– A não, isso não pode estar acontecendo... - falava KangIn hyung recuando assustado – Por favor... - disse ele erguendo a mão esquerda com seu olhar parado e um pouco paranoico e estalou os dedos médio e polegar, mas nada aconteceu – Acenda! Acenda! Acenda! - repetia ele insistindo em seu ato, mas nada de diferente acontecia.

– Acalme-se dong... - falava o líder levando a mão ao ombro do hyung que entrava em desespero, quando uma chama se acendeu a suas costas fazendo-o se interromper.

Quem adquiria um olhar parado agora era o Heechul hyung, que acabava de acender uma quente e fugaz chama acima de sua mão, após estalar os dedos. KangIn apenas encarou ao mais velho pasmado e balançou a cabeça negativamente.


***


– Quais mais poderes vocês trocaram? - perguntou Kyuhyun, que estava sentado na cabeceira esquerda da mesa, todo empolgado, o único que realmente parecia animado ali.

Eu estava sentado a sua esquerda e KangIn estava ao meu lado. Defronte com o mais velho estava o líder e na outra cabeceira estava Heechul com expressão abatida, cabeça baixa e batendo uniformemente as pontas dos dedos na mesa. Pedro era o único que se mantinha em pé enquanto discutíamos sobre o ocorrido no gramado.

– Espero que mais nen... - bruscamente ele se interrompeu arregalando aos olhos – Ai meu Deus! Eu estou vendo através da mesa! - afirmou o hyung segurando fortemente as laterais da mesa enquanto se afastava ao máximo que podia dela.

KangIn hyung, o novo portador do elemento água, se levantou em um sobressaltou, agarrou os ombros do vidente e o puxou para longe da mesa, levando-o ao chão.

– Olhe para o chão! Fique olhando para o chão! - ordenou ele jogando ao mais velho sem controle ao piso, obrigando-o a usar das mãos para se apoiar. A respiração pesada e descompassada de Heechul aos poucos foi se normalizando – Você está bem hyung? - perguntou o mais velho ainda segurando aos ombros do Heechul.

Com expressão de choro, Heechul assentiu com a cabeça e se ergueu do chão com a ajuda do outro hyung. De volta aos seus lugares, passei os olhos por cada face ali presente tentando decifrar seus pensamentos. Heechul se controlava para não chorar, KangIn ainda parecia em choque com aquela troca de habilidades, Kyuhyun estava empolgado, Leeteuk estava mergulhado em seus misteriosos pensamentos e Pedro parecia tão curioso quanto eu.

– Desde quando podemos trocar nossas habilidades com um beijo? - perguntei franzindo o cenho indignado. Isso porque o que havia acontecido com os dois hyungs, nem um beijo poderia ser considerado, havia sido apenas um encostar descuidado de lábios.

– Eu nem sabia que diferentes podiam trocar poderes, mas talvez essa seja a resposta... - disse o líder fitando ao KangIn e depois ao Heechul - Os dois devem dar um novo beijo e quem sabe tudo voltará ao normal.

– Eu nunca mais vou chegar perto dessa criatura! - respondeu Heechul com desprezo, indicando KangIn sutilmente com a cabeça, mas sem ao menos passar seus olhos por ele.

Pedro que o tempo inteiro se mantinha em pé atrás da única cadeira vaga começou a se mover sorrateiramente, mas não lhe dei a devia atenção por conta de KangIn, que fez uma careta engraçada e começou a balançar a cabeça imitando ao mais velho, mas subitamente ele paralisou. Seus olhos se fixaram no nada, sua respiração cessou e até mesmo as cores de suas íris tornaram-se mais claras.

– Não vai dar certo Pedro – disse ele saindo de seu transe momentâneo com a voz bem calma e serena. Todos os olhares se voltaram para Pedro que estava atrás da cadeira do Heechul hyung, observando atentamente a face do mais velho com um breve sorriso maroto nos lábios. Assim que KangIn se viu completamente livre de seu transe, seu entusiasmo voltou com força total – Wow! Que coisa mais louca, do nada tudo paralisou e foi perdendo a cor e o som, e assim do nada eu vi a imagem do Pedro beijando a bochecha da Cinderela e tentando ativar algum poder meu, mas ele continuava com os seus e... Wow! É muito louco ser vidente!

