Alguns Meses Depois

Eu acordei com uma sensação estranha no rosto. Levantei-me da cama e fui até o banheiro, ainda sonolenta. Lavei o rosto com água fria e olhei para o espelho. Meu coração disparou quando vi uma enorme espinha vermelha bem no meio da minha testa. Parecia um vulcão prestes a entrar em erupção.

— Não pode ser! - exclamei, horrorizada. - Hoje é o dia da minha apresentação na escola! Como vou sair assim?

Corri para o quarto da minha mãe, esperando que ela tivesse algum creme milagroso para me salvar. Abri a gaveta da sua penteadeira e comecei a procurar entre os frascos e tubos. Encontrei um que dizia "anti-acne" e peguei-o com esperança.

— Ana, o que você está fazendo? - ouvi a voz da minha mãe atrás de mim.

— Mãe, me ajuda! - virei-me para ela, mostrando a minha desgraça. - Olha isso!

— Oh, querida, não se preocupe. É só uma espinha. Todo mundo tem de vez em quando. - ela disse, tentando me consolar.

— Mas mãe, é enorme! E hoje eu tenho que falar na frente da turma toda! E se eles rirem de mim? E se as meninas mais populares zombarem de mim? - eu disse, quase chorando.

— Ana, você é linda. Uma espinha não vai mudar isso. E você é inteligente e talentosa. Você vai arrasar na sua apresentação. Não deixe que uma coisa tão pequena te abale. - ela disse, abraçando-me.

— Mas mãe, não tem nada que eu possa fazer para diminuir isso? - eu perguntei, olhando para o creme na minha mão.

— Bem, você pode tentar passar um pouco desse creme, mas não espere milagres. O melhor é não mexer muito na espinha, senão pode inflamar mais. E talvez você possa usar uma franja para disfarçar. - ela sugeriu.

— Tá bom, mãe. Obrigada. - eu disse, agradecida pelo seu apoio.

— De nada, filha. Agora vá se arrumar, que já está na hora de ir para a escola. E não se esqueça: você é incrível, com ou sem espinha. - ela disse, beijando-me na testa.

— Te amo, mãe. - eu disse, saindo do quarto.

Eu fui para o meu quarto e passei o creme na espinha, torcendo para que funcionasse. Depois, penteei o cabelo e fiz uma franja que cobria a minha testa. Olhei para o espelho e respirei fundo. A espinha ainda estava lá, mas pelo menos não era tão visível.

— Vamos lá, Ana. Você consegue. - eu disse para mim mesma, tentando me animar.

Peguei a minha mochila e saí do quarto, pronta para enfrentar o dia. Eu não ia deixar que uma espinha estragasse o meu humor. Eu ia mostrar a todos que eu era mais do que isso. Eu sou a Ana, eu sou incrível.

Eu saí de casa e caminhei até a parada de ônibus, que ficava a duas quadras da minha rua. O sol brilhava no céu, mas eu sentia um frio na barriga. Eu estava nervosa com a minha apresentação, e também com a possibilidade de encontrar o Elijah o garoto que faria a apresentação comigo. Já havíamos resolvido nossas diferenças após o ocorrido entre mim e Emma.

Elijah era o típico garoto popular da escola: bonito, inteligente, esportivo e simpático. Ele era amigo de todo mundo, inclusive de mim. Penso que algum dia ele possa se interessar por mim novamente. Mas como ele ia se interessar por mim, se eu tinha uma espinha gigante na testa? Eu sabia que era bobagem, que a aparência não era tudo, que ele deveria gostar de mim pelo que eu era por dentro. Mas eu não conseguia evitar de me sentir insegura. Eu queria impressioná-lo, não afastá-lo.

Eu cheguei na parada de ônibus e vi que ele já estava lá, conversando com alguns amigos. Ele usava uma camiseta azul que combinava com os seus olhos, e um boné virado para trás que deixava o seu cabelo loiro à mostra. Ele sorria e gesticulava, contando alguma história engraçada. Ele era lindo.

Eu respirei fundo e me aproximei dele, tentando parecer casual.

- Oi, Elijah. - eu disse, sorrindo.

