A Vida de Alguém...

24 de janeiro de 2014


Oi,

Nem sei direito como começar. Bom, não direi meu nome, porque talvez um dos meus amigos descubra isso e acabe sabendo quem sou eu. Acho isso desnecessário. Tenho dezessete anos. Estudo em escola pública. Terceiro ano do ensino médio. Canto. Algumas pessoas dizem que canto muito bem mas eu sempre acho que não. Ainda não sei o que fazer depois que sair do ensino médio porque, eu quero fazer uma coisa mas toda vez que vejo algo relacionado a arte, penso nisso. Acho que cantar é a coisa mais importante pra mim.

Acho que um outro ponto importante sobre mim é que eu sou uma garota. E não tenho namorado mas não estou completamente solteira. É um daqueles "rolos" onde as duas pessoas se gostam bastante mas não querem oficializar por enquanto. E eu não me importo com isso. Nem um pouco. Acho até legal. "Quanto menos pessoas souberem, mais chance tem de dar certo". Já ouvi e li essa frase muitas vezes.

Já namorei algumas vezes e foram coisas que me trazem más lembranças. Claro que tive momentos bons com namorados mas... os términos foram aterrorizantes. Pelo menos pra mim. Ainda não disse que sou extremamente sensível, não é? Pois é, eu sou. Meu primeiro "namoro" foi escondido. Eu tinha doze pra treze anos. Ele me deu um perfume de aniversário. O perfume era muito bom. Mas eu não gostava tanto do garoto. Acho que durou dois meses. Terminei com ele, porque gostava muito de outro cara. O cara em quem eu dei meu primeiro beijo.

Ele era bonito na época. Estava na moda ter cabelos compridos e jogados na testa. Ele tinha cabelos extremamente lisos. Combinava com ele. E beijava bem. Mas não parava com uma garota só, o que me deixava triste. Mas quando eu estava com ele, esquecia disso. Ele dizia que gostava de mim mas eu sabia que era mentira, porque ele sempre ia pras festas e ficava com outras. Eu tinha muitas "amigas" na época. Ou ao menos achava que tinha. Éramos daquele tipo que anda em grupo. Um grupo de garotas que se achava incrível. E eu era a menos "incrível" do grupo.

Acho que deveria dizer também que tenho um dedo a mais em um dos pés. Ao todo, tenho vinte e um dedos. E isso era um problema até a sétima série, que foi quando mudei de cidade. As pessoas me chamavam de "seis dedos". Era chato. Eu odiava aquilo. Mas não tinha o que dizer.

Na época eu ganhei um celular do meu pai. Não era desses caros de hoje em dia, mas eu gostava. Era branco. Uma vez estava no ônibus e uma garota implicou comigo. Chamou de "tijolão". Mas ele era pequeno. Ela quis me bater, porque eu olhei pra ela. Pouco tempo depois perdi o celular em um ônibus, vindo pra cidade onde moro.

Depois meu pai acabou me dando outro. Era preto. Eu gostava dele, porque tinha câmera. Era moda na época. Acabei deixando ele cair do prédio onde eu morava. Segundo andar. Ele quebrou a tela. Ficou azul. Mas ainda dava pra falar.

Pouco tempo depois, ele me deu um antigo dele. Quase o mesmo modelo, porém não tinha câmera. Era prata e tinha um tipo de espelho e uma luzinha que piscava no meio do espelho. Ele era inquebrável. Uma vez deixei-o cair da parte de cima de um mercado. Ele bateu em uma prateleira e caiu. Nem arranhou. Ri por bastante tempo.

Ganhei outros depois disso. Nunca fui muito rica mas meus pais sempre tentaram fazer o possível por mim. Minha avó também. Chorei muito quando me mudei pra lá. Sentia muita falta daqui. Eu era uma criança. Tinha só dez ou onze anos. Desculpe, não sou boa com detalhes. Só me lembro que tive que aprender a pegar ônibus. Inicialmente eu estudava a tarde, então tinha um ônibus desses que se paga por mês, que passava na minha casa. Isso durou no máximo um ano e meio. Quando fui pra quinta série, tive que começar a pegar ônibus de linha. Que foi onde a garota implicou com meu celular.

Às vezes sinto saudade daquela escola. Ela tinha um campo e uma quadra. Tinha três andares e um estacionamento. Era um tanto grande. Bem maior que a que eu estudo hoje. Eu era a "deslocada" da turma. Mas eu tentava me enturmar. Nunca consegui. Até me mudar. Hoje converso com algumas pessoas que me dizem que enlouqueceram quando eu "sumi". É porque eu mudei de surpresa. Poucos sabiam. E os que sabiam, ficaram quietos.

Acho que já posso parar. Você já deve estar cansado de ler sobre minha infância.

Com amor,

Alguém.