A quase filha de Krypton.

Que tal almoçarmos juntos?


Ontem, fui embora rindo sozinha. Encontrei minha mãe na cidade, fizemos umas comprinhas e o tempo todo não podia comentar sobre minha conclusão da relação de Clark Kent e o Superman. Ai... que tortura que foi tirar conclusão de tanta coisa e não poder compartilhar com alguém, isso me fez demorar um pouco mais para dormir a noite, mas quando amanheceu... foi a sexta feira em que eu mais estava animada para trabalhar.
Minha carga horária é de 11:00 ás 15:00, pouco tempo? É. Recebo quase nada? Pois é. Mas eu amo! Hoje eu cheguei no Planeta Diário, passei pela recepção, apenas para ver se tinha algum recado, ou documentos na minha mesa. Resolvi tudo em uma hora, despachei tudo que tinha de despachar, atualizei algumas coisas, conversei com Claire por mímica, através de duas paredes com divisórias transparentes que nos separam, peguei minha bolsa, a garrafinha de água e fui para meu outro setor de trabalhos das sextas feiras, a sala principal dos redatores.
— Bom dia, bom dia!! - falei chegando no setor, afinal ainda faltava dez minutos para meio dia e recebi alguns tímidos "bom dia" de volta. Fui em direção à minha mesa, passei pela mesa do Clark para chegar até a minha, mas ele não estava lá. Tô pensando nele de mais, misericórdia. Minha mesa nas sexta feira era boa e ruim ao mesmo tempo, era a mesa de um estagiário de segunda a quinta, que não ia na sexta. Atrás de mim era uma parede, do lado esquerdo: dava para ver o movimento da avenida lá embaixo e adimirar as árvores do parque que fica na beira da avenida pelo enorme janelão de vidro. Mas, do lado direito... um armário enorme com várias pastas de arquivos todos empoeirados. Ao menos dava para escorar a cabeça no armário, principalmente quando batia o tédio ou quando algum programa do computador travava. Em pouco tempo que cheguei na sala, Clark voltou com uma caneca de café, sentou-se numa mesa que fica praticamente na frente da minha (um pouco pro lado), com uma cara de total desanimo e escorou-se na mesa do computador com a mão na testa.
— Boa tarde Clark! - o cumprimentei, conferindo as horas.
— Boa tarde senhorita. - respondeu ele uns segundos depois, se virando para mim
— E esse desânimo ai? Hoje é sexta. - perguntei sem saber se realmente deveria ter perguntado.
— Eu pensei que ia ficar livre do Superman, mas pelo jeito não... - disse ele de forma exagerada - É legal mudar de área sabe?
— Engraçado.
— Eu estou com um dilema aqui e você acha engraçado?
— Esse trocadilho que você fez. - ele me olhou tentando uma cara séria - Clark... - parei de falar, levantei da minha mesa e fui até a dele, não queria falar alto mesmo só tendo mais duas pessoas no outro lado da sala - Como você consegue conciliar essa vida dupla sua?
— Do que está se referindo. - disse me olhando com uma cara de sínico.
— Clark, você já sabe que descobri. - falei sorrindo convencida - E eu também tenho provas. Superman. - eu estava com o pendrive no bolso com o trecho da gravação que vi na casa da minha madrinha - É inacreditável. - falei sussurrando.
— É... de fato vc está com uma gravação no pendrive no bolso. - disse com um sorriso de canto após um breve momento de concentração, era sua visão de raio x entrando em ação - E ontem no jardim.
— Relaxa, não tenho nem memória suficiente no celular. - respondi sincera
— Que tal almoçarmos juntos hoje?
— Aprendiz não tem horário para almoçar. A carga horária menor né, ai... não pode.
— Você sai cedo não é? Então... eu deixo para almoçar quando você estiver saindo. Eu cheguei mais trade hoje.
— Ok. - e voltei para minha mesa com um sorriso no rosto, para mexer um pouco com edição de imagem e ilustração com imagens pré coloridas de base. Não era mais fácil contratar um outro ilustrador?
Quando deu meu horário, juntei minhas coisas pensando se eu devia mesmo "ir almoçar" com Clark, ou se ele ao menos ele iria sair. Mas... poucos segundos que cheguei na portaria ele também chegou e fomos juntos para o elevador porque eu não tava afim de descer escada, mesmo sendo pouca.
— Vamos no restaurante/lanchonete tem na rua de baixo, no outro quarteirão? - ele disse assim mesmo, dizendo "barra" entre restaurante e lanchonete - Tá mais vazio nesse horário, da para conversar, seja lá o que você quer saber.
— Eu? - falei virando para ele cruzando os braços - Só queria saber como... como isso funciona. É uma grande novidade para minha cabeça, já entendeu isso?
Em silêncio, saímos do prédio do Planeta Diário Brasil e andamos cerca de cinco minutos até chegar no restaurante/lanchonete. Engraçado que apenas de tirar o paletó, e abrir os três últimos botões da camisa social, deixava Clark diferente, mais... leve, sem enrolação, vamos logo colocar a palavra gato nessa descrição. E por falar em aparência, a lanchonete parecia cara, Clark já chegou fazendo seu pedido, que parecia ser seu preferido, algo rotineiro.
— Pede alguma coisa. - disse-me ele.
— Não quero, obrigada.
— É lógico que quer. Eu comendo e você não, parece que eu sou mal educado. - entendi, se tratava dele, não eu - Ou você é alguma louca das dietas?
— Eu tenho cara de louca das dietas? - perguntei, e em seguida me referi ao atendente - Um sundae, por favor.
— Tem de tudo na internet hoje em dia. - concluiu ele, pegamos nossos lanches e sentamos em uma das mesas.

...