– Omo! Eu não preciso mais do líder – exclamou Pedro animadamente ao se dar conta que sua cura havia se dado devido a um novo poder, mas Leeteuk fez uma careta ofendido.

– Como assim não precisa mais de mim? Por acaso sou algum objeto para você usar e depois jogar fora? - perguntou o mais velho indignado, mas suas palavras fizeram-me franzir o cenho surpreendido, ele parecia mais uma adolescente que havia sido trocada por outra e agora tomava satisfação com o namorado.

– Não líder, é claro que eu preciso de você – retrucou o mais novo de modo fofo, mas Leeteuk não parecia nem um pouco afetado – Só não preciso mais que se preocupe com os meus ferimentos, agora posso me curar sozinho – disse o maknae se erguendo atrás do líder que caminhava irritado para o sobrado.

Leeteuk hyung parou e virou-se para o maknae bruscamente, fazendo-o recuar alguns passos. Seus olhos geralmente inexpressivos estavam semicerrados e demonstravam toda a frustração que ele sentia por aquelas breves palavras que haviam saído da boca do menor em um momento de alegria.

– Não preciso me preocupar com os seus machucados? - questionou o líder mais indignado do que já estava - E quem disse que eu me preocupo com eles? Espero que essa sua habilidade só funcione com coisas quentes e quando você, desastre em pessoa, se machucar novamente vai ter que ir pra Seoul buscar socorro, porque eu não vou te curar – disse o líder um tom mais alto que o normal e se inclinando perigosamente para perto Pedro. O menor se inclinava para trás assustado e sua falta de palavras foi o que o líder precisava para sair resmungando e grunhindo alto.

– Omo! Não seja assim líder – gritou o menor conseguindo voltar a si e saiu correndo para alcançar o mais velho que atravessava a varanda de sua residência.

Troquei olhares com KangIn hyung e me ergui do chão batendo a grama de minha calça xadrez que tinha como cor principal o marrom. Eu podia controlar a terra e me sentir bem em ambientes assim, cercado pela natureza, mas ficar andando por ai com a calça repleta de pedaços de grama era algo que não dava certo.

– Sabe KangIn hyung, não sei se fico feliz por essa nova habilidade do Pedro ou se fico triste – comentei pensativo, projetando meu lábio inferior para fora como forma de um leve beicinho fofo. Fazia tempos que eu não agia assim, de forma tão natural e aquilo sem dúvidas era muito bom.

– Que isso Simão... - KangIn se calou quando meus olhos semicerrados pararam em sua face, ele podia ser meu hyung, mas errar meu nome depois de tantos anos de convivência era pedir para morrer – É uma habilidade muito boa Siwon – disse o mais velho me fitando com um sorriso maroto a adornar-lhe os lábios.

– Mas isso não o torna igual ao líder, a não ser é claro que ele tenha desejado ficar bom, mas pelo seu medo e fuga do Leeteuk, garanto que isso nem se passou por sua cabeça, seu dom deve ser o da auto-regeneração apenas – falei fitando vagamente ao horizonte.

– Seus tecidos se regeneram por vontade própria... Um problema para um suicida – brincou KangIn abrindo um sorriso, mas apenas balancei a cabeça negativamente. O hyung parou de sorrir enterrando as mãos nos bolsos traseiros de sua calça jeans azul – Faltam dois – disse KangIn fitando a floresta, mas ao notar meu olhar confuso sobre sua face, completou – Dois poderes a serem revelados.

– Há sim... São cinco ao todo sem contar a telecinese e imortalidade... - comentei para mim mesmo fitando a grama verde, nem sempre eu fazia uso de todos os meus poderes e nem sempre me recordava de todos eles, mas voltando ao momento presente, pousei meus olhos na face do mais velho lembrando-me de alguém que estava faltando – Temos que avisar ao Heechul hyung.

KangIn revirou os olhos com desdém, mas nem foi preciso ligar para o hyung, pois no mesmo instante meu celular tocou. Em sua voz havia urgência e ele pediu que todos fossem para o seu apartamento. Estranhei um pouco seu tom, que deu ênfase na palavra todos, mas não contestei, simplesmente fui atrás do líder para contar-lhe do pedido de Heechul.


