Daniel me evitava já fazia alguns dias, achei que ele já tinha parado com essa mania. Percebi que ele começou com isso desde que perguntei quem era Camila, depois ele ficou todo estranho, sei que é difícil para ele falar sobre o passado, mas acho que mereço uma explicação...

Tentei usar outros métodos, perguntei para Martim e Félix, porém quando eles iam falar Daniel aparecia interrompendo nossa conversa dizendo que isso não era da minha conta. Não vou mentir, estou bem curiosa para saber quem é essa tal de Camila, mas talvez seja melhor eu não descobrir, posso acabar não gostando. Até já tenho uma ideia: deve ser uma ex-namorada – linda – do Daniel, aposto que o dois se divertiam muito juntos, eram rebeldes por aí e nunca seguiam as regras, talvez ela até tenha feito parte da banda... Pois é, se for isso prefiro não saber mesmo.

Já era sexta-feira, havia voltado da escola fazia um tempo, a Bia estava em casa conversando enquanto terminávamos um trabalho para a próxima semana.

— A gente precisa focar na banda, acho que termino de editar o clipe logo, mas precisamos de uma nova música... – ela comenta.

— Poderíamos fazer outro show na loja do Klaus enquanto isso. – sugeri. Por mais que o último show tenha me traumatizado um pouco, os meninos não têm culpa e eu estaria sendo injusta com eles, e também não posso desistir dos meus sonhos por causa de um garoto. Ainda mais se esse garoto for o Nicolas.

— Acho que não, falei com ele esses dias e parece que algumas caixas de som quebraram, as novas só chegam no mês que vem. E não adianta querer tocar com os amplificadores que vocês têm, a intenção é melhorar a qualidade sempre e não o contrário. Com todo o respeito, claro.

— É, eu estou tentando juntar dinheiro, mas não é tão fácil...

— Tudo bem, a gente dá um jeito. – ela diz colocando seus livros na bolsa. – Que horas são Jú?

Olho no meu celular. – Quase quatro, por quê?

— Tenho que ir, Valtinho quer ir ao cinema assistir um novo filme de terror que saiu e se eu chegar atrasada ele vai me perturbar pelo resto da vida. – rimos juntas.

— Vai me deixar sozinha mesmo? – fiz um biquinho tentando convencer ela a ficar, mesmo sabendo que isso seria impossível.

— Sem drama Jú, nos vemos depois. – me deu um beijo na bochecha e foi até a porta. – Não esquece de ir pensando em uma música nova, precisamos dela o mais rápido possível. – disse autoritária. – Beijos!

— Beijo... – vi ela sumir pela calçada e fechei a porta. Quando me virei em direção a sala meu fantasminha preferido apareceu do nada.

— Oi!

— Que mania Daniel, adora me assustar. – falei colocando a mão no coração

— Desculpa. – disse irônico indo se sentar no sofá. – Eaí, a Bia já marcou um show?

— Não. – me sentei do seu lado. – Só vamos poder tocar na loja do Klaus mês que vem, e se formos procurar outro lugar não vai ter tanta diferença de data, lembra da última vez? – me referi a quando Demétrius nos forçou a acabar com a banda e nos “deu” um último show de despedida. Ele assentiu. – O jeito é esperar...

— Hum. Mesmo assim, vamos ter que achar outros lugares para tocar, a Kripta já está ficando pequena demais para nós. Na sexta mal coube o pessoal lá. – disse sorrindo.

— Convencido. – soquei de leve seu ombro.

— Só um pouco. – disse se aproximando, quando percebi que faltavam poucos centímetros para nossos lábios se tocarem me afastei.

— Não Daniel... – abaixei a cabeça.

— Huh, por que? Seu pai não tá em casa.

— É, mas o Pedrinho está.

— E....? – segurou meu queixo levantando meu rosto obrigando a encará-lo

— Não sei se quero que ele saiba.

— Ele é seu irmão Julie, não espalharia por aí, ele sabe que somos fantasmas e guarda bem esse segredo. – Daniel parecia chateado.

— Sei lá, por que quer que ele saiba? Nós nem estamos juntos... – o olhei sugestivamente.

Suspirou, mas sorriu em seguida. – É isso que você quer mesmo? – sorri encantada, é sério? Ele vai me pedir em namoro agora?

— Sim! Quero muito...

— Ok, faltam só dois dias para você terminar de pensar, aí nós vemos no que vai dar. – meu sorriso foi desaparecendo, mas ele pareceu não ligar. Ainda não entendia porque ele insistia em esperar.

O silêncio reinou até que me lembrei de uma coisa.

— Daniel, posso te fazer uma pergunta? – falei me aproximando mais dele, quase subindo em seu colo.

— Já fez... – sorriu de lado

— É sério, fora essa. – insisti.

— Olha, se for sobr—

— Quem é Camila? – o interrompi

Bufou. - Mas de novo isso Julie? - parecia irritado.

