A quase filha de Krypton.

Absorção de Poderes.


— Então... você está com planos de me expor ou algo do tipo?
— Para que faria isso? - ele deu de ombros - Clark... trabalhamos em um jornal, se eu fosse fazer isso, eu já tinha feito. - respondi com toda sinceridade - É real né? Ou um delírio meu? - falei escorando o queixo nas mãos, os braços escorados na mesa.
— Olha meus olhos. - olhei, e seus olhos se tornaram vermelhos, era o que eu simplesmente chamava de lazer que brotavam em seus olhos.
- Tá maluco?!! - exclamei, mas logo olhei em volta com receio de ter despertado a atenção de alguém, mas estávamos praticamente a sós.
— Pensei que gostaria de ter uma prova. - disse calmo com um sorriso surgindo discretamente nos lábios - Achou que eu ia fazer alguma coisa com você? - continuou fingindo se sentir ofendido, não respondi apenas continuamos em silêncio um de frente para o outro, ele terminava seu sanduíche, e eu, o sundae.
— Me responde uma coisa. No trabalho, nas ruas, pessoas que você convive... como ninguém sabe quem você é? Tipo... se todos soubessem seria uma confusão, não?
— Por que eu não conto para ninguém, por isso ninguém sabe.
— Como assim? - e me estiquei por cima da mesa para ficar mais perto dele - Você é super famoso, e a única diferença em seu rosto é um óculos. - ele continuou me olhando em silêncio, e fez questão de concertar seus óculos no rosto, o empurrando com o dedo indicador - Como apenas um óculos faz as pessoas, de repente achar que nuca tinha te visto? Tem alguma magia? Porque tipo... é um absurdo, é um óculos.
— Jane, você é diferente. - não sei se isso era elogio - Simplesmente isso.
— Sério isso?
— Ué.
— Ok. - a conversa ficou tão sem sal que na hora, mesmo em pouco tempo, me deu vontade de ir embora, pensei que falaria sobre poderes, sobre eu ser esperta o suficiente para descobrir, sei lá, qualquer coisa diferente. Talvez minhas expectativas foram quebradas por eu ser um pouco fã, mas claro, nada de fã neurótica. - Pois é Clark, eu vou indo nessa. - falei levantando da cadeira - Eu... nunca fui uma fã louca pelo Superman, mas eu admiro e é uma honra te conhecer. - e caminhei pelo lado direito da mesa, pronta para ir embora quando ele segurou meu braço.
— Jane, o que foi?
— Parece que você está conversando em códigos, como se eu estivesse fazendo algo errado, então acho que... sei lá, fica tranquilo sobre segredos.
— Eu sei. Me desculpe, mas qualquer terrestre ficaria meio maluco a ponto de correr risco de vida ao descobrir isso. Tava esperando o mesmo de você.
— Nossa, muito obrigada por me chamar de terrestre maluca.
— Senta aqui. - e puxou a cadeira para que eu sentasse perto dele - Eu... estava ansioso para que descobrisse isso.
— Ansioso? - sentei colocando minha mochila na mesa.
— No dia que você passou mal, eu... tinha cobrido um evento pela região. Tinha parado em uma lanchonete quando eu te vi. E vi algo diferente em você.
— Lógico, eu tava morrendo.
— Jane, para de graça. Eu fiz uma checagem rápida em você mas claramente não tava morrendo. E... - diz passando a mão nos cabelos, encostando as costas no encosto da cadeira - De noite, eu dei uma passadinha na sua casa, de fora, eu vi seus pais na sala assistindo televisão, vi você levantando a caminho quarto, abraçada a uma almofada. Fui até a janela do seu quarto, não te conhecia mas claramente não estava em sua melhor forma. Eu tive a certeza de que eu tinha de... falar com você de novo.
O jeito que ele descreveu, suas expressões, parecia que eu estava de frente para... um livro de romance. Mas claramente esse não era o foco.
— Não tá dizendo, então, que você tinha armado nossos... encontros né? - e balançou a cabeça como se dissesse "mais ou menos". - Realmente você apareceu na janela da minha casa?
— Sim.
— O dia... que te vi no jardim?
— Eu poderia ser discreto.
— A gravação, na casa da minha madrinha?
— Descobri que era a única daquele meio que tinha câmera na casa. E o pendrive no seu bolso?
— Clark, esse é o momento de eu fazer perguntas.
— Ok. - disse levantando as mãos.
— Meu trabalho?
— Não, eu não consigo empregar ninguém. - disse rindo. Eu não sabia se achava aquela história interessante, ou teria medo e se acharia esse... um pensamento de perseguição. - Você podia dizer alguma coisa. - ai eu percebi que estava a algum tempo em silêncio.
— Eu, não sei o que dizer. - mas estava com um sorriso no rosto - Mas...
— O que?
— Eu não descobri nada. Foi quase uma farsa. - afirmei para eu mesma.
— Eu sou uma farsa? - perguntou ele fingindo indignação
— Clark, você entendeu.
— Eu acho... é que temos de ir Jane. - disse um tempinho depois, pegando a bolsa de cima da mesa - O tempo voa.
— Mas... - eu sinceramente nem sei o que tava pensando mais.
— A gente ainda vai ter muito tempo para conversar.
— Claro. - e percebi que já havia passado quase uma hora que tínhamos saído do trabalho. Levantamos, colocamos a cadeira no lugar correto, junto a mesa. Saímos da lanchonete em silêncio, até chegar na rua, do lado de fora. - Mas Clark...
— Quer que te acompanhe até o ponto? - perguntou-me, interrompendo.
— Não, obrigada, é aqui perto. - e continuei - Clark, tem mais alguma coisa. Como assim eu sou diferente. Você não ia "atrás de mim" para nada, porque acho que o Superman tem mais coisa interessante para fazer. E é evidente que não foi tempo o suficiente para que se apaixonasse pela minha pessoa né. - falei nada humilde
— Não, Jane. - e eu juro que ele estava levemente corado - Não é isso. Mas... - e paramos na rua - Você... você vai descobrir de qualquer jeito. Já ouviu falar sobre Absorção de Poderes?
— Não estou me recordando agora... mas pode continuar. - e fiz um gesto com as mãos, para que ele continuasse falando.
— A gente fala sobre isso depois. - começou andar lentamente
— Ora Clark? - e dei passos apressados para acompanha-lo - Não me deixa de suspense.
— Trabalhamos no mesmo lugar Jane. Vamos acabar nos vendo todos os dias. - disse ele quando chegamos na esquina da rua do meu ponto de ônibus - Confia em mim.
Ele piscou um olho e continuou andando em direção ao Planeta Diário. Me deixando completamente curiosa. Absorção de poderes... a certeza que eu tinha, era que de certa forma, eu me encaixava nesse contexto.
...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.