P.O.V. Maxon.

Ela simplesmente não saia da minha cabeça. Quem era ela? E porque motivo me salvaria se parecia que me queria morto?

Então, imagine a minha cara quando ela passa correndo, o lindo vestido branco que parecia feito de pétalas de rosas balançando. O clack, clack dos sapatos de salto no piso de mármore.

—Lasquei-me. Porque esse lugar tinha que ser tão grande?

Lasquei-me? Mas que expressão é essa?

—Ai, se eu me atrasar a treinadora vai me assassinar.

Ela passou correndo que nem me viu. Então, me escondi.

A garota olhou em volta como se verificasse se havia alguém por perto. Então, respirou fundo e jogou a cabeça pra trás. Durou uma fração de segundo, mas logo ela se recompôs.

E voltou a correr.

P.O.V. America.

Posso usar a minha mente para viajar, os antigos chamariam de projeção astral.

Decidi que não vou julgar o Tal Príncipe Maxon por ele ser Príncipe.

Tenha coragem e seja gentil. Aprendi isso com a minha mãe.

Fiz uma amiga, outra concorrente. O nome dela é Marlee Tames, ela é gente boa. É engraçada e fofa, aposto que o Príncipe vai gostar dela. Ela é loira, linda, fofa.

Depois de um dia de aula de como valsar, etiqueta, bons modos entre outras coisas obrigatórias á realeza meus pés estavam doendo de fazer tudo aquilo encima de uma sandália de salto quinze, no caminho de volta eu sentei num degrau lá duma das muitas escadas e tirei a sandália fora.

Ai eu decidi dar uma volta. Que eu saiba não é proibido. E nunca roubaria nada de ninguém, só tenho que ser cuidadosa, do jeito que eu sou destrambelhada capaz que eu quebro alguma coisa.

—Ai não quero nem pensar nisso. Deus me livre eu quebrar alguma coisa daqui! Nem brinque.

Estava perambulando, olhando os quadros, os bustos dos antigos governantes. Só tinha gente importante.

Então, abri uma das portas.

—Uma biblioteca!

Entrei e fechei a porta. Coloquei o meu sapato no chão e comecei a vasculhar pelas estantes. Bati o meu olho num livro que era muito raro, mas tava lá no alto. Felizmente tinha uma escada e eu nunca tive medo de altura.

Mas, era um trampo subir na escada com este vestido. Eu consegui pegar o livro. Parte boa, parte ruim... eu tropecei no vestido e cai. Fechei os meus olhos esperando uma queda dolorosa, mas eu não cai no chão. Alguém me pegou.

—Isso devia ter doido.

—Bem, ainda bem que não doeu, eu suponho.

Abri meus olhos e cara, era o Príncipe.

—Você está bem?

—Um pouco chocada, mas vou viver. Obrigado por isso.

Disse me levantado e batendo as mãos no vestido. Meu cabelo tava lindamente arrumado num coque que já tinha ido para as cucuias. Traduzindo, estou descabelada, descalça e desconjuntada.

—Certo, sinto muito por... isso.

—Está pedindo desculpas por cair?

—Estou.

—Na apresentação você me olhava como se quisesse me matar.

—É porque eu queria.

Ai eu me toquei o que eu tinha falado.

—Ai, que burra. Agora vou passar o resto da vida numa prisão em algum lugar. Eu só tava com raiva.

—De que?

—De tudo! Você é um sortudo filho da... mãe. Sua mãe é um amor. Enquanto aqui dentro tem comida para alimentar um batalhão que está sendo jogada fora... do outro lado destes muros, as pessoas morrem de inanição! De fome! Tem essa noção? Provavelmente não.

Ela respirou fundo.

—Então, é uma revolucionária?

—Não. Eu sou a America Singer uma garota durona, metida e marrenta.

Disse exalando.

P.O.V. Príncipe Maxon.

America Singer. Estava morrendo para saber o nome dela, mas aquela afirmação me pegou de surpresa.

Metida, durona e marrenta.

—O que te fez querer se inscrever para a Seleção?

—Na verdade, foi... uma piada.

Disse pegando o livro do chão.

—Nunca imaginaria ser selecionada. Quando recebi a carta eu quase cai dura. Eu não presto pra ser Rainha.

—Porque não?

—Porque apesar de saber cantar, tocar piano, violino, arpa entre outros instrumentos e dançar, eu sou do tipo de pessoa que é mais de agir do que de falar. Sou impulsiva, falo primeiro penso depois, uma Rainha não pode fazer isso. E esses vestidos todos bufantes e cheios das coisas me enervam. Não consigo falar direito, não consigo comer, eu nem consigo respirar!

Sim, ela era explosiva como fogo. Colocou as mãos sob o abdome ofegando.

—Viu?

Eu ri.

