Daniel,

Você teve a oportunidade de escrever uma carta de despedida, e eu te invejo por isso pois gostaria que tivesse uma parte minha com você para ter a garantia de que nunca me esqueceria.

Nunca fui boa em despedidas, nunca soube como agir. Mas acho que na nossa, eu não teria feito nada diferente. Talvez tentasse ser mais compreensiva, mas mesmo assim, ainda não entendo todos os seus motivos.

Fico feliz de poder ter dito um último eu te amo - acredite, foi o mais sincero que eu já disse em toda minha vida. Ter te abraçado uma última vez. Te beijado. Isso vai ficar para sempre nas minhas memórias. Mesmo abalado, triste e frio você conseguiu ser extremamente sexy – acho que isso é um dom, ou não... É apenas você.

Você deve estar longe agora, e mesmo não tendo certeza de que um dia vou poder te entregar esta suposta carta, ou que você no mínimo irá ler isso, gostaria de escrever como meus dias tem sido sem sua presença, apenas para atualizá-lo do quão importante você ainda é para mim.

1° Dia: Faz um dia que você se foi. Acordei em sua cama, assim que você foi embora eu ainda tive esperança de te encontrar em sua antiga casa, mas isso não aconteceu. Algo inesperado marcou meu dia, conheci a famosa Camila, ela me contou muito sobre você e sua família, - eles ainda se lembram de você, e sentem sua falta todos os dias. Descobri que você tem uma irmã, não tenho certeza se tinha conhecimento sobre esse fato então resolvi compartilhar. Ela foi adotada um tempo depois de você partir. Sabe o nome dela? Daniela. É bem engraçado, como se precisássemos disso para nos lembrarmos de você.

2° Dia: Parecia ser mais um dia normal, como qualquer outro, mas assim que abri os olhos e percebi que estava sozinha no meu quarto, senti um vazio dentro de mim. Fechei e abri os olhos várias e várias vezes tentando acordar desse pesadelo, mas ele é real. Você não está aqui, e parece longe de estar. Não levantei da cama, nem comi nada, não senti ânimo pra isso. Pedrinho disse que papai ficou fora quase o dia todo então nem se preocupou muito comigo. Ele deve pensar que é “coisa de menina”, e eu gostaria que fosse.

3° Dia: Novamente não sai da cama, Pedrinho também está abatido e parece que está tentando fazer alguma engenhoca para se comunicar com vocês. Não acho que vá funcionar, mas não vou acabar com os sonhos dele, pelo menos um de nós precisa ter esperanças. Meu pai perguntou o que eu tinha e inventei uma doença qualquer. Ele pareceu acreditar, isso me deixou um pouco mais animada, um pouco. Mais tarde ele trouxe comida, mas não tive forças para tocar no prato.

4° Dia: Meu pai começou a desconfiar que não é apenas uma gripe, ele me forçou a comer, mas isso me fez mal. Logo em seguida coloquei tudo pra fora. Pedrinho foi à escola e parece continuar a vida normalmente. Fico feliz por ele.

5° Dia: Depois de me segurar chorei novamente, na verdade, choro todos os dias desde que você me deixou, mas hoje chorei mais que o normal. Me senti muito fraca, meu pai novamente me forçou a comer, e felizmente consegui, um pouco, e esse pouco me fez bem. Pedrinho disse que ainda está focado na sua invenção, ele passa o dia todo trancado no quarto. Seus olhos já voltaram ao normal, ele não parece mais tão abatido, uma vez ou outra ele vem no meu quarto perguntar como estou: “bem” minto, mas ele parece acreditar, ou finge também.

6° Dia: Discuti com meu pai, novamente não fui à escola e ele disse que isso precisa parar. Meu comportamento precisa mudar, eu preciso sair da cama, comer e viver normalmente. Ele disse que se eu continuasse assim ia me levar em um médico, ou chamar minha mãe. Virose ou gripe já não é mais uma desculpa. No final do dia ele me fez uma vitamina e pediu desculpas, disse não queria ser grosso, mas já estava preocupado.

7° Dia: Hoje completa uma semana que estou sem você. Acho que a sua falta é a maior presença na minha vida. Espero que você volte logo, mas não tenho mais certeza se isso vai acontecer. Novamente chorei o dia todo. Meu pai não sabia o que fazer e ligou para minha mãe, parece que ela chega em alguns dias. Não sei se isso vai ser bom, mas espero que ajude.

