Meus olhos fixaram na floresta a minha frente, tão escura, tão silenciosa, não havia como adivinhar os mistérios que ela escondia, não na plena escuridão da noite. Se eu quisesse um dia explorá-la, que fosse aos poucos, de modo cuidadoso, tentando não apenas compreender como também me integrar a cada pequeno detalhe seu. Meus devaneios beiravam a loucura, quando senti um aroma delicioso invadir minhas narinas. Rapidamente comecei a farejar aquele cheiro tão maravilhoso e mais rapidamente ainda descobri de onde ele vinha.

– Ainda bravo ele cozinha bem – comentei em meio a um sorriso e me ergui dos degraus. Por segundos me esqueci do que Leeteuk havia dito e adentrei a cozinha sorridente. Eu devia ser mais cuidadoso, mas minha barriga roncava tão alto, que pensei apenas em saciar minha fome – Hyung-nim – disse entrando animado na mediana e arejada cozinha – Você precisa de ajuda? - perguntei passando trás das costas do líder e me sentei ao seu lado.

– Donghae... Está quase pronto, não se preocupe com isso – respondeu o mais velho sem ao menos olhar para trás, com sua voz diferente do seu tom inicial. Sua voz estava embargada, diria até que ele estava se segurando para não chorar, mas eu não conseguia imaginar o hyung-nim chorando por um motivo tão fútil, o que quebrava com minha hipótese.

Quando ele voltou-se para o balcão, percebi que seus olhos estavam vermelhos e o olhar buscava ao chão. Ele evitava nos encarar, típico do Heechul não demonstrar fraqueza, mas então me lembrei do meu mais novo dom. Apoiando ambas as mãos no balcão, entrelacei os dedos e semicerrei os olhos na direção do mais velho, tentando invadir seus pensamentos. Minha respiração lenta e uniforme fazia parte do meu ritual de concentração, mas por mais que eu repetisse um mantra mental dizendo que leria a mente do mais velho, não houve um ruído sequer por parte do mesmo.

– O que foi dessa vez? - perguntou Leeteuk encostando suavemente o dorso de sua mão quente em meu braço gelado. Normalmente eu apreciava a temperatura de sua pele, mas recuei pela surpresa, enquanto meus olhos curiosos pousavam na face do líder – Você está pálido... - disse o líder enquanto me observava de perto.

– Deve ser efeito do novo poder dele – disse Heechul hyung paralisando meu coração. Ele não havia voltado a prever o futuro, havia? - São cinco poderes Donghae, sem contar a telecinese e imortalidade – explicou ele notando minha expressão confusa. Enquanto o hyung se intrometia em assuntos que não eram de sua conta, ele enchia as tigelas com porções individuais para serem levadas a mesa.

– Omo! O Pedro deve parar de desenvolver tantos poderes, ele mal sabe controlar a intangibilidade e a criocinese, como passará para um sexto poder? - indagou o líder contrariado.

– Como se ele tivesse interesse em desenvolver essas habilidades, ele vai bloqueá-las como o Siwon fez com a audição aguçada, se é que já não bloqueou, e quanto a regeneração, se ele não começar a treinar, logo começará a bloqueá-la também.

– E como se treina a regeneração? - perguntei franzindo o cenho curioso.

– Assim – respondeu hyung-nim passando a lâmina fria de sua faca pela minha mão direita e provocando nela um corte superficial de quatro dedos. Apenas pela dor, gritei, e ver o sangue molhar minha mão, com seu aroma incômodo em minhas narinas, me fez entrar em desespero – Por que está desesperado? Você não se regenera? - perguntou hyung-nim segurando minha mão direita pelos dedos – Agora se calme e se concentre apenas em fechar ao corte, a dor é psicológica, não pense nela, pense apenas em se recuperar.

– Psicológico porque um maluco não tentou torrar seu polegar fora – esbravejei para o mais velho sem conseguir raciocinar direito.

– Olha como fala comigo – ameaçou o mais velho me apontando sua faca.

