Depois de meia hora escutando o choro insistente de Pedro, Leeteuk finalmente se rendeu ao mais novo e sentou ao seu lado no gramado. Heechul estava ensinando algumas receitas saudáveis para Siwon na cozinha, enquanto eu observava ao mais velho e ao mais novo da varanda.

– Tudo bem Pedro, me desculpe, eu não devia ter te batido sem motivo... – então com motivo ele podia bater no mais novo? Pensei semicerrando os olhos, enquanto o líder levava calmamente sua mão esguia até os cabelos do menor – Agora por favor, pare de chorar, eu não gosto de vê-lo triste assim.

– Você está arrependido? – perguntou Pedro em meio a soluços.

– Estou, estou muito arrependido e antes que pergunte eu lhe digo, estou arrependido porque por mais irritante e mimado que você seja, eu gosto de você e você já deveria ter percebido isso – retrucou o hyung, abrindo um torto sorriso em seus lábios, ainda acariciando os cabelos do dongsaeng.

– Então eu faço parte do grupo? - perguntou Pedro sentando-se no gramado e abrindo um enorme sorriso para o mais velho.

– Coloque-se em seu lugar – retrucou o líder sério, se erguendo arrogante do chão.

– Mas eu pensei que você gostasse de mim – argumentou Pedro levando-se apressado atrás do hyung.

– Gostar de você não significa que pode entrar para o grupo.

– E quando poderei entrar?

– Quando deixar de ser tão imaturo talvez você possa entrar – falou o líder daquele modo arrogante, fazendo um bico crescer nos lábios do menor, mas ao notar que estava sendo imaturo, Pedro desfez o bico e mordeu o lábio inferior pensativo.

Leeteuk passou por mim sério e entrou no sobrado, mas Pedro sentou no degrau do meio da curta escada da varanda e abraçou as próprias pernas. Seu olhar se perdeu na floresta e de alguma forma eu gostaria de saber o que o mais novo pensava. Observando-o sobre aquela perspectiva, ele parecia tão frágil e inocente e talvez aquelas palavras resumissem mesmo o seu estado, afinal, Pedro só possuía doze anos, o que do mundo ele poderia conhecer? Mas havia algo nele que me dizia que não, que ele não era tão frágil, muito menos inocente quanto parecia.

– Tio KangIn – chamou o menor sem tirar os olhos da floresta, mas arrancando-me bruscamente de meus pensamentos – Onde está o Simão? – perguntou o menor com aquela voz fina e baixa com aspecto tão infantil, que confrontava meus pensamentos quanto ele não ser tão inocente como parecia.

– Está com a Cinderela – respondi sem dar grande importância, mas voltando a ser acolhido pelo silêncio, senti-me incomodado. Era como se o vazio houvesse tomado conta do lugar e tentando preencher esse vazio, questionei ao mais novo – Por que quer saber do Siwon?

– Por nada – respondeu o mais novo passando os olhos desconfortavelmente pelo gramado.

– Omo! Como por nada? – perguntei recebendo o silêncio como resposta. Após ser ignorado, semicerrei os olhos pensando em algo realmente maligno e fitei ao menor que estava imóvel na varanda – Pedro! - ele apenas moveu a cabeça em minha direção – Vá à cozinha e pegue uma garrafa de vodka para mim – ordenei em tom sério.

– Hã? – perguntou o mais novo finalmente pousando aqueles amendoados olhos, agora vermelhos, em minha face – Você continua bebendo tio Kangin? Pensei que havia parado – disse o menor daquela forma descontraída e inocente.

– E por que acha que eu pararia de beber? – retruquei de forma arrogante – Eu fiz mesmo foi um estoque de bebida na cozinha do Leeteuk, agora vá de uma vez e traga uma garrafa para mim.

Pedro suspirou pesadamente, de modo muito estranho, e se ergueu da escada. Sem contestar, ele entrou no sobrado e seguiu em direção a cozinha. Não sei exatamente o porquê de tanta bondade, mas quando o vi se aproximar da entrada do cômodo gritei pelo nome da Cinderela.

– O que foi YoungWoon? – gritou a Cinderela de volta.

– Venha aqui! – retruquei aos berros.

Pela sua falta de resposta, conclui que ele estava vindo, e como esperado ele apareceu na porta da casa resmungando e secando as mãos com um pano de prato.