— Por favor. – estava quase implorando. Olhei para os lados e não vi ninguém, aproveitei a ocasião e comecei a distribuir beijos por todo o rosto dele. – Por... Favor...- supliquei entre os beijos. Senti ele começar a sorrir, ótimo, estava dando certo

— Hum... Tá. – disse emburrado. – Só vou falar uma vez e depois nunca mais tocamos no assunto, pode ser?

— Mas pra que tanto mistério?

— Quer saber ou não?

— Grosso – resmunguei, mas minha curiosidade falava mais alto. – Quero!

Suspirou. – Camila foi uma “namorada” do Martim.

— E...?

— E nada, só isso.

— Não pode ser só isso.

— Você perguntou quem é ela e eu respondi, fim.

— E por que demorou tanto para responder?

— Ah, s-abe... – se enrolou. – Não gosto de falar sobre meu passado.

— Hum. – não acreditei nessa história, sei que não termina por aí. – E ela já morreu?

— Era só umapergunta... – reclamou.

— Já morreu ou não?

— Ah sei lá Julie, esquece isso, nem sei.

— Por que eu não consigo acreditar?

Suspirou derrotado, sabia que eu não iria desistir até saber. – Acho que está viva, mas isso não tem importância. – quando ele disse isso fiquei mais tranquila, afinal, imaginava que essa Camila fosse uma ex-namorada do Daniel, mas pelo visto não... Só não entendi todo seu mistério, mas estava feliz demais com isso para me preocupar com outras coisas.

— A Bia quer que a gente faça uma música nova. – mudei de assunto. – Você me ajuda?

Ele sorriu, parecia estar com os pensamentos longe. – Hum, tá. Depois a gente vê melhor isso. Tenho que ir agora, até mais tarde. – Ia protestar, mas ele me calou com um beijo, tentei aprofundar, mas ele estava apressado e terminou logo. – Tchau. – e ficou invisível. Suspirei, agora que mudei de ideia sobre o beijo, ele decide sair. Queria aproveitar que estávamos a sós, mesmo o Pedrinho ainda estando em casa, tivemos privacidade.

Ultimamente os meninos tem seguido o Daniel por todo lado impedindo que nós dois ficássemos sozinhos, isso já estava ficando sufocante... Sem falar que meu pai passava cada vez mais tempo em casa.

Fiquei assistindo televisão até ver que faltavam apenas alguns minutos para meu pai chegar do seu trabalho, acho que acabei dormindo pois nem vi o tempo passar. Percebi que a sala ainda estava bagunçada com meus materiais de escola e o suco que peguei para a Bia. Levei a louça para a cozinha e lavei tudo, peguei meus livros e subi as escadas, quando cheguei na porta do meu quarto a vi fechada, estranhei afinal tinha deixado ela aberta da última vez, mas não dei importância, um dos meninos deve ter entrado aqui...

Tive uma certa dificuldade em equilibrar os livros em um único braço para alcançar a maçaneta, mas nada impossível. Coloquei tudo em cima da minha escrivaninha e quando estava saindo percebi uma caixa em cima da minha cama, achei estranho, mas a curiosidade era maior. Me aproximei com receio, porém quando abri tive uma surpresa, dentro dela havia uma fita cassete indicando a música “I Don't Want To Miss A Thing” com letras grandes e um cartão preso à uma margarida.

“Well every moment spent with you

Is a moment of treasure”

— Com amor, seu Daniel

Sorri boba com isso, nunca imaginei que aquele fantasma durão que fazia de tudo para me ver mal, teria seu lado romântico. Pois é, ele tem me conquistado nas pequenas coisas e nem sabe. Suspirei profundamente até que senti duas mãos tampando meus olhos.

— Daniel? – perguntei aumentando meu sorriso e tirando as mãos para poder enxergar. Ganhei um beijo no canto da boca como resposta.

— Gostou? – sussurrou roçando o queixo no meu pescoço me deixando arrepiada.

— Muito. – me virei para ele a tempo de ver seu sorriso satisfeito.

— Uma surpresa de vez em quando é bom...- beijou minha testa, caminhou até a cama, pegou a fita cassete e colocou ela para tocar no meu toca fitas antigo que havia ganhado da minha mãe. - Dança comigo? – perguntou estendendo a mão e vindo em minha direção. Sorri um pouco tímida, eu não sabia dançar, mas não ia desperdiçar esse momento com ele, principalmente agora que Daniel está todo romântico.

Assim que peguei sua mão ele me puxou rapidamente para mais perto segurando com firmeza minha cintura, coloquei com cuidado minhas mãos em volta do seu pescoço e fiquei encarando seus olhos que por algum motivo pareciam sempre estar tristes. O quarto era pequeno então não tínhamos muito espaço para mostrar nossas “habilidades” afinal, percebi que ele sabia dançar tão bem quanto eu, então apenas balançávamos nossos corpos de um lado para o outro num ritmo totalmente diferente da música, confesso que estava gostando, nunca tinha dançado com nenhum garoto antes. Acho que ele também estava curtindo, pois não parava de me olhar. Comecei a ficar sem graça.

