P.O.V – Pedro on

Em plena manhã havia pessoas caminhando alegremente pela praça, em sua maioria eram jovens e idosos, mas ainda sim, era possível ver alguns adultos caminhando por aquele recanto bonito e sereno. Não havia como não ser envolvido por aquele clima de paz e alegria, eu mesmo estava tranquilo tirando todos ao lado de Sungmin hyung, até que comecei a ouvir vozes. Um murmúrio baixo, desconexo, que aos poucos foi ganhando voz. Era como se todas as aquelas pessoas ali presentes, resolvem falar bem alto e sem importar com a opinião alheia, eu realmente podia senti-las em minha mente e conforme eu girava nos calcanhares ofegando, aquele barulho apenas aumentava, a tal ponto, que soltei a câmera, cobri meus ouvidos e sai correndo.

Eu precisava de silêncio, senão minha cabeça explodiria. Por sorte eu estava com a fita da câmera envolta do pescoço, então ele seguiu segura comigo, mas pouco me importei, queria apenas acabar com aquela agonia. Correndo pelas calçadas de Seoul, eu não possuía uma direção certa, até que esbarrei em uma pessoa. Não foi o suficiente para me derrubar, apenas me desequilibrei, mas ao ver que a pessoa não tivera a mesma sorte, voltei para ajudá-la.

– Você está bem? - perguntei respirando ofegante.

Seu maluco, filho da mãe, não olha por onde anda?– resmungava a pessoa enquanto se levantava com a minha ajuda, mas como na noite anterior, não havia o movimento dos lábios, era apenas um pensamento alto. O jovem coreano de cabelos negros e arrepiados me praguejou por uma porção de tempo, mas assim que se colocou em postura perfeita e me encarou, sua revolta simplesmente desapareceu.

– Eu peço desculpas... – foi tudo que consegui dizer de primeiro instante, com os olhos envergonhados voltados para o chão, mas assim que fitei aquela face juvenil, franzi o cenho. Aquele rosto me era familiar, mas com tantas vozes em minha cabeça, eu mal conseguia lembrar meu nome – Eu tenho que ir.

– Não vá! - pediu o rapaz me encarando com aqueles olhos amendoados, mas tentando fugir daquele barulho intenso, apenas apressei meus passos para longe dele.

Os mais diversos assuntos ecoavam pela minha cabeça, era roupa, bichinho de estimação, filhos, barba, sapato, promoção no supermercado, escova de dente... Eu ouvia de tudo, o que era muito mais desesperador do que simples vozes do além, mas então o que era aquilo? Tentando me convencer de que não estava ficando louco, entrei em um shopping e corri para uma daquelas escadas de emergência que sempre ficam vazias. Não que eu frequentasse shoppings diariamente, nem havia desses na minha cidade, mas uma vez quando viajei com um amigo para a capital, me lembrava bem do primo dele nos arrastando para as escadarias dizendo que seria mais rápido e muito menos apertado do que ir de elevador ou pela escada rolante, nisso ele não estava errado. Assim que cheguei à escadaria, fechei a porta atrás de mim e subi alguns degraus antes de sentar e encostar-me a parede. O barulho aos poucos ia desaparecendo, até que finalmente pude me encontrar apenas com os meus próprios pensamentos, mas o que estava acontecendo? Embora receoso, contei até cinquenta e deixei as escadas. Para a minha sorte o barulho que existia estava presente no ambiente, não em minha cabeça, mas mesmo assim resolvi que pesquisaria mais a fundo sobre aquilo.

Por toda a minha curta vida, eu havia me sentido deslocado por possuir feições japonesas, mas em meio a todas aquelas pessoas agitadas e de olhos puxados, nunca fiquei tão feliz por ser diferente dos meus colegas de classe. Sem delongas encontrei uma lan house enorme, que estava repleta de jovens, e pedi ao atende um dos computadores por uma hora. Assim que me sentei defronte com um computador, fiz uma carta encarando ao teclado. Um teclado coreano era tudo o que eu menos precisava, mas eu estava na Coreia do Sul, não havia outra escolha, então com um pouco de dificuldade, comecei a repetir algumas palavras em minha mente, enquanto tentava recordar o alfabeto coreano que Simão e Krystal havia tentando me ensinar.