– O que foi Youngwoon? – perguntou o hyung afeminado me espreitando com uma careta entediada e impaciente.

– Nada não, só queria deixar o Pedro e o Siwon sozinhos. Acho que o Pedro quer conversar com ele sobre algo importante e com você ali no meio não daria muito certo. Então sente ai e aproveite a brisa – falei indicando os poucos degraus.

– Aigo! Como você pode ser um dongsaeng tão ingrato? – falou a Cinderela indignado – Levante-se e deixe a cadeira para o seu hyung.

– Você também não está querendo nada né Cinderela?

– Sai logo – ordenou o mais velho de modo autoritário, mas com ele, ser teimoso tornava as coisas divertidas.

Recusei-me a levantar e iniciamos uma discussão sobre quem deveria ocupar o lugar. Naturalmente o hyung tinha direito por ser um hyung, mas ele não era lá um hyung muito bom comigo, então eu tinha todo o direito de negar, mas Heechul era sempre tão antiquado e irritante, que não podia humildemente sentar na escadaria e enquanto nossa discussão se desenrolava, provavelmente outra acontecia na cozinha.

P.O.V – KangIn off


P.O.V – Siwon on

– Heechul hyung, como tem tanta paciência para cortar todas essas coisas? – perguntei entediado de ficar cortando, ou pelo menos tentando cortar, as cenouras em tiras finas e retangulares.

– É relaxante Siwon, só corte mais fino e reto – recomendou o hyung me fitando com o cenho franzido. Isso porque eu estava dando o meu melhor para manter a linha imaginaria que ele havia me orientado, mas passavam dois dedos do início do corte e minha linha ficava cheia de curvas e desvios.

Escutei passos vindos da sala e a imagem de Pedro surgindo na porta, coincidiu com o grito de KangIn, chamando pelo Heechul hyung. O mais velho ainda relutou em ir, mas acabou cedendo, por não aguentar os gritos de KangIn hyung. Sozinho com Pedro, parei por segundos para observá-lo. Ele parecia distante e seus olhos estavam inchados e vermelhos por causa de seu longo choro. Era estranho vê-lo de tal forma, ainda mais depois de ter ouvido o líder pedir desculpas, mas preferi o silêncio.

– Onde está? – perguntou o mais novo em um sussurro para si mesmo, verificando as prateleiras. Franzi o cenho observando-o se esticar ao máximo para ver as prateleiras, mas elas estavam altas demais para que funcionasse, e tendo certeza que nada seria mais entediante do que cortar cenouras, caminhei sorrateiramente até o mais novo.

– O que está procurando? – perguntei de uma só vez, fazendo Pedro pular pelo susto. Ele arfava quando seus olhos pousaram em minha face, arfava e apoiava a mão no coração – Vai dizer que não me viu cortando as cenouras? – perguntei levemente incomodado. Além de errar meu nome, agora ele não notaria minha presença?

– Oh, não... – disse ele em tom baixo, levando os olhos para o chão, deixando-me indignado. Como não? Pensei franzindo o cenho, mas sua expressão desligada e tristonha fez-me pensar bem antes de falar.

– Mas diga-me, o que está procurando? – ignorar era melhor do que repreender ao mais novo no estado em que ele estava.

– Sabe Simão, por mais que eu não faça parte desse grupo, eu tenho apenas doze anos e sou um garoto muito curioso e às vezes descubro as coisas sem querer e uma delas que descobri, me fez refletir bastante, ainda mais depois que eu fiquei perdido em Seoul...

– Aonde quer chegar? – perguntei aproveitando-me da curta pausa que o menor fez.

– Sabe Simão... – seus olhos pequenos e marejados fitaram minha face de modo piedoso – Eu não o culpo por ter matado sua mulher – falou Pedro me deixando mudo pela surpresa. De onde ele havia tirado aquilo? Pensei tentando falar, mas as palavras estavam presas na garganta – Se não quiser falar sobre isso comigo, tud...

– De onde tirou isso? – perguntei com a voz esganiçada, interrompendo ao menor.

Ela apareceu em um sonho meu e pediu que eu dissesse a você que ela agradece por tê-la matado, então confesso que no início pensei que havia sido um acidente, em um acesso de raiva, havia acontecido, mas depois eu refleti melhor e cheguei à conclusão que você precisou matá-la, senão ela não agradeceria, não é mesmo? – e um sorriso torto, mas extremamente irritante, se formou nos lábios do menor.

