P.O.V – Pedro on

– Por que mesmo tivemos que sair tão cedo de casa? - perguntei bocejando pela décima vez desde que o líder havia aparecido no apartamento do hyung-nim e colocado todos nós dentro de seu carro. Sua abordagem havia sido tão cedo e tão rápida, que até mesmo Heechul estava com seus cabelos bagunçados.

– Não quero que outro incidente aconteça – retrucou o mais velho sem tirar os olhos da autoestrada.

Pela sonolência na qual eu me encontrava, não disse nada, apenas me acomodei melhor no ombro de tio KangIn e voltei a cochilar. Do outro lado do atual vidente estava Kyu, que além de dormir de boca aberta, estava roncando e babando. Por sorte o vidente estava em um sono tão profundo, que não se importava nem um pouco com a cascata que escorria por sua camiseta azul.

Heechul hyung dormia encolhido no banco da frente. Leeteuk nos disse que Simão ficaria para manter as aparências, mas nós quatro estávamos confinados ao seu sobrado, ninguém sairia de lá até que fosse seguro.

Quando chegamos, o líder estacionou seu carro ao lado da varanda e desceu primeiro. Eu que estava incomodado demais com o ronco de Kyu para dormir, me aproveitei daquela parada para estapeá-lo na face. Ele acordou em um sobressalto assustado.

– O que aconteceu? O que aconteceu? - perguntou ele completamente desorientado.

– Chegamos – avisei a ele e aproveitei para sacudir tio KangIn.

– Oi...? - disse o vidente piscando os olhos diversas vezes – Mas... O que é isso? - sua mão havia tocado exatamente a baba de Kyu, que discretamente secava o canto dos lábios – Cinderela, quando vou parar de soltar água? - questionou o alcoólatra dando um leve soco no braço do hyung-nim.

– Vamos seus preguiçosos! - gritou o líder da grama acompanhado de algumas palmas – Vamos sair daí que eu fiz um cronograma muito animado para mantê-los entretidos.

– Eu quero é entreter sua cabeça batendo-a em uma árvore – resmungou o hyung-nim descendo do carro, enquanto eu, Kyu e tio KangIn nem sabíamos onde ficava a maçaneta.

– Vamos! - insistiu o mais velho abrindo a porta para o nerd e esperou que nós descêssemos – No cronograma do dia de hoje, Pedro treinará sua cura instantânea e campos de força, enquanto KangIn treinará a hidrocinese para evitar que inunde mais algum local, afinal, nunca se sabe quando as habilidades serão destrocadas. Enquanto treinamos no jardim, Heechul e Kyu podem dormir sem serem perturbados. Depois do almoço nos trocamos, Heechul vem pra fora treinar sua pirocinese, Kyu vai treinar sua habilidade com eletrônicos na varanda, enquanto KangIn pode dormir tranquilamente.

– De tarde eu posso dormir? - perguntei junto com um bocejo, mas sem me soltar do braço de Kyu, que embora fosse bem magro, ainda sim possuía uma pele macia e confortável.

De nós quatro que havíamos sido obrigados a madrugar, era impossível dizer quem sentia mais sono.

– Nem pensar, você vai treinar a intangibilidade e a criocinese comigo.

– Mas eu estou em fase de crescimento, preciso dormir. Além do mais, não quero virar um picolé – retruquei fazendo um manhoso beicinho.

– Você não tem escolha mocinho, então vá trocar de roupa que o treinamento começa imediatamente.

– Olha hyung, eu vou dormir um pouco, depois nós conversamos sobre esse seu 'animado' cronograma – falou o sonolento tio KangIn e deu as costas para o mais velho seguindo em direção ao sobrado, algo que eu adoraria fazer, mas sentia que um taco de beisebol me acertaria nas costas caso tentasse algo parecido.