Ouvir pensamentos... – sussurrei enquanto digitava aquele simples conjunto de palavras no primeiro site de pesquisa que havia encontrado, isso porque havia sido longos minutos maçantes até que eu conseguisse, mas eu não contava com outra coisa, o texto estava obviamente em coreano.

Depois de pedir ajuda a um dos atendentes da lan house, iniciei uma pesquisa em português, dessa vez jogando ‘ouvir pensamentos’ no google. As respostas eram muitas, que variavam de músicas a doenças, mas o que chamou verdadeiramente minha atenção foi a que possuía o título ‘telepatia’. Depois de ler um pouco sobre o assunto, fiquei convencido que eu morreria se continuasse no centro de uma cidade grande como Seoul, era de se admirar que mesmo com tantas vozes em minha cabeça, eu não estava com sangramento nasal, apenas uma dolorosa dor de cabeça, mas ainda havia algo que me deixava confuso.

– Omo! Mas eu não desenvolveria cinco poderes? - perguntei para mim mesmo confuso, enquanto passava de página em página, lendo os mais variados textos que falavam sobre a telepatia.

Ainda continuei por um tempo pesquisando, pensei até em fazer um teste com uma daquelas pessoas, mas antes que conseguisse meu tempo acabou. Depois que paguei a hora com o dinheiro que Leeteuk havia me dado para o caso de alguma emergência, segui pensativo para a porta, mas isso não me impediu de recuar assustado ao reconhecer uma figura esguia e loira parado na entrada do local.

– Donghae... – disse Hyukie com um torto sorriso nos lábios, enquanto me encarava surpreso. Confesso que a primeira coisa que reparei no mais velho foi seu cabelo, que embora não estivesse da forma que eu mais gostava, também estava bonito em seu liso perfeito.

– Hyukie – abracei ao mais velho fortemente sufocando toda a saudade que eu sentia, meus sentimentos podiam estar confusões diante de sua figura misteriosa, mas ainda sim, não havia como não gostar do loiro – O que está fazendo aqui? – perguntei me separando dele e reparei que havia um rapaz ao seu lado, o rapaz que eu havia derrubado na rua.

– Eu estava lhe procurando, você simplesmente desapareceu depois do que aconteceu no acampamento, fiquei preocupado – disse o mais velho tocando suavemente minha face – Venha comigo, vamos para um lugar mais calmo – disse ele soltando minha face e por fim esticou a mão direita para mim.

Sem ao menos pensar, segurei sua mão e deixe-me ser guiado pelo mais velho até uma lanchonete no próprio shopping. Depois de fazermos nossos pedidos, que eram todas sobremesas, sentamos os três na mesa mais afastada do calmo estabelecimento, eu e Hyukie defronte um com o outro e o outro rapaz ao lado de Hyukie.

– Como tem passado senhor Donghae? Onde está morando atualmente? E a propósito, este é o Jongjin, ele também é um incomum como eu e estava me ajudando a procurá-lo, ele é um rastreador.

– Não sou um rastreador, sou um detector, eu consigo sentir quando uma pessoa possui um poder e na grande maioria das vezes consigo dizer qual é ele e o nível de treinamento no qual se encontra – retrucou o rapaz fazendo um beicinho irritado – E você continua a ser a coisa mais forte que já senti – um sorriso se abriu na face do rapaz enquanto ele me encarava.

Ao ouvir suas palavras, minha mente conseguiu reconhecê-lo.

– Você estava no acampamento.

– Eu moro lá – respondeu o moreno entortando desconfortavelmente os lábios.

– Por que não me procurou mais? - perguntou Hyukie fazendo um beicinho tristonho repleto de aegyo, mudando completamente de assunto.