– Ei, isso está indo longe demais – disse Leeteuk se colocando de pé – E não perturbe ao menor, ele está pálido, tudo o que precisa é se alimentar bem, amanhã você o treina – um sorriso sádico cresceu na face do ex-vidente.

– Eu não quero ser treinado pelo hyung-nim – falei de imediato.

– Você não tem escolha e pare de derramar sangue no meu balcão, vá limpar isso já! - ordenou o líder jogando um pano de prato em minha face.

Em meio uma expressão de choro, embolei o pano de prato, coloquei abaixo da minha mão para não derrubar sangue pelo caminho e corri para a pia enquanto Leeteuk e Heechul levavam as tigelas à mesa. Enquanto a água gelada levava meu sangue em embora, percebi que o corte ia vagarosamente se fechando, vagarosamente para mim, mas para comuns, aquilo era muito veloz. Ainda limpei o balcão e coloquei o pano de molho antes de seguir para a sala de jantar. Pelo menos com uma refeição tão aromática, eu esperava ver tio KangIn, mas ele não desceu para o jantar. Ainda perguntei aos hyungs se devia chamá-lo, mas Leeteuk respondeu que não precisava, que se ele estivesse com fome, ele desceria.

Depois do jantar, recordei-me do meu desastre na lan house, em tentar escrever em coreano e pedi ajuda ao hyung-nim com o alfabeto, já que segundo Krystal ele sabia falar francês, e por falar na noona eu começava a sentir falta dela... Bem, nem tanto quanto eu sentia de Dongwoon, mas eu só voltaria a ver o hyung quando a troca de poderes terminasse e ela não parecia ter dada prevista para acabar.

P.O.V – Pedro off


P.O.V – KyuHyun on

Meus músculos estavam todos tensos, quando tio Siwon chegasse, eu corria sérios riscos de ficar sem meu notebook, sem cama, sem comida, sem vida... Naquele momento eu aceitava ser tudo, até mesmo o Pikachu que inspirou os poderes da irmã do Sungmin, apenas para não encarar ao meu padrinho. Eu começava a desenvolver um plano de fuga, quando escutei meu celular tocando. Pelo toque reconheci como mensagem, mas como ninguém, nem mesmo a operadora, me ligava ou mandava mensagem, me apressei a pegá-lo.

Irei jantar com uma dongsaeng, não me espere acordado – li em voz alta a mensagem que segundo o celular era de tio Siwon - Espera, não me espere acordado? - reli aquele trecho com um enorme sorriso maroto a crescer em meus lábios – Tio Siwon safadinho, convida uma dongsaeng para jantar e nem me chama, se bem que uma dongsaeng do tio Siwon pode ter cinquenta anos – refleti por ligeiros segundos com os olhos arregalados – Que bom que ele não me chamou – disse por fim jogando o celular de qualquer jeito no sofá e encarei a televisão desligada – Espera, eu só vou vê-lo amanhã... Glória Senhor! – comemorei levando as mãos aos céus.

Meu dia havia começado ruim e a tendência era apenas piorar, mas pelo menos minha noite ia ser tranquila, pensava eu enquanto me erguia do sofá e seguia em direção à cozinha. Não era porque o hyung iria jantar fora que eu passaria fome. Abri o freezer de sua geladeira e comecei uma busca por comida, algo que fosse fácil de fazer. Havia umas bandejas com carnes fatiadas, mas eu queria algo menos trabalhoso. Tirando algumas sacolas de carne de porco da frente, encontrei uma lasanha congelada de frango. Pelo estado de conservação da caixa, acreditei que ela estava ali a um bom tempo, mas não me importei, apenas peguei a caixa e coloquei em cima do balcão, enquanto voltava as carnes ao seu devido lugar. Quando finalmente me virei para o meu jantar, com intenção de abrir a caixa e colocar a lasanha no forno micro-ondas, escutei o som da campainha. Franzi o cenho confuso, não era possível que tio Siwon havia esquecido algo ou que houvesse desistido do seu encontro apenas para me dar uma bronca, mas mesmo assim deixei a lasanha onde estava e peguei um pano de prato. Minhas mãos estavam molhadas por causa do gelo do freezer, molhadas e frias, mas assim que parei defronte com a porta, joguei o pano de prato no sofá e girei a maçaneta.

