A Quinta Criança - O Escolhido

Heechul coloca fogo em tio KangIn


– Ele estava apenas te testando... - ouvi uma voz feminina dizer mais a frente acompanhada de uma silhueta que permanecia escondida atrás da densa e escura névoa, mas em um piscar de olhos, a silhueta havia desaparecido – Te testando Donghae... - escutei aquela mesma voz feminina e sedutora dizer a minhas costas, fazendo-me virar rapidamente, mas não havia mais nada ali – Ele queria saber seus limites... – informava a voz dessa vez ao meu lado, mas quando movi meus olhos naquela direção novamente não havia mais nada além da névoa – Uma pena que tenha fugido... - girei nos calcanhares, ofegante.

– Taeyeon! Apareça! - ordenei completando a giro e me assustei com a bela imagem da jovem que finalmente se revelava aos meus olhos.

– Como soube que sou eu? - perguntou ela com um sorriso malicioso nos lábios e se inclinou levemente para frente. Seu corpo transformou-se momentaneamente em sombras e voltou a se materializar atrás de mim – Isso não importa, eu só quero saber o nome de quem lhe ajudou a fugir – disse a jovem rente ao meu ouvido, fazendo o cabelo da minha nuca se enrijecer – Responda a sua noona – pediu ela se materializando a minha frente com uma careta que mesclava aegyo com manha.

Recuei assustado, enquanto sua imagem se tornava turva. Recuei a tal ponto que minhas pernas foram bloqueadas por algo e simplesmente desabei. Quando abri os olhos, estava deitado sozinho na cama de casal do líder. Os raios solares invadiam o quarto, a temperatura estava agradável e minha cabeça estava em perfeito estado.

Contente por ter acordado bem, me ergui da cama e segui para o banheiro do corredor. Por segundos me recordei do banheiro do líder, mas como não estava habituado a usá-lo, preferi o outro. Quando passei pelo quarto do tio Kangin, o encontrei dormindo, mas Heechul não estava mais no meu. Depois jogar metade do meu cabelo para frente, formando uma franja desorganizada, desci animadamente para a cozinha, onde os dois mais velhos se encontravam.

– Bom dia hyungs – desejei assim que passei pela abertura que ligava a sala a cozinha – Como está suas habilidades hyung-nim? - perguntei antes mesmo que eles respondessem ao meu cumprimento, fazendo uma careta azeda se formar na face do líder, mas meu interesse real estava naquela troca de poderes.

– Ainda não testei... - respondeu o hyung que estava concentrado no fogão – Mas tenho certeza que voltou ao normal, isso não dura mais que algumas horas.

– Como pode ter tanta certeza? - retrucou o líder, que estava sentado em uma banqueta, arqueando uma das sobrancelhas, fazendo de imediato o hyung-nim enrubescer.

– Omo! Eu sou um vidente, eu sei de tudo – respondeu o mais velho com arrogância, e provavelmente continuaria em seu discurso se não fosse por um barulho no andar superior.

Eu e Leeteuk nos entreolharmos, mas o barulho apenas aumentou vindo agora da escada. Era como se um trator tentasse descê-la e realmente havia um hyung descendo as escadas muito apressado para que fosse silencioso. Cambaleando, tio KangIn adentrou a cozinha e ainda da entrada apontou o indicador para Heechul.

– Estou desenvolvendo seeeeus poderes – as palavras desesperadas de tio KangIn passariam despercebidas, ou pelo menos sem a devida atenção, se fosse por sua entonação que no meio da palavra 'seus' foi acompanhado de um agudo tão forte, que todos na cozinha levaram as mãos aos ouvidos.

– Ai não, grito supersônico não – murmurou o hyung-nim engolindo em seco.

– Faça o teste, você ainda está com os meus poderes e eu ainda estou com os seus, mas eu quero os meus poderes de volta – resmungou o alcoólatra com expressão de choro.

De imediato, Heechul desligou o fogo do fogão e estalou os dedos da mão direita. O resultado não poderia ser outro, por ligeiros segundos uma chama quente e fugaz iluminou sua face delicada.

– Omo! Isso está errado - comentou o ex-vidente pensativo – Muito errado.

Por segundos tudo o que prevaleceu foi o silêncio, ou quase, porque tio KangIn respirava ruidosamente. Aquele clima tenso não devia ser desmerecido, mas em meio a tudo aquilo, tive uma boa ideia. Entortando os lábios, toquei o balcão gelado e fitei ao líder.