– Olha Pedro, não sei como você descobriu isso e estou me segurando bastante para não bater a sua cabeça no armário, então antes que eu lhe mate, deixe-me explicar algo a você, mas preste atenção que essas serão as últimas palavras que você escutará: Eu não matei minha esposa – falei tremendo involuntariamente, enquanto realmente lutava para não afundá-lo no armário.

O menor arregalou os olhos e recuou sutilmente. Ele parecia tão frágil e indefeso, que pedi encarecidamente que Heechul hyung aparecesse e salvasse ao mais novo antes que eu agarrasse aquele pescoço fino, mas como não havia som algum anunciando a chega de alguém, qualquer pessoa que fosse, voltei meus olhos para baixo e balancei minha cabeça negativamente, tentando afastar meus pensamentos mais sórdidos. Havia um trecho da conversa de Leeteuk com o menor que eu concordava plenamente, que havia sido no momento em que ele disse que por mais irritante e mimado que o Pedro fosse, ele gostava dele, e assim como líder sério e protetor, eu também gostava do Pedro e isso significava protegê-lo e não indicá-lo o caminho mais rápido para o fim. Voltando a fitar a face do menor, levei minhas mãos a sua fina cintura. Ele tentou escapar, mas o segurei em meus braços sem dificuldade e o sentei em cima do balcão para que ficássemos com alturas parecidas.

– Você anda jogando um jogo muito perigoso descobrindo coisas que não devem ser descobertas – falei de modo sério, apoiando minhas mãos no balcão, como forma de intimidar ao mais novo, que pela careta assustada que fez, tive certeza que havia alcançado meu objetivo – Então se você descobrir uma dessas coisas que não devem ser descobertas, aja como se nada houvesse acontecido para sua própria segurança – disse ainda de modo aterrador, fazendo o mais novo concordar novamente inúmeras vezes com a cabeça. Vendo que havia conseguido o que queria, me afastei do mais novo e fitei ao chão. Eu não queria contar aquilo para ele, pelo menos não ainda, mas para não restar dúvidas em sua mente fantasiosa, pousei meus olhos calmamente em sua face assustada e puxei o ar fortemente pelas narinas – Eu realmente tive uma esposa que faleceu, mas aconteceu em um acidente de carro e eu com meus inúmeros poderes e habilidades não fui capaz de salvá-la - disse de modo tristonho voltando os olhos para o chão, aquela lembrança fazia-me sentir um perfeito inútil. Nenhum dos meus sete poderes, incluindo a imortalidade, haviam sido úteis para salvá-la e isso me doía muito.

– Então você não teve nada haver com o acidente? - perguntou Pedro aproximando-se da ponta do balcão e inclinando-se de modo curioso, completamente diferente do garoto assustado de segundos atrás. Por segundos meus olhos buscaram os seus, tentando descobrir o que se passava naquela mente juvenil, mas minha cabeça voltou a pender para baixo, evitando encarar aqueles olhos furtivos, que não deixavam nada escapar. Pedro era como uma criança de quatro anos querendo sempre saber o porquê de tudo.

– Eu estava dirigindo – disse de modo frio e rígido, deixando as palavras correndo soltas pelo ar. Mesmo estando de cabeça baixa, notei os movimentos do menor cessarem, ele devia estar em choque. Se aquilo não fosse tão difícil para mim e lhe contaria mais, mas a dor da perda havia sido tão profunda, que mesmo anos depois, eu não havia superado completamente.

Senti um nó se formar na minha garganta e meus olhos marejarem acompanhado de um toque. Uma mão infantil havia tocado meu ombro esquerdo e segui pelo braço até chegar à face de Pedro, que me observava tristonho.

– Eu sinto muito Simão – disse o menor saltando do balcão e me abraçou.

Não sei ao certo quanto tempo durou aquele abraço, muito menos o que ocorreu a nossa volta enquanto estávamos abraçados, eu só sabia que precisava daquele abraço. Apertei o menor contra o meu peitoral e quando o soltei senti que minhas bochechas estavam molhadas e rapidamente tratei de secá-las. Quando fitei novamente a face de Pedro, ele ostentava um sorriso.

– O que estava fazendo com o Heechul hyung antes de eu chegar?

