Fiquei imóvel depois do que tinha acabado de ouvir da Sayaka. Então... Quer dizer que ela é...

– Surpresa? – Disse a Sayaka tentando sorrir.

– E-e-er... Um pouco.

– Não é de se admirar.

Bem, pelo menos não foi pior do que eu imaginava. Pensei que seria mais um problema na minha vida! Ou algo amais que pudesse colocar a minha pele e meus ossos em risco.

– Last, confio em você. Não deixe nada disso vazar!

– Prometo que não contarei nada à ninguém.

– Você é uma ótima amiga. – Disse a Sayaka pegando nas minhas duas mãos.

A Sayaka sorriu para mim, e em seguida sorri de volta para ela. Era como um afeto de amizade, mas depois do que eu havia descoberto sobre a Sayaka, aquilo não soava muito bem... Pelo menos para mim!

Ficamos um minuto na mesma posição, até que a Sayaka soltou minhas mãos e ficou olhando para o céu.

– O que eu devo fazer? – Disse a Sayaka.

– Não sou uma boa pessoa para dar conselhos, Say. Me desculpa...

– Não precisa se desculpar por isso, Last. Sei como é isso... Também não sou boa para conselhos. – Disse a Sayaka piscando o olho.

– Eu não vim aqui para ficar olhando em volta do parque... Quer tomar um sorvete?

A Sayaka sorriu e logo assentiu com a cabeça.

Fomos andando lentamente em silêncio até a sorveteria.

Aquele silêncio estava me matando por dentro, e parecia que a cada minuto que passava, uma “ideia de assunto” sumia totalmente da minha cabeça. Olhei para a Sayaka, e ela estava dando total atenção para o próprio sorvete de flocos. Obrigada por me salvar da vergonha da falta de assunto, sorvete.

Eu estava contando os minutos para poder voltar pra casa, ás vezes tenho a sensação de que algo vai dar errado, e essa estranha sensação estava tomando conta do meu pensamento. Sempre que me sinto assim, volto para casa imediatamente, mas no caso da Sayaka era diferente. Eu não queria ser uma mal-educada e deixar minha amiga sozinha naquela mesa para dois, mas também não queria ficar em um lugar em que estivesse me sentindo completamente desconfortável. Sim! Sou uma fresca!

Comecei a prestar atenção nas pessoas que passavam, sempre com pressa, por perto da sorveteria. 90% delas estavam usando mochilas ou segurando bolsas e sacolas. Também comecei aprestar atenção em besteiras, do tipo, quantos quadrinhos tinham naquele mosaico da mesa, ou quantos riscos havia na calçada. Foi então que a Sayaka me chamou a atenção.

– Last, notei algo diferente em você.

– O que?

– Por que não está usando o uniforme?

Olhei para a Sayaka, e ela estava com uniforme de Tokiwadai, em seguida olhei para minhas próprias roupas.

– É domingo! Por que tenho que usar isso até nos finais de semana?

– Porque você não vai conseguir entrar no colégio. – Disse ela com um tom de voz que soava como “isso é óbvio”.

– Eu não vou voltar para o colégio hoje, Sayaka.

– Por que, Last? É por causa da Yue?

– Não, a Yue não tem nada haver. É que... Eu preciso do meu quarto!

– Mas você já tem um quarto lá no colégio.

– Sim tenho um quarto, mas sou obrigada a dividir com a Yue. E, além disso, eu preciso do meu verdadeiro quarto.

– Entendi...

Depois de meia palavra de conversa, o maldito silêncio voltou a reinar entre nós duas. Comecei a olhar para meus pés, e fiquei uns cinco minutos na mesma posição.

Naquele mesmo momento, cinco caras estranhos passaram por perto da sorveteria, e ficaram nos encarando. Comecei a olhar para meu sorvete, e fingir que não havia visto eles.

Eles continuavam lá, no mesmo lugar, e sempre nos encarando. O que estão achando que vão fazer? Nos assaltar? Confesso que fiquei com vontade de falar isso, mas preferi evitar certos problemas com desconhecidos...

Passaram dez minutos, e os estranhos garotos foram embora. Peguei o celular, que estava dentro do bolso do meu casaco branco, e olhei as horas. Eram 16h58min, então guardei o celular de volta.

– Está com pressa, Last?

– Não exatamente...

– Sim, você está com pressa. Dá pra perceber só de olhar na sua expressão facial.

– Está tão na cara assim?

A Sayaka riu, e logo se levantou. Ela jogou a casquinha do sorvete no lixo e começou a olhar para mim.

– Vamos, Last?

– Com certeza!