— Oi, Ana. - ele disse, retribuindo o sorriso. - Tudo bem?

— Tudo, e você? - eu disse, tentando manter a conversa.

— Tudo ótimo. Ansiosa pela apresentação? - ele perguntou, referindo-se ao trabalho de história que nós tínhamos que fazer na frente da turma.

— Um pouco. Mas eu acho que vai dar certo. - eu disse, confiante.

— Tenho certeza que vai. Você é muito boa em história. - ele elogiou, fazendo-me corar.

— Obrigada. Você também é. - eu disse, devolvendo o elogio.

— Valeu. - ele disse, sorrindo.

Nós ficamos em silêncio por alguns segundos, olhando um para o outro. Eu senti uma conexão entre nós, uma faísca. Será que ele sentia o mesmo? Será que ele ia dizer alguma coisa? Será que ele ia se aproximar de mim? Pois a nossa amizade desde aquele dia tinha ficado abalada.

Eu estava prestes a descobrir, quando o ônibus chegou, interrompendo o nosso momento. Nós entramos no veículo e nos sentamos juntos, no fundo. Eu me ajeitei no banco e olhei para ele, esperando que ele continuasse a conversa.

— Ana, posso te perguntar uma coisa? - ele disse, olhando nos meus olhos.

— Claro, Elijah o que você quer saber? - eu disse, curiosa.

— É que eu... - ele começou a dizer, mas foi interrompido por um grito.

— Ana, sua espinha! - gritou a Júlia, uma garota da nossa turma que estava sentada na frente de nós. Ela apontou para a minha testa, onde o creme que eu tinha passado tinha escorrido, revelando a minha espinha.

— O que? - eu disse, assustada.

Eu levei a mão à minha testa e senti o creme molhado. Eu olhei para o Elijah e vi que ele estava olhando para a minha espinha, com uma expressão de surpresa. Eu senti o meu rosto queimar de vergonha.

— Ai, meu Deus. - eu disse, sem graça.

— Não liga para ela, Ana. Ela é uma idiota. - disse o Elijah, tentando me defender.

— Não, Elijah. Ela tem razão. Olha o tamanho dessa coisa. - disse a Júlia, rindo. - Parece que você tem um chifre na testa.

— Cala a boca, Júlia. Você não tem nada a ver com isso. - disse o Elijah, irritado.

— Ah, não se preocupe, Elijah. Eu sei que você gosta da Ana, mesmo com essa espinha. - disse a Júlia, provocando.

— O que é que você disse? - eu perguntei, surpresa.

— Todo mundo sabe, Ana. Você e o Elijah vivem se olhando, se falando, se elogiando. É óbvio que vocês se gostam. - disse a Júlia, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— É mesmo? - eu disse, olhando para o Elijah.

— É... - ele disse, olhando para mim.

Nós nos encaramos por alguns segundos, sem saber o que dizer. Eu senti o meu coração bater mais forte, e uma esperança crescer dentro de mim. Será que ele realmente gostava de mim? Será que Emma não será mais mais um problema? Será que ele não se importava com a minha espinha? Será que ele ia me beijar?

Eu estava prestes a descobrir, quando o ônibus parou, chegando na escola. Nós descemos do veículo e seguimos para a sala de aula. Eu me senti feliz, e esqueci da minha espinha.

— Ana, eu preciso te dizer uma coisa. - ele disse, antes de entrarmos na sala.

— O que, Elijah? - eu disse, ansiosa.

— Eu... - ele começou a dizer, mas foi interrompido por um sinal.

— Droga. - ele disse, frustrado.

— Depois, Elijah. Depois você me diz. - eu disse, sorrindo.

— Tá bom, Ana. Depois eu te digo. - ele disse, sorrindo também.

Nós entramos na sala e nos sentamos nos nossos lugares, esperando pela aula. Eu olhei para ele e ele olhou para mim, e nós dois sorrimos. Eu não sabia o que ele ia me dizer, mas eu tinha um palpite. Eu acho que ele ia me dizer que me amava.

Eu estava sentada na minha carteira, esperando pela aula de história. Ao meu lado, estava o Elijah, o garoto que me fazia ter pensamentos diferentes. Ele segurava a minha mão, e eu sentia o seu calor. Ele me olhava com carinho, e eu me derretia. Ele me fazia feliz.