8° Dia: Acordei mais disposta, levantei e coloquei meu celular para carregar. Desci para tomar café e felizmente ele parou no meu estômago. Quando voltei para meu quarto decidi me arrumar, mas imagem no espelho me assustou: estava mais magra, olheiras profundas chamavam toda a atenção no meu rosto, meus olhos não pareciam os mesmo de sempre, e minha boca estava mais torta que o normal. Esse último fato me fez abrir um sorriso, mesmo que fraco. Me lembrei de quando você me deu essa terrível notícia. Pela primeira vez não chorei ao relembrar alguns de nossos momentos juntos. Acho que é um avanço.

9° ao 15° Dia: Andei mais deprimida que o normal ao longo desses dias, Beatriz veio me visitar, conversamos bastante e ela nem demonstrou sinal de raiva ou coisa parecida. Parece que nossa discussão nunca aconteceu. Uma coisa boa: ela não me perguntou sobre você, parecia já estar ciente de tudo que aconteceu. Acho que Pedrinho contou a ela, ou coisa parecida. Faz uns 3 dias que minha mãe está aqui em casa, ao me ver ela se assustou. Conversamos bastante... ou ela conversou. Eu não sinto animo para falar, mas não me importo em ouvir. Respondi só o necessário e isso pareceu o suficiente para ela. Ah, ela trouxe presentes, e pela primeira vez ela acertou: me deu um casaco de couro muito parecido com o seu, a semelhança me assusta, porém ainda não tenho coragem de usá-lo, lembrar de você dói muito, embora eu faça isso o tempo todo, tento evitar, mas é impossível.

16° Dia: Entrei nas redes sociais pela primeira vez desde que você se foi. Tinha várias mensagens perguntando sobre meu “sumiço”, isso levantou meu astral. Perceber que as pessoas sentem minha falta me deixou feliz. Como resultado dessa “felicidade” conversei um pouco mais com minha mãe, agora foi minha vez de fazer perguntas. Mesmo falando pouco ela pareceu satisfeita e eu me senti bem.

17° ao 26° Dia: Peço desculpas por não estar escrevendo com tanta frequência, estou tentando voltar a minha rotina normal. Estou usando a internet para repor todo meu conteúdo atrasado na escola. Não consegui me concentrar para estudar, e não tenho mais você para me ajudar. Acho que não vou me dar bem, mas estou dando meu máximo. Estes são os últimos dias da minha mãe em casa, vou sentir muita falta dela, mas diferente de você, eu sei que ela vai voltar.

27° Dia: Entrei novamente em minhas redes sociais e me deparei com várias perguntas sobre a banda e os próximos shows, não sei como dar essa notícia a eles então eu apenas ignorei. Bia disse que ia vir aqui amanhã, vou pedir para ela postar sobre isso no nosso site.

28° Dia: Nossa banda acabou oficialmente, Beatriz fez um texto falando que vocês se mudaram e por esse motivo a banda deu um tempo. Eu estou agradecendo muito por ter uma amiga que faça isso por mim, seria difícil ter que entrar em nosso site e dar qualquer outra desculpa. Nesse exato momento ela está apagando as perguntas de meu facebook, assim evito pensar na banda e me deprimir mais com isso. Ps: fiz as provas em casa, por algum milagre eu consegui tirar um pouco mais que o necessário e agora estou oficialmente de férias.

29° Dia: Minha mãe foi embora prometendo voltar em duas semanas, durante esse tempo eu vou ser obrigada a frequentar um psicólogo. Não se ao certo como vai ser, e espero não precisar contar o motivo de estar assim. Ninguém acreditaria em mim.

30° ao 45° Dia: Foram semanas difíceis, cada vez mais, perco a vontade de escrever, mas esse é o único jeito de me sentir próxima a você. Tenho falado muito sozinha, sinto que você está aqui, ouvindo minhas conversas escondido, mas sei que é apenas meu subconsciente. Eu estou escutando com muita frequência a fita que você me deu, acho que isso me faz bem. Às vezes eu fecho os olhos e posso sentir você me envolvendo em seus braços sussurrando absurdos em meu ouvido. Durante esses dias fui ao psicólogo, não gostei e não me sinto muito bem lá, mas sei que posso falar qualquer coisa porque ela vai me ouvir. Bel (minha psicóloga) vive me perguntando o motivo para eu estar assim, mas sempre choro ao me lembrar da resposta e isso faz com que ela não insista muito.