– Nem pensar, volte já aqui! – ordenou o líder, mas tio KangIn continuou andando – Volte aqui! - esbravejou ele realmente irritado e espalmou a mão direita para o mais velho lhe prendendo em sua telecinese. Virando a palma da mão rapidamente para si, fez com que o vidente imitasse seu movimento e o encara-se imóvel – Eu disse para... - começou o mais velho soltando o alcoólatra de seu domínio, mas quando se viu livre, tio KangIn fez um movimento rápido com a mão que mandou o líder direto em uma árvore. Boquiaberto e com as costas doloridas, Leeteuk se levantou e encarou o sorriso de escarnio do alcoólatra – Você vai se arrepender disso!

– Ai minha cabeça... - resmungou hyung-nim levando a mão à testa, enquanto tio KangIn e Leeteuk trocavam olhares assustadoramente mortais.

Não tive tempo de lhe perguntar se estava tudo bem, pois Leeteuk esticou sua mão esquerda para um galho de pelo menos um metro que estava no chão e puxou para si, enquanto tio KangIn corria como um louco em sua direção. Sem tempo para se defender, o vidente foi atingido no lado esquerdo das costelas. O golpe foi tão forte que o galho se partiu deixando o líder momentaneamente desarmado. Ainda encolhido em sua dor, tio KangIn se ergueu formando duas bolas de água e lançou na face do líder.

– Aish! Que tipo de ataque é esse? - perguntou o mais velho tossindo, mas antes que conseguisse secar sua face, o grito super agudo de tio KangIn adentrou lhe aos ouvidos, fazendo-o cobri-los e cair de joelhos no chão.

Eu e Kyu que assistíamos a briga um pouco mais acordados, também cobrimos nossos ouvidos tamanho era a força do alcoólatra. Como Heechul reagiu a isso, não tenho muita certeza, mas pelo barulho vindo de dentro do sobrado, desconfio que ele tenha desmaiado ou pelo menos desabado no piso. A dor do líder devia ser dilacerante, mas Leeteuk dispôs de todas as suas forças para lançar tio KangIn contra uma árvore, parando assim com seu grito. Bufando com raiva, Leeteuk ergueu-se literalmente do chão, enquanto o céu se tornava escuro e seus olhos adquiriam uma coloração mais clara. Também bufando de raiva, tio KangIn se levantou batendo as folhas secas de sua camiseta de mangas longas e parou com os braços rígidos e as mãos palmadas voltadas para baixo.

– Este seria um bom momento para interferir – disse Kyu assustado ao observar as gotas de orvalho abandonar a grama verde e erguesse no ar, tudo manipulado pelo vidente.

Eu nunca havia visto nada igual e nem esperava ver. Um trovão acompanhado de rajadas frias de vento arrancou-me de meus pensamentos. Uma tempestade se anunciava, enquanto gotas de água começavam a sair das folhas das árvores e se guiavam em direção ao tio KangIn. O que eu poderia fazer? Questionei-me entrando em desespero. A pergunta vagou solitária pelo ar, enquanto Leeteuk e tio KangIn tentavam acabar de vez com aquele conflito.

O líder lançou uma forte e maciça rajada de vento, enquanto tio KangIn multiplicava magicamente aquelas solitárias gotas de água, transformando-as em um só e revidando ao golpe. A força e densidade dos elementos eram tão fortes que se encontraram no meio do campo, fazendo vento e água se dispersarem no mágico encontro. Notando a inutilidade do golpe, Leeteuk forçou um pouco mais, fazendo com que a rajada de vento transparente tomasse levemente a aparência das nuvens, o que empurrou tio KangIn sutilmente para trás, mas o vidente também não se dava por vencido e tremulou suas mãos, fazendo com que mais água saíssem das plantas próximas, que aos poucos escureciam suas folhas.

– Pedro! - disse Kyu assustado, ao notar o crescimento do campo de absorção de tio KangIn, que lentamente se guiava até nós.

Os trovões se tornavam constantes, os ventos não diminuíam e o ar perdia sua umidade, tornando-se difícil de ser respirado. Sem ter ideia do que fazer, pensei apenas no salvamento do hyung-nim e estiquei minhas mãos espalmadas para cada um dos hyungs que se enfrentavam na entrada da floresta.

