Estava na praça abraçada com Daniel, afundava meu rosto em seu pescoço sentindo seu cheiro. Era tão bom. Ele me segurava com força como se não quisesse me soltar nunca. Podia sentir ele sorrir mesmo não o encarando.

— Eu te amo. – disse de modo tranquilo e puro, como fizesse uma observação simples do tipo “O céu é azul”. Não pude deixar de sorrir, me sentia a pessoa mais feliz do mundo. Como não pude perceber alguém que sempre esteve do meu lado? Alguém que sempre me apoiou e se importou comigo... Ok, ele tinha dificuldades para demonstrar isso, mas agora está tão diferente, mostrava um lado que eu nunca pensei que ele teria, era compreensivo e até um pouco romântico... Com esses pensamentos quase me esqueci de responder à altura.

— Eu também... Te amo muito. - falei com toda minha sinceridade. Afastei um pouco para encarar seus olhos e assim que sai do abraço Nicolas sorriu para mim. Arregalei meus olhos, olhei para os lados e vi Daniel à alguns metros de distância, se afastando cada vez mais. Ele se mostrava triste, dava passos lentos e estava de cabeça baixa, mas assim que virou para trás e nossos olhares se encontraram, vi uma lágrima grossa e solitária descer pelo seu rosto. Aquilo partiu meu coração.

— Daniel! - tentei correr atrás dele, mas um braço me segurou. Me virei e enxerguei a pessoa que agora, tudo o que sentia era nojo.

— Julie... - tentava me soltar de todas as maneiras, mas infelizmente, ele era mais forte que eu.

— Não... me solta... - enxergava Daniel se afastando cada vez mais. - Eu preciso ir atrás dele.... Larga. - mas ele só me apertava cada vez mais.

— Julie! Por favor... - Nicolas insistia. Por um descuido acabou me soltando e eu corri atrás do meu fantasminha, porém quando eu estava me aproximando não senti mais o chão em baixo de mim. Estava sendo carregada no ombro de outra pessoa, ele me segurava pelas pernas e cintura. Continuei vendo Daniel se afastar até que olhei quem me segurava. Não conseguia enxergar seu rosto pela posição ruim, apenas seu cabelo liso e uma cor que eu não conseguia definir afinal, já estava de noite e só a luz da lua iluminava o parque. Jurava já ter visto ele antes, mas não me recordava.

— Julie... - gritou com a voz mais fraca. Comecei a me debater e chutar quem me segurava, acho que acabei acertando uma parte um tanto... perigosa pois no mesmo instante a pessoa me soltou e quando fui ver seu rosto acordei.

Levantei assustada, olhei para os lados e vi Daniel na janela do meu quarto.

— Quando ele vai nos deixar em paz? - reclamou baixinho.

— Daniel? - perguntei baixo, ainda estava atordoada pelo pesadelo. No mesmo instante ele se virou pra mim, estava sério, mas deu um meio sorriso.

— Acordou meu amor? - sorri boba com suas palavras.

— E-eu dormi?

— É, acho que sim. Você reclamou do filme e escondeu seu rosto em mim. - sorri tímida me lembrando. - Achei que estava quieta demais e quando percebi estava dormindo.

— E vo--

— Julie! – alguém gritou, ele fechou a cara.

— O que foi isso? - perguntei me levantando.

— O panaca está lá em baixo te chamando faz uns minutos. - resmungou. - Acho que nunca vou poder ser feliz de verdade... - falou tão baixo que não tive certeza do que ouvi, deixei passar e me aproximei da janela.

— Julie! Por favor, eu sei que está aí. - vi Nicolas gritando lá em baixo, isso explica a voz do meu sonho...

— Vo-você vai falar com ele?! - Daniel ficou revoltado ao ver que eu ia em direção à porta.

— Vou expulsar ele antes que meu pai chegue.

— E se ele te machucar? - acho que ele não queria que eu fosse falar com o Nicolas.

— Julie!

— Ele não vai, el--

— Como pode ter certeza? - me interrompeu.

