Ela acorda no meio da noite com um grito entalado na garganta. Com a respiração ofegante olha para tudo que está ao seu redor. Teve mais de um dos seus pesadelos de novo e agora tinha sido pior. Sentia na boca um enorme gosto de terra e suas unhas estavam sujas de sangue. Olhou para a janela do quarto e foi ao banheiro trocar de roupa. Ao encarar o espelho viu uma menina com aparência sombria. Com os cabelos negros lhe tampando o rosto. Com cicatrizes pequenas que cobriam sua pele áspera. Com olhos e boca pequenos e nariz afilado. Com a pele castanha cheia de pintas. E o cabelo grande, negro e liso. Nara vestiu a blusa e saiu. Desceu as escadas e seus olhos procuravam a imagem de sua mãe em vão. Kyra não estava lá presente. Havia saído de manhã bem cedo atrás de flores para completar a cesta de que lhe haviam encomendado. A menina pegou uma maça da geladeira e uma garrafa com um líquido amarelo e saiu. Bateu a porta com força por culpa do vento. Desceu a rua e comprimentou Sebastian, seu colega de sala. Virou a esquina e caminhou até uma rua com pouca iluminação. Ao caminhar, percebeu que na sua frente uma serpente escamosa lhe tirou a atenção. Parada bem na sua frente, Nara não esboçou nenhuma reação. Podia ser só sua imaginação, ou achou que tivesse levado sol demais na cabeça, mas ela viu e ouviu a serpente falar:

- אני סוף סוף מצאתי אותך

Aquela mera uma língua muito antiga. Como a menina gostav dessas coisas logo identificou a que língua estava sendo pronunciada. Hebraico. A língua mais antiga. Traduziu as palavras da serpente em sua cabeça.

... finalmente eu te encontrei.

Nara assustada e com razão virou-se e afastou-se da serpente devagar. Escondendo-se detrás de um velho carro cinza observou tudo atentamente. De repente formou-se no céu uma enorme tempestade. Nuvens cinzas cercaram a serpente e um redemoinho de água tirou-a do chão. Uma tempestade de água de repente se formou e de lá Nara viu dois braços e duas pernas se arrastarem para fora do círculo. O sol veio enxugando tudo e absorvendo os resquícios que ali estavam. A serpente havia se transformado em um homem elegante e muito bem vestido. De terno e gravata, seus olhos enxarcados transpareciam o negro.

_ Vamos menina, saia de onde você está. Precisamos conversar. Você não poderá se esconder de mim.

Nara continuou ali parada e imóvel. Deitou no chão e foi para debaixo do carro. O homem desimpaciente ergueu uma das mãos e o carro levantou-se ficando suspenso ao ar. A menina viu aquilo em cima da cabeça dela e não acreditou. Com outro movimento ele jogou o veículo para o lado.

_ Aí está você. A menina dos cabelos negros. Bem que seu pai me disse.

Ele disse retirando um pouco de poeira que estava em seu terno.

_ Quem é v... você?

Com a voz trêmula ela se levantava do chão úmido.

_ Não sou seu amigo, isso eu posso lhe garantir.

O homem sentou em cima do capô de um dos carros e ficou enrolando um fio do seu cabelo liso.

_ O que quer de mim?

_ Calma,

Ela viu a escuridão em seus olhos

_ Pretendo me apresentar se você se acalmar um pouco mais.

Disse ele levantando-se e reverenciando-a

_ Eu me chamo Leviatã, um demônio antigo citado no antigo testamento. Sou um dois sete príncipes do Inferno e você já deve ter ouvido falar de mim nos livros de história. Referiam á mim como sendo o Monstro do Lago Ness que assombrava os mares durante a Idade média.

_ Você é um demônio?

_ Não, prefiro ser chamado de príncipe.

Disse ele com um tom irônico.

_ Por que está aqui?

_ Vim por que tenho uma grande dívida com seu pai.

_ E quem é o meu pai?