–Ah! É muito louco ser vidente? - perguntou Heechul finalmente encarando ao KangIn - Porque até agora não vi nenhuma utilidade para os seus poderes copiados – completou ele cheio de desdém.

Enquanto isso Pedro voltava tristonho para a sua cadeira.

– Já que beijos na bochecha não funcionam – disse o líder fitando ao Pedro enraivecido, mas o menor estava cabisbaixo demais para perceber – Não acho que temos outra solução...

– Temos sim – protestou Heechul de imediato – Isso é apenas uma confusão momentânea, tenho certeza que logo pela manhã nossos poderes se estabeleceram e poderei voltar para a minha vida normal, enquanto isso ficarei aqui para não correr o risco de tocar fogo no meu apartamento. E Pedro, eu vou dormir no seu quarto, então trate de achar outro lugar para dormir.

– Mas, mas... - tentou protestar o menor, mas a expressão séria e nada amigável do mais velho, o fez se calar.

– Então eu e o Kyuhyun voltaremos para a cidade, e assim que eu tiver um tempo disponível, venho para cá – disse aos mais velhos pensando no meu trabalho como modelo. Todos concordaram, exceto Kyuhyun que não parecia animado com aquela ideia.

– Tio Siwon... - chamou ele com a voz baixa e tocando suavemente ao meu antebraço com seus frios e esguios dedos – Estou com problemas em casa, então não posso voltar... - ele evitava me olhar nos olhos e também não sorria, o que me preocupava considerando que ele era sempre animado em demasia.

– Mas aqui não tem camas o suficiente... - respondi entortando os lábios desconfortavelmente. Era incrível que mesmo ganhando tanto dinheiro ao longo dos anos, Leeteuk não alterava em nada seu pequeno sobrado, mas por enquanto eu precisava me focar no nerd – Venha para a minha casa, você pode ficar comigo quanto tempo for necessário e qualquer coisa, quando eu vir pra cá, trago um colchão para você... Falando em carregar colchão, preciso de um carro para voltar à cidade – disse passando os olhos repleto de pseudo inocência pelas faces de Leeteuk e Heechul.

– Tudo bem, pegue o meu carro – respondeu Heechul hyung com desdém, fazendo um sorriso crescer em minha face.

– Aish! Sinto frio e minha cabeça dói – resmungou o mais novo cruzando os braços sobre o tórax ao mesmo tempo em que os esfregava em uma tentativa de se aquecer.

– Deve ser efeito da criocinese... - comentou Heechul desviando o olhar para sala, mas notando o silêncio e falta de iniciativa, ele revirou os olhos se erguendo da cadeira - Vou fazer um chá para o Pedro, os outros achem algo melhor para fazer e quanto a você – e agora ele se direcionava especialmente ao KangIn hyung – Não fique gastando meus poderes.

– Vai fazer seu chazinho, vai.

Heechul bufou alto e deu as costas tentando não prolongar a discussão com KangIn. Chamei Kyuhyun para jogar videogame comigo e embora ele tivesse se tornado muito arrogante quanto a jogos, acabou aceitando. Pedro e KangIn também seguiram para a sala, enquanto o líder disse que faria uma ligação e subiu para o primeiro andar. Não demorou para que o segundo mais velho e ex-vidente trouxesse uma xícara branca e fumegante de chá para o menor e por mais cuidadoso que ele parecesse, era possível perceber que ele ainda estava decepcionado com o Pedro, por ele ter recusado o poder semelhante ao seu, mas o menor também não estava em condições de ficar contente com sua nova habilidade. Sua aparência havia rapidamente degradado, seu nariz estava avermelhado, orelheiras escuras se formavam abaixo de seus olhos, sua pele estava ficando pálida, sua expressão era de cansaço e ele tremia involuntariamente. Ele parecia mais um garoto gripado, mas era comum acontecer esse tipo de efeito colateral no começo de uma nova habilidade, então não era nada com o que se preocupar.