46° ao 49° Dia: Minha mãe já está de volta como o prometido, ela tem comprado muito sorvete e acho que isso ajuda. Camila veio me visitar, ela me deu vários conselhos e contou mais algumas histórias sobre você, foi bom, fez com que você parecesse vivo novamente. Ela também me disse que tem um restaurante, e me convidou para visitá-lo qualquer dia. Ah, acho que não te contei, peguei suas roupas. Espero que não se importe em me emprestar, também espero que não fique chateado comigo ou algo do tipo, elas são meu maior consolo já que me lembram constantemente da sensação de estar envolvida em seus braços. Tenho usado elas bastante, principalmente uma camisa xadrez vermelha, ela é linda e muito quente. Durmo usando ela as vezes e com isso eu tenho a impressão de que você está do meu lado, esperando eu dormir para voltar à edícula.

50° Dia: Hoje eu voltei a cantar. Pela primeira vez desde que você se foi eu cantei, comecei a compor uma música nova mesmo não tento motivos afinal, já não tem banda, não tem fantasmas, não tem você. Minha voz soou mais rouca que o de costume e eu chorei bastante enquanto tocava, mas isso me fez sentir viva.

70° Dia: Eu fui fraca, piorei. Chorei mais que o normal e meus pais estão cada vez mais preocupados, nesse intervalo que fiquei sem escrever, minha mãe já veio me ver umas 3 vezes. Como as coisas puderam desandar tanto? Estou quase acabando a música, mas só vou mostrar pra você quando sentir que chegou a hora.

78° Dia: Acho que finalmente ela está pronta, me dediquei mais que o normal para fazer algo no mínimo bom. Decidi que vou compartilhar apenas uma parte com você, o resto será uma surpresa para quando nos vermos de novo...

“Tudo o que eu quero é nada além

De ouvir você bater em minha porta

Pois se eu pudesse ver seu rosto, só mais uma vez

Poderia morrer feliz, tenho certeza


Quando você disse seu último adeus

Eu morri um pouco por dentro

Eu deito na cama chorando todas as noites

Sozinha, sem ter você ao meu lado”

80° Dia: Perdi as contas de quantas mensagens a Bia me manda ao longo do dia, eu não a culpo. As aulas já começaram e ela quer compartilhar como está sendo esse novo ano letivo. Por conta do meu estado tenho um atestado médico, talvez eu atrase um ano, espero que menos, mas, só de pensar em sair de casa eu sinto medo. Não quero que as pessoas me vejam, não quero ouvir perguntas sobre a banda, não quero andar sozinha pelas ruas sem você ao meu lado. Sei que preciso me acostumar com isso, mas eu não consigo, simplesmente não dá.

83° Dia: Acho que não te contei, mas já faz um tempo que eu tenho que tomar remédios para controlar minhas emoções. Porém eles me cansam. Fingi tomar eles por dois dias e as coisas complicaram, descobri que estar “sóbria” e enfrentar a realidade é a pior coisa.

89° Dia: Hoje acordei chorando (uau, que novidade). O motivo como sempre era você, mas hoje de uma maneira diferente. Eu sonhei contigo essa noite, e percebi que já estava me esquecendo de como você era. Como pude deixar isso acontecer? Daniel, você não faz ideia de como doeu ver você ali na minha frente, com os olhos tristes, um sorriso torto típico nos lábios e os braços estendidos me pedindo um abraço. Foi o melhor sonho de toda a minha vida, gostaria de poder repeti-lo. Ah, como eu gostaria de te tirar dos meus sonhos e trazê-lo para a realidade só mais uma vez... Volta pra mim, meu amor, por favor.

90° Dia: Camila veio em casa, percebeu que eu estava mal e perguntou o motivo. Ela ainda tenta entender como eu te conheci, ou como você entrou na minha vida. Mas eu sempre choro e ela se sente culpada por perguntar. Sei que já faz um tempo desde a última vez que nos vimos, mas ainda não superei, me desculpe.

