O som das máquinas era ritmado, era impossível Jordan não olhar para elas quando emitiam algum som. A claridade agredia os seus olhos, mas eram extremamente necessários para que tudo corresse certo. O silencio absoluto o deixava em completo estado de concentração, mas também em suas mãos pesava a grande responsabilidade. Diante de si estava o peito aberto de um paciente, onde o coração pulsava.

O músculo batia fracamente, estava doente. Jordan sabia como cuidar daquilo. Não era o primeiro transplante de coração que fazia em sua vida. Porém mesmo carregando a experiência em seu caminho, o nervosismo sempre andava de mãos dadas com ele.

Mesmo com as luvas, ele sentia o frio percorrer nas extremidades dos dedos. Mesmo com o ambiente frio da sala, ele sentia um calor subir sobre o seu corpo. Mesmo tendo toda uma equipe ao seu redor, ele se sentia completamente sozinho. A vida de uma pessoa estava sobre sua responsabilidade e não havia nada que ele pudesse fazer se alguma coisa sair errado. A vida não era algo que se compra em uma loja.

...

Fora da sala, Jordan tinha passos rápidos pelos corredores do hospital. Mesmo com o ambiente fechado e sempre iluminado por luzes artificiais, ele sabia que era de madrugada. O sol estava quase aparecendo. O ar frio cortava-lhe o rosto, mas ele não se importava. Sua responsabilidade agora era dar a notícia para a família que aguardava na recepção.

Uma mulher jazia sentada numa cadeira com seu rosto enterrada em suas mãos. Seus olhos estavam pequenos e uma grande olheira surgia. O cansaço era nítido, mas ela conseguia arranjar forçar para se manter ali. Ao longo dos três dias, ele se recusava a sair dali. Os parentes faziam rodízios para fazer companhia a ela. Quando Jordan ficou a vista dos familiares, ela foi a primeira a se levantar. Não foi preciso fazer nenhuma pergunta, seus olhos já tinham feito isso.

Jordan olhou para os dela em silencio e deixou que os seus olhos dessem-lhe a resposta.

A mulher deixou um sorriso desconcertante surgir em seu rosto e logo a abraçar os parentes presentes. Naquele momento ela não parecia ser uma mulher cansada ou que havia passado quase cerca de três dias sem dormir com decência.

— Victor reagiu bem a cirurgia – falou Jordan referindo-se ao marido da mulher – é um homem forte. Ele está sendo instalando em um dos quartos. Peço que aguardem mais um pouco para ele acordar do sedativo – falou ele sorrindo.

— Esperei dias, o que são algumas horas? – falou a mulher satisfeita e sorrindo com os olhos. – Obrigada – agradeceu verdadeiramente e com o coração aliviado.

— Fiz o meu dever e o meu melhor – respondeu ele sorrindo e satisfeito com o resultado do seu trabalho.

Dizendo aquelas palavras ele voltou pelo corredor que veio e entrou na sala dos médicos, que se encontrava vazia. Avançou para a máquina de café expresso e tomou um gole generoso, a fim de sentir o liquido quente descer por sua garganta. Um calor agradável espalhou-se pelo seu corpo e permitiu-se largar-se em uma das cadeiras que ali tinha. Percebeu que todos os seus músculos reclamavam de dor. Naquele momento sua cabeça pesava uma tonelada. Precisava de descanso.

Deixou sua cabeça pesar mais um pouco, antes de pegar as suas coisas e ir em bora. Do lado de fora o frio o abraçou. Os primeiros raios de sol começavam a aparecer e o céu a se tonalizar-se de laranja. Jordan trazia consigo o seu jaleco, a mala com alguns documentos e materiais básicos do seu dia-a-dia e o um café matinal. Largou-se no banco do carro e ali mesmo desejou dormir, mas tinha que ir para casa.

Guiou o seu carro para fora do estacionamento e andou alguns metros na rua e já encontrava trânsitos em alguns pontos da cidade. Jordan pegou outros caminhos a fim de tentar fugir do transito que se acumulava já logo cedo pela manhã, porém foi inevitável. Qualquer caminho que ele escolhesse, sempre havia algum congestionamento.

