A ilha - Livro 1

Capítulo 13 - Desculpa


Eu jurava que tinha sido uma alucinação na hora que perdia a consciência no dia anterior, mas ver aquilo novamente¿ Como se já não fosse o suficiente, aquele rosto sorriu para mim e me estendeu a mão. Só então eu vi: seu corpo era metade peixe. Igualzinho as sereias que a gente via nos filmes. E eu apaguei.

Abri meus olhos sentando num pulo assustada. Eu estava sentada em algumas pedras quase já dentro da floresta, mas ainda dentro do mar. Vi Ivo vindo correndo mais acima e chegou na beira do “penhasco” me estendendo o braço.

—Suba! – ele olhava para o mar procurando alguma coisa e voltava a me olhar – Depressa!

Ainda meio desorientada eu estendi minha mão agarrando a dele e ele me puxou para cima. Ficamos caídos na grama assustados e ele continuava procurando algo na agua.

—Você está bem¿

—É a segunda vez que eu me afogo com você pro perto!

Ele me olhou feio e se levantou seguindo pelo caminho que viera a beira do pequeno penhasco – que a medida que ia ficando mais perto do nosso acampamento, ia ficando mais alto. Mas ele parou repentinamente e voltou se agachando ao meu lado.

—Quem te trouxe até a pedra¿

—O que¿ - falei me lembrando do rosto feminino que eu achava ter visto debaixo da agua

—Eu vi alguma coisa te trazendo em alta velocidade, mas não vi o que.

Assustada eu na poderia dizer que vi uma sereia, seria a coisa mais sem noção a se dizer.

— Eu não estava acordada. Eu desmaiei quando cai.

Ele se levantou intrigado e voltou a andar em direção ao caminho que viera.

—Você não vem¿ - ele falou e eu me levantei seguindo-o

Era realmente a segunda vez que eu me afogava e não morria, e a segunda vez que Ivo era a causa disso. E se não chegássemos logo, seria a segunda vez que “sumiríamos” juntos. E era o que eu menos queria de problema para a minha vida: ele.

— Escuta aqui – ele parou bruscamente virando para mim e me assustando – e escuta bem porque você não vai me ouvir dizer isso novamente. –

Ele iria brigar comigo¿ Eu estava prestes a abrir minha boca para xinga-lo e dizer o quanto EU era a vítima ali, mas ele falou primeiro me surpreendendo.

— Me desculpe! – falou alto – Desculpe pelas duas vezes que causei o acidente, eu posso não valer nada, como você diz, mas eu não faria isso e propósito com ninguém! Nem mesmo com você.

Fiquei surpresa. Ivo pedindo desculpas¿

— Como eu disse, você não ouvira eu dizer isso novamente. Só estou fazendo porque foi realmente dois grandes acidentes, e você poderia estar morta agora.

— E você seria um assassino... – comentei mais para mim do que para ele

Ele virou os olhos e voltou a caminhar e eu o segui.

—Aonde vocês estavam¿ - Jemima estava parada a estrada do acampamento

Passei por ela que não parou de me encarar toda molhada e deixei ela e Ivo se acertarem. Ótimo, agora eu estava toda molhada. Disfarcei e entrei na cachoeira para que não me vissem chegar assim. A agua estava congelando e senti meu corpo adormecer na mesma hora. Pareciam mil facas me atravessando de tão gelada que a agua se encontrava. Não tinha praticamente ninguém acordado mais e ninguém estava prestando atenção em mim. Minhas pernas formigavam mais do que o resto do corpo. Tinha algo errado. Vi Jemima passando rápido pra dentro de sua cabana e fechando a entrada. Decidi sair da agua pois não sentia as minhas pernas, mas eu me surpreendia ao ver que eu não as sentia, porque realmente eu não as tinha mais.

Dei um grito agudo ao ver uma cauda de peixe no lugar de minhas pernas e escorreguei para dentro da agua novamente. Ivo, Saulo e Amanda, que eram os únicos acordados me olharam assustados com o grito.

—Escorreguei – menti

Fiquei com medo de alguém acordar e me ver daquele jeito, mas o que me assustou mais foi Ivo se aproximando, assim ele veria aquela coisa. Tentei ficar o mais imóvel possível quando ele se aproximou, para que o rabo de peixe não chamasse atenção, mas havia esquecido que a água era quase cristalina, mesmo no escuro.

— O que merda você esta fazendo aí¿ - de cara de bravo ele fez cara de nojo misturada com surpresa olhando para onde deveriam ser as minhas pernas.

—Xiu – falei rapidamente – não fala nada – olhei em volta assustada.

—Mas o que... – ele se agachou e ficou encarando meu rabo de peixe – que isso¿

—Eu não sei - falei chorosa – a agua estava gelada e eu achei que era isso que me deixou formigando mas ai...

—Sai daí agora – ele falou saindo de perto e me dando espaço para sair

—Não! Vão me ver! Falei assustada olhando em volta.

Não tinha ninguém prestando atenção na gente, mas mesmo assim eu tive medo. O que raios estava acontecendo comigo¿

—Rápido, saia logo imbecil – ele me segurou pelo braço e eu as com dificuldade caindo nas pedras fora da água

Comecei a me arrastar para trás de uma das barracas e só então notei estar sem roupa. Cobri meus seios com os braços mas a cauda chamou tanta a atenção do Ivo que ele provavelmente nem notou aquilo.

—O que eu faço¿ - mal havia terminado de falar a frase e as escamas começaram a fundir em minha pele sem me causar dor, mas causando grande espanto. Em questão de dez segundos tudo havia sumido e eu estava completamente nua encolhida.

— Va buscar um lençol – falei irritada vendo a cara surpresa e sem graça de Ivo que agora notava que eu estava nua, mas ainda não havia desviado o olhar.

Ele voltou segundos depois tropeçando nos próprios pés. Me enrolei no lençol que provavelmente pertencia a ele e fiquei sentada ali tremendo de frio. Nós não falamos nada. Ele ficou ajoelhado na minha frente sentado nos próprios pés e nem eu nem ele sabíamos o que falar.

—Acho que vou indo dormir. – falei depois de bons minutos em silencio - te devolvo o lençol amanha, quer o meu¿

Ele balançou a cabeça negativamente e nos levantamos indo cada um para a sua barraca.