– Por que não me trata por hyung? Eu também sou seu hyung – falei crescendo o lábio inferior, formando um leve, pequeno e mimoso beicinho de criança pequena, mas ao perceber a risada que Pedro tentava conter, parei com o drama e o puxei pelo pulso até o outro lado do balcão onde estavam a tábua e os vegetais - O Heechul hyung estava me ensinando a fazer comidas saudáveis para quando... Não sei ao certo e ele também não admitiu, mas acho que ele acha que será melhor você passar uma temporada morando comigo.

– Por quê? - perguntou o maknae instantaneamente.

– Porque ele acha a casa do líder muito longe do apartamento dele, e ele também é muito compromissado para cuidar de você e como KangIn não tem casa... Não que eu seja a última opção, longe disso, mas é que no final resta apenas a mim, ainda mais considerando que por causa da minha idade estou dando um tempo na minha carreira de modelo, podendo ficar mais tempo em casa com você para ensiná-lo a ler e treiná-lo. Heechul ainda tem o sonho de colocá-lo em uma escola junto de coreanos comuns, ele não quer que você perca sua infância e juventude trancafiado em um sobrado no meio do mato.

– Mas eu pensei que ser modelo nada tinha haver com a idade, apenas sim com beleza – retrucou Pedro ignorando totalmente o meu discurso sobre ser um garoto normal e focando-se apenas em um ponto sem grande importância. Sempre tão inconveniente.

– Na verdade você está certo, pouco tem haver com idade, mas é que modelos normais quando chegam a minha idade, não tem uma pele tão maravilhosa quanto a minha e se eu continuar fazendo comerciais, ensaios fotográficos e desfilando para grandes grifes famosas como antes, logo descobririam que não passo um monte de maquiagem para ir aos ensaios fotográficos e isso poderia ameaçar a vida não só dos diferentes como dos incomuns. As pessoas não estão prontas para um evento dessa magnitude, não ainda – expliquei esquecendo-me completamente do significado da palavra 'humildade' e obviamente, Pedro tinha que perceber isso.

– Pele maravilhosa? - perguntou ele soltando uma baixa e abafada risada.

– Eu posso até não ter uma pele super macia como o do Heechul hyung, mas eu também me cuido, até porque sendo modelo, a aparência é o que mais conta, aparência e carisma.

O menor riu, mas acabou se oferecendo para me ajudar a deixar tudo cortadinho para quando o Heechul voltasse, ele tivesse uma surpresa, mas ensinar algo que eu não dominava para outra pessoa, era extremamente difícil. Pedro estava fazendo bem, até que sem mais nem menos levou a mão à testa acompanhada de uma careta de dor que rapidamente ele se pôs a reprimir.

– Está tudo bem? - perguntei preocupado.

– Sim – respondeu ao mais novo ainda reprimindo a careta de dor e levou a mão direita de volta a faca, mas ele estava tão desorientado, que ao invés de segurar no cabo, acabou segurando a lâmina afiada. Ainda chamei seu nome, tentando de alguma forma avisá-lo, mas era tarde demais.

Pelo grande corte na palma de sua mão começou a escorrer bastante sangue, o suficiente para desesperar completamente ao mais novo, que começou a gritar pelo nome do líder. Eu tentava levá-lo até pia quando Leeteuk apareceu correndo. O hyung estava tão preocupado que praticamente me empurrou para que chegasse ao menor.

– Por Deus Pedro! - exclamou o curandeiro oficial do grupo e puxou Pedro até a pia sem ao menos pedir seu consentimento.

Após ser curado, Pedro não voltou a me ajudar. Ele simplesmente acomodou-se no sofá e ficou ali quietinho, sem ao menos fazer barulho ao respirar. Heechul e KangIn ficaram me encarando com caretas assustadas, provavelmente pensando que eu havia sido o causador do machucado de Pedro, mas também não me importei, pelo menos uma vez eu teria um pouco de paz naquela casa movimentada. E a tarde seguiu em seu ritmo lento e monótono.

Depois do jantar, Heechul foi para o seu apartamento, mas eu acabei ficando por dois motivos: Primeiro eu evitava dirigir de noite e segundo Pedro estava em estado febril. Aquela febre veio de modo repentino e com o passar dos minutos apenas piorava. Como um bom médico, Leeteuk lhe deu um antitérmico e presumiu que era uma virose qualquer de verão, já que ele não estava com a garganta inflamada, mas seu estado de palidez não era bom sinal e o menor não parava de transpirar, reclamar de dores pelo corpo e sentir calafrios. Quando minhas pálpebras não aguentaram mais e finalmente adormeci, sua temperatura estava por volta dos quarenta graus.

