se a pirralha está ou não em casa?

– Bem, você parece preocupado quando cito o nome dela.

– Eu não pareço preocupado! Não é nada! Dá pra tirar essa ideia maluca da sua cabeça de vento?!

– Qual ideia?

– Você sabe muito bem, Kikyou. Não se faça de desentendida.

– Sobre a Last?

– Estamos falando dela, por acaso seria que outra pessoa?!

A Kikyou fechou o livro com o dedo marcando a página, e logo virou-se diretamente para mim.

– Fico preocupada em deixar a Last Order vagando pela Cidade Acadêmica, mas também não vou restringi-la de tudo, não é mesmo?

– E...

– E isso está acabando comigo por dentro.

– Que? O que a pirralha tem haver com seu psicológico maluco?

– Bem, gosto muito da Last, mas sinto que ela está mentindo para mim sempre que sai ou quando aparece subitamente em casa, mesmo nos dias de semana, cujo ela deveria estar no colégio.

A Kikyou tinha razão. A pirralha realmente mentia bastante. Mas, e se fosse por uma boa causa? Ou se realmente não existem mentiras para boas causas...

– A pirralha não é nenhuma criança inútil indefesa. E você sabe muito bem disso.

A Kikyou não disse nada, apenas ficou me encarando com um olhar preocupado. Comecei a andar lentamente em direção á cozinha. Talvez se eu começasse a contar meus passos devagar, o tempo passasse mais rápido...

Ao chegar na cozinha, notei que haviam caixas e bulas de remédio espalhados pela cozinha. Sinceramente, a Kikyou é uma bagunceira pior do que a Last Order. Sem contar que também haviam garrafas plásticas destampadas, papéis, e alguns livros sobre a mesa.

Bebi um copo de água tão devagar, que posso ter certeza de ter ouvido as batidas do meu coração, de tanto silêncio pela casa. Olhei em volta da cozinha, e fiquei “admirando” a bela bagunça que estava. Alguém precisava dar um jeito naquilo! Não sou nenhum perfeccionista nojento, apenas fico agoniado quando tem bagunça perto de mim.

Saí da cozinha, e a Kikyou continuava na mesma posição que estava antes de eu entrar na cozinha. Parecia uma estátua! Notei que ela estava olhando um papel encima da poltrona.

– O que é toda aquela porcaria na cozinha?

– Ah, eu estava procurando uma coisa, e acabei bagunçando um pouco a cozinha.

Um pouco?! Estava mais para “exageradamente bagunçada”.

– Irei arrumar agora. – Disse a Kikyou levantando do braço da poltrona.

Eu não disse mais nada, apenas saí da sala, e fui subindo as escadas em direção ao meu quarto.

Point of View – Last Order

Em meio a minha “corrida”, acabei tropeçando em um idoso, e tendo uma queda extremamente feia no chão. Acho que não consigo passar de um dia sem ter pelo menos um hematoma!

As feridas que tinham em minhas pernas ficaram piores, e ganhei de prêmio algumas no meu braço esquerdo. Naquele momento, um garoto que estava passando por mim se abaixou para me ajudar. Sem olhar direito para a face dele, aceitei a ajuda e levantei daquele chão sujo. Agradeci ao estranho sujeito que estava vestido completamente de preto, e depois voltei a correr em direção ao parque. Até porque, não faltava muito para chegar.

Avistei a Sayaka de longe, então parei de correr e comecei a andar mais devagar, pois meu fôlego havia esgotado totalmente!

Ao chegar onde a Sayaka estava, percebi que ela estava olhando para mim e apontando para o relógio com uma expressão de ironia no rosto.

– Bem rápida você.

– Eu corri o mais rápido que pude!

– Bem, deixando as ironias de lado...

– Hum.

– Last, eu te chamei aqui porque quero conversar algo que vem me incomodando bastante esses dias. – Disse a Sayaka olhando para o chão.

Fiquei um pouco pensativa por uns cinco segundos, mas depois voltei minha atenção para o que ela estava falando.

– Que não sejam mais problemas para mim! – Eu disse.

A Sayaka olhou para os dois lados, e logo depois começou a me encarar.

– Last, não sei se você notou, mas não acha que a Yue está agindo estranho ultimamente?

Eu sabia! Ainda bem que não era apenas eu achando isso. No começo, pensei que fosse só impressão minha, mas com o relato da Sayaka, vou me sentir muito melhor em saber que não é só eu que estou achando isso da Yue.

– Acho que sim, mas o que você quer dizer com “agindo estranho”?

– Quero dizer... Ela parece estar escondendo algo de nós.