– Atchin – espirrou o mais novo em cima de sua xícara, fazendo uma careta de nojo crescer não apenas na minha face, como também na face do meu pupilo tecnólogo. O mais novo abriu os olhos lentamente e fitou a xícara – Hyung-nim... Acho que você vai ter que esquentar o chá novamente – disse ele com sua voz baixa, inocente e um pouco rouca, erguendo a xícara.

No lugar do líquido fumegante havia agora apenas umpedaço de gelo marrom.

– Eu descongelo – respondeu o mais velho sentando ao pé do maknae.

Como a hidrocinese dava ao hyung o poder de alterar o estado líquido da água, ou qualquer coisa que possuísse água, normalmente aquilo não seria problema para o mais velho, mas havia um pequeno detalhe que me fez parar o jogo. Concentrado, Heechul tocou a ponta do indicador na porcelana branca com seu olhar fixo no chá congelado.

– O que está tentando fazer? - perguntou KangIn franzindo o cenho.

– Descongelar o chá, pelo menos para alguma coisa essa sua pirocinese deve prestar, não?

– Mas você não vai conseguir, o primeiro estágio é apenas soltar fogo. Você pode dominar muito bem a água, mas com o fogo você apenas um garotinho assustado que cedo ou tarde vai se queimar de verdade.

– Então descongele você bonzão – retrucou Heechul mais irônico impossível e seguiu em direção as escadas.

E aquele era só o período da manhã.

P.O.V – Siwon off


No coração de Seoul dois jovens se moviam contra a torrente de pessoas com passos rápidos e preciosos. O mais alto, de belos cabelos loiros que estavam perfeitamente lisos, estava decidido, mantinha uma expressão séria na face, enquanto o mais baixo, que mesmo assim parecia muito alto levando em conta suas feições infantis, apenas se apressava para manter o mesmo ritmo que o loiro.

– Por que temos que procurar o Donghae, sendo que o próprio mestre disse que não queria mais saber dele? - perguntou o rapaz mais jovem que possuía cabelos negros e arrepiados.

– Porque eu preciso saber se ele está bem - respondeu o loiro em um resmungo - Deixe de ser egoísta Jongjin, o senhor Donghae é mais novo que você, como pensa em não ajudá-lo? - perguntou o jovem indignado com tamanha petulância do pequeno.

– Eu só não quero confusão para o meu lado hyung – resmungou o mais novo fitando ao chão, mas bruscamente ele paralisou – Espera! Eu estou sentindo um telecinético.

– Onde? - perguntou o loiro que sabia muito bem que dentre as habilidades do pequeno Donghae estava a telecinese e a criação de campos de força.

O mais novo girou lentamente nos calcanhares, procurando de onde vinha aquele poder, até que parou na posição inicial e apontou para a diagonal a esquerda.

– Naquela direção – disse ele de modo calmo, respirando pesadamente, como se captar poderes no meio de uma multidão fosse algo cansativo, penoso.

– Então vamos – disse o loiro agarrando apressadamente ao pulso do moreno e o puxou para a rua. Sem escolha alguma o menor saiu correndo no encalço do mais velho sendo quase atropelado por um carro, que por sorte conseguiu parar. As buzinas dominaram aquele trecho da avenida, mas o loiro parecia não se importar, ele estava obcecado em encontrar o Pedro - Onde? - perguntou o mais alto parando ofegante na calçada.

O mais novo respirou lentamente, sorvendo todo e qualquer tipo de informação que pudesse estar presente no ar e apontou para um beco mal iluminado. Novamente o loiro voltou a correr agarrado ao pulso do menor e só parou quando entrou no beco e captou a imagem de uma pessoa sentada em meio à sarjeta, caixas de papelão e um amontoado de jornais. O cheiro fétido não era tão forte quanto de habituais moradores de rua, mas ainda sim havia um odor que incomodava suas narinas.