– Kyuhyun... - disse Sungmin com um gracioso sorriso, parado na minha porta, carregando algumas sacolas brancas e vestido com uma camiseta rosa, uma calça jeans azul escuro e um tênis branco – Eu vim me desculpar com você, espero que o Jung-su hyung não tenha lhe dado uma bronca muito grande – ele entortou os lábios de forma meiga, quase formando um beicinho manhoso.

Revirei os olhos, mas eu estava interessado demais nas sacolas de supermercado para mandá-lo embora.

– Entre Sungmin – disse abrindo caminho. Em meio a um sorriso, ele fez uma curta reverência e entrou – O que são essas sacolas? Fazem parte do pedido de desculpas? Por que se for, digo logo que o tio Jung-su me deu uma bronca enorme e ainda estou esperando a bronca do tio Siwon – as palavras saiam calmamente de minha boca enquanto eu fechava a porta.

– Você também tem sido muito mau comigo – disse ele com um enorme bico, enquanto seus olhos buscavam desconfortavelmente o chão – Mas deixaremos isso para mais tarde, agora tenho um jantar para preparar para você – seu sorriso voltou a iluminar sua face.

Fiquei animado quando o hyung disse que faria o jantar para mim, imediatamente me lembrei de tio Heechul, que possuía um dom culinário maravilhoso e assim como Sungmin havia nascido e crescido em uma família rica, mas diferente do meu tio, Sungmin era um verdadeiro desastre, até mesmo seu arroz ficou aguado demais e também estava com sal, muito sal.

– Por favor, diga que desista, eu tenho lasanha congelada – implorei ao hyung que se mantinha firme defronte com o fogão. Na mão direita estava uma colher de pau e na esquerda um livro de receitas, mas até mesmo a sopa que ele tentava preparar estava com uma cara ruim e o cheiro de pimentão sufocava quem adentrasse a cozinha.

– Eu não vou desistir, está quase pronta, espere só mais um pouuuuuquinho... Pronto, está pronta – disse ele todo contente desligando o fogo.

Fiz uma careta de imediato. Com um enorme sorriso, ele levou a grande panela até o balcão. Ela fumegava e havia algumas coisas verdes flutuando na água de coloração marrom caramelada, muito estranho por sinal. Sungmin fez questão de me servir uma grande porção em um prato fundo.

– Experimente dongsaeng, está uma delícia! - disse ele me entregando uma colher, sem tirar seu sorriso entusiasmado da face.

Franzindo o cenho, aproximei minha face do prato e cheirei aquele líquido fumegante. O cheiro de mato molhado e pimentão rapidamente invadiram minhas narinas fazendo meu estômago revirar, ele não me obrigaria a comer aquilo, obrigaria? Pensei pousando meus olhos na face do hyung que simplesmente sorriu e fez sinal com as mãos me mandando comer. Muito contragosto, eu enchi a colher e soprei por longos segundos criando coragem para encarar aquela comida. Sungmin não desistia de seu sorriso, ele devia estar orgulhoso de si mesmo, ele devia não, ele estava orgulhoso de si mesmo, eu só não queria decepcioná-lo provando sua sopa e dizendo que ela estava horrível, mas mesmo assim fiz esforço para levá-la a boca. O gosto não estava muito diferente do cheiro e para completar senti um fio na minha língua. Forcei pra engolir aquele líquido e assim que vi minha boca livre, puxei o fio que havia ficado em minha língua, enquanto reprimia uma careta de nojo.

– Cabelo? Você derrubou cabelo na sopa? - indaguei enquanto erguia o fio curto e preto para o mais velho.

– Oh! Desculpe-me Kyuhyun, eu só queria fazer uma boa comida para você – respondeu o mais velho com seus olhos tristonhos voltados para o balcão de granito. Normalmente eu ignorava esse tipo de reação, mas sua expressão desapontada me fez sentir pena do hyung.