– E se eu e o Leeteuk tentássemos... – a respiração falhou quando o líder pousou seus olhos em minha face, a coragem para continuar cessou, mas respirando profundamente, continuei - Trocar de poderes também? - sugeri com um sorriso inocente, ou pelo menos fingindo inocência, já que aquela altura eu estava interessado na pirocinese de tio KangIn e em saber se os lábios do líder eram tão macios quanto do Hyukie.

O líder arregalou os olhos, enquanto tio KangIn assentia com a cabeça.

– Talvez sua ideia não seja tão ruim... - disse o alcoólatra.

– Nem pensar! O que lhe disse ontem Pedro? Nada de beijar hyungs – disse o mais velho fechando sua expressão.

Fiz um enorme beicinho manhoso e busquei o hyung-nim com os olhos, tentando ganhar a aprovação deste também, mas ele estava totalmente letárgico. Seus olhos vagavam vazios pela cozinha e a unha de seu polegar direito estava sendo sutilmente roída.

– Então farei o teste eu mesmo – disse tio KangIn ganhando todos os olhares, mas segundos depois, desejei não ter olhado.

Sem qualquer pudor, ele agarrou ao pescoço do líder e investiu contra ele, enquanto seus lábios formavam um pequeno bico e seus olhos se fechavam a espera de um beijo. Uma das cenas mais desesperadoras da minha vida, mas antes que eu pudesse ter qualquer tipo de reação, Leeteuk colocou a mão esquerda na face do alcoólatra e o empurrou para trás em meio a uma careta de nojo.

– Nem pense nisso! - esbravejou ele.

– Ufa! - soltei sem perceber, ganhando finalmente a atenção de Heechul, mas naquele momento eu não precisava mais de sua atenção, aquilo serviu apenas para fazer minhas bochechas corarem.

– Só um beijinho – pediu tio KangIn tentando beijar ao líder, mas ele bravamente resistia.

Revirei os olhos diante daquela cena medonha e segui para a sala. Meu apetite havia se perdido e tudo o que eu queria era me espalhar no sofá e pensar. Tudo estava bem até HeeChul acidentalmente beijar o tio KangIn, antes disso minha vida estava bem, os beijos de Hyukie havia sido... Bem, embora seja difícil admitir, eu havia gostado deles, mas o fato dele pertencer a um grupo de lunáticos me deixava em completa dúvida, mas com Leeteuk era diferente, ele estava ali comigo desde o início, me protegendo, ou pelo menos fazendo o máximo para me proteger.

– Não confunda uma coisa com outra – resmunguei para mim mesmo levando as mãos aos cabelos, e os baguncei mais ainda. Eu precisava me manter no meu lugar, apenas isso, simples assim.

P.O.V – Pedro off


P.O.V – KyuHyun on

Desde pequeno eu frequentava regularmente a casa dos meus tios diferentes e quando comecei a desenvolver minha habilidade com videogames e internet essas visitas se intensificaram, mas dormir em suas casas, embora meu pai não se preocupasse com meu paradeiro, não era algo que acontecia com frequência.

Acordei com o som de fortes batidas na madeira, mas eu estava tanto sono, que apenas me virei para o outro lado da cama. Passado alguns minutos tio Siwon voltou ao meu quarto batendo novamente na porta que ele havia deixado aberta.

– Acorde Kyuhyun! O café da manhã está na mesa – informou ele e para a minha felicidade, voltou a desaparecer no corredor, mas sendo eu uma visita, resolvi deixar de abusar da boa vontade do mais velho e me ergui cambaleando da cama.

Sem me importar com minha roupa amarrotada ou meus cabelos bagunçados, simplesmente passei o dorso da mão no canto esquerdo da boca e quase rolei escada abaixo enquanto tentava chegar à cozinha. Eu mal consegui abrir os olhos tamanho era o meu sono, mas quando finalmente parei na entrada do cômodo desejado, levei a mão a nuca, coçando-a suavemente, e franzi o cenho.

– Cereal e... Leite? - reconheci mesmo estando com os olhos semicerrados.