Merda! Resmungou dando um murro no volante.

Enquanto aguardava o transito melhorar, ele observava a ousadia de alguns motoqueiros que andava a alta velocidade entre os carros parados. Jordan balançou a cabeça reprovando a irresponsabilidade dos motoqueiros, colocando em risco a vida dos motoristas e principalmente as deles mesmos. Pior do que isso era ver motoqueiros que usavam a calçada para se livrar do transito, obrigando os pedestres a se desviarem.

— Isso vai causar um acidente – falou ele para si mesmo.

Jordan fechou seus olhos e sentiu seu corpo gritar de alívio. Seus olhos arderam e sentiu as lágrimas deslizar o seu rosto. Estava exausto de mais, havia exigido de mais de si. Quando menos esperou ouviu um impacto não muito longe dali. O som foi claro e algo metálico atingiu com violência. Ele abriu seus olhos alerta. Seu carro estava inteiro e o transito continuava parado.

Mas o quê...?

Olhou para o lado e viu os pedestres andando apressados para uma direção. Provavelmente era do acidente. Jordan abriu a porta do carro e certificou-se de que o transito não andaria. Pegou sua mala de primeiros socorros, que deixava sempre em seu carro, e correu na mesma direção que as outras pessoas iam.

No local do acidente encontrou uma moto torcida na qual tinha atingido o poste pela lateral. Há cerca de três metros estava um homem, sem capacete, estendido no chão. Rapidamente um circulo de pessoas formou-se a sua volta. Jordan via as pessoas nervosas, aproximou-se rapidamente.

— Com licença, com licença – pedia ele passando com dificuldade entre as pessoas – Sou médico – falou para as que teimavam não sair do caminho.

Diante dele estava a cena: O motoqueiro estendido no chão como se fosse um boneco de pano. Havia um pouco de sangue e era nítido que seu braço estava quebrado. O primeiro ato de Jordan foi verificar se o homem respirava e, felizmente, estava. Consultou sua pulsação... Estava fraco.

— Alguém chamou uma ambulância? – perguntou com urgência ao seu redor.

— Sim, eu chamei – disse uma mulher com a voz e o rosto assustado – assim que vi o acidente, chamei de imediato.

— Fez bem – falou Jordan tentando acalmá-la.

Aguardando mais um pouco, Jordan conseguiu ouvir o som da ambulância se aproximando. Aproveitando que a ambulância passava pelos carros sem muita dificuldade, conduziu o seu carro logo atrás, para aproveitar a passagem.

Chegando ao hospital, o motoqueiro foi levado logo para a emergência e Jordan ficou na sala de espera. Os parentes foram contactados de imediato. Jordan cruzou os braços e ficou no aguardo de algum resultado. Estava a espera que o motoqueiro melhorasse para dar um belo de um sermão.

Sentando em uma cadeira de espera, não muito confortável, Jordan encontrou a cabeça na parede. O alívio percorreu seu corpo como se fosse água corrente e, dessa vez, permitiu que aquela sensação dominasse o seu corpo. Estava cansado de mais para manter seus olhos abertos. Se ele descansasse um pouco, poderia despertar melhor e mais disposto para dar uma bronca ao motoqueiro.

— Jordan! – exclamou uma voz que ele conhecia.

Era Alan, seu amigo de trabalho também cirurgião cardíaco.

— Ei, acorda – falou ele.

— Hum...

— O que está fazendo aqui? Não era para estar em casa? – perguntou curioso.

— Houve um acidente com um motoqueiro – disse ele ainda de olhos fechado e bocejou – quero ver como ele vai ficar – respondeu.

— Sabe que não pode dormir aqui, não é? – lembrou seu amigo.

— Eu sei... Mas eu estou tão cansado... – falou ele já com sua voz morrendo.

Alan não tentou acordar o seu amigo novamente, sabia que ele iria teimar. Preferiu deixar Jordan dormir e assim que algum medico surgisse com alguma notícia, iria acordá-lo.Olá leitorea!