– Eu estava... Ocupado, tenho treinado meus poderes... - o murmúrio começou a crescer dentro da minha cabeça novamente. Apertei os olhos com força e pressionei minhas mãos na mesa – Todos de uma vez não, todos de uma vez não – sussurrava para mim mesmo tentando de alguma forma controlar aquela habilidade.

– Senhor Donghae? Você está bem? - perguntou Hyukie tocando suavemente o dorso da minha mão. Pousei meus olhos nos seus, sentindo por ligeiros segundos uma palpitação anormal. Com os olhos de Hyukie tão expressivos sobre os meus, eu conseguia lê-lo, eu conseguia penetrar em sua mente de tal forma que eu não imaginei ser possível – Eu me preocupo com você Senhor Donghae, eu me preocupo de verdade, não me deixe novamente, por favor – pediu o mais velho sem ao menos piscar.

Fugi de suas mãos e engoli em seco enquanto quebrava o contato visual. Se aqueles eram os pensamentos de Hyukie, por que ele não me dizia? Qual era o problema dele se preocupar comigo? Eu perguntaria isso, se não fosse a presença de Jongjin, que de tão silenciosa, pousei meus olhos em sua face tentando captar seus pensamentos.

Esses dois são tão estranhos... Não me admira que Taeyeon desconfie do Eunhyuk, eu também acho que ele ajudaria o Donghae a fugir...– eu estava invadindo a privacidade de Jongjin, quando sem perceber comecei a falar.

– Pensei que você fosse amigo do Hyukie, então por que desconfia dele também? E não importa o que a Taeyeon pensa, o importante é que eu, o senhor de todos esses mutantes, estou bem – era difícil não me tornar arrogante com Hyukie insistindo em me chamar de ‘senhor’, e aquele momento pedia palavras como aquelas, mas quando vi a careta assustada de Jongjin, levei a mão à boca, eu havia falado demais.

– Como você...?

– Do que estão falando? - perguntou Hyukie franzindo o cenho.

Arfei involuntariamente e me ergui da mesa. Sem dar qualquer explicação, dei as costas e sai correndo. Não, eu podia continuar naquela mesa, eu não podia dizer a Jongjin que havia lido seus pensamentos, aquela era minha única oportunidade de saber o que as pessoas a minha volta realmente pensavam, o que elas realmente eram, e eu precisava de uma vez por todas saber disto. A entrada parecia próxima quando Hyukie agarrou meu braço direito me obrigando a parar.

– Donghae, o que aconteceu? – perguntou o loiro aflito.

– Eu preciso ir, o Kyu hyung deve estar me procurando – meu afobamento era tanto, que só percebi que havia chamado ao Kyu de hyung, minutos depois quando relembrava aquela conversa em minha mente, como se normalmente eu fosse ser tão respeitoso com o nerd.

– Não vá Donghae – pediu ele em simples palavras, e embora o murmúrio de todas aquelas pessoas começassem novamente a escrever em minha cabeça, consegui escutá-lo completar em pensamento – Por favor, não vá ainda, eu preciso de você mais um pouco.

– Não Hyukie, eu realmente preciso ir, mas não se preocupe, voltaremos a nos ver em breve – disse abrindo um torto sorriso para o hyung, que me encarava cabisbaixo.

– Eu posso ao menos lhe dar um beijo? - perguntou ele com seus olhos vagando entre minha face e o chão, ele estava tão constrangido, que sua mente se esvaiu por completo, esperando apenas uma resposta.

– Hyukie... - o chamei segurando sua mão direita e me coloquei na ponta dos pés. Com tantas pessoas como plateia, fechei os olhos e lhe dei um suave e demorado beijo na bochecha. Ele estava corado quando me separei e sorria sonhador. Abrindo um sorriso, acenei para o mais velho e voltei a correr.