– Parem com isso! - gritei cerrando os dentes com força, ao mesmo tempo em que sentia meu corpo vibrar com violência. Senti por segundos o meu coração parar e ser tomado por um frio tão intenso quanto o gelo, que rapidamente se expandiu por todas as minhas veias rasgando-as como farpas cruéis e congeladas.

Meus ossos latejaram pelo frio, arrancando-me um alto e agudo grito, mas não consegui ouvir nada ao meu redor, a não ser o barulho incessante dos ventos. Sem conseguir abrir meus olhos, muito menos reprimir minhas caretas de dor, soltei o mais alto grito da minha vida, junto com todo aquele frio que me martirizava.

P.O.V – Pedro off


De volta ao apartamento de Heechul era possível ver uma irritada Taeyeon atravessar as salas em direção à entrada principal. Deixados para trás, os jovens que a acompanhavam correram para alcança-la, mas não foram rápidos o suficiente para vê-la abrir a porta e encontrar-se com Eunhyuk de expressão abatida, que estava encostado na madeira e quase caiu pela rápida abertura.

– O que está fazendo ai? - esbravejou a mulher.

– Eu... Eu... Eu... - gaguejava o rapaz desorientado, ele culpava-se por não ter coragem de ajudar ao pequeno Donghae, mas não esperava que eles fossem deixar o apartamento tão cedo. Ele acreditava que o hyung-nim do Donghae resistiria bravamente antes de ser derrotado. Taeyeon o interrompeu.

– Não tem importância, o Donghae não está aqui por culpa do miserável do Leeteuk. Eu devia tê-lo jogado de um prédio ou... Argh! Vamos! - ordenou ela para os jovens, que pararam atrás de si, e esticou sua mão direita para Eunhyuk, que internamente, comemorava o fracasso da missão.

Assim que Eunhyuk pousou sua mão sobre a da noona, a porta metálica do elevador se abriu revelando a imagem do ajusshi que normalmente ficava na portaria. Ele havia subido para verificar o motivo da câmera de segurança ter perdido a conexão com sua pequena televisão que ele dificilmente observava, mas emitia um alerta quando uma das câmeras parava de funcionar. Apenas com um olhar de Taeyeon, Chaerin lançou uma resistente e mediana estaca no lado esquerdo do peito do guarda, que deslizou para o chão, enquanto a porta voltava a se fechar.

– Vamos agora! - ordenou a líder a Eunhyuk, que observava assustado a frieza de Chaerin.

Embora assustado, ele levou ao grupo de volta ao acampamento.


P.O.V – KyuHyun on

Pedro deu um passo à frente decidido, enquanto eu recuei um passo temeroso. Mesmo cada um dos tios usando apenas um poder, alguém precisava parar aquela briga antes que um deles se machucasse perigosamente, mas em minha inocência, não imaginei que quem poderia acabar machucado fosse o impertinente do Pedro.

O ar não era mais tão respirável como antes, quando o menor espalmou suas mãos para os mais velhos. Seu apelo pedindo que os mais velhos parassem foi ignorado, mas os cristais de gelos que foram saindo da palma de suas mãos, não poderiam nunca ser ignorados. O gelo que se integrava rapidamente aos ventos incessantes, começou a rodear Pedro abafando parte de seu grito de dor, mas aquele redemoinho de ventos e cristais brilhantes e azulados de gelo foi crescendo em volta do garoto até um ponto em que não suportando mais o peso de todo o seu poder, ele gritou em plenos pulmões liberando todos aqueles cristais a tudo que estava a sua volta.

A força do menor era tamanha, que voei para dentro da varanda, perdendo por ligeiros segundos, os meus sentidos, mas quando voltei a sentir meu corpo dolorido, senti o frio em minha pele, o frio da pele gelada do menor, porém ao abrir os olhos me surpreendi ao perceber do que se tratava.

– Neve... No verão? - perguntou tio Jung-su sentando-se ao pé da árvore aonde havia sido arremessado e tomando aquela massa fofinha e branca em suas mãos.

Tio Young-woon que estava tão desorientado quanto eu, custou a acreditar que aquilo fosse mesmo neve, mas ao meio de todo aquele branco que cobria uma área de aproximadamente vinte metros estava Pedro desacordado. O líder foi o primeiro a correr em direção ao mais novo, porém quando tentou pegá-lo nos braços, ele recuou surpreso.

