Eu não sei o que me dava mais medo – meus pais brigando igual duas crianças dentro de casa ou o “ser” assustador me encarando do outro lado da rua, o mais estranho é que...

— Kelle – não pude completar meus pensamentos, pois, minha vizinha estava me olhando daquele jeito de novo.

— Oi melody – tentei forçar um sorriso

— Por que você está olhando para do outro lado da calçada como se tivesse um fantasma parado ali?

Engraçado ela dizer isso porque era exatamente o que tinha ali.

— Não é nada, só estou pensando. Meus pais estão brigando de novo – nesse momento um copo foi lançado pela janela – acho melhor eu entrar antes que eles se matem. Até mais.

— Até.

********

Entrei correndo pela porta da cozinha e bati em alguém...

— Pai? Aonde o senhor vai?

— Embora querida, eu não posso mais continuar, sua mãe, ela...

— VOCÊ É UM SER DESPREZIVEL, MIKE

— Viu?

Isso não podia estar acontecendo, seu pai ia deixa-lá sozinha com sua mãe?

— Tudo bem eu vou com você, só vou peg... – Meu pai me interrompeu.

— NÃO, quer dizer, não tem como querida, fique com a sua mãe. Eu vou te ligar, prometo – Forçou um sorriso e desapareceu pela porta. Senti meus olhos embaçados com as lágrimas, eu estava sozinha.

— Querida? – Ah, não. Era pior, ela estava com sua mãe – Precisamos conversar...

— Oi. – falei friamente

— Estive conversando com a Dra. Maria – minha psiquiatra – e ela me disse que conhece um acampamento de verão para adolescentes “como você”— depois que ela me pegou numa festa com drogas e bebidas alcóolicas, agora ela acha que sou uma adolescente problemática – e te inscrevi, e olha que sorte! As aulas começarão amanhã.

Nossa! Como eu sou sortuda – pensei.

— Mas eu não quero ir

— Já está tudo decidido, querida. Sinto muito.

*********

Isso não podia estar acontecendo, além de seus pais estarem se separando ela estava esperando o ônibus para sua nova escola, ou melhor um acampamento de verão, as coisas podiam piorar?!

Não se esqueçam – gritou uma voz desconhecida — celulares e computadores só no fim de semana.

Estava enganada podia ficar pior sim, senti os olhos lacrimejando.

— Ah querida, não vai ser tão ruim. Vai ser até legal você fazer amizades “melhores” das que você tem...

Eu teria gritado se não tivessem chamado meu nome.

Kelle James, repito, Kelle James.

Fui andando para o ônibus, com a esperança de que meu pai viesse me salvar. Mais pelo visto isso não ia acontecer...

Subi os degraus devagar, e por uns segundos fiquei perdida em meus pensamentos e me lembrei Ah meu Deus, com isso tudo esqueci que eu tinha um namorado. Jake. Precisava ligar para ele.

— Vamos logo, flor do dia. Não tenho o dia todo – A motorista do ônibus não muito simpática estava me olhando de cara feia

— Hmmm, okay.

Fui andando procurando um banco vazio até que eu olhei para cima sem querer. Ai meu Deus. Onde eu tinha ido parar? Realmente era um acampamento para pessoas problemáticas, mais eu não me parecia com ninguém dali. Olhei para fora com algum tipo de esperança. Mais tudo que vi foi minha mãe acenando.

Me acomodei em um dos bancos até que eu vi ele. Com ele eu quero dizer o espirito. Sentado ao meu lado, como se fosse uma pessoa viva. Só respira. Vai ficar tudo bem, Kelle. Mais não foi como das outras vezes ele estava tentando se comunicar.

— K-Kelle, você precisa ir emb... – Mais simplesmente sumiu no ar. Ele estava ali e Puf não estava mais, simples assim.

— Eu posso sentar aqui? – Olhei para cima, dei de cara com olhos verdes profundos, mais o que me hiponotizou não foram os olhos ou o sorriso atordoante, mais que aqueles olhos eram estranhamente familiares. Fiquei perdida por uns três segundos. O que pareceu uma eternidade.

—Hmmmmm... Pode, claro.

Até que ele era normal perto das outras pessoas que tinham ali, quer dizer, eles eram bem estranhos. Alguns tinham cabelos coloridos outros piercings. Mais não era isso que me encomodava, olhar para eles dava um sensação estranha.

*********

Parece que eu peguei no sono porque acordei com alguém me balançando.

— Ei, acorda. Já chegamos.

— Okay, okay... – era esse menino de olhos verdes, que eu não sabia o nome, que me balançava.

— A propósito eu sou o Kentin – repondeu, como se pudesse ler meus pensamentos

— Hmm, prazer Kentin, eu me chamo Kelle – e fui andando para fora do ônibus, quando sai tudo que eu vi foi mato, árvores e uma “casa” bem grande, isso devia ser o acampamento, eu acho.

— Olá alunos – falou um carinha bem esquisito. A roupa dele era toda preta, olhos castanhos, pele bem pálida e cabelos grandes. Na verdade maiores que o meu — sejam bem vindos ao acampamento Sweet Amoris. Eu sou o diretor Dimitry. Acredito que a maioria já esteve com a gente ano passado e sabe como funciona o nosso acampamento para adolescentes com dons especiais. – HAM? – quem não souber por que está aqui, me siga por favor.

Logicamente, segui o “diretor” que para mim era novo demais para ser diretor.

Mas, não fui a única que segui ele. Tinha pelo menos umas 18 pessoas das 100 que estavam vindo para o acampamento, inclusive um cara bem gatinho que não parava de me encarar. Ele tinha olhos azuis, cabelos bem pretos e brilhosos e era bem branquelo, lembro de ter visto ele no ônibus.

— Crianças, vocês estão aqui porque, devo dizer, vocês não são iguais a outros adolescentes. Vocês possuem donsespeciais. Não só dons, como vocês também são “especiais”...

— Como assim “especiais”? – perguntei, e logo depois me arrependi, já que as atenções foram voltadas para mim.

— Existem alguns adolescentes com genéticas diferentes de outros. Ou seja, vocês são como aquelas criaturas mitológicas de livros. Existem várias raças, e eu sou um vampiro, podemos identificar outros seres iguais a gente pelo padrão cerebral, não só identificar que são criaturas mas, podemos identificar também o tipo de criaturas que são.

— Eu sou o que? – uma menina exclamou do outro lado da sala.

— Você, Rosalya, é uma ninfa. Ninfa é uma fada com poderes para curar outras pessoas.

E daí começou o zumzum para todo lado, perguntando que tipo de raça eram. Depois de 5 minutos fomos dispensados.

— Podem sair - quando eu estava atravessando a porta Dimitry me chamou – Kelle? – me virei – não quer saber o que você é?

Com tanto barulho acabei esquecendo de perguntar o que eu era. Não que eu quisesse saber. Estava apavorada demais. Mas, mesmo assim perguntei:

— O-o que eu sou?