***


Chegamos ao apartamento de Heechul a minutos do horário de almoço e mesmo com o cheiro forte da vodka de KangIn entorpecendo minhas narinas, consegui sentir o aroma da deliciosa comida de Heechul ainda do hall social. Pensei em ir pelo hall de serviço, para diminuir o caminho até a cozinha, mas Heechul hyung era tão sistemático com isso, que preferi caminhar para a porta, que antes mesmo de ameaçarmos bater, abriu revelando Heechul com um enorme sorriso.

– Bom dia! - disse ele segurando a porta para passarmos, mas estranhamente ele barrou Pedro – Você não, você vai socializar com as pessoas do meu prédio e olha que são muitas, vá, vá – disse ele fazendo sinal com as mãos.

– Omo! Como pode me expulsar assim hyung-nim? - perguntou o maknae indignado, mas sendo incrivelmente fofo principalmente ao chamá-lo de hyung-nim enquanto fazia inúmeras caretas fofas.

– Expulsando, agora vá, deixe seus hyungs conversarem - Pedro fez um enorme bico, mas sem hesitar Heechul fechou a porta. Leeteuk, KangIn e até mesmo eu, arregalei meus olhos de modo surpreso, mas segundos depois Heechul voltou a abri-la – Volte daqui meia hora para o almoço e se tentar sair do prédio eu saberei – avisou o hyung espreitando o menor com os olhos e voltou a fechar a porta.

– Por que fez isso? - perguntei confuso. Eu esperava algo assim de Leeteuk que havia passado o percurso inteiro ignorando ao Pedro e suas perguntas insistentes, mas de Heechul aquilo era uma grande surpresa.

– Ele ficará bem, mas vamos ao que interessa – respondeu o mais velho seguindo para a sala de estar e fazendo sinal para que acompanhássemos – Me diga tudo sobre o novo poder do Donghae – pediu ele sentando-se no sofá e colocando uma almofada sobre o colo.

– Você poderia perguntar a ele se não o tivesse expulsado de seu apartamento – retrucou KangIn com um sorriso repleto de cinismo e desdém.

– Alto regeneração – disse revirando os olhos – Se bem que alto regeneração não acaba com febres, muito menos protege o corpo em caso de super resfriamento, não que eu saiba.

– Talvez seja outra coisa ligada ao fogo, ao calor, não acredito que ele possua o dom da alto regeneração, isso é tão injusto – falou o líder fazendo um enorme bico e jogando seu corpo na poltrona defronte com Heechul.

– Por que injusto líder? - questionou KangIn sentando-se no sofá menor – Eu gostaria de ter um dom como esse, da alto regeneração... Imagina só? Se ele levar um tiro e desmaiar, estará sendo curado como se estivesse tendo um sono de beleza, diferente de você que precisa estar muito bem consciente ao entrar em contato com os ferimentos, sendo seus ou não.

– Por isso mesmo é injusto – retrucou o líder ainda ostentando seu beicinho de criança manhosa.

– Mas pense bem Leeteuk – falei me sentando no braço de sua poltrona – Ele não poderá curar outras pessoas como você, você será sempre o nosso anjo, será sempre especial – abri um gracioso sorriso para o hyung em uma tentativa de animá-lo. Embora não demonstrássemos com frequência cada um de nós se importava com o outro independente de brigas e discórdias. Sempre seriamos uma grande e complicada família.

O líder abriu um torto sorriso.

– Vocês repararam que essa é a terceira coincidência que acontece? – perguntou Heechul com os olhos voltados para a mesa de centro – É o terceiro poder que o Donghae copia de um de nós, então tecnicamente só falta ele ter um poder semelhante há algum dos meus.

– E quem disse que ele tem um poder semelhante ao meu? – retrucou KangIn rapidamente franzindo ao cenho.

– Omo! Como não percebeu a semelhança? O primeiro poder que ele descobriu, a intangibilidade, é muito semelhante a um poder seu – respondeu o mais velho, mas mantendo todo o mistério no ar provavelmente por saber que KangIn não era o mais esperto dos quatro e obviamente ele não perderia uma oportunidade de jogar com isso.

– A super velocidade? – perguntou KangIn confuso – Olha Cinderela, eu já ouvi falar de pessoas super velozes que conseguem atravessar a matéria sólida, mas eu não consigo esse tipo de proeza – disse o outro hyung pensativo, levando momentaneamente a garrafa de vodka aos lábios para sorver aquele líquido incolor e de cheiro forte.

