A vingança do Espírito

Não tenho palavras para isso


POV'S CARTER

Sadie chorava descontroladamente, encolhida no chão do banheiro. Aos seus pés, o azulejo antes branco, estava manchado com uma poça de sangue. Ao seu lado, havia uma faca ensanguentada.

Sadie havia cortado os pulsos.

Aquilo foi demais para mim. Ver minha irmã ali, impotente, envolta em sangue era torturante. Afinal, ela era minha irmã.

– Me ajuda... - Ela balbuciava em meio aos soluços descontrolados. - Por favor, me ajuda...

Eu a tomei nos braços e ela se aninhou ali, chorando. Minha blusa começou a se empapar de sangue, mas eu não ligava. Eu precisava ajudar a minha irmã. Walt estava pior do que eu. Parecia estar em estado de choque. Pegou a faca ensanguentada do chão e me olhou buscando ajuda. Eu sabia como ele se sentia. Sabia o quanto ele gostava da minha irmã. Aquela cena devia ter sido mais perturbadora para ele do que para mim.

Zia tentava acalmar Sadie em meus braços, mas parecia igualmente abalada.

– Anúbis vai falar com Osíris. - Walt falou e sua voz estava falhando. Continuamos em silêncio e levamos Sadie para o hospital, onde a doparam. A levaram para algum quarto no hospital e nos mandaram para a sala de espera. Passei a mão por meus cabelos, frustrado. Minha irmã estava em algum quarto daquele hospital, dopada depois de ter cortado os próprios pulsos, e eu não podia fazer absolutamente nada.

– Não se preocupe, ela vai ficar bem. - Zia falou. Não sei se foi para mim ou para Walt, mas parecia querer convencer mais a si mesma do que qualquer coisa.

Ficamos ali pelo que me pareceram anos, até um doutor aparecer na porta.

– Ela vai ficar bem. - Ele falou, e senti um peso como o de um piano, ou até dois se esvaíssem dos meus ombros. - Ela não perdeu muito sangue e os cortes não são muito fundos. Alguém sabe os motivos dela?

Eu podia até ver as engrenagens funcionando dentro da cabeça de cada um. Sadie não tinha motivos. Ela era feliz. Ninguém sabia o por que disso tudo.

– Bom, - O doutor falou, já entendendo o silêncio. - Ela irá acordar daqui a 50 minutos. Vão esperar ou...

– Vamos esperar ela acordar. - Walt o interrompeu. Era a primeira vez que ele falava desde que chegamos no hospital.

– Oh, claro. - O doutor falou e se retirou.

Alguns minutos depois disso, papai chegou.

– Onde ela está? - Perguntou para a primeira enfermeira que viu.

– Pai! - Gritei. - Ela vai ficar bem.

Ele se virou e percebeu minha presença ali. Correu e me abraçou,ç. Depois segurou meus ombros me forçando a olhar em seus olhos.

– Carter, você está bem?

Eu não confuava na minha voz então limitei-me a assentir.

– Precisa me contar o que ouve. Anúbis estava desesperado. Me disse apenas que Sadie estava aqui.

Eu ainda não confiava na minha voz, então resolvi testar uma magia que estava aprendendo. Olhei bem nos olhos dele e mostrei minhas lembranças. Pela cara dele, estava funcionando. Quando cheguei na imagem de Sadie no chão do banheiro, papai arfou. Eu entendia. Também era doloroso para mim ver aquilo.

– Não... - Papai dizia em choque. - Isso... NÃO!

– Pai, eu estava lá. Eu vi.

– Não... Por que, Carter? Por que sua irmã fez isso?

Dessa vez eu não tinha resposta.

– Eu... Não sei, pai.

– Ele se afastou, sentou em uma cadeira e passou a mão pelos cabelos, frustrado. Eu sabia o que ele sentia. De repente uma enfermeira entrou na sala.

– Sadie Kane acordou. Ela está pronta para receber visitas.