— Calma Daniel. - coloquei minhas mãos em seus ombros tentando acalmar, mas isso não parecia ajudar. - Só vamos conversar.

— Na sexta vocês também só iam conversar! - Elevou a voz, mas suspirou se acalmando depois. - D-desculp-a... Eu... Eu só... Me preocupo com você. – Admitiu meio transtornado.

Sorri com suas palavras e me aproximei devagar, mas Daniel tomou controle da situação e me beijou mais rápido. Era só um selinh,o mas já fez meu coração bater mais forte e sentir meu estômago borbulhar.

— Julie! - Nicolas ainda gritava, mas eu não estava me importando com mais nada.

Daniel me puxava cada vez mais perto pela nuca de modo desesperado, como seu eu fosse embora algum dia. Ele pediu espaço para aprofundar o beijo e eu aceitei no mesmo instante. Aquele gesto, aquela paixão que ele demonstrava quando nossas bocas estavam juntas... Era diferente de tudo, era quente, doce. Sorri enquanto ele chupava meu lábio inferior. Daniel ia falar alguma coisa, mas eu não queria que aquele beijo terminasse, era muito bom estar em seus braços, me sentir completa, me sentir dele. Mas uma hora tinha que parar... Minha respiração já estava desregulada quando ele terminou com um selinho. Encostou nossas testas e sorriu para mim. Ainda estava com a cara emburrada, mas parecia mais calmo e feliz.

— Pode ir falar com ele. - passou seu polegar em meus lábios. - Mas... Eu vou junto.

— N-não... Preci-sa. - ainda estava ofegante. Respirava com dificuldade.

— Eu vou junto. - disse firme.

Preferia que ele não fosse, mas talvez assim fosse melhor... Ele me protegeria, tinha certeza disso. Sorri e dei mais um selinho, não demorou muito porque Nicolas ainda gritava como se não houvesse amanhã e isso já estava me irritando.

Peguei a mão de Daniel e descemos as escadas juntos. Quando chegamos em baixo olhei para seu rosto, além da expressão emburrada tinha algo mais... preocupação? Acho que ele estava me escondendo alguma coisa, mas deixei passar, queria expulsar Nicolas logo.

— Julie! – sua voz já estava rouca de tanto gritar, mas eu já não me importava mais com ele... Não como antes.

Abri a porta e Nicolas veio correndo em minha direção me abraçando.

— Julie... ah, que saudades. Estava te chamando já faz quase meia hora, por que demorou? – tentou me beijar, mas me afastei. Pelo canto do olho pude ver Daniel se segurando para não “voar” em cima do Nicolas.

— O que você está fazendo aqui? – perguntei séria.

— C-como assim? Nós não íamos sair hoje? – Acho que ele não se lembra do que aconteceu na sexta... Ou se lembra acha que eu o perdoei.

— Nicolas... Nós não vamos sair hoje.

— Como assim? Nós tínhamos combinado! - Ele realmente parecia confuso ou assustado, não sei descrever sua expressão... Ele parece mesmo não lembrar do que aconteceu.
— Sim... Mas nós não vamos mais... Nicolas, nós terminamos.

— Não... – parecia desesperado. – Não terminamos! – gritava em quanto puxava seus cabelos. Estava ficando assustada então fui me afastando da porta. – Quando? – veio em minha direção, Daniel já se preparava para tirar ele de cima de mim, mas Nicolas apenas segurou meus ombros.

— Na sexta... Voc-ê.... Você não lembra?

— Lembro... Nós conversamos... Discutimos um pouco, mas não terminamos. – se acalmou.

— Não. – falei firme. – Depois do show você me procurou. – Nicolas olhava para os lados, parecia preocupado com alguma coisa ou assustado. – Tentei conversar, mas você estava muito nervoso. – a cada palavra que eu falava ele parecia ficar cada vez mais transtornado. Daniel percebeu e veio para perto de mim, me abraçou por trás, mas não me mexi, não poderia retribuir naquela hora. – Nos desentendemos e terminamos...

