— O-o que eu sou?

— Você querida, é um tipo raro, você não é só uma raça, como duas. – caramba — uma parte bem pequena de você é vampira, já a parte maior é fae – fae é um termo não muito conhecido para fadas— de vez em quando você vai ter que se alimentar como um vampiro. Raramente.

— V-você quer dizer b-beber s-sangue? – gaguejei

— Você falando assim até parece uma coisa assustadora...

— Ei, mas é uma coisa assustadora – vi minha visão ficando turva, tive que me sentar em uma das cadeiras para absorver o que ele estava dizendo.

— Assim eu fico ofendido, ei você está pálida. Tá tudo bem? – nesse momento que ele percebeu que eu estava prestes a desmaiar.

— Achei que vampiros fossem pálidos – isso explicava muita coisa, provavelmente o garoto dos olhos azuis que estava me encarando era um vampiro.

— Sim, mas como eu disse: uma parte bem menor de você é vampira, a parte maior é fae. Por isso, você só precisa se alimentar de vez em quando, também não vai ficar pálida, nem fria.

— Nossa que notícia boa – falei com sarcasmo na voz.

— Tudo bem, você pode ir agora.

********

Cheguei ao refetório bem depressa, parece que fiquei bastante tempo conversando com o diretor.

Fui para fila da cantina, pegar meu almoço. Não conhecia ninguém ali, talvez pudesse almoçar lá fora. Estava precisando mesmo respirar um ar puro.

— Kelle? – uma voz muito familiar me chamou. Mais como sabia meu nome, se eu não conhecia ninguém ali?

Me virei para ver quem era. Dei de cara com grandes olhos verdes me encarando. Era Kentin. Tinha até esquecido que conhecia alguém ali.

— Oi Kentin – Abri um sorrisinho forçado.

— Então em qual mesa a senhorita fica? – falou com um tom de brincadeira na voz.

— Como assim?

— Ah, você não sabia? Aqui as mesas são divididas em espécies. Eu sou fae, eu fico na mesa dos fae’s. Então qual é o a sua espécie? – Kentin abriu um sorriso, parecia ter até um pouco de esperança nos olhos.

— Hmmm, parece que eu tenho uma pequena parte do meu padrão cerebral que é de vampiro e a maior, de fae – respondi não muito animada por ser uma espécie rara, como o diretor disse. Mas, para mim era mais uma espéciediferente, que não se encaixava.

— Que legal – diferente de mim, parece que Kentin, ficou bem animado – na verdade eu já sabia, eu li o seu padrão cerebral. Só queria ouvir você falando – filho da mãe — então acho que vamos almoçar na mesma mesa.

— Ah, é que eu ia almoçar lá fora, estou precisando pegar um ar fresco.

— Sei, também estou com vontade de respirar um ar puro, conheço um lugar ótimo para irmos. Isso é se você quiser que eu vá com você – e me olhou com aqueles grandes olhos verdes hipnotizantes. O que eu ia dizer??

— Hmm, claro.

********

— Aqui, me dá sua mão – já deviamos estar andando meia hora, minha barriga já estava roncando. Mas, agora era melhor continuar, aceitei a mão de Kentin para subir a rocha. No mesmo instante, uma onda de formigamento subiu pelo meu braço. – Estamos quase chegando, prometo.

— Que bom. Porque eu já estou bem cansada, Ken – alguma coisa que eu disse parece ter incomodado ele, já que ele fez um biquinho muito fofo e ficou me encarando – o que foi?

— É que só minha mãe me chamava de Ken e uma amiga que eu tive na infância.

— Ah, eu não sabia. Desculpa Ken, quer dizer Kentin – ele soltou uma risada meia triste, parecia que o nome não trazia muitas lembranças boas.

— Não, tudo bem. Você pode me chamar de Ken – fez uma cara bem sexy, ou pelo menos, tentou. Não aguentei, soltei uma risada. Acho que aquela era a primeira risada de verdade que eu soltava naquela semana.

— Chegamos – Ken falou entusiasmado.

Subi mais uma rocha para olhar porque o Ken parecia tão feliz de estar ali. Entendi. O lugar era lindo. Trazia uma grande sensação de calma, devia ser por causa da cachoeira que tinha ali. O som que ela trazia era maravilhoso.

— Nossa, que lindo... – falei, com certa hipnoze pelo lugar

— É o meu lugar preferido, eu nunca tinha trago ninguém para cá antes...

— Espera... Você já esteve no acampamento antes?

— Sim, esse é o meu terceiro ano aqui

Uau.

Ficamos conversando por bastante tempo, porque quando eu vi, a noite já estava caindo.

— Acho melhor a gente ir.

— É, acho que sim – mas, ele não levantou. Ficou ali me encarando. Cada vez chegando mais perto.

Ah não, eu tinha que fugir. Eu tinha namorado. Mas, como eu iria fugir daqueles grandes olhos verdes?!

Fechei os olhos e esperei, a sensação foi melhor do que eu esperava. Se tocar a mão dele trazia um formigamento calmante, os lábios traziam um formigamento calmante e delicioso. Até que o beijo se tornou mais intenso, mais feroz. E se eu não fizesse alguma coisa, sabia bem onde aquilo ia parar.

Me soltei dele com certo esforço, mas a sensação calmante continuou correndo pelo meu corpo.

— Hmmm... acho melhor irmos agora.

— Acho que sim – a cara dele era de decepção. Dava para ver que ele não se importava se fossemos mais adiante do que o beijo...

********

Fui andando para o meu dormitório, depois de pedir o número para o diretor. Estava muito cansada pelo “longo” dia. Entrei pela porta e duas meninas que eu não conhecia pareciam estar me esperando.

— Aí está você – uma delas exclamou.

— É, acho que sim.

— Aonde a mocinha estava? – mocinha? Agora ela estava falando igual minha mãe e ainda como se me conhecesse – a propósito eu sou a Iris e essa é a Rosalya – ah sim, eu me lembrava da Rosalya. Ela era a menina que assim como eu, fomos com o diretor para ele explicar porque estávamos lá.

— Pode me chamar de Rosa – os cabelos dela eram bem brancos. Com certeza não era natural, mais era bonito.

— Prazer, eu sou a Kelle.

— Nós sabemos – Iris falou entusiasmada – Agora senta aqui e começa a nos contar, com quem e o que você estava fazendo.

Parecia que eu não tinha outra opção a não se contar. Me sentei e comecei a contar para elas, pareciam ser boas amigas.

********

Acordei no meio da madrugada com um frio anormal, ah não, devia ser o espírito tentando se manifestar de novo.

Só de pensar o espírito apareceu.

— O que você quer? – eu sabia que ele não ir responder mais perguntei mesmo assim – vai embora, por favor...

Mas, ele estava se aproximando. Tentando se comunicar. Mas, nenhuma palavra saia da boca dele. Até que ele colocou as mãos sombrias dentro da minha barriga e tudo ficou preto...