— Protesto, Meritíssimo! – Esbravejou Jéssica, levantando-se de sua cadeira – Esses argumentos não tem nenhum fundamento! – concluiu com o punho fechado sob a mesa.

- Meus argumentos têm fundamentos sim, Senhorita Walter – questionou Henry nervosamente, virando-se para a advogada.

- Protesto aceito! – falou o juiz anotando algo no papel que havia na sua frente.

A cada minuto que se passava o clima ficava mais tenso naquela sala. O julgamento já passava de duas horas de duração e todos ali se encontravam nervosos. No meio da sala se encontrava o réu, Michael Joe, acusado de invadir uma residência, roubo de joias seguido de um assassinato. Em sua defesa estava Henry Miller. Do outro lado estava Jéssica Walter, lutando bravamente para ver o réu na cadeia.

Incrível! Como esses desgraçados ainda tem direito a um advogado, pensou ela revoltada.

- Algo a mais a declarar, Senhor Miller? – perguntou o Juiz.

- Não – respondeu o advogado secamente e furioso pelo Juiz ter acatado ao protesto de Jéssica.

- Muito bem, por favor, Senhorita Walter – falou o Juiz gesticulando para que ela se aproximasse.

Jéssica se levantou com graça e em seus braços carregava uma pasta preta. Ela estudou o réu ali sentado na cadeira e teve nojo do que via. Ele por sua vez tinha sua cabeça abaixada, evitando olhar para quem quer que fosse. Jéssica sabia que ele era totalmente culpado e aquela era a pose clara de sua culpa e de todos os crimes que carregava em suas costas.

- Bem – começou ela dando passadas teatrais de um lado para o outro diante do Juiz – Antes de vim para cá tive acesso de todas as informações do que aconteceu dentro daquela casa...

- Vá direto ao ponto, Senhorita Walter – interrompeu o Juiz, querendo acelerar aquele julgamento e encerrá-lo.

- Certo, estive na casa e a perecia me passou todas as informações que precisava para analisar esse caso. O senhor Joe afirma que nunca esteve naquela casa e que tudo não passava de um terrível engano, não é verdade, senhor Joe? – perguntou com ironia virando-se para o réu.

O silencio pairou pelo ar e Michael percebeu que ela estava falando com ele. Sentiu uma raiva percorrer a suas veias pela ironia que ela carregava em suas passadas e em sua voz.

- Sim – respondeu ele entre os dentes, mas permaneceu com a cabeça abaixada.

- Estranho – falou Jéssica com uma voz teatral – Nos exames que tive acesso, encontraram digitais de duas mãos na camisa da vítima – falou retirando uma fotografia, na qual mostrava uma camisa com marcas de digitais sobre efeito de algum produto químico, e entregou para o Juiz analisar. – O mais engraçado é que essas digitais encontradas na vítima se batem perfeitamente com a sua digital. Não acha estranho, Senhor Joe? – falou ela virando-se novamente para ele e abaixando-se, tentando ver seu rosto.

Michael se sentiu desconfortável naquele momento. Por um pequeno deslize, havia deixado rastros para trás. Nunca antes tinha cometido tantos erros como naquele crime. Ele sentiu seu sangue fervilhar, tinha que dizer algo em sua defesa.

- Mas eu não a matei, droga! Ela que caiu pela janela por onde entrei – falou ele furioso, tentando amenizar a sua culpa.

- Ah! Agora você afirma que esteve na casa? – falou Jéssica levemente espantada. Ela não esperava que ele fosse confessar algo tão rápido.

Joe irritou-se consigo mesmo. Ele havia piorado a sua situação. Pelo seu campo periférico pode ver que seu advogado havia colocado a mão no rosto, irritado com o que tinha acabado de dizer.

- Ainda vai negar que a empurrou pela janela? – perguntou ela delicadamente, mas com fúria nos olhos.

- SIM! NEGO! – Gritou Michael, levantando-se. Estava cansado das brincadeiras de Jéssica e irritado por não poder fazer nada.

- SENTE-SE! – Gritou o Juiz batendo o martelo, fazendo a sua voz e o som do impacto ecoar pela sala.

Jéssica estava parada diante de Michael, levemente assustada com a sua reação repentina. Ela tentou transparecer segurança o máximo que posse, mas teve certeza que alguém deveria ter detectado o seu susto. Rapidamente ele se recuperou e deu mais um passo para frente, desafiando-o e mostrando que não tinha medo dele.