Eu suspirei de alívio. Eu iria ver a minha irmã. Me levantei o mais rápido que pude e entrei em um corredor, olhando todas as portas a procurando. Pude sentir os outros atrás de mim. Até que a vi. Ela estava deitada em uma maca. Seus pulsos estavam enfaixados e ela olhava o horizonte pela janela com uma expressão cansada no rosto.

– Sadie? - Perguntei. Ela olhou para mim e sorriu. Um sorriso fraco, mas verdadeiro.

– Oi, Carter. - Ela falou e olhos os outros.- Oi, Walt. Oi, Zia. - Então ela viu papai e arregalou os olhos. - Pai?

– Sadie, você está bem? - Ele perguntou.

– Eu... - Ela hesitou. - Não sei bem.

Papai foi até ela e lhe deu um beijo na testa.

– Precisa descansar, querida. Pensando bem, acho que nós todos precisamos.

POV'S SADIE

Acordei em um hospital. Uma enfermeira me disse que estava tudo bem e que eu tinha visitas. Olhei para os meus pulsos. Não havia sido um sonho. Olhei o horizonte tentando me acalmar.

– Sadie? - A voz de Carter interrompeu meus desvaneios. Sorri para ele.

– Oi Carter. - Falei, e vi que havia mais gente com ele. - Oi, Walt. Oi, Zia. - Então eu o vi. Nunca imaginaria que ele estaria aqui. Arregalei os olhos. - Pai?

– Sadie, você está bem? - Ele apenas perguntou.

– Eu... - Hesitei. Eu não podia dizer que estava bem, eu definitivamente não estava bem, mas não queria preocupar ninguém dizendo que estava mal. - Não sei bem.

Papai apenas chegou perto e me deu um beijo na testa.

– Precisa descansar, querida. - Ele falou. - Pensando bem acho que todos nós precisamos.

Olhei para os rostos conhecidos, preocupada. Papai entendeu.

– Não vamos sair daqui. - Papai falou e eu relaxei. - Só vamos dormir um pouco.

Todos se aconchegaram em um canto do quarto e eu continuei na maca. Mas eu não queria dormir. Me certifiquei de que todos estavam dormindo ( Sim, até papai. Deuses dormem. ) e me levantei. Fui até a janela e olhei os carros passando na rua. Quando senti uma mão no meu ombro. Eu ia gritar, mas reconheci aquele toque. Não era a mão fria que tinha me arranhado. Era quente. Eu conhecia aquele toque. Era Walt.

– O que está fazendo? - Ele perguntou.

– Nada. - Falei.

Nós ficamos ali, quietos olhando o nada.

– Por que fez isso? - Walt quebrou o silêncio.

– Esse é o problema. - Falei olhando nos olhos dele. - Eu não fiz isso.

Ele me olhou confuso.

– É complicado. - Falei abaixando os olhos.

– Então me explique. - Ele me encarava.

– Não dá. - Falei.

Ele ainda me encarava.

– Precisa confiar em mim, Walt. - Falei. - Eu não cortei meus pulsos.

– Sadie... - Ele começou.

– Confie em mim! - O interrompi. - Walt, por que eu tentaria me matar?

– É o que estamos tentando descobrir. - Ele falou baixo.

Suspirei e voltei a olhar pela janela.

Então eu vi ela. Ela sorriu medonhamente para mim. Um arrepio passou pelo meu corpo.

– O que foi? - Walt perguntou.

– Acho melhor voltar a dormir. - Falei. Walt, relutante, assentiu.

Fui até a minha maca e me deitei, encolhida como uma bola. Pude sentir o olhar de Walt sobre mim e adormeci.

[ ... ]

Acordei com o sol batendo no meu rosto. A janela tinha ficado aberta. Olhei em volta e todos ainda dormiam. Me deixei cair na cama e fechei os olhos. Senti alguém afastar os cabelos do meu rosto.

– Pai? - Perguntei abrindo os olhos.

Não era papai. Era ela.

"Sadie Kane" Ela sibilou e entrou dentro de mim.