– Não a super velocidade, estou falando da visão de raio X – retrucou Heechul revirando os olhos com arrogância e desprezo, fazendo KangIn desistir de sua bebida e tampá-la para mais tarde – Você consegue atravessar qualquer tipo de sólido com sua visão, não é mesmo? – perguntou Heechul observando a KangIn.

– Teoricamente...

– Então, com o Donghae acontece algo semelhante, só que em vez de ser apenas a visão, ele consegue atravessar a matéria com seu corpo inteiro. Os dois são intangíveis de formas diferentes, assim como ele e Siwon são protegidos por um escudo invisível, e se por um acaso algo o atingir, ele consegue se regenerar como o Jung-su... Está tudo ligado.

– Se soubéssemos quem é o pai do Pedro ou pelo menos se sua mãe ainda estivesse viva, poderíamos perguntar algo sobre sua origem ou até mesmo infância, porque essas coincidências não são normais, não em diferentes – falei coçando suavemente ao meu queixo. As palavras de Heechul faziam um sentido tão terrível que eu começava a temer o que viria depois.

Embora distraído, passei os olhos pela face de Heechul e notei que ele estava desconfortável com algo que eu havia dito, mas antes que eu conseguisse lhe perguntar o porquê de tal mudança repentina, ele respondeu com certeza dificuldade.

– A mãe do Pedro não seria de grande ajuda.

– Por que não? Como pode ter tanta certeza? – perguntou KangIn desconfiado.

– Quando estávamos no aeroporto eu previ que Jung-su salvaria sua vida, mas mesmo assim ela impediria que trouxéssemos o Pedro conosco... Por isso impedi que o Jung-su a salvasse quando ela foi atingida por Chae-rin – completou Heechul um tom mais baixo que o normal, passando os olhos vagamente pelo chão.

– Omo! Como você foi capaz de deixar a mãe do Pedro morrer? – questionou KangIn indignado.

– Há muito tempo eu venho fazendo escolhas difíceis para o bem maior do grupo... Possuir a vidência é um fardo tão pesado que eu jamais desejaria a alguém, mas eu nada posso fazer, além de escolhas – a voz de Heechul saia como em um fio de tão baixa e melancólica.

– Então reze para que o Pedro não lhe roube essa habilidade – disse o líder de modo rude e frio e com um leve tom de desdém. Algo muito estranho para alguém tão ligado ao Heechul, mas a resposta do outro, foi igualmente fria.

– Está fazendo o pedido para a pessoa errada – retrucou Heechul passando um olhar frio e opaco pela face de Leeteuk. Eu diria até que o líder havia sido diretamente afetado por uma daquelas “escolhas difíceis para o bem maior do grupo”, mas preferi não comentar nada, não no momento.

Um silêncio fúnebre e um clima tenso se instalaram, só não tenho certeza se era mais denso do que as nuvens negras do lado de fora, mas tudo foi quebrado após Heechul farejar o ar e se levantar correndo.

– Omo! Minha comida! - berrava ele correndo para a cozinha.

P.O.V – Siwon off


P.O.V – Pedro on

Depois de ser expulso do apartamento de Heechul hyung, pensei em atravessar a porta e me recusar a ir embora, mas o medo de atravessar todos os andares até chegar ao térreo, me fez desistir. Lembrando-me que Heechul era vidente, imaginei que talvez ele tivesse visto que eu encontraria um amigo da minha idade no térreo, com quem eu pudesse conversar, mas depois de cinco minutos no saguão, desisti de esperar por um milagre e caminhei em direção a portaria. Eu queria ver quem ia me impedir de ficar ali...

– Mas ajusshi, eu estou trancando para o lado de fora do apartamento – insisti ao porteiro que não aceitava me deixar sair de modo algum e como eu não possuía a chave do portão menor, muito menos o controle do portão maior, tudo o que me restava era implorar para que ele abrisse qualquer um dos dois para mim.

– Me deram ordens restritas de não deixá-lo sair, então se quiser pode ligar para o apartamento do seu padrinho, mas sair eu posso permitir – disse o homem de meia-idade que vestia um uniforme azul, me indicando o telefone em cima de sua mesa.

