A ilha - Livro 1

Capítulo 12 - Na madrugada


Era uma hora da tarde quando finalmente paramos onde ficaríamos naquele dia. Igor tinha razão, era incrível ali. Havia um caminho de terra cercado de árvores e ele ia estreitado até ficar do tamanho que só passava duas pessoas por vez, pois era fechado por pedras gigantes. Era como uma caverna lá dentro, só que ao ar livre. Um círculo gigante de pedra com chão de pedra e no fundo uma cachoeira gigante que descia entre dois rochedos incrivelmente altos. Era um lugar realmente incrível. Dava para ver tudo ali dentro, o sol batia na agua refletindo ali e muitos pássaros voavam de uma árvore a outra dos lados de fora. Dentro da “caverna” não havia árvores, só agua e pedra.

Começamos a montar as barracas em um grande círculo deixando um espaço enorme no meio para a fogueira. Pelo menos dessa vez eles não escolheram que barraca ficaria do lado de qual. Era muito chato quando decidiam; no avião, nos quartos, nos carros e só faltava agora aqui.

Fiquei em uma barraca com Eliana, Greta e Ingrid em outra e Fabrício e Heitor em outra. Foi uma bagunça na hora de organizar tudo mas no final deu tudo certo. Pelo menos para a maioria.

Quem não gostou nem um pouco foi Jemima que teve que dividir a barraca com a guia Cristal e Saulo nem se preocupou em dividir com Igor. Éramos no total de 16 barracas com duplas em cada uma delas. As barracas ficaram prontas e nos trocamos para cair na agua. A agua da cachoeira era gelada e calma. A maioria estava dentro dela a tarde inteira e saia apenas para comer. Foi uma tarde sensacional. Porém Fabricio e Kamila não se falaram em nenhum momento. Ela ficou o tempo todo com Ivana, o que me foi bem estranho. Ivana era uma garota emo que tinha o cabelo comprido e totalmente azul além de lentes de contato azul da cor do cabelo. Eu nunca a via falando muito.

A noite caiu devagar e podíamos ouvir o barulho do mar. Cristal nos explicou que a essa hora não havia praia ali perto, só o mar. A maré subia tanto que o que era a areia por aonde viemos, ficava totalmente coberto. Só não estávamos “presos” ali porque havia outro caminho para a volta, inclusive por onde iríamos no dia seguinte. A maioria dormiu não era nem oito horas da noite ainda e inclusive a professora Olivia .

Os alunos foram entrando em suas barracas e não restavam muitos quando deu onze horas. Eu, Greta, Heitor, Ivo, Quirino, Saulo e Amanda eram os únicos acordados. O professor Nicolas paquerava a tal Ednara mais afastados e Igor nos observava. Ele me olhou e me chamou com a cabeça para sairmos de dentro do círculo de pedra. Eu cogitei a ideia de não ir, mas Greta também havia visto ele me chamar e me encorajou a ir.

— Vai lá dar seu primeiro beijo

—Cala a boca. – me levantei nervosamente e o segui

O céu lá fora tinha uma lua cheia que iluminava absurdamente deixando tudo maravilhosamente lindo. Ele me estendeu a mão e começamos a caminhar assim de mãos dadas. Falávamos coisas aleatórias e ele me fazia rir de vez em quando. Chegamos a um determinado ponto onde as árvores ocultavam o céu e ele parou. Virou para mim e sorriu. Eu sempre fui muito forte, determinada e independente, mas quando ele começou a se aproximar, eu perdi todas as minhas forças. Ele iria me beijar. Aproximou-se devagar e fez exatamente o que penei que faria. Eu só conseguia pensar em uma única coisa “quantos anos ele tinha¿”. O beijo foi rápido e eu estava feliz de ter dado o meu primeiro beijo, mas, não sei, faltava algo. Ele se afastou sorrindo e eu sorri de volta.

—Nem sei sua idade – falei

Ele me olhou confuso e meio ofendido

—Melhor voltarmos para o acampamento – falou de repente e começou a andar na minha frente

Será que eu o tinha ofendido com o que disse¿ Ele andava rápido e quando chegamos finalmente ao círculo de pedra ele entrou me deixando para trás e eu preferi não segui-lo. Me sentindo uma idiota fiquei parada olhando para a entrada de pedra e de repente Ivo saiu correndo por ela esbarrando em mim, seguido por Jemima.

—Ai! – resmunguei

Ele parou bruscamente e Jemima também. Fiquei esperando uma explicação para aquela correria, mas sinceramente não me importava.

—Jemima – ele falou – volte, quero falar algo com essa garota.

Ela bufou e reclamou entrando contra sua vontade. Ivo caminhou mais para longe e para o lado do circulo e eu o segui. O que diabos ele queria¿ Ele continuava andando e eu parei de segui-lo perguntando onde ele queria chegar com aquilo.

—Eu te vi sair com Igor...

—Esta me vigiando¿

—Eu não confio nele! E quando o vi chegando sozinho achei que tivesse te feito algo.

—Espera um pouco... Está preocupado comigo¿ - segurei uma risada estrondosa

—Não, sua imbecil. Eu posso não ir com a sua cara de gato, mas eu na sou um monstro que quer encontrar seu corpo esquartejado por ai.

—Esta exagerando Ivo, exagerando mesmo. – falei dando meia volta

— Escuta aqui - ele segurou meu braço – você é irritante até quando tento te aconselhar¿

—Aconselhar ¿ - puxei meu braço sem perceber que eu estava a um passo de um precipício que me levaria direto ao mar. – Conselho logo seu¿ eu não preciso de conselho seu!

—É por esse ar de superioridade que eu te odeio – ele se aproximou e eu cometi o erro de me afastar dando alguns passos para trás.

Senti os meus pés escorregarem e vi meu corpo cair para trás pesado e rápido. A ultima coisa que vi antes de cair como uma pedra dentro a agua foi Ivo se aproximando do penhasco com os baços esticados, mas já era tarde para me segurar.

Eu afundei como se tivesse ferro amarrado em meus pés. Eu podia sentir chão já e as ondas me balançavam para frente e para trás. Mantive meus olhos abertos e sentindo a coluna doer por causa do impacto. E não devera estar morta¿ Não era tão alto, mas sei lá. Procurei por pedras para eu não chegar perto dela e me preparei para nadar de volta a superfície quando um clarão debaixo da agua me chamou a atenção. Sem perceber eu já estava nadando em direção a suspeita luz azul que me atraia como um imã; quando me dei conta eu já estava dentro dela e não enxergava nada além de um clarão. A luz foi diminuindo as poucos. O ar já estava começando a faltar em meus pulmões e minha visão estava embaçada. Apertei os olhos e os abri novamente. Foi quando vi a coisa mais estranha da minha vida. O mesmo rosto que havia vindo no mar quando me afoguei no dia anterior.