Mas ele também me fazia confusa. Por que eu sentia tanto por ele? Por que eu ficava nervosa quando ele estava por perto? Eu não entendia esses sentimentos. Eu nunca tinha me apaixonado antes. Meu único beijo foi na bochecha. Eu não sabia como lidar com isso. Eu não sabia se era normal, se era certo, se era recíproco.

Eu olhei para ele e vi que ele também me olhava. Ele sorriu e me deu um beijo na bochecha. Eu senti um arrepio percorrer o meu corpo. Eu sorri de volta e me aconcheguei no seu ombro. Eu me senti segura.

— Ana, eu te amo. - ele sussurrou no meu ouvido.

Nós nos abraçamos e ficamos em silêncio, curtindo o momento. Eu não precisava entender os meus sentimentos. Eu só precisava sentir.

Mas eu também sentia que era muito cedo para isso. Eu só tinha 13 anos, e ele era um ano mais velho. Nós éramos muito jovens para essas coisas. Nós tínhamos uma vida inteira pela frente. Nós podíamos mudar, crescer, nos afastar. Nós podíamos nos machucar, nos decepcionar, nos arrepender.

Eu fiquei surpresa quando ele disse que me amava. Eu não esperava ouvir isso tão cedo. Eu não sabia se ele estava falando sério, ou se era só um impulso. Eu não sabia se eu estava pronta para isso. Eu dei de ombros, tentando não pensar muito. Eu só queria aproveitar o momento. Eu só queria ficar com ele. Eu só queria ser feliz.

— Elijah, eu preciso te dizer uma coisa. - eu disse, quebrando o silêncio.

— O que, Ana? - ele disse, curioso.

— Eu... - eu comecei a dizer, mas fui interrompida pelo professor.

— Ana e Elijah, vocês são os próximos. Venham apresentar o trabalho de história. - ele disse, chamando-nos.

— Droga. - eu disse, frustrada.

— Depois, Ana. Depois você me diz. - ele disse, sorrindo.

— Tá bom, Elijah. Depois eu te digo. - eu disse, sorrindo também.

Nós nos levantamos e fomos até a frente da sala, levando o nosso trabalho. Era sobre a Revolução Francesa, um tema que nós dois gostávamos. Nós tínhamos pesquisado bastante, e feito um cartaz com imagens e textos. Nós estávamos confiantes.

— Boa sorte, Ana. - ele disse, me dando um beijo na bochecha.

— Boa sorte, Elijah. - eu disse, retribuindo o beijo.

Nós começamos a apresentar o nosso trabalho, falando sobre os fatos, as causas, as consequências, os personagens, as curiosidades. Nós nos revezávamos, nos completávamos, nos ajudávamos. Nós éramos uma boa dupla. Nós terminamos a apresentação e recebemos os aplausos da turma. Nós voltamos para os nossos lugares, felizes e orgulhosos. Nós tínhamos arrasado.

— Ana, você foi incrível. - ele disse, me elogiando.

— Elijah, você também foi. - eu disse, devolvendo o elogio.

— Nós somos demais. - ele disse, rindo.

— Nós somos. - eu disse, rindo também.

Eu estava feliz com o Elijah, mas também estava confusa. Eu não sabia se o que eu sentia por ele era amor de verdade, ou se era só uma paixão passageira. Eu não sabia se eu estava pronta para me entregar a ele, ou se eu devia esperar mais. Eu não sabia se ele era o garoto certo para mim, ou se eu ia me arrepender depois.

Eu era uma garota meiga, que fazia milagres, que acreditava na minha fé. Eu tinha uma missão na vida, de ajudar as pessoas, de espalhar o bem, de seguir os ensinamentos de Deus. Eu tinha uma família que me amava, e amigos que me apoiavam. Eu tinha uma rotina simples, mas feliz.