—Eu riria também, mas o corpete deste vestido alfineta as minhas costelas.

Gostei dela, ela é autêntica. Doce, mas não enjoativa. Tinha uma pitada de amargor.

—Posso levar o livro? Eu prometo que devolvo.

—Claro.

—Obrigado, de novo.

Disse um tanto sem jeito e saiu. Não sem antes pegar algo do chão. Eram os sapatos.

—Só mais uma pergunta.

—Pergunte.

—Como me achou?

—Eu ouvi você cantando.

—Eu tava cantando? Comecei a cantar e nem percebi, clássico eu. Obrigado de novo e sinto pelo incômodo.

—Disponha e não foi um incômodo.

—Certo. Tchau.

Disse acenando. Foi um aceno tímido.

—Até logo.

E ela saiu.

P.O.V. America.

Ai, como eu sou idiota! Voltei para o meu quarto e Anna, Mary e Lucy me ajudaram a tirar aquele maldito vestido e eu coloquei uma roupa mais... eu. Uma blusa sobreposta a outra, jaqueta de couro despojada, calça jeans e botas, estilo coturno.

—Melhor, eu sou eu de novo.

Nós rimos.

Estava lendo o livro no jardim, sentada perto de um poço. E eu juro por Deus que ouço alguém pedindo socorro.

Eu olhei dentro do poço e sim, sim tinha alguém lá dentro. Preciso de ajuda.

—Aguenta firme, eu vou voltar com ajuda. Prometo.

—Por favor, socorro!

—Aguenta ai!

Fui correndo que nem uma louca até o quarto da minha amiga, minha única amiga Marlee e pedi a ajuda dela que prontamente disse sim. Voltamos ao lugar.

O poço ficava no jardim e tinha uma corrente que tava enferrujada.

—Tem alguém lá dentro!

—Eu vou chamar ajuda.

—Não! Não. Me ajuda com a corrente.

Eu reconheci a voz. Era o Aspen, meu namorado.

—Aspen! Rápido Marlee. Me amarra.

—Vai mesmo descer ai neste buraco?

—Não é um buraco, é um poço e vou. Rápido.

Ela me ajudou a me amarrar com a corrente.

—Segure a outra ponta. E vai descendo devagar.

—Tudo bem, pronta?

—Estou.

Senti a corrente começar a descer. Ela quase largou no meio do caminho.

—Desculpe!

—Tudo bem, continua!

Quando cheguei no Aspen, ele tava inconsciente.

—Meu Deus.

Eu o amarrei com a corrente.

—Pode puxar!

P.O.V. Príncipe Maxon.

Eu a vi saindo enquanto olhava pela janela. Outra das demais concorrentes estava em seu encalço. Quando cheguei, ela estava dentro do poço. Tinha descido de rapel.

A outra ao me ver, se assustou duma forma que quase soltou a corrente com ela do outro lado.

—Desculpa!

—Tudo bem, continua.

Então, ouvi o eco dizer:

—Pode puxar!

Ajudei a menina a puxar a corrente, mas não foi America Singer que saiu do outro lado. Mas, um rapaz ferido e inconsciente.

—America! Estou pronta pra você!

—Espera, tem alguma coisa aqui dentro, eu tenho que achar!

—O que?! Vai logo!

—Espera, acho que encontrei!

Só ouvimos um berro de pavor vindo de lá de dentro, mas felizmente a outra concorrente e eu conseguimos tirá-la do poço facilmente.

—O que tem na caixa?

—Nem faço ideia.

Era uma caixa de madeira simples com um nó de corda em volta.

—Aspen. Eu peguei a coisa, Aspen. Tudo vai... ficar bem.

—Eu vou chamar ajuda.

—Vai.

A garota loira saiu correndo.

—Ele não vai conseguir, não vão chegar aqui a tempo. Não vou deixar você morrer, eu te amo, idiota.

Ela o amava? Porque?

America Singer que estava com suas botinas, calças jeans, blusa e cabelo ensopados se levantou e foi para dentro do bosque que circundava o Palácio e trouxe algumas ervas, plantas. Ela fez uma pasta usando um pequeno pilão que tirou da bolsa e água do poço.

Eu a vi passar aquele emplastro nos ferimentos do garoto e aquilo o manteve vivo até a ajuda médica chegar.

Os médicos o levaram e ela se sentou no chão de grama com as mãos cheias da gosma verde.

—O que diabos ele tinha na cabeça pra se enfiar dentro de um poço úmido, frio e escuro?

Perguntou para si mesma. Ela lavou as mãos no que sobrou da água e notei que havia se cortado.

—Você se cortou.

—É. Eu meio que notei isso, mas não se preocupe vou ficar bem. Só um cortinho na palma da mão. Vou limpar, enfaixar e passar um remedinho e pronto. Mas, obrigado pela sua preocupação. Realmente não precisava.