Muito contragosto entrei no cubículo no qual ele se encontrava e tomei o fone em mãos, mas então uma idéia passou por minha mente. Para Heechul pedir ao porteiro que não me deixasse sair, era porque ele não estava se concentrando em mim como tio KangIn costumava dizer, então enfiei a mão no bolso do meu blazer, o revirando de ponta cabeça, até encontrar um número. O disquei rapidamente para que o homem não conseguisse entender e voltei a guardar o rústico pedaço de papel em meu bolso.

– Qual o nome do edifício mesmo? - perguntei enquanto chamava.

– Royal Princess – respondeu o homem dando de ombros.

– Quem fala? - perguntou Hyukie do modo frio e grosseiro que ele costumava atender as ligações.

– Por que você é tão rude ao atender o celular? - perguntei deixando o outro lado mudo – Depois você me explica, primeiro venha me buscar, estou preso em um edifício bem alto e branco com quatro faixas na vertical, duas cinzas e duas vermelhas, o nome é Royal Princess. Estou sozinho no saguão te esperando – falei tudo de uma vez e desliguei a chamada – Obrigado ajusshi – fiz uma reverência como forma de agradecimento e sai correndo animadamente em direção ao saguão.

Quando cheguei ao local, Eunhyuk se materializava. O maior estava magro como eu me lembrava, magro e alto e usava uma calça jeans azul escura, acompanhado de um casaco de frio totalmente preto e uma camiseta de mesma cor. Seu cabelo estava um pouco diferente do habitual. Ele continuava loiro, loiro quase branco, mas não estava liso como antes, agora ele estava parecendo palha de tão seco e desorganizado, os fios se aglomeravam formando aquela coisa estranha que estava em sua cabeça, estranha mais bonita, era a primeira vez que eu via um coreano tão fora dos padrões e sinceramente havia gostado do resultado. Momentaneamente apoiei minhas mãos em meus joelhos respirando ofegante, mas abri um sorriso constrangido quando Hyukie parou com sua face bem próxima a minha.

– Você está bem senhor Donghae? - perguntou ele fixando aqueles olhos amendoados nos meus, fazendo-me ter um pequeno arrepio.

Afastei-me com um salto para trás.

– E-st-estou – respondi tremendo – Mas espera, como chegou aqui tão rápido?

– Vamos dizer que eu conheço esse prédio, ou melhor, conheço uma pessoa que mora aqui e como disse que estava no saguão sozinho não vi problema em aparecer aqui.

– Quem? - perguntei franzindo o cenho intrigado, só faltava ele saber que Heechul morava ali, ai sim o hyung-min me expulsaria de seu apartamento.

– Uma noona... - respondeu Hyukie enrubescendo.

– Omo! Ela é sua namorada? - perguntei surpreso ao notar o constrangimento do maior.

– Não, claro que não – respondeu o mais velho muito rápido e se atropelando com as palavras – É apenas uma conhecida.

– Me apresente?

– Nem pensar.

– Omo! Qual é o problema em me apresentá-la? Eu sou um ser divino de muita luz, você me desaponta agindo dessa forma infantil Hyukie – disse fazendo um mimoso bico.

– Assim você me coloca em uma posição delicada senhor Donghae – respondeu Eunhyuk soltando o ar pesadamente pela boca - Tudo bem, venha comigo – disse ele pousando sua mão em meu ombro e me conduziu gentilmente para o elevador.

Enquanto esperávamos o elevador parar no andar indicado, observei a Hyukie. Ele estava pálido e inquieto, não parecia feliz em me apresentar a noona, o que me fez pensar se ela não seria mesmo sua namorada. Isso porque eu estava começando a achar que ser um mutante tornava a pessoa antissocial e sem sorte no amor.

– Hyukie, seu cabelo ficou bonito assim – disse fitando ao mais velho com um sorriso.

– Obrigado – agradeceu ele sorrindo constrangido.

O elevador parou no sétimo andar e abriu suas portas. Hyukie deu o primeiro passo para fora e fazendo uma careta, o segui. Normalmente ser inconveniente não me incomodava, mas naquele momento eu não queria me intrometer na vida de Hyukie, não com ele inquieto daquela forma. Cerrando o punho com calma, Eunhyuk bateu três vezes na porta usando apenas dos nós dos dedos.

– A noona é um pouco... Excêntrica, então não dê muita atenção – avisou Hyukie com um sorriso nervoso e torto em seus lábios.

