IV

- Olá garotão!

- Aaaaah! Jesus! Quem é você? – William acorda com a face de um homem lhe encarando muito próxima o seu rosto.

- Como assim?! Não vê que eu sou um duende? Considere-se com muita sorte de ter me encontrado rapaz! Sou o último duende vivo do mundo – um anão com uma meia calça na cabeça dá as boas vindas a William.

- Ele não é um duende coisa nenhuma! É uma anomalia gerada pelos nazistas em seus testes com judeus! – um velho resmunga puxando a meia da cabeça do anão.

“- Quem são esses loucos?” – Questiona William a si mesmo.

Dentro da sala havia apenas mais uma pessoa. Um rapaz de cabelos lisos e pretos, aparentando ter seus vinte anos de idade, agachado no canto da parede.

- Olá cara. Por favor, me explica que raios de lugar é esse. – pergunta William ao rapaz.

Ele vira-se e encara William enquanto belisca freneticamente o seu braço repleto de cicatrizes.

- Se eu fosse você ficaria bem longe desse cara, garoto. Ele retalhou os pais e fez um tapete com suas peles. Se não quiser morrer nos seus primeiros dias aqui, é melhor tomar cuidado. – alerta um médico que chega para examinar William. – Vamos fazer umas seções de fisioterapia para reabilitar o movimento de suas pernas, que pelo visto já estão quase normais. Ah, e antes que pergunte... Aqui é o Hospital Psiquiátrico Agnolo Bronzino.

- Hospital Psiquiátrico?! Não, vocês cometeram um engano eu não sou louco! – exclama William enquanto é carregado às forças por dois enfermeiros. Eu não sou louco e não matei ninguém! Vocês pegaram a pessoa errada! Eu tinha 36 anos, esposa e filhas! Tinha uma vida perfeita e da noite pro dia acordei nesse estado! Alguém tem que acreditar em mim!

Enquanto grita sendo arrastado pelo corredor, William volta todos os olhares dos internos para si. Um deles, em especial, dedica uma atenção maior ao observá-lo. Após muitas sessões de fisioterapias, William retorna andando para seu quarto acompanhado de um médico.

- E se você acordasse, e descobrisse que toda a sua vida foi apenas um sonho? Que todos os amigos que você conheceu, e dividiu os melhores momentos de sua vida não passaram de ilusões de sua mente. Descobrisse que depois de estudar bastante, conseguir um bom emprego, casar e ter filhos tudo seria arrancado inexplicavelmente de sua vida. E que você acordaria anos mais jovem, na pior época da sua vida, e fosse tachado como louco e assassino de sua mãe. O que você faria doutor? – desabafa o garoto, encarando cinicamente o doutor.

- Me mataria... – O doutor responde, deixando William em seu quarto e indo embora.

Observando de longe, o homem que há muito tempo já estava de olho em William, dirige a palavra a ele.

- Eu posso te ajudar. Eu sei perfeitamente o que você está sentindo.

- Ah, claro! Como se fosse confiável acreditar nas palavras de um louco! – Debocha o garoto.

- Louco? Pelo visto você não sabe o que é loucura... – replica o homem.

- Loucura é sair de uma vida perfeita e vir parar aqui, com um monte de gente que não consegue se habituar a realidade. – responde William irritado.

- Não meu caro... Loucura é estar parado no tempo, se repetindo indefinidamente nos mesmos padrões e concluir que viver desta maneira é normal. É a saída de emergência do mundo insano que temos lá fora... – Após um longo silêncio, o homem continua – Eu sei o que aconteceu com você, pois aconteceu o mesmo comigo.

- Então quer dizer que você também sonhou uma vida inteira? – pergunta curiosamente.

- Na verdade não é um sonho. Trata-se de uma parte quase inacessível de nosso subconsciente que recria perfeitamente a sensação de realidade enquanto dormimos. Durante um sono comum, as chances de se cair nesse “abismo” são quase inexistentes. Mas é durante um coma, que existem mais chances de cair nesse estado, embora ainda raras. Você pode sentir dor, ter sonhos, filhos, mas nada disso será real.

- Minha nossa... – William faz uma pausa. – Mas como que você sabe de tudo isso? – pergunta ele ainda perplexo com a explicação que o homem acabara de lhe dar.

- Eu era psicanalista antes de vir para cá. Estudava como um louco sobre as incógnitas da mente humana. Foi então que acabei caindo no abismo e vivi até meus 87 anos, até acordar anos mais jovem em um hospital. Assim como você, fui tido como louco e internado aqui onde permaneço até hoje. Mas eu encontrei na loucura, uma maneira de voltar a minha antiga vida, e me desconectar da dura realidade do mundo.

- Uma maneira de voltar a ter a minha vida de volta?! Cara e como que eu faço isso?! – o sorriso estampado em seu rosto, mostra que William está eufórico com a possibilidade de ter toda a sua antiga vida novamente.

- Simples garoto. Crie sua própria realidade. – respondeu.