– Não se preocupe com isso hyung, você tentou, agora vá para a sala que logo levarei nosso jantar – disse me erguendo da banqueta e conduzi o mais velho sutilmente até a sala. Ele ainda me perguntou o que eu faria, mas respondi apenas que era uma surpresa.

Passado alguns minutos caminhei até Sungmin com um prato de porcelana branca. A lasanha de frango fumegava, o queijo derretido, a massa suculenta, o caldo fino, o aroma inconfundível, seria bom se Sungmin conseguisse fazer algo assim, mas não me preocupei com isso. Havia dois garfos junto com o prato e pedi que o hyung esperasse enquanto eu buscava duas latas de refrigerante. Nós que tínhamos ingredientes e mais ingredientes para fazer uma porção de comida, mas acabamos com um pedaço de lasanha.

– Me sinto tão inútil – disse Sungmin enchendo em sequência a boca com uma garfada de lasanha. Apenas sorri e balancei a comida negativamente. Depois de dar um gole em seu refrigerante de laranja, ele voltou a falar – Mas me diga, por que anda tão bravo comigo? O que fiz para você dongsaeng?

– Você não me fez nada, mas não posso dizer a mesma coisa da sua irmã – disse levando o garfo ao prato, mas ao notar que Sungmin fazia a mesma coisa e restava apenas um pedaço pequeno, me detive.

– Tudo bem, é seu – disse ele me indicando o pedaço de lasanha com um sorriso bobo. Fiz uma careta, mas ainda sim peguei a lasanha com meu garfo e levei a boca. Os olhos de Sungmin pousaram no estofado azul claro por longos segundos enquanto eu mastigava o saboroso e último pedaço – Sabe Kyuhyun, você não acha injusto você me tratar mal por algo que minha irmã lhe fez? Quer dizer, que culpa eu tenho no desentendimento de vocês?

– Ela ficaria muito brava se descobrisse que está comigo agora – respondi sem dar grande importância enquanto pousava o garfo no prato e me esticava para pegar o refrigerante em cima da mesinha de centro.

– Ela é minha dongsaeng, não tem nada que se intrometer na minha vida – resmungou o menor, pelo menos em altura, fazendo um beicinho manhoso.

Foi inevitável não sorrir.

– Deixe-me levar isto para a cozinha, caso contrário tio Siwon ficará muito bravo também – disse mostrando ao prato e me levantei. Sungmin apenas sorriu de volta e me entregou seu garfo. Quando cheguei à cozinha foi impossível não notar a bagunça que Sungmin havia feito, mas eu cuidaria disso depois.

– Eu trouxe pudim – avisou ele assim que surgi na porta da cozinha – Achei que não daria tempo para fazer a sobremesa e preferi comprá-la, pegue para nós.

Fiz uma careta tentando esconder minha alegria, pelo menos em alguma coisa Sungmin havia acertado. O pudim redondo com um furo típico no centro estava em uma bandeja de plástico, ele parecia suculento. Peguei dois pratos e duas colheres de sobremesa e levei para a sala onde assistíamos televisão. O mais velho serviu a nós dois e voltou a sentar-se com as pernas no sofá, ligeiramente virado para mim, enquanto eu encarava a televisão completamente largado no sofá.

– Kyuhyun, arrume sua postura! – ordenou o mais velho sem mais nem menos, fazendo-me encará-lo de cima a baixo com uma sobrancelha arqueada. Se sua postura estivesse alinhada, eu poderia entender sua ordem, mas ele não estava em condições de me exigir nada.

– Aigo! Por que está implicando comigo dessa vez? – perguntei segurando a colher vazia próxima aos lábios.

– Eeeeeeeeu? – perguntou ele indignando, derrubando até mesmo um pouco da calda do pudim em seu lábio inferior.

Apenas sorri e arrumei a postura enquanto depositava o prato e a colher ao meu lado no enorme sofá de estofado claro.

– Omo! Você está sujo – apenas o avisei, sem esperar que ele se movesse, e aproximei meu polegar direito dos lábios do hyung. Delicadamente limpei a calda de seus lábios, enquanto o mais velho em encarava paralisado, mas quando tentei me afastar, Sungmin segurou minha mão e lambeu ao meu polegar, finalizando com uma pequena sucção.