A porta se abriu revelando uma mulher coreana de cabelos loiros e corpo esguio, mas não era tão alta quanto Hyukie. Sua pele era em demasia clara e diria até que mais pálida do que do maior, mas ela era de uma enorme beleza e seus olhos bem castanhos que faziam um lindo contraste com sua pele branca pareciam hipnotizantes de tão encantadores, ainda mais reforçados pela maquiagem escura. Ela vestia um short jeans simples e também uma blusa regata branca, tudo o que deixava seu corpo perfeito mais em evidência.

– O que aconteceu? - perguntou ela fitando ao Hyukie de modo frio. Sem me importar com seu tom, abri um sorriso e acenei para a loira. Só então seus olhos repararam em mim – Aigo! Quem é ele? - perguntou ela levando os olhos de volta a Hyukie.

– Sou Donghae, afilhado do Heechul – disse todo orgulhoso, mas notei com o canto dos olhos, que Hyukie fazia 'não' com a cabeça, mas já era tarde demais para me impedir.

– Então esse é o Donghae? - perguntou ela arqueando apenas uma das sobrancelhas.

– Sim... - respondeu Hyukie abaixando a cabeça de modo submisso.

– Noona... Você me é familiar... - falei reconhecendo aqueles traços meigos de algum lugar, mas não conseguia ter certeza de onde, muito menos quando.

– Quem sabe de algum sonho? - respondeu a mais velha sorrindo com malícia – Venha, entre – disse ela me puxando sutilmente para dentro de seu apartamento.

P.O.V – Pedro off


De volta ao luxuoso apartamento de Kim Heechul situado no décimo andar, era possível ver quatro jovens de aparências entre vinte a vinte e três anos levarem a comida para uma mesa de seis lugares construída a base de madeira e vidro. Bem ao centro ficava uma resistente e forte caixa de madeira, que ostentava o enorme vidro de tonalidade escura. Normalmente ficava um vaso de flores ao centro, flores que em tempos antigos eram trocas diariamente, mas agora havia sido substituída por um arranjo de plástico. O arranjo de flores amarelas cedeu lugar para as diversas tigelas de comida. Quem visse três jovens daquele quarteto, diria que eram modelos esbeltos e que jamais comeriam tudo aquilo, e até havia mesmo um modelo entre eles, mas como adolescentes em fase de crescimento, não havia o que os enchia. O quarto integrante, que geralmente era visto carregando uma garrafa de vodka, era possuidor de uma beleza tão exuberante quanto os outros, porém por causa de seu vicio e sedentarismo estava um pouco acima do peso.

– Eu não disse para o Donghae voltar em meia hora? - questionou Heechul, o rapaz de corpo esguio e cabelos bem negros caídos sobre os ombros. Sua franja de igual tom estava com as pontas voltadas levemente para a esquerda e seus trajes demonstravam sua grande ostentação. Mesmo em seu apartamento, ele não abria mão de roupas sociais. Sua calça social preta combinava perfeitamente com sua camiseta azul bebê de longas mangas, mas que estavam dobradas até abaixo do cotovelo.

– Talvez ele tenha fugido, Pedro está se tornando um jovem muito impertinente – retrucou o líder indiferente, mas por dentro se remoia de raiva. Ele não conseguia compreender o porquê da personalidade forte de Pedro e queria de algum modo corrigi-lo, mas seu coração endurecido pelo tempo se amolecia quando insistia por muito tempo em corrigi-lo, fosse por treinos, tratando ao menor de forma rude ou simplesmente ignorando-o.

– Ele não é um jovem, é um garoto, e acho que temos esquecido isso com muita frequência, o Pedro é uma criança, temos que tratá-lo como tal – defendeu KangIn, o rapaz que estava um pouco acima do peso, mas que ultimamente estava entrando na linha. Sendo o mais próximo de Pedro, e até mesmo por não levar a vida tão a sério quanto aos outros, ele gostava sempre de proteger ao menor, mas tentava não demonstrar isso com frequência, apenas para se dizer a altura dos outros diferentes, algo sem grande fundamento, afinal, grupos são divertidos pelas diferenças, mas depois de cometer tantos erros, ele não queria ser esquecido novamente.