– Com o passar dos dias, também comecei a achar isso dela... – Eu disse, me sentindo um pouco culpada por ter falo aquilo da minha melhor amiga.

– A Yue geralmente está filando os horários de Educação Física.

– O que?! – Eu disse um pouco surpresa.

Apesar de sermos colegas de quarto, eu e a Yue somos de salas diferentes. Eu estudo na mesma sala que a Akemi estuda, então geralmente somos uma dupla em trabalhos de escola e etc.

– O que filar os horários de Educação Física tem haver com os “segredinhos nojentos” da Yue? – Eu disse um pouco irritada.

– Segredinhos nojentos?

Não consegui esconder, mas acabei tendo que contar para a Sayaka sobre a Yue e a Shirai.

– Isso é um pouco estranho. Tudo bem que a Yue a Shirai são amigas, que eu não conheço tanto a Shirai quanto vocês... Mas nunca achei que a Yue fosse tão ligada a ela.

– E não eram. Eu era muito mais ligada à Shirai do que a Yue.

Naquele momento, bateu um breve arrependimento de ter apresentado uma de suas melhores amigas, para outra amiga...

– Voltando ao assunto principal... – Disse a Sayaka.

– Então quer dizer que você me fez sair de casa para falar o que eu já sei?

– Calma, Last. Não é só isso.

– A Yue está usando a Judgment como desculpa para filar as aulas, mas pelo o que eu sei, a Judgment não pode interferir nos estudos, não é mesmo?

– Não no meu caso, mas... Espere! Você disse que a Yue está usando a Judgment como desculpa?

– Sim, e tem mais: ela sempre sai com a Shirai.

A situação estava começando a ficar pior conforme o que a Sayaka dizia. Sei que não é bom desejar o mau para as pessoas, mas espero que a Yue e a Shirai sejam pegas pela supervisora quando tentarem uma de suas fugas idiotas.

– Qual o papel da supervisora em meio disso aí?!

– Também não entendo porquê ainda não foram pegas, mas acho que sei a resposta.

– Qual é então?

– As duas são teleportes, Last.

– Mas, Sayaka! Quantas teleportes já foram pegas tentando fugir do colégio?!

– Foram pegas porque não sabiam planejar a “fuga perfeita”.

A Sayaka começou a falar que para fugir do colégio sem ser pega pela supervisora precisava ter planejamento e tal. Não achei nada daquilo importante, pois já sabia muito bem disso. Eu mesma já tive a experiência, e obviamente deu certo! Qualquer um sabe que mesmo mais de dez teleportes por perto, sendo um burro ignorante não irá conseguir.

– Deixando todo esse assunto de fuga perfeita de lado, era apenas sobre a Yue e Shirai que você queria me falar?

– Não exatamente.

– Eu preciso te contar algo... Mas não me sinto muito segura para contar.

– Que?

– É um pouco difícil de contar...

– Pode confiar em mim, Sayaka. A propósito, você já disse alguma coisa sobre “isso” que tem a me dizer, para a Akemi?

– Você acertou o foco principal da conversa.

– Akemi?

– Bem, quero dizer... Tudo o que eu disse sobre a Yue era uma enrolação para tentar me deixar mais calma antes de falar a verdadeira causa de ter te feito vim até aqui.

– O que? Então quer dizer que ela também está agindo estranho ultimamente? Bem, eu não acho que ela esteja...

– Claro que não, Last! – Disse a Sayaka, me interrompendo e não deixando terminar o resto da frase que eu iria dizer.

Havia um banco ao lado de nós duas, não entendo porque não sentei de primeira, pois ainda estava suando de tanto correr. Sentei-me no banco, mas continuava olhando fixamente para minha amiga. Em seguida, a Sayaka sentou-se também, ao meu lado. Ficamos em silêncio por dois minutos, então ela logo começou a falar para quebrar o silêncio.

– Há dias que estou tentando contar isso para alguém de confiança, não estou mais aguentando segurar este segredo apenas para mim.

A Sayaka me considerava uma amiga de alta confiança? Isso fez minhas feridas e quedas valerem a pena.

– Que bom que você confia em mim, Sayaka! Mas não entendo porque ainda não comentou nada com a Akemi.

– A Akemi não precisa ficar sabendo disso por agora.

– Mas... E a Yue?

– Perdi a total confiança que tinha com ela.

– Te entendo.

– E mesmo se ainda confiasse bastante na Yue, não contaria isso para ela de jeito maneira!

– Então, o que você tem a dizer para mim que ficou enrolando desde a hora em que cheguei aqui? Estou mais do que curiosa.

– A verdade é que... E-eu... E-eu... Eu acho que gosto da Akemi... M-m-mas não como amiga. Você entende, não é?