– O que aconteceu com ele? - perguntou tio Young-woon afobado e parando as costas do líder.

– Ele está extremamente frio – respondeu o mais velho tocando suavemente a bochecha rígida e pálida do menor, mas rapidamente recuou a mão reclamando do frio. Da pequena escadaria da varanda de onde eu observava aos mais velhos inerte, recebi o olhar apreensivo de tio Jung-su - Vá buscar um cobertor! - ordenou o líder.

Sem pensar duas vezes atravessei a varanda branca pela neve e corri para o quarto do mais velho. Quando voltei ao térreo, tio Jung-su adentrava a sala com o menor em seus braços e reprimindo uma careta de dor.

– Coloque-o no sofá – pediu tio Young-woon tomando o cobertor de minhas mãos e o esticou no estofado, enquanto eu apenas observava Pedro, que imóvel e de lábios bem arroxeados, parecia nem estar respirando.

Rapidamente tio Jung-su o cobriu com o que restava do cobertor e o levantou pousando-o sobre seu colo. Ele abraçou ao menor em uma tentativa de esquentá-lo.

– KangIn... - começou o líder, mas balançou a cabeça negativamente - Chamem o Heechul, talvez ele consiga elevar a temperatura do Pedro - pediu o mais velho com seu rosto colado ao pálido rosto de Pedro e esfregando lhe os braços por cima do cobertor.

Eu e tio Young-woon nos entreolhamos pensativos, mas um barulho vindo da cozinha, nos fez correr para a mesma. Um dos prováveis cômodos preferidos do tio Heechul, se encontrava em estado deplorável. As panelas, talheres e pratos estavam espalhados pelo chão, os copos de vidro estavam em sua maioria, quebrados, os alimentos tanto dos armários como da geladeira estavam jogados pelo local. Era como se um furacão tivesse bagunçado a cozinha inteira, mas o culpado estava largado ao lado dos armários com quatro garrafas de vodka vazias ao seu redor e uma pela metade em sua mão.

– Tio Heechul!?!? - exclamei pasmado.

– Omo! Levante-se daí! O Pedro precisa de você – ordenou o vidente se corroendo de raiva, provavelmente por tio Heechul ter acabado com todas as suas garrafas de vodka. O segundo mais velho que parecia não notar nossas presenças, encarrou tio Young-woon com os olhos semicerrados e abriu um sorriso maroto enquanto tentava se levantar – Aish! - resmungou o vidente agarrando fortemente ao braço do mais velho e o levantou – Você é uma vergonha para nós, se o Pedro não precisasse de sua... - era muito estranho ver tio Young-woon do outro lado da mesa, em vez de levar uma bronca, ele estava dando uma, mas ele se calou quando tio Heechul fez sinal com o indicador pedindo-lhe silêncio.

– Olha Young-in, eu sei que você me querer – disse o mais velho mandando ao fim um beijo no ar para o vidente e soltou-se dele em meio a um sorriso maroto.

Junto ao beijo do tio Heechul, tio Young-woon paralisou completamente, até seus olhos ficaram vidrados na pia, mas não tive tempo de socorrê-lo, pois o líder gritou pedindo que fossemos mais rápidos. Embora cambaleando, guiei o tio afeminado até a sala, onde ele parou ao lado do sofá e observou a Pedro com os olhos semicerrados.

– Então este é o Predo? Eu vou aquecê-lo – disse o mais velho soluçando e estralou muito mal os dedos da mão esquerda, antes mesmo que o líder mandasse que se afasta-se devido ao seu estado de embriagues, mas ao invés de atear fogo ao menor como eu imagina, uma cópia sua saiu da lateral esquerda de seu corpo – Ai! Mas quem é você? - perguntou ele semicerrando os olhos para sua cópia também, mas ao ver a beleza do desconhecido, ele sorriu – Ui! Com toda essa beleza, você pode ser só minha – disse ele esticando seus braços para a cópia, que diferente dele estava sóbria e com medo de seu criador, saiu correndo.