– Uma criança com poderes grandiosos demais para ser tratada como uma, grandes poderes vêm acompanhados de grandes responsabilidades, já se esqueceu de seu ídolo número um KangIn hyung? - perguntou Siwon com desdém, o único modelo do grupo. Sua aparência e coração bondoso haviam causado grande sofrimento no mesmo e por isso havia se fechado tanto para o mundo, mas ainda sim conseguia entender Pedro em certos pontos, mas em outros era um total desastre. Seu corpo robusto tornava-o, aos olhos de leigos, o mais apto a gerir um grupo, ele parecia um líder sério, carismático, sedutor..., mas não possuía real capacidade para tal, e embora sua altura contestasse isso, ele era o mais novo do quarteto.

– Omo! Como você pode se lembrar disso? - perguntou KangIn surpreso por ser uma memória muito antiga. Quando tinha seus quinze anos, ele se achava o próprio homem-aranha, mas não havia fundamento algum em sua idéia e depois de um tempo decidiu que seria um super herói único, sem qualquer tipo de influência de outros, ainda mais sendo esses, da imaginação de pessoas comuns.

Heechul parou de pé na cabeceira da mesa, de costas para a enorme sacada. Jung-su, popularmente conhecido como Leeteuk, acomodou-se na cadeira a sua esquerda. Siwon e KangIn a sua direita, sendo o primeiro, o mais próximo de Heechul. A respiração de Heechul era tão pesada que incomodava aos seus ouvidos, mas havia um porquê daquilo. Era como se ele estive tendo um pressentimento ruim e antes que conseguisse dizer isso a Leeteuk, na esperança de que o mais velho - que possuía um dom muito peculiar – o confortasse garantindo que Pedro estava bem, tudo paralisou a sua volta. Até mesmo sua respiração pesada, por segundos cessou deixando de ser um incomodo, mas a imagem em sua mente o perturbaria mais ainda.

Pedro estava com Taeyeon, a ex-namorada de Leeteuk, mas essa imagem foi bruscamente substituída por outra. Como ao rebobinar uma fita cassete, a imagem voltou rapidamente para trás e usando dos olhos de Pedro, ele viu o número escrito na porta de um provável apartamento, mas sua fachada era conhecida demais para que ele não reconhecesse aquela entrada. A derradeira imagem era a que realmente perturbava, em sua mente estava Pedro e um jovem loiro, que ele havia visto há algum tempo, desaparecendo magicamente restando em seus lugares apenas uma fumaça negra. Quando voltou a si, Heechul piscou os olhos diversas vezes atormentado, mas todos haviam visto seu estado de transe e o primeiro a questioná-lo foi o alto e forte Siwon.

– O que você viu? - o mais novo do quarteto foi objetivo em suas palavras ao reconhecer a apreensão no rosto do mais velho. Ele sabia que as visões de Heechul alternavam muito de boas para ruins e embora ele fosse ótimo em esconder suas emoções, afinal, tivera muito tempo para aprender, sempre que ele saia de seus transes, sua expressão sempre representava perfeitamente o que ele sentia ou havia sentido diante da visão.

– O Pedro... - disse Heechul com um nó gigantesco a formar-se na garganta, mas a urgência que o momento exigia fazia-o ser breve – Ele está com a Taeyeon e o garoto teletransportador – uma pequena pausa de silêncio se estendeu pelo ambiente enquanto os rapazes se entreolhavam pasmados, Leeteuk principalmente não conseguia acreditar naquelas palavras, então novamente Taeyeon estava contra ele, novamente ela pisava em suas costas – Se não formos rápido, ele desaparecerá com o Pedro – anunciou o vidente demonstrando claramente o desespero e urgência em sua voz e desfazendo os pensamentos dos outros.

– Mas onde ele está? - perguntou Siwon sendo o primeiro a se erguer de sua cadeira sendo seguido de perto pelos outros. Todos dispostos a fazer o possível e o impossível para defender Pedro das pessoas que eles julgavam serem os vilões.

– Aquela porta... - respondeu o vidente de traços levemente femininos tentando se recordar com mais precisão de sua visão e da ordem dos apartamentos – Eu sei que fica aqui no prédio, mas não sei ao certo em qual andar... Vamos para o sexto, o sétimo e o oitavo, eu sei que fica em algum desses – disse ele tomando adianteira para a porta.

Os outros o acompanharam, mas para tentar ganhar alguma vantagem, KangIn e Leeteuk disseram que iriam pela escada de emergência enquanto os outros tomaram o elevador. A tensão do momento impedia que Heechul contestasse e assim os dois seguiram para as escadas, um descendo de forma muito rápida para pessoas comuns e outro dando verdadeiros saltos que cobriam perfeitamente a quantidade de degraus, outra coisa que dificilmente seria feita por uma pessoa normal.

