Assim que Kelsey aceitou a oferta, Kadam começou os preparativos para a viagem.

Ele conheceu os pais adotivos de Kelsey, que tinham organizado sua festa de aniversário no circo. Kelsey acabara de completar 18 anos.

Eu queria muito participar da festa, mas não era permitido a presença de um tigre nesse tipo de evento social.

Mais tarde naquele dia, Kelsey veio até mim e me ofereceu um “cupcake”, que eu comi apenas para ter a chance de lamber seus dedos. Essas seções de lambidas eram pra mim, como os beijos que os namorados humanos dão em suas namoradas. Claro que Kelsey não sabia disso, mas ela era minha namorada.

Naquela noite, me transformei em homem e saí da jaula, deitei-me sobre a pilha de feno, onde Kelsey sempre ficava para conversar comigo. Tinha o cheiro dela. Fechei os olhos e comecei a pensar em nós dois.

Adormeci. Sonhei com um beijo entre um homem e uma mulher. Um beijo entre Kelsey e eu.

Acordei no dia seguinte, na forma de tigre, quando Kelsey entrou no galpão e assustada, percebeu que eu não estava na jaula. Quando ela me viu deitado no feno, ela não ficou com medo, apenas preocupada, achando que tinha deixado a jaula aberta.

Levantei-me e andei tranquilamente em sua direção. Ela me mandou entrar na jaula e eu fui, mas não sem antes esfregar a lateral do meu corpo em suas pernas. Eu aproveitaria qualquer oportunidade que tivesse de tocar em Kelsey.

Assim que entrei na jaula, ela a trancou e saiu do galpão.

Menos de 1 semana depois estávamos embarcando para a Índia em um avião particular, que, aparentemente, pertencia a mim.

Kadam já havia explicado à Kelsey que ao chegar à Índia, ela seguiria de caminhão comigo até a reserva, já que ele não poderia acompanhá-la. Desta forma, eu poderia seguir com o meu plano.

Partimos cedo em direção à Índia. Tentei dormir durante a viagem, mas estava muito ansioso. Não sabia como Kelsey reagiria ao saber a verdade.

Kadam não concordava com meu plano de levá-la sozinha à selva e dizer a verdade a ela apenas quando estivéssemos na casa do xamã. Mas eu não podia arriscar que ela desistisse da viagem. Eu precisava dela.

Não fiquei sozinho durante toda a viagem. Na maior parte do tempo, Nilima me acompanhou. Ela era tataraneta de Kadam e trabalhava com ele. Ela conhecia a história da nossa família e sabia tudo sobre a maldição.

Nilima ajudava Kadam a administrar as empresas que ele adquiriu durante os séculos e também a encontrar uma forma de quebrar nossa maldição. Ela era uma moça Indiana muito bonita e simpática. A companhia dela me distraiu durante a viagem. Ela conversou comigo na forma de tigre e eu me transformei em homem algumas vezes para fazer-lhe perguntas a fim de me iterar dos negócios da família e sobre o mundo humano atual.

Eu estava fora da jaula e de vez em quando dava uma olhadinha, para matar saudades de Kelsey. Eu queria que ela tivesse todo o conforto que pudesse.

Pedi a Nilima para que ela e Kadam comprassem roupas para a Kelsey, porque percebi que ela levara pouca bagagem. Certamente porque ela imaginava passar apenas uma semana na Índia. Mas eu pretendia que ela ficasse o tempo necessário para quebrarmos a minha maldição, e depois disso, que ela ficasse comigo pra sempre, na Índia ou onde ela quisesse viver.

Senti saudades de Kelsey durante a viagem. Não gostava de ficar tanto tempo longe dela. Ela veio me ver algumas vezes, mas não era o bastante. Assim que pousamos, voltei para a jaula e Nilima a trancou.

Quando a aeronave parou, alguns homens vieram me buscar. Eles me colocaram numa coleira e amarraram correntes nela. Eu fui puxado bruscamente de dentro da jaula e rapidamente arrastado para fora do avião. Tentei manter a calma, mas os homens estavam me machucando.

Apesar da minha humanidade, eu tinha os instintos do tigre, e quando um dos homens puxou a corrente com muita força, machucando meu pescoço, eu rugi e tentei atacá-lo com as patas. Os outros homens me seguravam com força, impedindo-me de ir para cima do primeiro. Então eu a vi.

Kelsey caminhou em direção ao homem e pegou a corrente de suas mãos. Assim que a vi, eu me acalmei e a segui tranquilamente em direção ao caminhão.

Enquanto entrava na jaula, percebi que Kadam estava falando com o motorista. Devia estar lhe explicando sobre o plano.

O homem pararia o caminhão dizendo que iria abastecê-lo enquanto Kelsey iria almoçar. Sem que ela percebesse, ele deveria abrir a jaula e deixar o tigre sair, colocar as coisas de Kelsey na calçada e partir com o veículo. O homem, que era um dos funcionários de Kadam, concordou sem fazer perguntas.

Em seguida, Kadam orientou Kelsey e se despediu dela. Ela entrou no caminhão e Kadam aproximou-se de mim, perguntando discretamente se eu tinha certeza que queria fazer desta forma. Ele queria me fazer desistir, mas eu estava certo de que esta seria a melhor maneira de convencê-la.

Talvez eu estivesse sendo egoísta, mas não podia correr o risco de que Kelsey me deixasse. Se ela descobrisse a verdade quando estivéssemos a sós na floresta, ainda que ela se recusasse a me acompanhar, eu ainda teria algum tempo com ela, para, quem sabe, fazê-la mudar de ideia.

O caminhão partiu rapidamente, passando direto pela entrada do santuário. Vi que Kelsey percebeu este detalhe e disse alguma coisa ao motorista, mas não consegui entender o que ela falou.

Embora Kelsey não percebesse, estávamos sendo seguidos. Kadam estava há alguns metros atrás de nós, em um veículo Jipe que ele deixaria na floresta para que pudéssemos usá-lo mais tarde. Nilima o buscaria e levaria até a nossa casa.

Fazia tantos anos que eu não ia à Índia. Ainda não conhecia a casa, mas Kadam me disse que era magnífica. Eu apenas pedi a ele que escolhesse o melhor aposento para Kelsey. Depois do que viveríamos na selva, eu tinha certeza que ela ficaria conosco, e queria que ela tivesse o melhor tratamento.

Conforme o planejado, o motorista parou próximo à selva e disse a Kelsey que ela deveria almoçar apontando para um mercado próximo dali. Assim que Kelsey saiu, Kadam aproximou-se e pediu para que o rapaz se afastasse por alguns minutos.

Me transformei em homem para conversarmos. Kadam tentou novamente me convencer a contar a verdade à Kelsey antes de entrarmos na floresta.

Conversávamos em hindi quando percebi que Kelsey estava nos olhando e folheando um livro. Afastei-me de seu campo de visão, não sem antes perceber que ela ficou constrangida em ter sido descoberta.

Quando vi que Kelsey se levantou, temendo que ela estivesse vindo em nossa direção, me transformei em tigre e subi de volta no caminhão. Kadam saiu depressa do local, antes que ela chegasse até ali.

Ao ver que não havia ninguém, ela voltou confusa para o mercado.

Enquanto isso, o motorista do caminhão voltou e retirou as coisas da Kelsey de dentro da cabine, colocando-as sobre a calçada, Em seguida, temeroso, abriu minha jaula e voltou para a cabine enquanto eu saia do caminhão. Ao me ver na calçada arrancou rapidamente o veículo.