P.O.V – Pedro off


P.O.V – KyuHyun on

– A culpa é sua! Só sua! Se o tio Jung-su descobrir que você perdeu o Pedro, ele vai me matar, e se eu morrer eu volto para buscar você! - ameacei ao Sungmin que caminhava ao meu lado pelas calçadas movimentadas da capital.

Quando Pedro começou a correr sem direção e motivo, minha primeira reação foi segui-lo, mas quando ele se misturou as pessoas na rua, devido sua baixa estatura, acabei me perdendo dele com facilidade e se tio Jung-su soubesse daquilo...

– Acalme-se Kyuhyun, iremos encontrá-lo logo, além do mais o Pedro é um garoto esperto, ele deve ter um motivo para sair correndo, nós devemos voltar para a praça e esperá-lo – sugeriu o mais velho que em altura e por ser tão aegyo, me humilhava parecendo ter a mesma idade que a minha, quem sabe até mais jovem, e ele ainda por cima tinha que reforçar tudo isso usando uma calça jeans e uma camiseta vermelha desbotada.

– Não, se tem uma coisa que o Pedro não é, é esperto, a começar por ser seu amigo, que tipo de pessoa vira seu amigo hein? Volte para os seus estudos e me deixe morrer sozinho – resmunguei fazendo sinais com as mãos pedindo que o mais velho fosse embora, mas então parei para pensar no quão tolas minhas palavras devem ter sido.

– Omo! Assim você me ofende Kyuhyun! - reclamou o mais velho cruzando os braços como uma criança mimada e fez um enorme bico que fiz questão de ignorar, antes que eu desejasse consolá-lo em meus braços – Vamos voltar para a praça, o Pedro irá para lá, tenho certeza – disse ele parando no meio da calçada e me encarou debaixo com aqueles olhinhos pidões.

– Mas e se ele não for? - perguntei relaxando um pouco minha expressão que o tempo inteiro era a mais indiferente e fria com Sungmin hyung, em momento algum eu pensava em vacilar, mas aqueles olhinhos eram resistíveis até mesmo para mim.

– Eu sei que ele vai, agora vamos – finalizou o mais velho agarrando a minha mão esquerda e me puxou de volta para a praça.

Eu entraria em colapso se ele continuasse segurando minha mão, pois parte de mim me mandava estapeá-lo e a outra metade queria continuar sentindo sua pele tão quente e macia. Felizmente quando chegamos ao local desejado, ele me soltou e sentou-se em um dos bancos distribuídos por ali. Passamos tanto tempo esperando pelo Pedro, que quando o mais novo surgiu no início da praça, senti vontade de lhe dar uma surra.

– Como você se atreve a desaparecer desta forma? Se o tio Jung-su descobre, ele me mata de dezesseis formas diferentes! – esbravejei parando defronte com o mais novo, depois de uma curta corrida até onde ele estava.

– Por que dezesseis formas diferentes? – perguntou o menor me encarando com seus olhos enormes e vazios, ele parecia triste, pensativo, era difícil definir observando apenas sua face sem expressão, mas ao lado estava Sungmin que me encarava franzindo o cenho.

– É uma suposição... – resmunguei fazendo um enorme bico, mas rapidamente completei pensativo – Se bem que sendo ele médico, desconfio que conheça muitas formas de matar alguém... – médico e diferente, eu não podia me esquecer disso.

– Eu não disse que o Pedro voltaria? – estava demorando para o hyung se pronunciar, mas rapidamente ele tratou de mudar de assunto – Mas vamos continuar com as fotos? Ou você prefere descansar um pouco Pedro? Você está pálido, e o sol está apenas aumentando... Vamos comprar sorvete e ficar sentados em baixo de uma sombra, vamos Pedro – disse o mais velho fazendo sinal para o menor, que em resposta forçou um sorriso e o acompanhou.

E novamente sem escolhas, segui aqueles dois que me ignoravam muito bem. Depois do sorvete, Pedro parecia mais animado, e também corado, então os dois voltaram a fotografar as pessoas e as paisagens, mas alguns minutos depois e seguimos para um restaurante luxuoso da preferência de Sungmin, afinal, ele pagaria o almoço.