– Tome um banho, escove os dentes e depois pode se fartar de cereal – respondeu tio Siwon com um sorriso irônico enquanto passava apressado atrás de mim, indo em direção as escadas que eram uma mistura de metal com vidro, mas antes que ele desaparecesse de meu campo de visão, perguntei o motivo de sua pressa – Estou indo para a minha agência e seria de grande valia que você fosse comigo, depois podemos almoçar em um restaurante de sua escolha – disse ele com um sorriso em face e aumentando gradativamente seu tom de voz, conforme se afastava.

Muito preguiçosamente puxei o ar com força para os pulmões e olhei para os lados tentando me familiarizar com o sobrado do mais velho. Fazia um tempo desde a última vez que eu havia estado ali, e meu sono não ajudava em nada, mas depois de uma boa analise cheguei à conclusão que a casa continuava com sua decoração antiquada.

– Por que ainda está ai parado? Vá tomar um banho! - ordenou o mais velho surgindo no topo da escadaria e tornou a desaparecer.

Muito contragosto, subi as escadas e tomei um rápido banho quente. Vesti um simples blazer cinza escuro e uma camiseta azul marinho com estampa qualquer, ambas emprestadas do meu padrinho, e uma calça jeans totalmente preta, sem qualquer tipo de adorno, só então desci para o meu farto café da manhã. Depois de nossa breve refeição seguimos para agência na qual tio Siwon trabalhava. Como eu não estava costumado a acompanhar meus hyungs aos seus trabalhos, mesmo quando era pequeno, eu me senti completamente deslocado naquele lugar, mas havia um ponto positivo em tudo aquilo, almoçaríamos em um restaurante de minha escolha e essa era sem dúvidas minha única motivação.

No período da manhã tio Siwon tinha um ensaio fotográfico ao ar livre, mas assim que este acabou, seguimos com o carro de tio Heechul para o Goumard, um restaurante francês muito requintado, um dos preferidos de tio Heechul, e que servia uma maravilhosa comida francesa sempre acompanhada de um bom vinho. Tio Siwon não gostou muito da ideia, disse que preferia comida chinesa, mas havíamos feito um acordo, então mesmo sem reservas seguimos para o luxuoso restaurante. Como tio Heechul era amigo do dono e chefe do restaurante, logo estávamos sentados em uma confortável mesa para dois.

– De tarde visitarei um lar de idosos para uma campanha de uma marca de tênis, só não me pergunte que tipo de relação uma coisa tem com a outra, apenas se apresse – disse tio Siwon tranquilamente com o cardápio escondendo sua face.

Soltei um longo suspiro e passei os olhos por aquele extenso menu. Escargot à la bourguignonne, lagostins da Bretanha, Vieiras e musseline de coral... Como era difícil escolher. Extremamente dividido entre dois pratos e os vinhos que estavam como sugestão, apoiei o cotovelo direito a mesa e cocei minha franja suavemente, apenas para passar o tempo.

– Já estão prontos para pedir? - perguntou o simpático garçom ocidental com seu típico bloquinho de notas.

Prontamente passei os olhos pensativos por sua face e voltei para o menu, mas meus olhos captaram algo nessa pequena brecha, que me fez paralisar e derrubar o cardápio sobre a mesa.

– Não é possível – disse em um pensamento alto – Estará ele me seguindo?

– Quem? - perguntou tio Siwon dando uma rápida e curiosa olhadela para trás.

– Não, ninguém – disse em um sobressalto esticando as mãos para o mais velho, como se eu fosse impedi-lo de olhar para trás, mas pela nossa distância aquilo não seria possível. Ele franziu o cenho e quando voltei a minha posição anterior, passei os olhos de relance sobre a face de Sungmin, captando por breves segundos seus olhos analisando minha face igualmente surpreso. Rapidamente cobri a face com o cardápio e nada discreto, olhei por cima do mesmo. Sungmin continuava a me encarar – Eu vou ao... Toalete e já volto, peça para mim hyung – pedi ao tio Siwon respirando ofegante e me ergui apressado.

Quase atropelei o garçom, mas eu precisava urgentemente sair daquela complicada situação. Tio Siwon deve ter perguntando se eu estava bem, mas eu estava tão apressado, que apenas o ignorei. Entrei no banheiro masculino sentindo a gola da minha camiseta me sufocar, mas ela estava bem folgada. Os botões do blazer estavam todos abertos, então eu não podia colocar a culpa nele. Ainda me sentindo desorientado, sem chão, apoiei na pia de mármore claro e acionei a torneira. Ainda escutei o som da água escorrer por uma infinidade de segundos, antes de molhar minha face. Ergui-me respirando com mais calma, enquanto secava meus olhos e arrumava as sobrancelhas, mas pesadelo particular não estava nem perto de acabar.

