Crescer dói

Com quantos anos se vira o homem da casa?

Muitas pessoas talvez não saibam, mas ser policial é um serviço em tempo integral. Não importa se é sua folga, feriado ou se está de férias.

Naquele dia, meu pai foi me buscar na escola. Saí mais tarde por conta do treinamento para o concurso de soletrar. Faltava menos de uma semana e eu estava ansioso. Ele me incentivava e ficava animado conforme via minha empolgação.

Em casa, minha mãe lembrou-o sobre algo que tinha pedido para comprar. Insisti para ir junto, mas não adiantou. Apenas disse para eu me arrumar porque continuaria me ensinando xadrez após o jantar.

Era um dos melhores momentos do meu dia. Já sabia jogar, mas fingia dúvidas para que ele continuasse a explicar. Meu pai era bastante ocupado, mas, jogando, éramos só nós.

Lá fora, ele era bom policial. O uniforme parecia vir com o título de herói embutido. Foi justamente pela farda que atiraram quando entrou no mercadinho durante um assalto.

No entanto, não mataram um policial naquela hora. Era só meu pai, que deixou a gente esperando na mesa de jantar enquanto comprava o leite para fazer a mamadeira do meu irmão.

Notícia ruim chega rápido e não importa por quem ou como é contada, sempre dói. Não há palavras de consolo que minimizem essa dor. A saudade machuca e ver quem amamos sofrer é ainda pior.

O luto tem fases e demanda tempo para processar toda confusão emocional. Trata-se de um vazio que jamais será ocupado novamente. No entanto, quando se perde um ente querido e vê o outro sofrer, a gente também cresce. Somos obrigados a amadurecer.

Minha mãe necessitava de um porto seguro, de confiança para continuar. Tinha dois filhos para cuidar. Contudo, ela e Sasuke pareciam tão frágeis. Perder alguém que ama é assustador. Eles precisavam de proteção. Cabia a mim ser forte pelos três, ser uma coluna para evitar que toda nossa família desabasse. Essa é uma lição do papai que jamais esqueci ou desonrei. Família em primeiro lugar. Sempre.

E funcionou. Minha mãe nos amou muito desde então, mais que a si própria. Protegeu com toda sua força, beirando o exagero, por vezes. Viramos o centro de sua vida e me permiti fazer tudo por eles.

Cresci cedo demais. Foi difícil. Demorei para perceber que não precisava ser forte nem ser o homem da casa. Eu só tinha 8 anos. Também precisava de proteção. Só que isso não era culpa nossa. Apenas aconteceu.

A vida aconteceu.