A estrada até aqui

Crescer é feito à mão


A estripulia de Sasuke resultou em algo positivo.

Distância. Tempo. Individualidade.

Após refletir, percebi que eu mesmo não fazia ideia da última vez que fiz algo sozinho, apenas porque queria fazer. Na verdade, não lembrava mais como era ter e realizar minhas vontades.

Crescer é muito estranho, porque, por vezes, acaba nos colocando no piloto automático, seja por uma pressão social ou para fugir de vivenciar certos momentos. Apenas seguimos o roteiro do que parece certo para sobreviver.

Sobreviver. Essa é a palavra. Esquecemos que nossa missão deveria ser viver e não aproveitamos as coisas mais simples e gostosas.

Naquela manhã, quando Sasuke me ligou, notei algo diferente em sua voz.

Euforia.

Eu quase podia vê-lo sorrir.

Disse que estava bem, que a viagem estava sendo ótima e que não precisava me preocupar. Contudo, o auge foi quando agradeceu por não o ter buscado assim que o carro quebrou. Garantiu que explicaria melhor quando nos encontrássemos em casa e que, pela primeira vez na vida, sentia-se vivo.

Não sabia qual passarinho azul tinha visto, mas sorri junto.

Uma lágrima escorreu ao escutá-lo dizer aquilo.

Senti algo brotar em meu peito, como uma sementinha que há tempos aguardava ser regada. Uma mistura de euforia e paz que não sentia desde criança, quando ainda podia me perder com ele em suas brincadeiras cheias de imaginação. Sasuke sempre foi meu porto seguro.

Era como se ele tivesse voltado a ser um garotinho. Melhor que isso, saber que ainda existia aquela criança cheia de esperanças e sonhos dentro dele, que não tinha se perdido. Senti aquilo em sua voz.

Sasuke estava feliz. E a felicidade é contagiante.

Aquilo trouxe de volta a graça da espontaneidade em mim também.

Dei meia volta para aquela pequena parada. Talvez precisasse disso. Ser inconsequente.

Fui ao primeiro lugar que a vi. No dia anterior, ela estava encantadora, mesmo de uniforme e atrás daquele balcão da cafeteria.

Sua amiga me atendeu e bastou uma ligação para que ela aparecesse.

A moça que fez meu coração bater mais rápido.

Dessa vez, não me limitei a admirá-la durante uma refeição.

Ela sabia que eu estava de passagem e não poderia ficar no momento, contudo ainda me concedeu o prazer de sua companhia num encontro.

Nem que um dia, pelo menos.

Claro que, conforme conversávamos, percebi que não queria que terminássemos por ali. Havia ainda tantas possibilidades de conversas incríveis para termos. Por isso, retornei à estrada no dia seguinte com a promessa de que nos veríamos de novo, selada por um beijo inesquecível.