Acordei pela manhã na enorme e solitária cama do líder. O colchão era tão macio e todo aquele espaço tão confortável, que eu não queria me levantar, mas ao me lembrar de Pedro, saltei da cama e corri para o seu quarto. Como era de se esperar, ele estava dormindo com o líder e sua pele havia voltado ao tom normal. Ele não mais transpirava e aparentava estar bem, só que para ter certeza, me aproximei sorrateiramente e toquei sua pele. Rapidamente abracei minha mão assustado e recuei. A pele de Pedro estava tão fria quanto de um cadáver. Ele não podia ter morrido ou podia? Pensei sentindo a respiração falhar e o coração acelerar. Completamente desorientado, corri para a primeira pessoa que poderia me ajudar em uma situação como aquela: KangIn hyung.

Ele dormia tranquilamente, todo espalhado na cama, quando invadi seu quarto afobado e o joguei no chão. Minha real intenção era apenas agitá-lo até que ele acordasse, mas com o desespero no qual eu estava, um puxão foi o suficiente para que ele caísse no piso frio. O mais velho grunhiu algo e voltou sua face sonolenta para mim, sem que abrisse totalmente os olhos, mas sem tempo para esperar que ele se levantasse, o agarrei pela camiseta e o coloquei de pé.

– O que foi Siwon? – perguntou ele de mau-humor, sem ao menos imaginar do que se tratava o meu desespero.

– O Pedro, ele não está bem... Acho que ele morreu – dei a notícia assim mesmo, sem prepará-lo e sem conseguir respirar direito. E os olhos de KangIn que até enquanto fugiam da luz, abriram-se enormemente, acompanhando de um longo e alto questionamento.

– O que você disse? – berrou ele nos meus ouvidos, mas rapidamente o repreendi, pedindo que falasse mais baixo.

– Aigo hyung! Não quero acordar ao líder, se ele descobrir que o Pedro mo... Venha comigo, quero te mostrar algo – e rapidamente o puxei até o quarto de Pedro.

O hyung estava confuso com toda aquela história e embora tenha ficado receoso quando pedi que tocasse Pedro, ele parou ao lado no menor e levou a ponta de seus dedos delicadamente até a pele gélida do maknae. Instantaneamente ele trouxe o braço para si, arregalando aos olhos.

– O que foi? O que foi? – perguntei completamente afoito, esquecendo-me até mesmo de Leeteuk, que dormia tranquilamente com Pedro em cima de seu peitoral e seu braço direito por cima das costas do menor.

– Ele está mesmo gelado... – falou KangIn engolindo em seco.

Meus movimentos paralisaram por completo e quando pensei que não poderia ficar pior, o hyung começou a chacoalhar ao menor, gritando para que ele acordasse, e realmente funcionou, mas ele acabou acordando ao líder. Em um piscar de olhos, KangIn hyung estava escondido atrás de mim chamando ao menor de zumbi. Percebendo ou não nosso medo, Pedro abriu apenas um olho e nos observou. Muito contra vontade ele se afastou do líder e coçou sua cabeleira bagunçada. O líder fez uma careta sonolenta e olhou em volta sem abrir totalmente os olhos, que precisavam se acostumar com a claridade. Nos encontrando acuados no quarto, ele fez menção de se levantar, mas paralisou diante de uma careta de dor e levou a mão ao peitoral onde segundos antes Pedro estava deitado.

– Oh My God! O Pedro zumbi rouba a força vital das pessoas pelo abraço! – exclamou KangIn desesperado, mas então seus olhos se moveram rapidamente pelo quarto e ele me abraçou tremendo pelo medo - Onde o zumbi está? – perguntou o mais velho sendo o primeiro a notar a ausência do menor.

Corri os olhos rapidamente pelo quarto, mas nada encontrei. Leeteuk franziu o cenho confuso e nos exibiu que contássemos o que estava acontecendo. Como Pedro havia entrado no banheiro, ficamos a sua espera na porta e assim que ele saiu, o líder tocou sua face com ambas as mãos. Como era de se esperar, Pedro estava mais frio que uma geleira e imediatamente o líder o mandou de volta para sua cama. Segundo o termômetro era para Pedro estar sofrendo de hipotermia grave e com sintomas que variavam de inconsciência a imobilidade, mas ele estava perfeitamente bem e fazia questão de dizer isso a nós que tentávamos desesperadamente esquentá-lo. E alguns minutos depois sua temperatura foi gradativamente aumentando até se estabilizar nos trinta e seis graus celsius.