- Mas se você tivesse invadido a casa pela janela que entrou, não era para os cacos de vidros estarem dentro da casa? A pericia coletou pacientemente cada caco de vidro e todos estavam do lado de fora, no jardim. Alguns se encontrava cravadas na vítima. Vai negar ainda? – perguntou ela desafiadora.

Pela primeira vez Michael e Jéssica se encararam. Os olhos de ambos transbordavam faíscas.

- Caso lhe sobre alguma dúvida – falou ela ainda sustentando o olhar – eu tenho uma testemunha. Posso chamá-la, Meritíssimo? – perguntou desviando o seus olhar, voltando a atenção para o Juiz.

- Mande-a entrar – falou ele para um dos guardas que estava em uma das portas das laterais.

A porta se abriu e uma tímida mulher de aparentemente de trinta e poucos anos surgiu. Ela tinha os seus cabelos presos num rabo de cavalo, alguns fios teimavam em se rebeldiar. Ela sentou-se a cadeira ao lado que tinha no Juiz e permaneceu em silencio. Ela olhou para o réu e seus olhos esbugalharam de medo.

- Sei que está nervosa, mas concentre-se no que veio fazer aqui. Diga alto e em bom tom o que você havia me contado – falou Jéssica aproximando de Patrícia, a testemunha.

Patrícia olhou para todos a sua volta, parecia que todos iriam a engolir a qualquer momento. Ele manteve o olhar para Jéssica, onde conseguiu segurança.

- Bom... – começou nervosamente – Eu estava na cozinha, terminando de limpá-la. Eu ouvi alguns barulhos lá em cima, mas não me importei. Quando ouvi o som de vidro se quebrando, achei que Julia tinha derrubado algo e fiquei atenta para que ela me chamasse. Porém eu só ouvia passos pesados e sussurros raivosos – falou ela com seus olhos começando a encher-se de água – eu subi as escadas bem devagar, afim de ninguém perceber que eu estava subindo. Encontrei a porta do quarto entreaberta e e vi que ele – falou Patrícia apontando para Michael – lutando contra Julia – Patrícia deu mais uma pausa e parecia não ter mais forças para terminar de contar a história.

Jéssica deu um passo a frente para acalmá-la, mas Patrícia levantou uma de suas mãos, sinalizando para ela não se aproximar.

- Foi... Foi... Foi quando ele a empurrou para a janela do quarto que estava fechada – terminou ela cobrindo o rosto com as mãos e não parou de chorar.

- Tirem-na daqui e ofereçam-na um copo d’água – falou o Juiz pedindo para um dos seguranças se aproximar.

Michael tinha seus olhos chocados. Nunca antes tinha deixados testemunhas de seus crimes. Percebeu que aquela noite tinha sido um desastre total, erros pequenos que poderiam ter sido evitados. Jéssica, por sua vez, via em seus olhos que ele não tinha mais argumentos e nem saída. Ela estava pronta para dar o xeque-mate.

- Aposto que você não sabia que Patrícia estava na casa, não é verdade? Apesar de você ter passado semanas investigando a movimentação na casa, Julia havia brigado com seu marido e pediu para que Patrícia ficasse para ela não ficar sozinha na casa. Isso foi um imprevisto para o seu plano, não é verdade?

Jéssica tinha seus braços cruzados e encarava o réu com desdém. Ela sentia o gosto da vitória naquele momento e a expressão de choque de Michael era o seu troféu.

- Sem mais a declarar – falou olhando diretamente para Michael, em seguida sentou-se em sua mesa, segura de que ela tinha aquela causa ganha.

O juiz colheu as provas que os dois advogados havia apresentado. Tudo estava sendo levado em consideração. Juntando a papelada ele deu uma pausa e que o Julgamento retornaria dentro de trinta minutos. Jéssica bufou, pois sabia que aquilo era só um charme do Juiz. Sabia qual seria o resultado daquele julgamento: a prisão de Michael Joel, o réu. Passado os trinta minutos, todos retomaram a sala. Todos os presentes estavam tensos, menos Jéssica.

- Diante dos fatos e das provas que tenho em minhas mãos, eu declaro Michael Joe culpado pela morte e pelo roubo das joias. Além disso, culpo-o pelos seus outros crimes cometidos – e bateu o martelo.

- NÃO! – Levantou-se Michael abruptamente. Os guardas agiram rapidamente e seguram-no, antes que ele fosse fazer alguma besteira – NÃÃÃÃÃO! – gritou ele a plenos pulmões.

- E agora, vai negar? – falou Jéssica aproximando-se de Michael carregando um sorriso na boca.

- Isso não vai ficar assim! – gritou ele com seus olhos pegando fogo.

- E o que vai fazer? – desafiou – me matar?