A estrada até aqui

Crescer é cansativo


Exausto.

Era como me sentia com o preparo do TCC e os demais estudos de provas. Aquele clássico final de curso, cheio de deveres e expectativas. Tudo que gostaria era chegar à casa e descansar antes de arrumar as coisas e seguir para a casa de minha mãe.

Tínhamos mudado para a capital devido à faculdade, porém sempre deveríamos visitá-la nos feriados e férias. Isso ou ela viria até nós. Dona Mikoto certamente viraria nosso apartamento de ponta cabeça, arrumando tudo e nos mimando. Não que esteja bagunçado, contudo tem toda questão de privacidade e espaço pessoal. Enfim... Sem contar que dar um tempo da movimentação da cidade grande era necessário.

Seria bom relaxar.

Eis que Sasuke me liga avisando que estava pronto para partir. Mais que isso, garantiu que se faria uma viagem segura sozinho e que não precisava me preocupar, pois era um adulto e tinha a própria CNH. Onde já se viu? Está cheio de idiota no trânsito.

Além disso, dizer a um irmão mais velho que não precisa se preocupar e desligar o celular na cara dele é a mesma coisa de dizer: Preocupe-se.

Ele não atendeu minhas ligações seguintes. Por sorte (mesmo me deixando P da vida), pegou meu carro emprestado. Graças ao GPS, eu poderia saber onde estava, caso algo acontecesse.

Não demorou para que eu identificasse uma mudança de trajeto. Sasuke garantiu que iria para casa da mamãe, contudo optara pelo caminho mais longo, que seguia por estradas mais pacatas, passando por pequenas cidades e vilarejos antes de alcançar a costa.

Ao perceber aquilo, por algum motivo, senti-me um pouco mais calmo. Desde a construção da rodovia principal, aquelas estradas periféricas eram menos utilizadas. As chances de ocorrer algum acidente eram mínimas e, como meu irmão mesmo havia dito, o que poderia acontecer de pior?

E assim aprendemos que sempre tem como algo dar errado.

Na manhã seguinte, Sasuke telefonou dizendo que o carro havia quebrado. Claro que, como um bom – e clássico – irmão mais velho, tive que ressaltar sua irresponsabilidade, o quão opróbrio fora. Como alguém viaja sem fazer uma revisão no veículo? Inclusive, eu tinha agendado uma antes dele me abandonar para sua jornada solo.

Ah, quanto às surpresas... Aprendemos também que a vida é cheia delas.

O planejamento original era viajarmos em dois dias, por isso falei para Sasuke esperar que eu fosse buscá-lo. Esse tempo serviria de castigo para que fosse um adulto mais sensato e aprendesse a não aprontar uma dessas do nada (ou pelo menos ser mais precavido ao fazê-lo).

E aí vem a parte dois da surpresa.

Cheguei à parada e descobri que Sasuke simplesmente partiu.

Graças a uma garçonete que parecia gostar de fofoca, descobri que pegou carona com um loiro de carro antigo que chamava de Raposinha.

Como um sexto sentido, minha mãe ligou. Talvez fosse o alarme "filhos fazendo merda" apitando. Garanti que estava tudo bem e estávamos nos arrumando para viajar. Claro que menti. Ela surtaria se soubesse do pouco que eu sabia. Nem teria tempo direito de explicar e ela surgiria do meu lado, dando aquele olhar que só mãe consegue.

Respirei fundo.

Decidi esperar consertarem o carro e seguir viagem. Se encontrasse Sasuke no meio no caminho, ia acabar com ele.