Após os pedidos terem sido feitos, fiquei encarando a mesa enquanto Pedro, que estava sentado ao meu lado, batucava com seus dedos na madeira do móvel. Sungmin que estava defronte comigo, ostentava um sorriso bobo, entusiasmado, mas não ousava dizer uma palavra sequer. Vez ou outra, meus olhos pousavam na face do mais velho e seu sorriso por ligeiros segundos não parecia tão bobo, mas era só ele me flagrar o observando que minhas bochechas queimavam e eu desviava o olhar o praguejando. Eu sentia apreço por aquele hyung, queria seu bem e o achava bonito e encantador, mas ele não era o tipo de pessoa por quem eu devia ter esse tipo de pensamento, eu podia ficar me derretendo por seu sorriso meigo e suas bochechas salientes, eu nem ao menos devia gostar dele... Quando digo gostar, é porque gosto dele como amigo...

– Sungmin hyung, você já gostou de alguém que não deveria? - perguntou o Pedro sem mais nem menos, me tirando de meus pensamentos confusos e fazendo meus olhos se arregalarem, que diabos era aquilo que ele não parava de decifrar tudo o que eu pensava?

– Como...? - perguntou o hyung sorridente, provavelmente pensando ser apenas uma pergunta curiosa de um adolescente, mas eu via uma mensagem subliminar fortíssima em suas palavras e ai do Pedro se ele prolongasse aquela conversa.

– Um garoto – respondeu o maknae de uma vez, fazendo-me engasgar com a saliva.

Comecei a tossir como um louco, mas tudo o que Sungmin fez, foi olhar para mim com o cenho franzido e abrir um largo e jovial sorriso.

– Já – terminei de morrer me jogando no chão do restaurante. Aonde o Pedro queria chegar? Pensei com a face rubra pela falta de ar. Sungmin que até então ignorava minha crise de tosse pensando ser apenas um teatrinho veio até mim preocupado e logo uma roda de pessoas se formava com alguns comentários dizendo que eu estava ficando roxo.

Morrer engasgado com a própria saliva, aquela morte parecia bem tosca para alguém tão talentoso quanto eu, mas era melhor que ouvir o resto da conversa entre Sungmin e Pedro, mas infelizmente, depois de ser socorrido por um garçom, voltei para a mesma mesa que aqueles dois. Minha primeira atitude foi pegar o copo com água, mas assim que o garçom terminou de entregar nossa comida e se afastou, lá estava o impertinente do Pedro para acabar comigo de uma vez.

– Sungmin hyung, se você já gostou de um garoto, como resolveu isso no fim? - perguntou Pedro me fazendo pigarrear alto para chamar a atenção, mas tudo o que o hyung fez, foi me olhar com o canto dos olhos e sorrir.

– Bem... - disse ele fazendo um beicinho mimoso enquanto eu levava o copo em câmera lenta até minha boca, agora eu estava curioso – Eu saí com ele algumas vezes... - dizia o hyung com um sorriso tímido, mas o interrompi.

– Como assim esse garoto não sou eu? - esbravejei soltando o copo na mesa e consequentemente derrubando todo o seu líquido na toalha amarela, fazendo com que um alto barulho ecoasse pelo ar e chamasse a atenção dos outros clientes que já comentavam sobre o meu engasgo, mas eu só sabia bufar e encarar um assustado Sungmin.

– Pensei que você quisesse manter distância de mim – retrucou o mais velho.

– Agora que eu quero mesmo – disse me erguendo exaltado da mesa – Vamos Pedro! Vamos almoçar em outro lugar! - ordenei fazendo o melhor arregalar os olhos de um tanto, que ele não contestou, simplesmente se ergueu rapidamente de sua cadeira, ao mesmo tempo em que Sungmin também se erguia da sua – Passar bem – grunhi para o hyung e dei as costas iniciando uma marcha para a saída.