Subi minha mão direita até sua bochecha onde comecei a fazer carinho, aos poucos ele fechou os olhos e sorriu com meu gesto. Comecei a encará-lo e decorar cada parte do seu rosto. Era tão perfeito, como nunca tinha percebido isso antes? Cada linha, cada traço de sua feição parecia ter sido desenhado exclusivamente para ele. Seus lábios... eram finos, mas tão bem contornados, fiquei hipnotizada querendo sentir eles se encaixando perfeitamente nos meus novamente. Acho que Daniel leu meus pensamentos, pois assim que abriu os olhos e viu que eu o encarava, me beijou. Era um beijo suave, e delicado. Abri a boca deixando sua língua passar e percebi o quão carinhoso ele era, comecei a retribuir a altura tentando ao máximo dizer um “eu te amo” através daquele beijo. Ele foi parando aos poucos me dando um tempo para respirar. Encaixei minha cabeça entre seu ombro e seu pescoço, comecei a brincar com seu cabelo perto da nuca desfazendo alguns cachinhos que sempre voltavam a ser como eram, como se eu nunca tivesse mexido.

Quando me dei conta a música já tinha acabado e nós estávamos dançando ao som de nossos pensamentos.

— Foi por isso que saiu mais cedo? Para me fazer essa surpresa?

— Também...

— Também? Tem mais? – ele me encarou e sorriu como resposta. – Não precisa se incomodar com isso, não quero q—

— Ei. – me interrompeu. – Não posso tentar te conquistar? – sorriu travesso. Sinceramente, amei muito a surpresa que ele fez, mas não me sentia muito bem com isso, gostaria de retribuir esse carinho, mas ele era um fantasma, e seria difícil procurar um presente.

— Você já me conquistou, não precisa disso. – falei sorrindo.

— Não gostou? – perguntou parando de dançar e tocando meu rosto.

— Claro que gostei, muito! – disse depressa. – Só que... Eu não tenho nada para te dar em troca, digo... Não sei o que voc—

— Seu sorriso é o melhor presente que eu poderia receber. Não se preocupe com isso. – falou compreensivo enquanto eu sorria abertamente com suas palavras, que para ser sincera, não esperava, nunca, ouvir isso de alguém, principalmente do Daniel. – Esse mesmo, fica tão linda assim. Ainda mais com essas covinhas. – concluiu tocando uma delas.

Nos aproximamos ao mesmo tempo, e nos beijamos. Era apenas um selinho, mas já me fazia sentir mais emoções que qualquer outro beijo que recebi do Nicolas. Como fui tão estúpida? Senti ele apertar minha cintura me trazendo para mais perto dele enquanto eu segurava seu rosto impedindo-o de se afastar. Queria sentir melhor seu carinho então pedi passagem para explorar mais sua boca, na mesma hora ele aceitou. Sorri, ele parecia necessitar disso tanto quanto eu. Não muitos segundo depois o beijo começou a ficar desesperado, nossas línguas lutavam por espaço. Comecei a sentir falta do ar, e acho que Daniel percebeu isso pois não passou muito tempo até ele se afastar e encostar nossas testas. Ele sorriu torto me fazendo perder o resto do ar que ainda tinha.

— Ainda tenho outra surpresa...

— Outra? – pergunto curiosa.

— Sim. – ele disse rindo, acho que ele percebeu meu interesse. – Bom, você disse que estávamos precisando de uma música nova, e como eu ando bem inspirado ultimamente. – deu uma piscada para mim. Corei. - Tenho escrito algumas...

— Hum... Mas que menino prendado – digo rindo.

— Eu tenho minhas qualidades. – sorriu convencido enquanto eu revirei os olhos. Pegou meu violão que estava no canto do quarto, e puxou minha mão para sentarmos juntos na cama. – Espero que goste. – disse me olhando serenamente, sorri incentivando-o a começar.

“Eu quero guardar teu beijo
Na concha das mãos
Teu cheiro eu levo feito mancha na roupa
Que eu não lavo não

Sou alvo pros teus olhos claros parecidos
Com essa estação
E adoro os efeitos sonoros de quando você sussurra
Absurdos no ouvido do meu coração

Se eu corro
Eu corro demais só pra te ver meu bem
É que eu quero um socorro
Se eu corro...”

Quando ele acabou fiquei de boca aberta, ele seria capaz de compor uma música tão linda assim para mim?

— Eaí, gostou? – me olhou ansioso por uma resposta.

— Nossa! Muito, sério... É perfeita. – não tinha palavras para descrever.

— Escrevi para uma garota muito especial. – me encarou sugestivamente.

— Posso saber o nome dessa minha concorrente? – brinco entrando no joguinho dele.

— Ah, ela pediu segredo... Não gosta de exibir nosso amor por aí.

— Ela deve ter seus motivos.

— Será? – responde travesso.

— Engraçadinho. – digo sorrindo e me aproximo para beijá-lo novamente... Ficava cada vez mais fácil me acostumar com seus lábios junto aos meus.