Mas eu também era uma adolescente, que tinha hormônios, que queria experimentar, que sentia curiosidade. Eu tinha uma atração pelo Elijah, que era forte, que me consumia, que me fazia perder o controle. Eu tinha uma vontade de beijá-lo, de abraçá-lo, de ficar com ele. Eu tinha uma rebeldia dentro de mim, que me desafiava, que me provocava, que me fazia questionar.

Eu estava dividida entre dois mundos, dois sentimentos, duas escolhas. Eu não sabia qual era o certo, qual era o errado, qual era o melhor. Eu não sabia o que fazer, o que dizer, o que pensar.

Eu olhei para o Elijah e vi que ele me olhava com amor. Ele era lindo, gentil, divertido, carinhoso. Ele me tratava bem, me respeitava, me valorizava. Ele me fazia rir, me fazia sonhar, me fazia sentir.

Mas ele também me fazia duvidar. Será que ele me amava mesmo, ou era só uma ilusão? Será que ele me queria para sempre, ou era só por um momento? Será que ele me entendia, ou era só uma fantasia? Eu não sabia se podia confiar nele denovo, se podia me abrir com ele, se podia me entregar a ele. Eu não sabia se ele era sincero, se era fiel, se era leal. Porque a traição de Lucas ainda estava viva dentro de mim.

Eu estava insegura, com medo, com receio. Eu não queria me machucar, me decepcionar, me arrepender. Eu não queria perder a minha essência, a minha fé, a minha missão. Eu estava apaixonada, mas também estava em dúvida. Eu não sabia se era amor, ou se era loucura.

Eu saí da aula de história, ainda pensando no que o Elijah tinha me dito. Ele tinha me dito que me amava, e eu tinha dito o mesmo. Mas eu não sabia se era verdade, se era certo, se era bom.

Eu tentava evitar o garoto, porque os meus sentimentos eram confusos. Eu não queria encarar os seus olhos, os seus lábios, os seus braços. Eu não queria sentir o seu calor, o seu cheiro, o seu toque. Eu não queria me perder nele, me entregar a ele, me apaixonar por ele. Eu queria fugir dele, me afastar dele, me esquecer dele. Eu queria voltar à minha vida normal, à minha rotina simples, à minha missão sagrada. Eu queria ser a Ana de sempre, a Ana meiga, a Ana milagrosa, a Ana fiel.

Mas eu não conseguia. Ele estava sempre por perto, sempre me procurando, sempre me chamando. Ele estava sempre me sorrindo, me elogiando, me convidando. Ele estava sempre me amando, me querendo, me esperando. Eu não sabia como lidar com isso. Eu não sabia como reagir a isso. Eu não sabia como responder a isso.

Eu saí da escola e fui direto para a loja de eletrônicos da minha família. Era uma loja pequena, mas bem equipada, que vendia e consertava vários aparelhos. Era o negócio da minha família, e eu adorava ajudar. Eu gostava de mexer com os eletrônicos, de aprender sobre eles, de consertá-los. Eu tinha um dom para isso, assim como tinha um dom para os milagres. Eu conseguia fazer coisas incríveis com os eletrônicos, coisas que ninguém mais conseguia.

Eu entrava na loja e me sentia em casa. Eu via o meu pai, minha mãe, o meu irmão, todos trabalhando juntos, felizes e orgulhosos. Eu via os clientes, satisfeitos e agradecidos, elogiando e recomendando. Eu via os eletrônicos, brilhando e funcionando, mostrando e surpreendendo.

Eu me sentia bem na loja. Eu me sentia útil, produtiva, realizada. Eu me sentia parte de algo, de uma família, de uma tradição. Eu me sentia a Ana que eu queria ser, a Ana que eu devia ser, a Ana que eu era.

Mas eu também me sentia a Ana que eu não podia ser, a Ana que eu não sabia ser, a Ana que eu temia ser. A Ana que amava o Elijah, que queria ficar com ele, que sonhava com ele.

Eu não sabia como conciliar essas duas Anas. Eu não sabia como equilibrar esses dois mundos. Eu não sabia como escolher entre esses dois amores. Eu estava dividida, confusa, angustiada. Eu não sabia o que fazer, o que dizer, o que pensar.

Eu só sabia que eu estava apaixonada, mas também estava em dúvida. Eu não sabia se era amor, ou se era loucura.