– Kyuhyun! Por que você é tão infantil? Você não tem o direito de interromper a refeição com seu hyung, então volte já aqui e termine sua refeição! - ordenou Sungmin estourando por vez minha paciência.

– Você quer saber o que eu vou fazer com essa refeição? - esbravejei com um olhar perverso e voltando para a mesa – Eu vou fazer isso – disse jogando o arroz da minha tigela na face do mais velho.

Os clientes vibraram assustados, aquele tipo de atitude em um restaurante como aquele devia ser tão rara, que ninguém, nem mesmo os garçons, fizeram algo para ajudar ao hyung que me encarava boquiaberto, mas sua careta assustada não demorou muito tempo. Antes que eu chamasse ao menor para ir embora, ele grunhiu algo irreconhecível, provavelmente um xingamento, e jogou o seu arroz em mim. Depois disso começamos a jogar comida um no outro, pratos e copos voaram quando ficamos sem opção e depois saímos no tapa até a polícia nos levar para a delegacia por perturbação da paz pública.

– Me desculpe por isto – pediu Sungmin sentado no banco ao meu lado com as costas curvadas e os olhos presos ao chão imundo.

– Eu que não devia ter jogado comida em você... - fui interrompido pelo policial.

– Lee Sungmin, você pode ir, mas quanto a você Cho Kyuhyun, terá que esperar por um responsável legal.

– Nos vemos depois – disse o mais velho se erguendo abatido e me deixou sozinho.

Tanto ele como eu, estava com as roupas repletas de comida e possuímos também alguns arranhões pelo corpo. O lado direito da minha testa estava com um enorme galo que havia surgido depois que Sungmin jogou uma tigela em minha face, mas ele também estava com a marca vermelha de minha mão na sua bochecha esquerda. Assim que ele e o policial desapareceram do meu campo de visão, afundei minha face nas mãos e choraminguei, tio Jung-su ia me matar.


***


– Presos por perturbação pública? – esbravejou o líder assim que fechou a porta do carro. Bem que eu estava estranhando sua calma imperturbável dentro da delegacia.

– Omo! Eu não fui preso líder, apenas acompanhei ao Kyuhyun para não ficar sozinho no restaurante – retrucou o mais novo rapidamente, piorando ainda mais a situação para o meu lado. Se eu ao menos fosse maior de idade como o Sungmin hyung não precisaria de um responsável para sair da delegacia e poderia subornar o Pedro para ficar em silêncio, mas desde que havia sido levado, não havia tido tempo para conversar com o menor.

– Como vocês dois me dão trabalho... – resmungou o mais velho irritado, enquanto balançava a cabeça negativamente - Você – ele se referia ao Pedro – Vai para o hospital comigo e você... - agora ele se referia a mim, que imediatamente fechei um olho pensando na dor da bronca, eu nunca havia sequer passado perto de uma delegacia e quando passava era junto com seu tão querido ‘filho', eu estava pedindo para morrer - Você devia ficar confinado com o Heechul e o KangIn no meu sobrado... Eu vou ligar para o Siwon – disse ele puxando o celular da calça jeans e rapidamente discou o número do meu padrinho – O Siwon não atende, então o levarei para o sobrado dele, mas ele ficara sabendo o que seu afilhado fez – avisou o líder.

O percurso foi longo e silêncio. A cada minuto que se passava eu sentia que estava mais próximo da minha morte, mas não me conformava com ela. Alguns minutos depois, o carro estacionou na frente do sobrado vazio. Desci do veículo rapidamente e acenei para Pedro que acenou de volta com um sorriso animado. Agora era só esperar tio Siwon chegar para ouvir minha sentença.

P.O.V – KyuHyun off


P.O.V – Pedro on

– Victoria noona, eu sou mesmo bonito? – perguntei com os cotovelos apoiados no balcão e uma expressão entediada na face. Leeteuk tinha muitas pessoas para consultar, por isso havia me deixado com a recepcionista que eu já havia conhecido antes.