O ar deu adeus aos meus pulmões e os movimentos ao meu corpo. Quando ele parou me encarando com seu olhar que conseguia ser sexy e envergonhado ao mesmo tempo, inspirei o ar com força, totalmente desconcertado. Agindo por puro instinto segurei ao pescoço do mais velho com a mão livre e puxei para mim selando nossa distância com beijo. Nossos lábios moviam-se em perfeita harmonia, como se tivéssemos ensaiado aquele meigo beijo por dias, quando Sungmin interrompeu ao beijo com uma porção de selinhos enquanto abria inúmeros sorrisos.

– Kyu... – foi tudo o que ele disse segurando delicadamente minha face e me olhando nos olhos, enquanto ostentava seu sorriso bobo e seus olhos brilhavam com a intensidade das estrelas.

Em resposta, sorri e o puxei para mais próximo de mim. Para facilitar, o mais velho sentou-se em meu colo, deixando cada perna se um lado do meu corpo, e voltou a me beijar com mais intensidade. Passei minhas mãos por suas coxas cobertas pelo jeans, levando-as a sua cintura, e o puxei para mais perto enquanto o beijava com força. Os braços do mais velho contornaram meu pescoço o abraçando com força e pedindo permissão, ele introduziu sua língua em minha boca iniciando uma valsa delicada. Minhas mãos puxaram sua camiseta rosa para mim e por fim para cima, mas o mais velho interrompeu bruscamente o beijo, levando suas mãos as minhas e as afastou de sua roupa. Respirando ofegante, ele saiu de cima de mim.

– E-e-eu tenho que ir para casa, está tão tarde – dizia ele assustado, desorientado, com as bochechas queimando de tão vermelhas.

– Verdade – concordei respirando ofegante.

– Vo-vo-vo-você me acompanha até a porta?

– Ah! Sim – disse me erguendo rapidamente e encarei ao mais velho defronte comigo, ele ainda tentou recuar, mas atrás de si estava à mesinha de centro – É pra lá – disse apontando o polegar para trás e segui praticamente correndo para a porta.

– Até mais Kyuhyun – disse ele pegando sua carteira da longa, fina e alta mesa decorativa de vidro que ficava atrás do sofá e saiu rapidamente.

Apenas assenti e fechei a porta. Minha cabeça estava zonza, um sorriso enorme cresceu em minha face e toquei meus lábios. Aquilo havia sido mesmo real? Questionei encostando minhas costas na porta de madeira e observei meu peito que erguia e abaixava rapidamente pelo trabalho intenso dos pulmões. Escutei batidas pesadas na madeira e sem pensar duas vezes, abri a porta com um enorme sorriso.

– Sung... - comecei animado pensando que o mais velho havia esquecido algo, o que no seu estado era muito comum, mas na minha porta havia dois homens de ternos pretos e sapatos sociais da mesma cor. Suas feições eram claramente coreanas e seus cabelos estavam em um corte antigo, que era o cabelo preto cortado até o fim do maxilar, franja levemente desfiada e os outros fios totalmente lisos, sem qualquer tipo de onda ou pontas repicadas.

– Você vem conosco – disse o moreno, e também mais baixo.

– Quem são vocês? - perguntei recuando assustado.

P.O.V – KyuHyun off


P.O.V – LeeTeuk on

Voltar a trabalhar era algo que eu desejava, mas com o Pedro isso era totalmente impossível. Depois dele e Kyuhyun serem presos, eu não acreditava no nerd para cuidar do menor e não queria deixá-lo com KangIn e Heechul. Além do mais não achava justo ficar incomodando Victoria, porque por mais que ela fosse uma funcionária minha, tendo assim que acatar minhas ordens, ela havia se candidatado a vaga de recepcionista e não de babá. Sem opção alguma liguei para o vice-diretor para avisá-lo que não poderia ir ao hospital e que ele ficaria encarregado de tudo durante a minha ausência. Depois de tomar um banho frio para ajudar a acordar, desci para a cozinha e comecei a preparar o café da manhã.

