Manhattan, NY. Residência de Catharine Melog.

Segunda-feira 7:05 AM.

Fazer exercícios matinais em uma linda trilha de uma floresta selvagem, não é para qualquer um, uma mulher híbrida de felino provavelmente daria conta, mas não é o caso de Catherine, que se exercitava no conforto de seu apartamento enquanto colocava em sua TV uma simulação de trilha em uma floresta qualquer, corria em sua esteira de treinos e deixava tocando uma música ambiente ao fundo. Podia até ser uma híbrida com garras afiadas e caninos amedrontadores, mas ela gostava de dizer que era uma gata de apartamento, já que não se dava muito bem em ambientes com natureza "de mais".

A felina gostava de começar o dia com uma boa corrida, pois a deixava bem disposta para um dia de trabalho. E por falar em trabalho, ela amava o que fazia, ler incontáveis livros era sua paixão, ganhar milhares de dólares por isso era só um detalhe.

Conseguiu pegar uma editora de livros falida e reestruturá-la do zero, construindo seu pequeno império de livros. Claro que não conseguiu fazer essa proeza sozinha, com seus sócios e uma pequena herança que foi deixada pelos seus pais, ela conseguiu transformar um pequeno escritório no subúrbio em um grande prédio no melhor distrito de Manhattan.

Era o seu maior orgulho, seu maior prazer e também era sua vida, basicamente Catherine era casada com o trabalho e seu empreendimento.

"Já são quase 8 horas…" Catherine olhava as horas e se apressou para tomar um banho e se aprontar para mais um dia de sua rotina.

A felina detestava atrasos, era extremamente pontual mesmo sendo uma das chefes, ela achava que não poderia cobrar de seus colaboradores se não fizesse o mesmo.

Terminando sua ducha, ela penteia os pelos de seu corpo e de sua cauda, deixando-a impecável para poder vestir seu terno de trabalho preto, camisa social branca e uma saia justa que ia até seus joelhos.

Apesar de ser uma mulher híbrida com várias características assustadoras, ela tinha sua dose desmedida de elegância e beleza, sua pelagem curta tigrada, os olhos com heterocromia de uma cor mais vibrante que a outra, suas pupilas fendidas com um olhar penetrante e suas madeixas curtas porém muito bem penteadas para trás, fazia Catherine ficar estonteante, deixando qualquer mulher humana a desejar. Ela dispensava o uso de calçados já que machucavam seus pés, preferia usar um protetor feito sob medida para híbridos, mas não deixava de ser menos elegante em seu traje de trabalho.

Apesar de Catherine ter muito poder aquisitivo, dispensava totalmente regalias como uma empregada, que poderia muito bem deixar suas manhãs mais tranquilas sem precisar cozinhar o próprio café da manhã ou qualquer outra refeição do dia, a felina preferia fazer tudo de seu jeito.

Apertou o passo para preparar um café da manhã reforçado antes de ir para o trabalho, mas acaba se atrapalhando enquanto dividia sua atenção em comer seu sanduíche de atum e em ler um manuscrito que suas assistente tinha lhe indicado para uma revisão e futura edição. O livro não era ruim, de fato tinha chamado muito a atenção da editora, estava desde ontem a noite lendo e se esforçou em largar as páginas para poder ir dormir no horário e não acordar atrasada, mas jamais daria esse crédito a sua assistente, Adora.

— Mas que merda! — Catherine rosnou ao sentir o cheiro de suas torradas quase queimando na torradeira, correu para poder salvar alguma —Nossa! Preciso correr! Catra, não esquece de ligar pro Frank!

A felina tinha mania de falar consigo mesma, morar sozinha por muito tempo acabou forjando alguns hábitos esquisitos.

Antes de pegar suas coisas e sair para o trabalho, Catherine pega seu celular para mandar uma mensagem à sua assistente e pedir que ela lhe traga um café da sua cafeteria favorita, o que pra sorte da Adora era relativamente perto do prédio da The Horde. Adora foi a assistente executiva que durou mais tempo nas garras da felina que não aliviava nem um pouco para ela, mas podia dizer com certeza que sem Adora, não iria sobreviver uma semana em sua própria empresa, mas jamais iria dizer em voz alta.

O prédio de sua editora não ficava longe, então Catherine ia todo dia a pé, pegando carro somente quando chovia. Caminhando pela rua, a felina pega seu celular e disca o número do escritor que precisava tanto convencer a sair de seu isolamento.

