Ao mesmo tempo que meu consciente estava convencido que o Clark não podia, de nenhuma maneira, ser o Superman, ouve uma reviravolta em minhas conclusões e que novamente atiçava minha curiosidade. Nas semanas que passaram, em mais de uma vez foi notável que ele sempre sumia segundos antes de o Superman ser notícia. Era algo em perfeita harmonia, Superman fazendo algo público, em meu horário de trabalho, sempre dava um jeito de passar perto da mesa do Clark, e ele nunca estava lá. Depois, ele foi designado para a cobertura do herói. Então, se ele fosse o Superman, ele seria o responsável por fazer matéria sobre si mesmo para o jornal, meio viajado isso. Eu... passei a ter certeza que algo de errado não estava totalmente certo por fatos que aconteceram em cerca de três dias e cheguei a conclusão que Clark Kent é, ou conhece. Não foi uma conclusão logo de cara não. Como vou chegar em alguém e falar: "Aqui, eu sei que você é o Superman" e continuar ser levada a sério?. A conclusão aconteceu por fatos realmente relevantes. Minha madrinha tem mania de assistir (em velocidade rápida, lógico) a gravação da câmera de segurança de sua casa, antes de ontem cheguei na casa dela quando terminava de assistir uma dessas gravações, ainda em pé encostei na cadeira que ela estava sentada, de frente para o monitor do computador. Em meio a conversas aleatórias sobre futebol (sim, amamos futebol), enquanto o vídeo rodava, ela se levantou para atender a porta, pausando bem quando um cara engravatado acabava de virar o quarteirão, abrindo o terno que usava. Qual é, vou ter que aguentar o suspense até minha madrinha resolver voltar? Dei o play, e o que vi foi o cara jogando aquela roupa no chão e sumir. - O que é isso? - sussurrei, puxando rapidamente a cadeira na minha frente e sentando para novamente olhar o monitor. Usei um dos "truques" que minha madrinha não sabe: aproximar a imagem ao extremo, mas de forma que a qualidade da imagem não piore.

— Só pode ser zueira. - continuei falando baixinho e sozinha olhando o rosto daquele cara... eram as feições do Clark, com aquele óculos, olhar sério, rosto do estilo formato quadrado que deixa um queixo perfeito e um sorriso que chama atenção, como se até soubesse que estaria sendo gravado. E com a velocidade de reprodução do vídeo reduzida, o homem se tornava o Superman e sumia da imagem, como um jato. Eu não tive dúvidas, enquanto minha madrinha continuava lá na porta, e pela voz que ouvi era com a vizinha gentilmente conhecida como a repórter do bairro, um das fofoqueiras. Copiei as imagens em um pen drive, o trecho daquela gravação feita por volta das 2:30 da madrugada como prova e paguei aquele trecho. Ontem eu não pude trabalhar, tinha uma consulta marcada e sabe como é o sus, tudo sempre demora, mas já que tinha atestado não tinha motivo o suficiente para ir trabalhar ainda naquele dia. Mas hoje... hoje eu fui até mais animada, porque hoje não estava fazendo aquele sol quente de meio dia, estava fazendo um friozinho e era um ótimo momento para estrear minha jaqueta nova. Jaqueta toda preta, algo que parecia um couro (couro falso, claro), com algumas poucas tachinhas prata. Eu... não sei porque, mas estava ansiosa, totalmente diferente das crises de ansiedade que algumas vezes insistiam em aparecer, acelerando o coração e me causando dor nas costas. Era uma ansiedade de espera, estava esperando Clark Kent passar perto de mim, queria veio, mesmo sem nenhum motivo aparente. E não demorou muito, cerca de quase uma hora depois que eu cheguei, ele veio até meu setor, na minha mesa, querendo... tinta para carimbo.

— A direção gosta de "amarrar" tinta para vocês né. Passei a ser o centro de distribuições. - falei sorrindo, abrindo meu armário para pegar o potinho de tinta.

— Bom que é um motivo para vim até aqui, e te ver. - me deixou um pouco sem jeito - Assim, você é o centro das atenções, você que manda. - e sorriu - Não é ótimo?

—É... tipo isso né? - falei acabando de colocar a tinta.

— Antes que eu me esqueça. - disse ele já saindo - Bela jaqueta, combinou bem com você.

...

Faltando pouco para que eu saísse do trabalho, ainda passei no setor dele, e entre as pilhas de correspondências que eu levava, inevitavelmente algumas eu tinha que entregar a ele. Quando cheguei em sua mesa, Clark já estava se levantando, ele recebeu e disse:

— Eu tô correndo hoje, se tiver mais alguma coisa que sou obrigado a receber pode deixar aqui debaixo da minha mochila porque ninguém mexe e eu não esqueço.

— Ok.

— Eu tô voando hoje.

Eu até sorri baixinho quando ele disse que estava "voando hoje", apena por causa das minhas suspeitas, mas... Eu estava no último andar do prédio do Planeta Diário, mais precisamente o quinto andar, meu expediente já tinha acabado, mas tinha combinado com minha mãe de encontrarmos no centro da cidade para fazer umas comprinhas e ela ainda não tinha chegado. Fazer hora no térreo era melhor do que na rua, a vista era bonita, o ar era fresco e tinha um jardim. Eu estava escorda na grade de proteção, de costas para o jardim, olhando o movimento monótono das ruas lá embaixo quando senti uma rajada de vento um pouco mais forte que fez meu cabelo voar para meu rosto, no mesmo instante que acontecia, olhei para meu lado direito, na direção do vento e surpreendi.

— Superman. - falei dando um sorriso totalmente surpresa, me virando para ele, que estava perto de mim e a uns dois metros do chão (sei lá a altura, não tenho esse censo de medição). Olhei diretamente seu rosto, encantador, reluzente e direcionei meu olhar para uma mochila, totalmente marrom claro e escuro com um rasgado na alça, é... eu tinha acabado de ver essa mochila, na sala principal dos redatores e era o suficientes para saber de quem poderia ser. Sorri de novo arqueando uma sobrancelha. Ele escondeu a bolsa atrás do próprio corpo e disse:

— Bela jaqueta, combinou bem com você. - e ele subiu como um jato. Um certo alguém havia me dito isso mais cedo. Filho da mãe, ele sabe que descobri algo. É ele, o Superman.
...