– Por que acordou tão cedo? Vai ao hospital? – perguntou Heechul adentrando a cozinha com um pequeno e animado sorriso. Em seu olho esquerdo ainda era visível uma marca roxa, devido ao soco que KangIn havia lhe dado no dia anterior, pelo menos eu conclui que havia sido um soco, porque ele não quis me contar nada sobre o ocorrido.

– Não, vou ficar de olho em vocês três – respondi com um sorriso que deixava amostra o meu par de covinhas.

– Ha-ha-ha, muito engraçado doutor Jung-su – disse parando atrás de mim para ver o que eu fazia – O que é isso? – perguntou ele tocando suavemente minha cintura e pousando seu queixo em meu ombro. Eu lavava e cortava morangos em cima de uma tabua de madeira, que estava no balcão da pia – Não me diga que está fazendo uma vitamina? – indagou ele ao observar o liquidificador próximo a mim.

– E por que não? Hoje treinaremos o Pedro, precisamos estar fortes, ele principalmente – respondi com um torto sorriso enquanto sentia sua respiração pesada e quente em meu pescoço.

– Espero que eu não esteja incluso nesse ‘treinaremos’ – disse ele abrindo um sorriso torto e se afastou seguindo para a geladeira.

Apenas sorri. O silêncio que se instalou foi rapidamente substituído pelo barulho de passos. Meus olhos curiosos focaram-se na entrada da cozinha, encontrando um sonolento Pedro e um animado KangIn que segurava aos ombros do menor e o empurrava a frente de si, como se estivessem brincando de trenzinho.

– Bom dia Leeteuk hyung – desejou KangIn ignorando ao Heechul enquanto Pedro apenas bocejava – E você para de moleza que vamos treinar daqui alguns minutos – completou ele agitando aos ombros do maknae, que cambaleava tentando chegar ao balcão.

– Bom dia – respondi colocando os morangos no recipiente do liquidificador e terminei de colocar os outros ingredientes.

Enquanto eu estava concentrado em não errar a receita, o silêncio pairava no ambiente. Os bocejos de Pedro eram a única coisa audível e mesmo assim eles eram baixos. Ao meu lado estava Heechul, esperando as torradas ficarem prontas com um prato e uma colher em mãos. KangIn que geralmente evitava se mover o máximo possível, pegou os acompanhamentos – para as torradas – que estavam na geladeira, como geleia e manteiga e aproveitou também para pegar uma garrafa de vodka no armário.

– Estou com fome – reclamou o menor que nem parava com os olhos abertos, assim que dei a vitamina por completa, cessando assim com o alto ruído.

Com algumas torradas no prato, Heechul deu a volta no balcão e as colocou na frente de Pedro acompanhado de um afagar nos cabelos bagunçados do menor. Arqueei uma das sobrancelhas quando vi KangIn com a garrafa de vodka, mas mesmo assim servi a vitamina de morango em quatro copos diferentes. Depois do café da manhã seguimos os quatro para o espaço gramado em frente ao meu sobrado.

– Vamos começar com seus campos de força – disse ao mais novo parando no centro do gramado com meu pesado taco de beisebol apoiado no ombro direito. Ele apenas assentiu com a cabeça, mas KangIn que havia seguido conosco até o local, apoiou as mãos na cintura e começou um alongamento estranho enquanto falava.

– Os campos de força é algo que o Pedro treina sozinho, ele gosta desse poder, tenho certeza que ele irá se empenhar sem a nossa ajuda, mas quanto à criocinese eu não tenho tanta certeza, então, acho que como o novo dominador da água, seria legal treiná-lo.

– Young-woon, eu já lhe avisei, se ficar treinando meus poderes, irei treinar os seus – falou Heechul ao pé da curta escadaria da varanda.

– Depois que você criou cópias e as usou para me amarrar na cadeira, virou guerra – retrucou KangIn.

– É, mas eu só criei as cópias porque você me derrubou com o grito supersônico – retrucou Heechul cruzando os braços sobre o tórax.