– Kyuhyun... - escutei a voz séria de Sungmin chamar por meu nome a minhas costas.

Minha respiração falhou junto com o delicado som da água se esvaindo.

– Sungmin... O que você quer? - perguntei friamente fitando ao seu belo reflexo no espelho, mas evitando demonstrar qualquer tipo de emoção e sem fixar meus olhos nos seus.

Era inegável a beleza do mais velho e vestido com um belo terno cinza um tom mais claro que o meu blazer e com seus cabelos pretos arrepiados, ele parecia mais bonito, porém perdia um pouco de sua inocência. Sua expressão séria também não me agradava, mas eu não seria o primeiro a ceder, ou melhor, eu não cederia nada ao Sungmin hyung, eu havia decidido me distanciar de sua família e de qualquer incomum insano que quisesse fazer mal ao pequeno Pedro e era exatamente isso que eu faria.

– Você está tão... - ofeguei involuntariamente pensando em suas palavras, se ele me insultasse... - Bonito – completou o mais velho abrindo um leve sorriso e caminhou em direção ao espelho parando o meu lado – Olha Kyuhyun dongsaeng... - ele continuaria com seu discurso repleto de falsidade se eu não houvesse o interrompido.

– Sungmin, coloque uma coisa nessa sua cabeça tola, eu não quero ficar perto de você, eu já consegui o que eu queria do menininho rico, agora você é uma peça descartada. Não me procure mais e se me vir por ai, finja que não me conhece.

– Oh... - foi tudo o que o mais velho disse enquanto eu deixava o banheiro, mas assim que alcancei a maçaneta, ele me chamou – Kyuhyun, você está com as minhas roupas, peço que as devolva – disse ele virando-se sério para mim.

– Garoto mimado – rosnei sem acreditar. Primeiro ele me chamava de bonito e depois simplesmente ignorava todas as minhas duras palavras por causa de suas roupas? Ele ia ver o que o fogo ia fazer com as roupas dele.

– Ladrãozinho de rua, bem que meu pai me avisou para não me envolver com pessoas de sua classe, sem qualquer tipo de futuro e expectativa – retrucou o mais velho inflando as narinas com velocidade.

– Olha como fala comigo – disse finalmente soltando a maçaneta para encará-lo totalmente de frente - Porque eu posso não ter dinheiro, mas eu tenho muito mais moral que você, seu garotinho do papai, vai lá, corre para sua mesa e diz que estou aqui no banheiro e não quero devolver suas roupas, aproveite e chame a polícia, exército, marinha, chame o diabo a quatro para me apedrejar, mas você continuará a ser inferior em caráter.

– Omo! Por que está sendo tão mau? - perguntou Sungmin modificando radicalmente para uma expressão de choro – Eu peço desculpa por minhas palavras, elas foram ditas no calor do momento, tudo o que eu quero é saber o que aconteceu para você mudar dessa forma – disse o mais velho me encarando com aqueles olhos úmidos e bochechas enormes, mas mesmo assim, apenas suspirei.

– Você não me conhece Sungmin, se afaste enquanto ainda consegue – meus olhos vacilaram por uma fração de segundos, procurando ao chão como abrigo, mas rapidamente eu voltava a encarar ao mais velho com expressão fria.

– Eu não consigo mais... - confessou ele soltando por fim um longo e pesado suspiro, acompanhado do movimento de seus olhos que foram parar no chão.

Calei-me diante daquela resposta, não, eu não esperava que ele fosse dizer algo assim, e ser pego de surpresa embaralhou meus pensamentos por completo, me deixando desnorteado. A porta do banheiro foi aberta, trazendo um pouco de som ao constrangedor silêncio, por sorte não era ninguém que conhecíamos, era apenas um estranho querendo se aliviar. Ainda sem saber ao certo o que dizer, me aproximei do mais velho e lhe sussurrei.

– Fique longe de mim e por favor, tome cuidado com sua irmã – dito isso, recuei alguns passos e lhe dei as costas.

Eu não me renderia ao aegyo de Sungmin, não com ele tendo a Yuri como irmã, eu precisava afastá-lo e considerando nossas classes sociais, isso não seria difícil, encontrá-lo fora mero acaso do destino, mas eu tomaria cuidado para evitar esse tipo de encontro indesejável. Voltei para a minha mesa e embora estivesse inquieto com tudo aquilo, desfrutei do meu almoço o máximo que pude.