– Claro! Você é o coreaninho mais bonito que já conheci – respondeu a bondosa noona que havia me elogiado desde o momento que eu havia posto os pés no hospital. Por isso Leeteuk havia concordado em me deixar com ela, por ela era simpática, gentil e preocupada, com ela eu não correria o risco de ir parar na delegacia novamente.

– Mas eu sou brasileiro noona – retruquei fazendo um beicinho manhoso.

– Mas não deixa de ter lindas feições coreanas, seus pais são coreanos, Pedro? – perguntou ela me encarando com um sorriso de lábios cerrados. Eu não a achava muito parecida com uma coreana, a começar por seus longos cabelos loiros, mas para mim todos eram japoneses, então preferi responder apenas sua pergunta.

– Não, minha mãe é... Loira de olhos claros, por isso sempre fui taxado de adotado, estranho e tals, mas não conheci meu pai, talvez ele seja coreano, não acha? - perguntei esperançoso, normalmente eu não pensava no meu pai, mas eu nunca havia ouvido falar de galegos com filhos japoneses.

– Seu pai deve ter sido um coreano bem bonito, como o Lee MinHo ou quem sabe o Jang GeunSuk... - dizia ela com aspecto sonhador – Mas você não sabe nada a respeito de seu pai? Pelo seu sobrenome e até mesmo nome, poderíamos falar sua nacionalidade, ou pelo menos a nacionalidade de seus ancestrais – disse ela apoiando-se no balcão.

– Não sei nada a respeito dele – disse entortando os lábios.

– E se iniciarmos uma busca? Com tantas redes sociais podemos encontrá-lo, acho que poderíamos procurar por coreanos que moram no Brasil e tem mais que trinta, trinta e cinco anos, ouvi dizer que lá eles são poucos, menos que os japoneses, e seus traços são inegáveis, você tem sangue coreano correndo nessas veias – disse ela me sorrindo.

– Omo! Isso parece difícil.

– Não se preocupe Pedro, você não precisara fazer nada, apenas me contar tudo o que você sabe sobre o seu pai, ou pelo menos coisas relacionadas a ele, como por exemplo, como era o nome de sua mãe e com quantos anos ela lhe teve? Em quais cidades ela morou antes de você nascer? Havia algum homem de olhos puxados conhecido de vocês? – questionou a noona pegando um bloquinho de notas rosa que estava ao lado de seu computador, juntamente com uma caneta.

– Minha mãe se chamava Patrícia Assunção, ela tinha trinta e três anos quando faleceu, então ela me teve com... – fiz uma pausa para contar nos dedos – Vinte e um... - e continuei respondendo as perguntas da noona.

Embora eu não acreditasse muito que Victoria noona fosse encontrar meu pai, havia uma pequena fagulha de esperança dentro de mim, que me dizia para não desistir e depois de dar tantas respostas, a esperança de encontra-lo parecia maior. Já era noite quando Leeteuk apareceu na recepção do hospital.

– Vamos Pedro – chamou o líder esticando sua mão para mim.

Como uma criança pequena, segurei a mão do mais velho e acenei para minha noona que me ajudaria na busca do meu pai. O percurso até o sobrado foi calmo, o líder fez apenas algumas perguntas sobre o que eu e Kyu havíamos feito pela manhã, e embora tive que omitir boa parte dos acontecimentos, tentei ser o mais sincero possível.

Quando chegamos ao sobrado estranhamos o silêncio, uma das coisas que esperávamos, era ver a casa pegando fogo, ou pelo menos algumas madeiras carbonizadas, mas o sobrado estava envolvido em uma paz tão grande, que chegava a ser medonho.