91° Dia: Novamente Camila veio aqui, mas só para me entregar um álbum de fotos. Ela estava ocupada com algum evento importante que teria no restaurante, achei isso bem legal, novamente ela me convidou para passar lá... quando eu tiver coragem de sair de casa, quem sabe.

92° Dia: Meu dia se resumiu em ver suas fotos, acompanhei todo o seu crescimento. Você já se acha demais, mas é inevitável ignorar, você era simplesmente a coisa mais fofa do mundo quando criança. Na sua adolescência você nunca sorria para as fotos e eu ainda tento entender o porquê. Uma das coisas que eu mais sinto falta é de seu sorriso, e infelizmente, só tem uma fotografia que você mostra ele do jeito que eu guardo em minhas lembranças.

110° Dia: Meu pai foi viajar e agora minha mãe está aqui novamente para cuidar de mim. Detesto ser observada quase 24 horas por dia, mas odeio mais ainda ter que ficar sozinha durante esse tempo. Já não sei mais distinguir meus sentimentos dentro dessa bagunça constante que se tornou minha cabeça.

115° Dia: Acordei um pouco tarde e pela primeira vez depois que você partiu entrei na edícula, vi Pedrinho sentado no sofá segurando vários livros de física. Ele me olhou e sorriu pois eu nunca saia do meu quarto. Antes que ele falasse qualquer coisa perguntei “Cadê os meninos?”. Seus olhos ficaram marejados e ele segurou para não chorar. Levantou e me abraçou. Acho que pela primeira vez a ficha caiu, vocês foram embora de verdade. Eu sei que já afirmei isso várias vezes, mas nunca tinha acreditado de verdade nisso.

134° Dia: Eu andei ausente, eu sei. Me perdoe, não foi intencional, mas eles realmente ficaram preocupados comigo e eu precisei de “cuidados extras”. Não quero que se preocupe, foi apenas uma recaída. Ps: Pedrinho jura de pés juntos que sua invenção deu certo, mas ele ainda não conseguiu confirmar na prática através de seus testes já que não escuta nada. Tenho quase certeza de que a mente dele anda tão louca quanto a minha.

135° Dia: Hoje eu conheci a Débora, ela é tão irritante quanto você descreveu, mas ela me deu notícias sobre você, algumas coisas eu não entendi direito... ela fala tanto que me deixou atordoada, mas passou seu recado. Isso me deixou alegre, você não me esqueceu. Eu consegui imaginar sua cara impaciente ao ter que pedir isso para ela, e até visualizei você dizendo cada palavra.

147° Dia: Voltei para a escola faz um tempo, todos me olham assustados, mas eu não me importo. Beatriz tem me ajudado tanto, tenho muita sorte de tê-la ao meu lado.

151° Dia: Débora apareceu para mim de novo, disse que você me amava e eu acho que desmaiei pois não lembro de muita coisa depois. Esqueci de pedir para ela te entregar essa "carta", na próxima visita que ela fizer devo me lembrar... Sinto tanto sua falta

205° Dia: Andei muito ausente, eu sei e peço imensas desculpas, fui passar um tempo com minha família em uma fazenda, isso me fez bem, mas depois eu voltei a ficar fraca. Camila virou minha amiga, nós conversamos bastante, e você já deve imaginar o assunto. Voltei a frequentar a escola depois de me afastar novamente, alguns alunos sabem sobre minha doença e isso faz com que eles me ajudem mais, sempre me perguntam como eu estou ou se preciso de algo. Ninguém sabe o motivo, mas todos sempre tentam me fazer sorrir, isso foi bom no começo, agora me sinto sufocada, nunca tive tanta atenção.

210° Dia: Nicolas veio falar comigo pela primeira vez esse ano, ele disse que sabia sobre meu estado, também pediu desculpas, mas antes que ele tentasse falar qualquer outra coisa eu o ignorei. Deixei ele plantado sozinho no corredor. Espero que você fique feliz com isso. Demorei para perceber, mas hoje sei que ele não passa de um cretino.