Por ser mais rápido, KangIn seguiu para o sexto andar, enquanto Leeteuk ficou com o sétimo. Enquanto descia pelo elevador, Heechul que seguia para o oitavo andar, não parava de se praguejar, perguntando inúmeras vezes porque ele não havia visto que Taeyeon morava no mesmo prédio que ele e enquanto isso, no apartamento de Taeyeon, ela tentava conhecer um pouco mais sobre a vida do pequeno Pedro, que no momento se auto-intitulava Donghae.

– Como não está estudando? - perguntou a mulher fingindo-se de indignada – Um rapaz tão bonito e sagaz como você devia estar na escola com pessoas de sua idade e não vivendo com um CEO de... Quantos anos o Heechul possui mesmo? Sessenta? Sessenta e cinco? - perguntou ela fingindo-se de pensativa, mas ela conhecia aquele quarteto como ninguém, só não queria revelar ao menor – Cinco anos a mais, cinco anos a menos não fará diferença, arrogante como aquele Heechul deve ser, deve fazer plásticas e mais plásticas para parecer jovem.

– Omo! Não fale assim do meu hyung, ele tem um bom coração – retrucou Pedro sentindo-se ofendido, mas assim como ele, Taeyeon era muito perspicaz e havia pegado no ar, algo que muitos não prestariam atenção ou simplesmente não dariam importância.

– Desculpe-me pelo meu julgamento preconceituoso, mas você disse meu hyung? - perguntou ela arqueando a sobrancelha esquerda com malícia – Desde quando são tão íntimos?

– Omo! Ele é meu padrinho, nós moramos juntos, por que eu não o chamaria de hyung? - questionou Pedro inocentemente, sem entender o real sentindo da pergunta. Ela não questionava o termo 'hyung' e sim a presença do pronome possessivo antes dele.

– Por que ele é um ajusshi – retrucou Taeyeon de forma arrogante, mas deu de ombro encerrando o assunto, tudo o que ela menos queria era dar motivos para que o garoto fosse embora ou pior ainda, não quisesse mais vê-la. Ele era precioso demais para que ela o tratasse de qualquer forma – Está com fome? - perguntou ela repentinamente abrindo um forçado sorriso entusiasmado, mas que parecia real aos olhos do garoto – Podemos pedir comida, o que acha de pizza? Podemos pedir o que você quiser.

– Havia me esquecido disso – respondeu Pedro em um sobressalto – Tenho que voltar para casa, Heechul hyung me espera com o almoço – explicou Pedro causando certo alívio em Hyukjae, popularmente conhecido com Eunhyuk, que desde o começo não queria levar o menor até a presença de Taeyeon, mas não conseguia negar nada para ele, sendo obrigado a levá-lo ao apartamento.

– Eu o levo... - Eunhyuk se prontificava em levar o menor, seja lá para onde ele quisesse ir, quando um alto estrondo veio da porta. Parecia o som de um corpo se chocando contra ela, mas ele era fraco demais para arrombar uma porta reforçada como aquela. O barulho foi seguido pelo som de uma voz grave conhecida não só por Pedro como também por Taeyeon.

– Taeyeon! Eu sei que está ai com o Donghae – esbravejou ele do outro da porta, sem ter certeza absoluta do que estava falando, mas ele sentia de algum modo, uma força mágica ali criada pela reunião dos três mutantes.

– Leve-o para longe – ordenou Taeyeon instantaneamente a Eunhyuk que arregalou aos olhos surpreso. Ele não queria de modo algum ferir ao menor, muito menos forçá-lo a fazer algo que não fosse de seu agrado, mas ele conhecia Taeyeon suficientemente bem, para saber que não devia em hipótese alguma desobedecer a uma ordem sua.

Hyukjae segurou ambos os braços de Pedro, sussurrou um 'me desculpe' e fechou os olhos com força, desejando ir para o primeiro lugar que veio em mente. No mesmo instante Leeteuk apontava suas mãos espalmadas para a porta e a empurrava usando de toda a força de sua telecinese. O elevador se abria com Heechul e Siwon dentro dele, ao mesmo tempo em que KangIn surgia na escada de emergência, mas era tarde demais, havia apenas uma fumaça negra onde a pouco Pedro e Eunhyuk estavam.