P.O.V – Kyuhyun off


P.O.V - Pedro on

– AAAAH! - gritou tio KangIn ao lado de Heechul pela terceira vez consecutiva, mas não de modo convencional, e sim de modo extremamente agudo, fazendo Heechul cobrir os ouvidos no mesmo instante e minha cabeça latejar.

– Pare! - esbravejou o mais velho cansado das provocações do meu tio, mas ele parecia decidido a importunar o mais velho, dando mais um grito de seus gritos supersônicos, que assim no início da habilidade, não passavam de gritos mais agudos que o normal – Saia! - ordenou hyung-nim e bateu duas palmas para o mais velho, mas nada de diferente aconteceu.

– Não me diga que estava tentando usar meu poder? - perguntou o alcoólatra caindo na risada.

Com a paciência esgotada, Heechul o empurrou para fora da cozinha. Da baqueta onde eu estava sentado, apenas observei a tudo e esperei que Heechul voltasse a pia para lhe fazer uma pergunta.

– Hyung-nim, você acha que ainda estão atrás de mim?

– Ahn... Não sei, você tem que perguntar isso ao inútil do Young-woon, se bem que você de alguma forma me bloqueia, então não tenho como saber se seria pego novamente – respondeu o mais velho sem tirar a atenção de seu serviço.

– E por que eu te bloqueio? - perguntei apoiando os cotovelos na bancada e aproveitei para descansar as bochechas em minhas mãos.

Heechul parou o que fazia e secou rapidamente as mãos. Calmamente ele deu as costas a pia e parou do outro lado do balcão com os olhos fixos em minha face.

– Responda-me você... - o mais velho apoiou ambas as mãos no balcão de granito e se inclinou perigosamente em minha direção - Pedro.

Engoli em seco.

– Pedro, eu estava pensando aqui comigo – disse tio KangIn entrando novamente na cozinha – Já que o Leeteuk hyung foi para o hospital e o Siwon não está aqui para treiná-lo, o que acha de irmos a cidade? - seus olhos brilhavam com intensidade infantil.

– E vão do que? Andando? Por que não sei se perceberam, mas estamos isolados aqui – retrucou hyung-nim antes de voltar a sua ocupação.

– O Cinderela, quando a conversa chegar nos empregados eu te aviso – disse tio KangIn sério, e ignorou o rosnar do mais velho – Podemos voar com a telecinese e na volta podemos pegar a moto do Siwon dongsaeng, ele não pode negar sua moto para o seu hyung, além do mais ele está com o carro da Cinderela, então... - o alcoólatra continuaria com seu plano de fuga, já que até mesmo Leeteuk havia ido ao seu hospital por medo dele, quando escutamos um barulho vindo do outro lado do balcão.

Heechul estava agarrado a pia, como se tivesse perdido o equilíbrio e precisasse de um apoio. Rapidamente me ergui e corri ao seu encontro, servindo de apoio que ele precisava. O mais velho abanou a cabeça quando abracei sua cintura para evitar que ele caísse e levou ambas as mãos a testa.

– Me sinto tão zonzo.

– É falta de álcool – informou tio KangIn tão tranquilo, que recebeu dois olhares pasmados – O que foi? Vai dizer que vocês nunca acreditaram que eu bebo por causa da pirocinese?

– Não mesmo – respondeu hyung-nim tirando as mãos da testa. Ainda chamei por seu apelido, pensando em perguntar se ele estava bem, mas ele mesmo me olhou com um torto sorriso e disse que estava bem, só então o soltei.

– Mas é verdade! - protestou tio KangIn assim que me soltei do hyung-nim – Eu sempre bebi por causa da pirocinese, agora que não possuo mais essa habilidade, eu ainda sinto um pouco de sede, isso se tornou rotineiro na minha vida, mas não mais aquela necessidade de se eu não beber vou passar mal, não produzirei mais fogo, nem nada desse tipo.

– Continue com seu plano de fuga desde que isso não envolva meus poderes, porque essa troca vai durar muito pouco tempo, nem pense em se acostumar com eles, muito menos treiná-lo – ordenou Heechul sério e voltou a pia, tentando de uma vez por todas acabar com aquela louça suja, mas um sorriso maroto se acendia na face de tio KangIn.

