III

- Você passou cinco anos em coma William...

- Hã?! O... O que você disse?! – as palavras da enfermeira não conseguiam ser processadas por William. – Isso só pode ser brincadeira... Elisa!!! Era essa a surpresa que você disse que tinha para mim?! Se for, parabéns! Você conseguiu superar minhas expectativas! Agora por favor, apareça e vamos pra casa! Você já conseguiu me assustar!

- Acalme-se William, você está transtornado. Isso é normal quando se acorda após tanto tempo em coma. Não existe nenhuma Elisa aqui. – a enfermeira tenta amenizar o choque brusco da notícia.

- Mas o que...? Não, não, não, meu Deus isso é loucura! – exclama William ao perceber que seu corpo parece estar diferente. – Me dá um espelho!

- Mas meu jovem...

-ME DÁ UM ESPELHO CARAMBA!!! – ele grita tentando levantar-se da cama.

- Tu-tudo bem... Tudo bem... Vou pegar um pra você... – a enfermeira sai atônita do quarto e minutos depois retorna com um espelho.

- Minha nossa!!! Por favor, alguém me explica que loucura é essa!!! – com olhos que se recusavam acreditar no que via, William passava suas mãos em sua face na tentativa de checar se aquilo que vira diante do espelho era mesmo real. – Eu... Eu estou adolescente?!

- Quando você chegou aqui tinha apenas treze anos. Mas já se passaram cinco anos desde então...

- Dezoito anos... Eu estou com dezoito anos... – perplexo, William deixa que o objeto em sua mão escorregue e se espatife no chão, quebrando em inúmeros pedaços.

- O pai dele acaba de chegar. – avisa um médico que entra rapidamente na sala para dar a notícia.

- Mande-o entrar. – responde a enfermeira.

- Meu pai?! Quer dizer que ele está vivo?!

Por um momento as esperanças de William pareciam ter voltado. Apenas por esse curto momento, antes de ver a maçaneta da porta girar e revelar quem estava atrás dela.

- SR. DAMASCO?! O que esse monstro miserável faz aqui? O que você fez com minha mãe seu desgraçado?

- Está vendo, Cíntia? – fala Damasco lendo o nome da enfermeira grafado em seu jaleco. – Esse garoto não é como você pensa que é. Ele sofre transtornos mentais sérios, e precisa ser mantido fora de contato com outras pessoas. Só eu sei o que passei vivendo com esse monstrinho. Não se deixe enganar por essa carinha de anjo. Afinal, não restam dúvidas de que foi ele que matou a própria mãe.

As últimas palavras de Damasco caem como uma apunhalada no coração do jovem William, que instantaneamente deixa uma lágrima escorrer pelo seu rosto.

- Você matou minha mãe seu porco miserável... EU VOU TE MATAR!!! – exclama o garoto se esperneando na cama tentando levantar-se e ir em cima do Sr. Damasco. – EU JURO QUE QUANDO EU SAIR DAQUI EU VOU TE MATAR!!!

Um grupo de enfermeiros entra na sala a mando de Cíntia, e aplicam uma injeção para acalmar a fúria do garoto.

- Internem logo esse garoto, antes que acabe machucando alguém aqui dentro! – repudia o Sr. Damasco.

- Se minha mãe morreu, foi ele que a matou! Ele! – grita William desesperado para Cíntia com um rosto encharcado de lágrimas, enquanto lhe é colocada uma camisa de força.

- Sinto lhe dizer, pobre William, mas já foi tudo comprovado a cinco anos atrás. Temos um trecho de uma anotação sua dizendo que um dia encontraria um método de acabar com o sofrimento dela, e também, suas impressões digitais foram encontradas na caneta que lhe foi perfurada no pescoço. Você já está condenado a internação no hospital psiquiátrico desde que foi comprovado que você é o assassino. Sinto muito por isso... Com licença... – Cíntia cobre sua boca com a mão esquerda e sai da sala em prantos – Meu Deus, ele é muito jovem...

- Você forjou tudo isso não foi Sr. Damasco...? Mostrou apenas as primeiras frases da minha anotação, na qual bem depois eu falava sobre como você e seus fi... – Wiliam sente a vista escurecer devido à injeção que tomara há pouco tempo. – Não estou... Me sentindo... Bem... – após sua última palavra proferida ele desmaia na cama, imobilizado pela camisa de força...

- Podem levá-lo! – ordena Damasco aos enfermeiros, que obedecem instantaneamente. “- Adeus moleque... Espero que aproveite bem o resto de sua vida apodrecendo no meio daqueles loucos! O que importa, é que agora estou rico!” – pensou triunfante.