– Oh! É apenas uma garota... - disse o loiro desapontado soltando ao pulso do mais novo.

– Ela não parece nada forte... - retrucou o jovem que podia sentir a áurea fraca daquela jovem emanando de seu corpo - Como você se chama? - perguntou o moreno se inclinando ligeiramente na direção daquela jovem maltrapilha de feições coreanas.

A jovem que fitava assustada aqueles dois rapazes a sua frente, tremulou os lábios uma vez e respirou profundamente.

– Meu nome é Saji.


P.O.V – Pedro on

Como hyung-nim estava absurdamente confiante que a troca de poderes era temporária, nosso dia foi relativamente normal, sem ouvir uma discussão sequer entre ele e tio KangIn. Como no período da tarde eu estava melhor, ou melhor, minha cabeça havia parado de doer, o que me dava concentração, Simão treinou meus campos de força, enquanto Kyuhyun ficava me incentivando da varanda. Foi um dia repleto de pequenas coisas, infelizmente, depois do jantar Simão e Kyuhyun seguiram para a casa do primeiro, restando apenas eu e aos três mais velhos. Embora descontente, peguei um grosso cobertor do meu quarto, juntamente com um travesseiro mediano e comecei a arrasta-los escada abaixo quando o líder surgiu no início da mesma.

– O que está fazendo? - perguntou ele franzindo o cenho.

– Como o Heechul hyung vai ficar com meu quarto, dormirei no sofá – respondi com a voz baixa, tristonha, mas sem qualquer intenção por trás disso, apenas minha cabeça que voltara a doer.

– Omo! Não precisa dormir no sofá – disse ele avançando alguns passos em minha direção – Você dorme comigo – completou o mais velho do grupo tomando a colcha e o travesseiro de minhas mãos e voltou a subir as escadas.

Ainda tentei protestar dizendo que ficaria bem no sofá, mas sob o argumento que ele dormia em uma cama de casal, o que era espaço extra para nós dois, acabei subindo com ele. Cansado, com dor de cabeça e com hipotermia que não passava de jeito algum, apenas deitei na cama e afundei o rosto no travesseiro.

– Pedro... - chamou o líder fazendo-me abrir os olhos. Assustei-me ao ver que ele estava deitado na cama me encarando com sua face serena – Você está muito novo para arrumar namorados... Quer dizer, namoradas– corrigiu o líder gaguejando, mas rapidamente resumiu sua pose séria e um tanto autoritária - Então pare de querer beijar seus hyungs - no mesmo instante meus olhos se arregalaram. Desde quando eu queria beijar meus hyungs? Pensei respirando ofegante, e Leeteuk percebeu isso, porque seus olhos também arregalaram – Você vai tentar trocar de poderes com o Heechul novamente?

– Oh! É disso que está falando? - perguntei sentindo meu coração bater mais aliviado, ele estava falando da troca de poderes e não de um certo hyung só de toalha desfilando por um quarto... Esse foi sem dúvidas o primeiro pensamento que tive.

– Omo! No que você estava pensando? - perguntou ele me espreitando com os olhos. Apenas balancei a cabeça negativamente com expressão assustada – Apague a luz e durma – ordenou ele secamente e virou para a janela ficando de costas para mim.

Fazendo um enorme bico, me ergui da cama e segui lentamente para o interruptor. Uma pessoa normal se incomodaria com o piso frio, mas nós devíamos estar na mesma temperatura, pois para mim ele estava normal. Apaguei a luz em meio a um suspiro e voltei cuidadosamente para a cama do mais velho. Em um momento como aquele, no qual meu corpo se aquietava, eu praguejava a criocinese, pois mesmo enrolado em meu grosso cobertor, eu ainda sentia frio, muito frio. Fitei ao hyung fazendo beicinho, por mais constrangedor que fosse dormir abraço com ele, ele me esquentava, e embora no início estivesse hesitante, me aproximei dele e o abracei por trás parando com o queixo sobre seu ombro. Senti seu corpo enrijecer em contato do meu, mas seu pescoço estava tão quentinho que apenas me acomodei melhor e adormeci.