– Você me deu uma ótima ideia – disse tio KangIn sorrindo de modo perverso.


***


Incensos, muitos incensos, a metade eu não fazia ideia de onde havia vindo e a outra metade... Também não, mas o importante era utilidade deles. Dentro de um círculo mal feito estava tio KangIn parecendo um hippie louco, ele havia trocado suas roupas por uma gigantesca camiseta da cor creme, sua calça mal parava na cintura e seus cabelos estavam mais bagunçados que o habitual. Heechul não via relação alguma entre meditar e prever o futuro, mas tio KangIn estava crente que ficar envolto de incensos e da natureza abriria suas visões.

– Eu já disse que isso não vai dar certo e pare de gastar minhas habilidades, você vai acabar dando defeito em alguma delas – falou hyung-nim ao pé da varanda tentando acabar com a ideia do tio KangIn, mas falar com ele nesse momento de meditação profunda era o mesmo que falar com uma porta – Vamos! Vamos! Vamos! - repetiu hyung-nim em meio algumas palmas como forma de tocar o mais velho ou simplesmente ganhar sua atenção, mas ele continuava a ignorá-lo – Ele vai se ver comigo – murmurou o hyung-nim e se aproximou das costas do outro hyung.

Como a camiseta de tio KangIn era grande em demasia, ela tremulava com o soprar suave do vento, totalmente solta atrás de seu corpo. Aproveitando-se disso, Heechu se colocou sentado sobre os pés e levou a mão direita próxima à camiseta do mais velho. Havia um brilho vingativo em seus olhos, um pressentimento dizendo que aquilo não acabaria bem passou voando junto com a brisa úmida, mas simplesmente deixe que ela passasse. Com um sorriso debochado, Heechul estalou os dedos abaixo do tecido que tremulava e se ergueu rapidamente. Meus olhos se arregalaram quando notei que a camiseta do mais velho pegava fogo, se arregalaram, mas eu não consegui ter outra reação se não a de surpresa, pensando e repensando em como Heechul era maldoso o suficiente para atear fogo as roupas de uma pessoa. Tio KangIn abriu os olhos e se ergueu em um sobressalto sentindo seus costas arderem. Como um bobo ele ficou correndo em círculos tentando apagar ao fogo, mas por fim optou por tirar a camiseta desesperado e jogá-la no gramado. Semicerrei os olhos quando encarei sua barriga saliente.

– Você está louco!??? - esbravejou ele quando conseguiu apagar ao fogo usando dos pés. Ele bufava e grunhia realmente irritado.

– Eu disse para não ficar usando meus poderes – retrucou hyung-nim arrogante, enquanto eu observava tudo de perto, já que havia ajudado tio KangIn com a colocação dos incensos.

– Olha o que eu faço com os seus poderes – e com um movimento rápido de mãos, ele jogou um jato d'água na face do mais velho. Heechul separou os lábios atônito – E não pense que eu esqueci, por que eu não me esqueci do soco que me deu.

– Não atinja minha roupa – resmungou Heechul bufando.

O mais velho literalmente voou na direção do mais novo lhe despejando tapas e socos. Apenas recuei, se não havia mais ninguém ali para interromper aquela briga, não seria eu o louco que faria isso. Tio KangIn se defendia dos tapas do mais velho, quando notou uma pequena falha em sua torrente de golpes e aproveitou-se dela para agarrar os pulsos do mais velho e empurrá-lo para trás. Hyung-nim cambaleou para trás parando com os joelhos flexionados. Respirando ofegante, ele espreitou tio KangIn com os olhos e avançou novamente contra ele, mas antes que o alcançasse, tio KangIn deu um grito tão forte, de ondas sonoras tão maciças, que Heechul voou pelo gramado caindo ao pé da varanda. Mesmo estando a uma certa distância, acabei me desequilibrando e cai, mas assim que me estabeleci de pé, limpando o grama de minhas roupas, escutei a voz de tio KangIn.

– Pai Santo! - seus olhos estavam arregalados e rapidamente busquei o que ele observava.

Também entrei em um estado semelhante de choque quando vi Heechul reprimindo uma careta de dor, não que isso fosse assustador, na verdade o que assustava era que havia quatro Heechuls reprimindo caretas de dor, enquanto tentavam se levantar do gramado totalmente desorientados.