Levantei rapidamente e comecei a andar junto com a Sayaka. Mesmo que ainda não havia terminado o sorvete, concordei em ir, até porque, eu estava realmente com pressa.

Andamos devagar, até que passamos por um estranho beco que tinha por perto, e os mesmos cinco caras estranhos nos cercaram.

A Sayaka continuava calma como sempre, mesmo estando numa situação embaraçosa daquelas...

– Olá garotas, aonde pensam que vão?

– Não devo satisfações para vocês. – Eu disse, encarando um deles.

– Last! – Disse a Sayaka com um tom de voz baixo.

– O que foi, Sayaka? – Respondi.

Eles começaram chegar mais e mais perto de nós duas, e confesso que fiquei com uma pontinha de medo.

– O que foi, garota? Está com medo de nós? Não precisa... Tudo o que você precisa fazer é nos seguir.

– Eu nunca faria isso!

Encostei mais perto da Sayaka, que por sinal, estava de baços cruzados e encarando os demais.

No momento em que um deles pegou em meu braço, soltou cinco segundos depois e caiu de cara no chão. Os outros garotos começaram a abrir passagem e ficaram com uma expressão surpresa no rosto. Comecei a ficar com mais medo ainda, imaginando a encrenca em que eu havia me metido. Mas naquele mesmo momento, ouvi uma voz conhecida.

– o que os idiotas pensam que estão fazendo, com a pirralha?

– A-A-Accel?!

Sim, a figura do Accelerator com uma pontinha de sague no dedo indicador da mão direita dele, foi como uma aparição tanto desejada quanto indesejada. Estava torcendo pelo Accel não se machucar!

– Quem é você, branquelo?

– E o que você está fazendo aqui, nos atrapalhando? – Disse um dos garotos encarando o Accel.

– Está afim de morrer? – Disse um garoto que tinha a voz um tanto ridícula.

O Accel olhou envolta e tentou prender a risada. Isso me deu calafrios. Ele segurou no pescoço de um dos garotos com a ponta dos dedos e começou a olhar “maleficamente” para ele, enquanto o garoto reclamava de dor.

– Ai! Você está me ferindo, seu branquelo estúpido! – Disse o garoto dando um murro na barriga do Accel, mas o murro voltou para ele mesmo sem o Accel precisar mover um dedo do lugar, então o estranho garoto caiu sentado no chão. Ele passou a mão direita no pescoço, e percebeu que estava saindo um pouco de sangue.

– Olhem o que esse louco fez em mim! E vocês?! Me ajudem! Vão ficar aí parados olhando para esse sangue horroroso saindo do meu pescoço?!

– Seria uma pena se... Seus amiguinhos quisessem sentir a mesma dor que você.

Todos os garotos começaram a olhar uns para os outros um tanto desesperados. Mas em questão de segundos, o Accelerator colocou as pontas dos dedos: indicador e dedão, no pescoço de outro garoto, que logo começou a gritar.

O Accel não parecia estar se esforçando muito, e parecia até estar se divertindo fazendo aquilo.

Os demais correram em direção ao Accel tentando dar murros, socos e pontapés nele, mas foi tudo em vão, pois acabaram caindo feio no chão. O Accel empurrou o garoto na parede, e rodeou o pescoço dele com apenas os dois dedos. Empurrou-o para cima do muro, e percebi que o garoto devia estar imaginado que estivesse em uma forca.

Depois de deixar o garoto totalmente sem forças, lançou-o ao chão com tanta força, que apareceram mais hematomas nele, do que no meu corpo.

Os outros três garotos tentaram levantar, mas o Accel foi mis rápido, e ao apenas encostar a mão em um deles, os três foram lançados brutalmente contra a parede, e caíram um por vez, o que me fez lembrar um dominó. Um deles usou a própria mão como apoio para tentar levantar do chão, mas o Accel pisou em cima da mão dele. Percebi que estava tentando não chorar, diante das dores que estava sentindo.

O Accel colocou o outro pé na mão de outro garoto e ficou olhando para todos eles caídos no chão, e cheios de ferimentos.

– Inúteis. Não conseguem nem aguentar uma dorzinha passageira e me enfrentar, para me divertir um pouco de vez em quando.

Ao perceber que não ouve reação alguma dos garotos, o Accel veio andando em minha direção.

Meu coração começou a acelerar ainda mais.

– V-você... Tá bem, pirralha?

– Sim! Obrigada, Accel. – Eu disse abraçando o Accel.

Por incrível que pareça, as mãos do Accel tocaram as minhas costas, e isso só poderia significar uma coisa: pela primeira vez no milênio, ele havia retribuído o meu abraço.