— E-eu n-ão me lembro... – disse abaixando o rosto e me encarando em seguida. Pude ver seus lindos olhos azuis marejados, senti pena de seu estado... Ele parecia não se lembrar mesmo, mas continuei imparcial, o que ele estava sofrendo agora não era nem metade do que passei na sexta.

— Hum. – foi minha resposta... Não sabia o que fazer, até que ele me pegou de surpresa.

— Jú, por favor. - se ajoelhou na minha frente e pegou minhas mãos. – Todos os casais brigam, não vamos terminar por um desentendimento, não é?

— Nicolas... – puxei minha mão. – Você me magoou muito.

— O que eu fiz? – perguntou sussurrando e com um certo remorso.

— Idiota. – Daniel resmungou enquanto o máximo que fiz foi suspirar.

Puxei a manga da minha camiseta e esfreguei com cuidado no meu rosto retirando um pouco da base e corretivo que usava para esconder as marcas que eu faria de tudo para esquecer. Quando uma boa parte já tinha saído, parei. Não tinha coragem de levantar o rosto, então me limitei a olhar para baixo e me concentrar na mancha que ficou com os restos de produto na minha manga. Ouvi Daniel suspirar enquanto Nicolas abria a boca provavelmente assustado com o que fez.

— Eu... J-ulie, eu juro... Não – parecia desesperado. – Julie, eu nunca faria isso com você, por favor...

— Eu também achava isso, mas você fez.

— Por favor – se ajoelhou de novo, Daniel bufou. – Me dê outra chance, eu juro que nunca mais. Nunca mais – frisou – faço isso de novo. Por favor – uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto. Confesso que isso partiu meu coração, ele me machucou, literalmente... Mas no fundo, ele ainda era aquele cara pelo qual me apaixonei na terceira série.

— Esse cara não entende o significado da palavra “Não”? – Daniel resmungava. Ops, havia me esquecido dele, não poderia acabar com seus sentimentos outra vez. Ele estava mudando por mim, está fazendo de tudo para me conquistar, droga. Eu sei o que é isso, tentar impressionar a pessoa que ama. Sei como é ter seus sentimentos esmagados... Não. Ele não poderia sentir isso de novo, ele é uma pessoa maravilhosa, nunca me fez mal. Não merece isso.

— Nicolas, eu juro que queria acreditar em você... Mas... – Suspirei. – Não dá. – falei fraca, aquela conversa não estava me fazendo bem. A cada segundo que passava eu via flashes em minha memória sobre os acontecimentos de sexta. Eu estava mesmo ficando sentimental.

Quando percebi, ele se aproximava tentando me roubar um beijo, mas Daniel foi mais rápido e me puxou para ele fazendo com que eu escondesse meu rosto em seu peito, acho que Nicolas não via isso.

— Nem tente. – meu fantasminha rosnou, mas acho que não foi só eu que ouvi.

— Oi? – Nicolas olhou para os lados.

— Por favor... Vá embora, eu não quero ficar pior. – Os dois me olharam apreensivos, acho que ficaram preocupados. Fechei os olhos e senti uma pontada na cabeça.

— Jú, tá tudo bem? Você está pálida – Não sei dizer quem me perguntou, coloquei as mãos na minha cabeça até que senti tudo girar.

— Nicolas, apenas... Vá embora. - disse com dificuldade. – Depois nós conversamos. – Senti duas mãos me segurarem pelos cotovelos, acho que apenas isso me impedia de cair, abri os olhos e Daniel estava com uma expressão preocupada, me encarava sério com seus olhos tristes.

— Estou bem. – tentei sorrir, mas falhei. A dor estava me incomodando.

— Jú... – Nicolas tentou se aproximar, mas me afastei um pouco rápido demais o que fez a tontura piorar.

— Tchau Nicolas. – tentei andar, mas a verdade é que fui tropeçando até a porta. Daniel tentou me ajudar, mas recusei.