– Eu vou trazer água quente e panos limpos para colocar na testa do Pedro – falei observando ao tio Heechul correr pela sala atrás de sua cópia desesperada.

Tão assustado e confuso quanto eu, o líder apenas assentiu com a cabeça. Quando cheguei à cozinha, me encontrei com tio Young-woon, que muito eficiente, já leva a panela com água fervente e carregava um pano de prato limpo no ombro.

– Vamos precisar disso – foi tudo o que ele me disse sério, e seguiu com os olhos voltados para a panela fumegante até onde o mais velho e o mais novo se encontravam.

Quando o menor abriu os olhos, após diversas compressas de água morna, tio Jung-su o abraçou com força e agradeceu aos céus pela recuperação do menor que não entendia muito bem o porquê do alívio do maior.

– Oh! O que aconteceu? Você matou o tio KangIn? - perguntou o menor ainda aninhado nos braços do líder.

– Claro que não, e se você não tivesse nos interrompidos, eu teria dado uma surra no hyung – retrucou o vidente com um sorriso brincalhão.

O sorriso abriu-se nas faces presentes, era uma alegria ver que Pedro estava bem, mas ainda havia algo pendente. Tio Jung-su pediu ao vidente que não se preocupasse mais com a temperatura da pele de Pedro, que estava por volta de trinta e quatro graus, pois eles precisavam resolver algo e esse algo misterioso, acabava de passar correndo atrás de uma pessoa idêntica a ele.

– Fique com ele – pediu Leeteuk fitando a mim e saiu acompanhado de tio Young-woon.

A resposta a suas atitudes, vieram logo depois com um tio HeeChul muito obediente e de cabelos bagunçados que tomava um copão gigantesco de café, eu só não fazia ideia de onde aquele copo tão grande havia saído.

– E assim que terminar o café, você vai limpar toda a bagunça da cozinha! - ordenou o líder sério e voltou-se para Pedro com um sorriso gentil – Você quer comer alguma coisa? Quer assistir TV? O que quer fazer?

– Eu estou bem líder, não se preocupe comigo... E o que houve com o tio Heechul? Está tudo bem hyung-nim? - perguntou o menor passando seus olhos da face irritada de tio Young-woon para a face inquieta de tio HeeChul.

– Nunca fique bêbado perto do YoungWoon, ele vai te afogar com rajadas de água se você fizer isso, mas não se preocupe, eu estou... Bem – retrucou o afeminado parecendo mais um paranoico do que o arrogante e estilo tio Heechul.

Aquela fala não me era estranha.

P.O.V – KyuHyun off


P.O.V – HeeChul on

Depois de todo o ocorrido, eu me sentia o mais inútil dos homens, mas pior do que isso, eu me sentia envergonhado na presença de Young-woon. Tantas vezes eu havia lhe dado broncas por beber mais do que aguentava e eu havia feito a mesma coisa que ele. Por mais que eu quisesse culpar a maldita troca de poderes, eu sabia que se fosse forte o suficiente não teria me rendido ao álcool daquela forma, mas agora estava feito, não me restava outra escolha, a não ser arrumar a bagunça da cozinha.

Após lavar todos os pratos, talheres e panelas que estavam espalhados pelo chão, arrumar toda a comida em seu lugar exato e recolher todos os cacos de vidros, varri todo o chão e depois passei um pano não só no piso, como nos armários e no balcão. Quando terminei, meu braço parecia que ia cair. Fazer trabalhos domésticos até que era divertido, mas quando se tratava de pouca coisa, pois naquele momento eu queria deitar e morrer.

Por fim tomei um banho frio e vesti uma camiseta branca e de longas mangas que Jung-su hyung havia me emprestado e uma calça moletom cinza. Não era o melhor jeito de se vestir, mas tudo o que eu queria era me encolher em um canto e não ouvir nada mais além da minha respiração.

Com Jung-su, Kyuhyun e Donghae entretidos na cozinha recém limpa, fazendo ou pelo menos tentando fazer o almoço, fui até a varanda e apoiei meus braços do parapeito de madeira. A grama estava molhada pela neve derretida que Donghae havia produzido, o que era espetacular, mas qualquer um evitava falar sobre o assunto por saber de sua repulsa pela habilidade.