– Omo! Deixe-me treinar os campos de força com o líder ou qualquer outra coisa, mas não briguem – disse Pedro sério, conseguindo pelo menos uma vez na vida calar aqueles dois.

– Então vamos começar com os campos de força mesmo, depois nós passamos para outras habilidades – disse para o menor que assentiu com a cabeça – Olha, vamos treinar da seguinte maneira, eu vou lhe atacar e você só pode se defender com os campos de força tudo bem?

– Certo.

– Qualquer coisa estarei aqui Pedro – disse KangIn cruzando os braços sobre o tórax e recuando alguns passos, enquanto sorria para o menor.

Pedro acenou com a cabeça e perguntei a ele se ele estava pronto. Ao receber a confirmação entusiasmada e confiante do mais novo, investi contra ele com o taco no ar para lhe acertar o braço esquerdo, mas ele rapidamente apontou a palma da mão para o taco que foi de encontro a uma parede invisível e recuou com a mesma força que eu havia usado.

– Bom, continue assim Pedro – incentivou KangIn animado, enquanto eu me limitei a arquear uma sobrancelha, confiança demais atrapalhava, ele precisaria de muito mais para ganhar um elogio meu, se é que ganharia.

Investi mais uma vez ela esquerda e sequência girei o taco e tentei lhe acertar com velocidade pela direita. Meu golpe foi tão rápido que o menor esticou a palma de ambas as mãos para criar o campo de força.

– Esteja preparado para tudo – avisei ao menor que mordeu o lábio inferior e assentiu com a cabeça.

Investi mais algumas vezes contra Pedro, todas elas sendo bloqueadas por paredes invisíveis, quando escutei Heechul dizer um assustado 'Oh meu Deus'. Não só eu como os outros dois olharam para o mais velho, que de olhos arregalados, boca semiaberta e petrificado, encarava KangIn da cintura para baixo.

– O que foi Cinderela? - perguntou KangIn primeiro.

– E-e-eu, es-esto-estou vendo... - não foi necessário completar, KangIn pousou os olhos onde Heechul olhava e arregalou os olhos encarando ao segundo mais velho que agora encarava a face do alcoólatra sem mudar em nada sua expressão pasmada.

– Você não...

– Eu não consigo parar – disse Heechul com os olhos lagrimejando.

– Olha pra baixo! Olha pra baixo! - esbravejou KangIn correndo na direção do ex-vidente.

– Desculpe-me – pediu Heechul.

– Seu hentai! - esbravejou KangIn empurrando Heechul com força para o chão e sentou em seu tórax depositando tapas na face do mais velho, que apenas chorava cobrindo a face e pedia desculpas – Seu filho de uma... Argh! Hentai! Eu vou lhe bater tanto que você nunca mais me olhará na cara! Seu hentai! Hentai! Hentai! – esbravejava KangIn ainda batendo continuamente em Heechul quando consegui tirá-lo de cima do dongsaeng.

– Desculpe-me – pediu Heechul com os cabelos bagunçados ainda chorando, enquanto Pedro o ajudava a se erguer.

– Você passou dos limites Kim HeeChul! - esbravejou KangIn bufando de tanta raiva.

– Que culpa eu tenho? - perguntou Heechul aos prantos.

– Fique calmo hyung-nim, eu estou aqui para protegê-lo – disse Pedro abraçando ao maior que se acomodou nos braços do maknae.

Quando KangIn finalmente se acalmou e Heechul parou de chorar, pude ouvir o toque do meu celular. Pedi que Pedro cuidasse dos dois, principalmente de Heechul que ainda soluçava e corri para atender. No visor dizia que era Siwon. No mesmo instante lembrei-me de Kyuhyun, mas como eu não havia dito nada ao dongsaeng a respeito dele e Pedro terem sido presos, imaginei que ele estivesse apenas retornando minhas ligações.

– Siwon...

– Leeteuk hyung, o Kyuhyun está com você? - perguntou ele com uma voz desesperada e ofegante.

– Não... Aconteceu alguma coisa? - perguntei sentindo um aperto no peito.

– O Kyuhyun desapareceu – informou ele.

P.O.V – LeeTeuk off