CAPÍTULO 7

No dia seguinte, Kili levou Tarvi para conhecer melhor Balin e o local onde ela exerceria suas funções como aprendiz. A única coisa que deixava Tarvi nervosa era a proximidade com Thorin e seus conselheiros – entre eles Dis.

Mas ela precisava deixar o incidente daquela fatídica noite para trás, e logo. O aniversário de Kili estava se aproximando. Ela já havia começado a trabalhar em seu presente, e sabia que ele adoraria receber a família para jantar, mas não forçaria Tarvi a fazer isso, ainda mais quando a relação dela com sua mãe estava tão fragilizada.

Mas ela já havia tomado sua decisão. E, satisfeita com esta, deixou seus dedos se entrelaçassem com os de Kili enquanto saíam de casa e rumavam, pelos corredores de pedra, em direção ao escritório de Balin. Ela sentia que alguma coisa havia mudado – e para melhor – entre eles. Ainda não se sentia muito confortável com a ideia de dividir a cama com seu marido e cumprir seu dever matrimonial, mas esperava que ele tivesse paciência; sentia, dentro de si, que um dia esta hora chegaria.

Balin recebeu-os à porta de seu escritório e as apresentações foram feitas, apenas por formalidade; afinal, Tarvi já havia conversado com Balin, muito antes de seu casamento, sobre ser aprendiz. Mas Yarvi havia estragado tudo...

Empurrando a irmã para fora de seus pensamentos, Tarvi concentrou-se na explicação de suas tarefas – primeiro, passaria mais tempo ali dentro, recebendo uma educação mais aprofundada sobre a história, os costumes e as leis dos anões, além de noções básicas sobre os diferentes tipos de contratos, negociações, etc. Quando Balin a julgasse pronta, ela começaria a acompanhá-lo nos diferentes compromissos – reuniões entre negociantes, entre o rei e aliados, entre famílias escrevendo contratos de casamento... E, finalmente, no que seria o topo de sua carreira, Tarvi seria admitida como mais uma Escrivã e Historiadora a serviço do Rei Thorin.

Quando saíram do escritório, após Balin garantir que mandaria alguém com alguns livros para a casa deles mais tarde (ele não falara claramente, mas ficara subentendido que, por ser mulher e não ter origem nobre, Tarvi tinha muitas falhas em sua educação), para que ela pudesse começar a estudar e compensar o atraso, Tarvi não conseguia parar de sorrir:

— Parece cansativo, mas... mal posso esperar para começar! - Ela aproveitou o momento para apresentar seu “plano” ao marido – Então...Kili. Eu decidi continuar trabalhando meio período com minha mãe nas costuras, e na outra metade do tempo como aprendiz de Balin. Dessa forma, você não precisa aceitar trabalhos fora da forja (como ela sabia que ele estava planejando fazer).

Kili não disse nada.

— Por que, bem, é injusto você ter que trabalhar dobrado para que eu possa fazer o que eu quero. Você também tem o direito de fazer o que você quer. Isso apenas vai prolongar meu período de aprendizado, mas depois eu posso ser contratada e tudo vai se acertar e... Mahal, nem sei mais do que estou falando. Só estou ansiosa. Eu falo demais quando estou ansiosa.

Kili continuou em silêncio.

— Kili, eu disse algo que o ofendeu? – Ela perguntou, bruscamente.

— Não, é só que... – Kili passou a mão livre pelos cabelos – Isso não está certo. Eu devia sustentar a casa. Mas, no inverno, o trabalho é sempre escasso...

— Kili – Tarvi parou no meio do caminho e pegou sua outra mão – Isso é apenas um desvio no caminho. Não sei o que Lorde Thorin planeja, mas deve ser algo grande, algo que ele acredita que vai restaurar os anões à sua antiga glória. E eu acredito nele. Além do mais, eu sou ou não sou a mulher da casa? É meu papel se preocupar com finanças. E garantir que você não chegue tarde em casa.

— Como você sabe tudo isso? E eu nunca cheguei tarde em casa! – Eles recomeçaram a caminhar.

— Eu sei. É só pra você não ter...ideias. E como eu sei dos planos de seu tio? Talvez eu tenha ouvido uma ou outra conversa entre meus pais. Afinal de contas, eu precisava saber pelo menos o motivo pelo qual eu estava sendo dada em casamento como garantia! Mas antes que você pergunte, eu não descobri mais nada.

— Ter ideias? Por que eu teria ideias sobre chegar tarde em casa, com você me esperando?

Kili riu enquanto cada pedaço visível de pele de Tarvi corava com essa declaração.

Em pouco tempo, chegaram em frente à antiga casa de Tarvi, onde sua mãe trabalhava como costureira com outras senhoras. Na hora da despedida, Tarvi pegou a outra mão de Kili e segurou-a, junto com a outra, entre suas mãos.

— Vai dar tudo certo, Kili. Por favor, confie em mim – ela pediu.

— Eu confio – ele respondeu. Podia ser uma resposta vazia, mas Tarvi via, em seus olhos, que ele estava tão disposto a fazer isso dar certo quanto ela. E isso a acalmou.

— Então, bom trabalho. E bom treino – ela desejou enquanto Kili se inclinava para lhe dar um beijo. Na boca. Em público.

Ela ouviu risinhos vindos de dentro da casa. Mas aquilo não importava. Kili confiava nela, tanto quanto ela confiava nele.

Juntos, eles enfrentariam todos os problemas.