Suspirou. – Melhoras Jú. – tentou me dar um beijo na bochecha, mas virei meu rosto, quanto menor o contato melhor... Me olhou triste e novamente vi uma lágrima escorrer pelo seu rosto. Aquilo doeu em mim, odiava ver as pessoas chorando, ainda mais quando eu era a culpada.

Nicolas abaixou a cabeça e foi embora sem olhar para trás. Fechei a porta e senti meu mundo cair. Comecei a chorar desesperada, aquela conversa realmente não me fez bem.

Estava perdendo os sentidos, comecei a cair, mas quando estava quase de joelhos no chão dois braços fortes me seguraram.

— Julie...- Daniel me olhava preocupado. O abracei com toda a força que restava e comecei a chorar em seu ombro. Ele ficou sem reação, mas retribuiu meu carinho a altura.

Estava desesperada, chorava até soluçar. Tudo caiu sobre mim muito rápido, a briga com o Nicolas, o amor do Daniel, considerar voltar com um cara que eu deveria ter nojo, ver ele chorar... Meu pesadelo, imaginar que posso magoar o meu fantasminha novamente... Não aguentava tudo isso.

— Julie, olha pra mim. – Daniel me puxava tentando ver meu rosto, mas não queria sair do seu abraço, me agarrei mais à ele e comecei a acariciar seus cabelos. Ele suspirou. – Shhhh, já passou. – Alisava minhas costas. – Jú...- beijou minhas bochechas. – Por que tá chorando? – me afastei um pouco, queria ver seu rosto. – Vai ficar tudo bem... – alisava com cuidado meus machucados que já não estavam mais escondidos. Encarei seus olhos tristes e juntei nossos lábios com rapidez. De início ele não retribuiu, até se assustou um pouco, mas depois cedeu abrindo espaço para eu passar com a língua. Ele me beijava com vontade, no meio eu sentia o gosto salgado das minhas lágrimas, mas Daniel parecia não se importar. Dei alguns selinhos e o abracei desesperada de novo, afundava meu rosto em seu pescoço sentindo seu cheiro doce. Ele me segurava com força e alisava meus cabelos. – Se você não me contar o porquê de estar chorando não vou poder te ajudar... – insistia.

— M-e pr-o-met-e um-a cois-a? – pedi entre soluços.

— Qualquer coisa. – sussurrou em meu ouvido.

— P-rom-et-e qu-e n-unc-a v-ai me deix-ar? – falava toda enrolada, não tinha certeza se ele tinha entendido, mas mesmo assim respondeu.

— Prometo meu amor, eu prometo. – Senti ele me apertar mais forte e depois não senti mais o chão. Quando abri os olhos Daniel me carregava escada à cima, ele fazia uma expressão de desconforto, mas parecia um pouco mais calmo.

— Ac-ho que to mesmo g-orda. – respondi tentando parar de chorar.

— Esquece isso. – Abriu um sorriso lindo mostrando todos os seus dentes e depois deu um beijo em minha testa.

Segurei seu pescoço com força o beijando enquanto meu fantasminha sorria e insistia em me carregar.

Ele chutou a porta e entramos no meu quarto, Daniel me colocou na cama, distribuiu vários beijos pelo meu rosto, eu só conseguia sorrir.

— Descansa meu amor. – acariciou meu rosto.

— Fica comigo...- ele fez uma careta, mas me empurrou um pouco e se deitou ao meu lado. Me ajeitei ficando quase por cima dele, coloquei minha cabeça em seu peito e estranhei não escutar seu coração bater. Por um minuto esqueci o que ele é de verdade. Suspirei enquanto as últimas lágrimas ainda insistiam em cair.

— Dorme Julie. Vai acordar melhor... – sussurrou e começou a fazer carinho em meus cabelos, sorri e aos poucos fui pegando no sono. A última coisa que ouvi antes de dormir foi uma melodia calma e triste que ele cantarolava, não prestava atenção na letra afinal já não estava muito consciente, mas antes que eu tentasse entender algo o cansaço me tomou.