— Hey, Frank! Bom dia, como vai meu escritor favorito? — Catherine tinha muitas qualidades e uma delas é ter um poder de persuasão alto, o que com certeza deixava o carisma dessa híbrida ainda mais poderoso — Conseguiu refletir sobre nossa conversa? Mas antes que me diga sua resposta, saiba que eu estou certa Frank. Não pode mais ficar escondido enquanto faz maravilhas com essa sua mente! Suas histórias comovem o povo! Eles precisam de você para lhes dizer que precisam ler, Frank. Ler seus livros!

Alguns minutos andando e conversando, já a deixava a uma quadra de sua empresa.

— Frank pelo amor da Deusa! As pessoas desse país não estão ocupadas demais para ler seu livro, muito menos para ver você no programa da Oprah! Eles precisam de alguém de confiança como você para lhes dizer: "Parem de ver Gray's Anatomy, leiam livros!". Não tem ninguém melhor que você, o melhor romancista da nossa geração para dizer em rede nacional, junto à Oprah! — Catharine transmitia confiança na voz, queria que o escritor renomado voltasse para os holofotes e consequentemente, voltasse a escrever mais livros que sua editora faria questão de publicar para lucrar em cima.

A híbrida com toda a sua elegância, adentrava o prédio de sua editora, já sentindo alguns olhares em si, mas não deixava se abalar, estava confiante, sabia que Frank estava na palma da sua mão e já conseguia saborear o gostinho da vitória.

— Frank, todos os romancistas do seu nível fazem uma divulgação, mas você não é só mais um escritor de livros românticos. — a felina dava ênfase à última frase — É um gênio e renomado escritor com vários best sellers em seu currículo. Frank, você merece o reconhecimento e para isso, precisa sair do seu esconderijo! Você só precisa dizer sim para a entrevista, que eu cuido do resto.

A híbrida pega o elevador da empresa, vê com o canto de olho todos os funcionários ali dentro se afastarem o máximo possível dela, alguns nem conseguindo manter contato visual, mas aquilo era rotina, não a incomodava mais e hoje nada era capaz de tirar sua paz de espírito.

Saindo do elevador com um sorriso simples, mostrando apenas uma presa, a felina desfrutava da vitória de ter seu melhor escritor de volta para a mídia.

Seus funcionários estavam fazendo um alvoroço para sair do caminho de sua chefe, tanto híbridos como humanos não ficavam em seu caminho até sua sala, os que não conseguiam sair a tempo ou desviar para outro lugar, se espremiam nas paredes para dar passagem para a felina.

Catherine tinha uma elegância e beleza invejável, mas também uma aura intimidadora, não aturava desleixo e gracinhas dos funcionários. Preferia ser temida do que amada, afinal, forjou essa empresa com seu sangue e suor, não iria deixar que algum "Zé ninguém" manchasse a sua empresa e seu trabalho sério.

"8:59"…— A híbrida parou em frente a sua sala e olhou seu relógio de pulso, era uma mania sua chegar exatamente às 9 horas, exigindo até mesmo que sua assistente chegasse no mesmo horário que ela, às vezes até antes. — Bom dia, meu querido café!

E lá estava ela, sua assistente Adora, segurando seu café favorito com um sorriso bobo, e uma cara bonita apesar de parecer que acabou de cair da cama, junto daquele topete ridículo. Usava um terno… Masculino? Mas até que não caia mal nela, também estava com seu inseparável tablet, onde ela organizava sua vida empresarial.

Catharine nunca admitiria, mas a melhor parte do seu ritual matinal era fazer aquela loira enorme de besta, apenas porque era divertido ver suas expressões de indignação e ouvir seus resmungos.

— Bom dia, chefe. — o sorriso da loira morreu quando a híbrida se aproximava — A senhora tem conferência via Zoom daqui a meia hora. — A loira tentou parecer indiferente com a chefe, mas não conseguia disfarçar a cara franzida em indignação.

Catherine não consegue deixar de reparar no olhar bravo e o leve crispar dos lábios de sua assistente, sorrindo cínica enquanto pega seu café e vai até sua mesa se sentar.

— Muito bem, o que temos para hoje? — Catherine perguntou altiva, mas sem se preocupar em olhar para sua assistente.