O cronograma do líder havia ido para o espaço e assim era possível ouvir algumas risadas vindas da cozinha, mas o que chamou minha atenção foram os passos vindos da sala. Tentei ignorar e continuar observando a floresta, mas KangIn pigarreou alto, me obrigando a olhar para trás, mas sem me desencostar do parapeito.

– O que você quer Young-woon? – perguntei de modo indiferente.

– Eu lhe avisei que o álcool era por causa da pirocinese... - disse o dongsaeng irritante parando ao meu lado, mas apenas pousou suas mãos no parapeito ficando mais alto do que eu – Mas não era sobre isso que eu gostaria de falar com você...

– Sobre o que então? – minha paciência para os mistérios de Young-woon não estava nem um pouco grande, ainda mais depois da vergonha que eu sentia dele.

– Sabe hyung, eu sempre quis entender o motivo da nossa briga. Desde o primeiro momento você implicou comigo, me olhou de cima a baixo com desprezo, enquanto eu estava apenas assustado demais com a ideia de ter outros mutantes para reagir a suas provocações.

– Eu nunca lhe tratei mal dongsaeng – respondi em meio a um sorriso torto – Apenas não gostava muito de suas roupas, de seu jeito e principalmente de sua história. Eu não conseguia me ver amigo de um garoto de rua, mas rapidamente descobri o cara especial que você é, e tentei reverter isto, mas foi você que começou a me esnobar – finalizei arrumando minha postura, ficando como Young-woon.

– Acho que somos muito infantis – refletiu o mais velho fitando a grama junto a um sorriso bobo e se afastou do parapeito – Mas você é legal com todas as suas particularidades, eu realmente gosto de você hyung, e gosto mais ainda de implicar com você.

– Omo! Como pode ser tão mal? - questionei em meio a um sorriso e parei de frente como mais novo.

– Como você consegue ignorar a parte do 'eu gosto de você', mas presta atenção no ‘implicar com você’? Qual o seu problema comigo? É algo que eu te fiz ou é pessoal mesmo? - perguntou o mais velho se aproximando de mim. As pontas de seus dedos tocaram os meus de tão próximos que estávamos, nossas respirações prevaleceram como o único som por uma fração de infinitos segundos. Young-woon até ensaiou erguer sua mão para me tocar, enquanto observava as mechas do meu cabelo que caiam sobre a face, mas acabou desistindo.

– Eu te odeio – disse tocando suavemente a face macia de Young-woon, enquanto um sorriso tímido delineava meus lábios.

– Eu também te odeio – respondeu o maior abrindo um torto sorriso e tomou minha cintura em suas mãos. Sem qualquer tipo de resistência de minha parte, ele me puxou para si.

Nossos lábios se encontraram em um terno e delicado beijo. A mistura de sentimentos explodindo dentro de mim era tantos, que eu mal sabia o que estava fazendo, apenas movi meus lábios, acompanhando ao mais novo. Quando me separei do maior, custei a abrir os olhos, completamente extasiado em seus braços e com aquele beijo. Um sorriso um tanto bobo e aéreo não saia de minha face, mas quando abri meus olhos, sorrindo como uma criança boba, vi que YoungWoon limpava os lábios com o dorso da mão direita e exibia uma expressão fria.

– Nossos poderes voltaram ao normal – foi tudo o que ele me disse com sua voz áspera e se esquivou de mim caminhando em direção à sala do sobrado.

Senti a respiração falhar e meu corpo tremer involuntariamente. Meus olhos lutavam para não se tornarem úmidos, mas era tão difícil. Tremendo sem parar, ergui a mão direita e espalmei-a para cima. Respirando pesadamente, desejei água, fazendo com que milhares de gotículas daquele elemento tão precioso saíssem do centro da palma da minha mão e formassem uma bola consistente no ar. Cerrei a mão de uma vez, fazendo com que a água tornasse vapor em questão de milésimos e sai correndo e chorando em direção à floresta.

P.O.V – HeeChul off