Preocupado, o mais velho pediu que eu o esperasse no carro e desceu na frente. Do veículo eu não podia ver ou fazer muita coisa, mas mesmo assim fui o acompanhando com os olhos, enquanto minha cabeça fervilhava criando inúmeras hipóteses para aquele silêncio e a primeira delas, era que a casa havia sido atacada pelo grupo sinistro de Hyukie e como tio KangIn e HeeChul ainda estavam com os poderes trocados, não conseguiram se defender. Esse pensamento me fez saltar do carro e correr sorrateiramente para a varanda.

O líder abria a porta, quando me viu escondido e fez sinal para que eu voltasse para o carro, mas simplesmente neguei com a cabeça. Sem tempo para insistir, ele fez sinal com as mãos, pedindo silêncio e entrou. Rapidamente subi na varanda e parei atrás do mais velho.

Escutei um grunhido vindo da sala de jantar e me assustei ao ver a imagem de tio KangIn amarrado em uma das cadeiras e amordaçado. Neste momento hyung-nim apareceu na entrada da cozinha com um avental branco, uma colher de madeira, cabelos despenteados e com o olho esquerdo roxo.

– Espero que não tenham comido ainda – rosnou ele com um olhar terrivelmente ameaçador e voltou a desaparecer.

– O que aconteceu aqui? - perguntou o líder tirando as palavras de minha boca.

Tio KangIn tentou responder, mas soltando um punhado de grunhidos irreconhecíveis, corri ao seu auxilio. Primeiro tirei a mordaça de sua boca, deixando a mostra um pequeno corte no canto esquerdo de seu lábio inferior e dando ar a uma série de acusações.

– Só porque eu reclamei da comida dele, ele me atacou.

– Não minta Young-woon – rosnou o hyung-nim muito irritado da cozinha.

– Mas isso terá volta! - ameaçou tio KangIn soltando as cordas da pernas e saiu marchando para fora do sobrado.

Eu e Leeteuk nos entreolhamos.

– Você e o KangIn têm uma idade mental semelhante, então fale com ele que vou falar com o Heechul, tudo bem? - o argumento dele não era tão bom quanto eu esperava, mas na prática era verdadeiro, então apenas assenti com a cabeça e segui para a varanda, onde tio KangIn estava.

– Tio KangIn... - o chamei enquanto me sentava ao seu lado nos degraus – Por que você e o hyung-nim brigam tanto? Por que vocês dois não podem ser amigos? - questionei com um beicinho a se formar em meus lábios pequenos e lançando sobre a face do mais velho um olhar inocente.

– A culpa é toda do Heechul, se ele não fosse tão neurótico, nós não brigaríamos tanto.

– Mas os deixamos sozinho por algumas horas e quanto voltamos um estava amarrado e outro com o olho roxo, isso não é normal, ainda mais para vocês dois que se conhecem há tanto tempo, convivem juntos desde o tempo de Matusalém.

– Não Pedro – disse tio KangIn pousando seus olhos serenos por ligeiros segundos em minha face - Pouco antes de você nascer, eu abandonei ao grupo, eu só voltei, porque eles o encontraram e eu não queria que você se tornasse uma pessoa fria como eles, não você sendo um garotinho tão pequeno, pensei que comigo do time, você poderia ser um pouco mais feliz – finalizou ele com seus olhos novamente fixos no gramado.

– Mas só me sinto feliz quando os vejo desta maneira – enquanto esperava o tempo passar na companhia de Victoria noona, eu havia feito outras coisas além de falar sobre minha mãe, eu havia revelado uma fotografia há muito tempo tirada. No momento que eu o fiz, não sabia muito bem para que a usaria, simplesmente havia gostado da foto e resolvi revelá-la, mas agora eu encontrava um momento oportuno para usá-la, pensei tirando a fotografia do bolso menor da minha mochila preta – Por que vocês não podem ser pacíficos assim? - perguntei lhe mostrando a imagem.

Tio KangIn pegou a foto e a analisou por muito tempo em silêncio.

– Pedro... - relutante, ele apenas balançou a cabeça negativamente e me devolveu a fotografia. Sem dizer nada, ele se levantou e entrou no sobrado.


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