213° Dia: Minha nova amiga Camila me levou para o cemitério, pela primeira vez eu vi seu túmulo, foi estranho lembrar que você morreu. Parece meio triste lá, acho que é a falta de cor. Levei uma margaria, espero que goste, é a minha preferida. Prometo levar flores sempre que te visitar, e agora que já sei onde é, prometo ir com frequência.

214° Dia: Estou cumprindo minha promessa, fui no cemitério hoje e levei flores, o lugar pareceu mais alegre, mas sem você não sei como isso pode mesmo ser verdade. Nicolas veio falar comigo de novo e eu descobri o motivo, ele se culpa por eu estar depressiva, isso não é verdade e acho que ele precisa saber. Mesmo não me importando mais com ele odeio pensar que isso pode trazer algum tipo de sofrimento. Culpa é o pior sentimento. E eu me culpo todos os dias por ter deixado você ir.

250° Dia: Débora nunca mais apareceu, não pude pedir para ela te entregar essa carta, não sei se você ainda vai ter a oportunidade de ler, mas caso tenha, me perdoe por estar tão ausente. Eu sinceramente não tenho mais ânimo para isso. No começo ajudava, eu sentia como se estivesse falando com você, mas agora isso me deixa pior, já fazem 250 dias que não te vejo e isso parece estar longe de acabar. Cada dia que passa é um dia mais triste pois você não está aqui.

270° Dia: Fazem algumas semanas que eu me questiono sobre sua existência, há muito tempo atrás eu tinha certeza de que você era real; você não poderia ser inventado. Agora eu já não sei de mais nada, minha mente cria coisas para que eu me sinta bem e talvez você seja uma delas. Espero estar errada, mas sinceramente eu já não sei.

294° Dia: Fui na loja do Klaus, ele se assustou com minha aparência, mas evitou qualquer tipo de pergunta, acho que ele já sabe sobre a banda. Durante esse tempo que não apareci por lá ele garantiu que guardou a maior quantidade de relíquias que pode para mim, fiquei feliz e consegui uns discos ótimos, espero poder ouvir todos com você um dia.

295° Dia: Novamente sai de casa para ir na Kripta, Klaus disse que tinha uma surpresa para mim e quando cheguei lá era um LP do Apolo 81. Não sei o que senti naquele momento, mas isso foi uma prova de que você foi real, todos vocês foram.

296° Dia: Meu dia se resumiu em ouvir seu LP repetidas vezes. Sua voz era tão linda, eu já havia me esquecido dela. Como sinto falta de conversar com você, de te ouvir dizendo o quanto me amava, ou até mesmo implicando comigo. Eu precisava disso, precisava ouvi-la de qualquer forma. As vezes fantasio você conversando comigo, nossa conversa dura horas, mas quando tomo os remédios você vai embora, de novo. Acho que uma hora me acostumo com suas idas e vindas.

347° Dia: Faz um tempo que não escrevo, estou tentando seguir minha vida, já não choro todo dia, mas ainda penso em você. As pessoas ao meu redor acham que estou bem, mas eu sei que não estou, apenas finjo, porque é melhor assim. Cansei de me sentir doente, de ter mais atenção que o necessário, de todos olharem com pena pra mim.

580° Dia: Não esqueci de você, isso é impossível, mas preciso seguir em frente. Cansei de sofrer e me pergunto se tudo isso vale a pena. Eu preciso de você, mas sua ausência já completa todo o vazio que sinto. Tenho visitado seu túmulo todo dia e como o prometido levo flores, as vezes elas nem cabem mais lá, mas isso não me impede de continuar levando. Não sei se sabe, mas já faz um tempo que sua lápide é a mais colorida de todo o cemitério, chama bastante atenção e algumas pessoas até perguntam se é de alguém famoso. Confirmo todas as vezes.

Daniel, cada dia que passa tenho certeza de que você não irá voltar. Sinto que já me esqueceu, esqueceu do nosso amor, de nossas promessas... Sei que preciso fazer o mesmo, mas não dá. Te sentir já não é desejo, é necessidade. Sei que não adianta mais implorar, você não irá aparecer para mim, mas quero que saiba que ainda te espero, e vou te esperar por quanto tempo for necessário, embora eu saiba que não falta muito pois eu já estou desistindo.

É difícil se perder todos os dias, mas sei que uma hora eu me acho.

Julie.