KangIn estava assombrado com Pedro. Leeteuk estava convencido que se tratava de algum novo poder relacionado ao corpo, como evolução reativa, que era a habilidade de adaptar seu corpo a qualquer ambiente ou ocasião, ainda mais considerando que o menor estava com febre antes de seu corpo super resfriar. Na minha visão aquilo era algo comum para um diferente, enquanto Pedro não fazia idéia do que estava acontecendo com ele.

Depois de muito insistência de KangIn, Leeteuk aceitou treinar Pedro no meio da manhã para tentar liberar um pouco mais daquele seu poder secreto, mas desde o início ele deixava bem claro que acha pouco provável que aquilo daria certo, por não saber exatamente que tipo de treinamento aplicar.

– Não se preocupe em tentar fazer algo extraordinário, tudo bem Pedro? – perguntou o líder parando no meio do gramado na companhia do menor que fazia um pequeno bico com seus lábios.

O maknae apenas assentiu com a cabeça e encarou ao chão desanimado. Leeteuk que era sempre impiedoso e centrado durante os treinos, pela primeira vez fraquejou. Observando ao menor, ele apoiou o taco de beisebol no chão e voltou seus olhos para KangIn.

– O que eu faço? – ele perguntou exibindo sua face completamente desorientada.

– É tão simples – respondeu o hyung erguendo-se de sua costumeira cadeira de balanço e repousando o jornal sobre a mesma. Com passos largos, ele parou ao lado do líder e chamou por Pedro. Vagarosamente o menor ergueu seus olhos até a face do hyung – Atenha-se a isso – falou KangIn fazendo um brusco movimento com a mão direita.

Seu movimento foi tão rápido e tão brilhante, que não deu tempo de fazer nada. Nem mesmo Leeteuk, que estava ao lado dele, foi capaz de pará-lo. Ele lançou uma forte chama no menor, que foi muito ágil em cobrir a face com os antebraços, mas acabou se desequilibrando e caiu de costas no chão.

– Ahhhh! – gritou Pedro assim que o fogo cessou, observando aos braços, que na região que havia ficado exposta estava com queimaduras enormes – Ahhhhh! – gritou ele novamente fitando ao KangIn e gritou uma terceira vez ao fitar seu antebraço que estava terrivelmente com a carne exposta.

– Por Deus KangIn! O que estava tentando fazer? – esbravejou o líder, enquanto eu corria ao auxílio de Pedro, que não parava um segundo sequer de gritar. KangIn engoliu em seco e recuou lentamente.

– Acho que exagerei.

– Pedro, Pedro, acalme-se – pedi parando agachado ao lado do menor.

– Deixe-me ver isso – falou o líder colocando-se de joelhos do outro lado do menor, mas ele recuou – Omo! O que é isso? – perguntou o líder indignado – Eu sempre te curo, não vou machucá-lo mais.

– Não, todos vocês querem me machucar – retrucou o menor deixando com que as lágrimas molhassem sua face e abraçando desajeitadamente aos próprios braços, mas tomando cuidado para não tocar na queimadura.

– Engano seu Pedro, queremos apenas te ajudar – retrucou o líder esticando a mão para o maknae, mas ele continuou a recuar – Pedro Assunção! Eu não vou ficar parado enquanto você está com esse machucado exposto – disse o líder levando sua mão aos braços do menor, mas ele virou para o outro se encolhendo em cima dos braços – Pedro! – esbravejou Leeteuk se irritando, mas Pedro continuou a agir de modo infantil até que simplesmente paralisou observando aos braços.

– Está tudo bem? – perguntei abaixando para que ficasse da altura do mais novo.

Lentamente Pedro ergueu seu tronco parando sentado na grama. Seus olhos não saiam de seus braços e mesmo receoso levei meus olhos até o local onde os seus se fixaram. O susto foi imediato.

– Leeteuk, ele é igual a você? – perguntou KangIn absorto ao perceber que o braço de Pedro havia voltado perfeitamente ao normal sem deixar nenhuma cicatriz ou muito menos marca, era como se ele nunca houvesse sido atingido pelo fogo descontrolado de KangIn.