P.O.V – Pedro on

– Como assim o Kyuhyun desapareceu? - questionou o líder alto e desesperado o suficiente para que todos fora da casa o ouvissem. Eu e tio KangIn nos entreolhamos por uma fração de segundos e corremos curiosos para a varanda – Mas por que passou a noite fora? Você não tinha nada que deixar o Kyuhyun dormir sozinho na sua casa! Você já tentou o celular e a casa dele? - perguntou o mais velho do grupo, caminhando apreensivo de um lado para o outro da sala, enquanto tentava roer as unhas da mão livre, mas como elas estavam sempre bem curtas, ele apenas tentava – Calma-se Siwon, ele deve estar na casa de um amigo... É, eu sei, ele não tem amigos e ele sempre leva o notebook para tudo quanto é canto, mas vai ver ele estava apressado e quem garante que ele não foi no mercadinho da esquina e na pressa pensou que havia trancado a porta, mas apenas a encostou? Espere mais um pouco, se ele não aparecer eu irei para ai, ok? - embora eu não conseguisse imaginar Simão desesperado ou aflito com algo, o líder agora usava uma voz serena e controlada para lhe passar confiança – Tchau dongsaeng – disse o mais velho por fim, desligando a chamada.

– O que aconteceu com o Kyu? - perguntei tão afobado quanto Simão devia estar.

– O Siwon passou a noite fora e quando chegou encontrou a porta apenas encostada e não havia sinal do Kyuhyun pela casa. Ele simplesmente desapareceu deixando roupa, notebook, celular, comida, tudo para trás – respondeu o líder jogando celular de qualquer jeito no sofá e caminhou em direção à porta, mas uma pergunta o fez parar.

– E o que faremos? - interpelou tio KangIn sério, mas era possível sentir a preocupação em seu tom.

– Eu pedi para o Siwon esperar um pouco, talvez o Kyuhyun só tenha ido para casa de um colega ou ao mercado, mas se ele não aparecer eu vou para a capital e vocês três ficam aqui – respondeu o líder mantendo sua calma imperturbável e deixou o sobrado.

Ele foi ao auxílio do hyung-nim que ainda estava abatido e pálido pela briga com tio KangIn, briga que em minha cabeça não fazia o menor sentido, por isso que eu estava tão preocupado com o empresário. Mas ainda sim, eu não podia me esquecer de Kyuhyun, nós éramos um pouco diferentes, possuíamos mentalidades diferentes, mas ele era sem dúvidas um bom amigo. Tentando encontrar uma solução para seu repentino desaparecimento, enquanto o líder levava Heechul para dentro, recordei-me de Sungmin hyung.

– Ele pode estar com o Sungmin hyung – sugeri esperançoso, seria até melhor se o nerd estivesse com o meu hyung, porque lendo seus pensamentos ao acaso, descobri que eles não estavam se dando muito bem por causa da irmã do Sungmin, mas meu hyung não tinha culpa de ter uma irmã malvada. Seus pensamentos eram os mais puros possíveis, ele apenas se preocupava em não perder nossa amizade.

– O irmão da menina dos raios? - perguntou tio KangIn arregalando aos olhos.

– Raios? – perguntei pensativo, mas acabei assentindo com a cabeça – Sim, é ela mesma, mas vou logo avisando que o Sungmin é um bom hyung e não tem poder algum... – meus argumentos em defesa do mais velho, foram interrompidos pelo líder.

– O que eu disse sobre o Sungmin? – interpelou o líder tão sério, que recuei alguns passos – Por que você e o Kyuhyun não seguem uma ordem simples de ficar longe de uma pessoa? Por que são tão desobedientes? Aí depois alguém misteriosamente desaparece e deixa todo mundo preocupado. Isso tudo é culpa sua, o Kyuhyun não era tão teimoso antes de você chegar! – acusou o líder mantendo sempre o seu tom grave.

– Omo líder! Culpe-me o quanto quiser depois, mas deixe-me ligar para o Sungmin hyung, tenho certeza que mesmo que o Kyuhyun esteja com ele, ele estará por livre e espontânea vontade – retruquei cruzando os braços sobre o tórax.

– Você tem o número desse Sungmin? - perguntou o líder com desdém.

– Não, mas o Kyuhyun deve ter no seu celular... Ligue para o Simão e peça para ele lhe passar o número, que eu mesmo ligo para o hyung, ele me conhece, será melhor assim – muito contrariado, e entortando os lábios de maneira que deixava isso excessivamente em evidência, o líder pegou seu celular.

Depois de falar com Simão, ele anotou o número e me entregou o celular. Durante todo esse período, eu estava tão aéreo, que me esqueci de treinar minha telepatia, mas provavelmente eles não estavam pensando em nada de útil. Depois de discar o número do hyung, encostei o celular na orelha direita e caminhei vagarosamente até a varanda.

– Alô - disse uma voz feminina do outro lado da linha depois de um longo tempo chamando, na verdade pela demora, achei que ele não atenderia e ao reconhecer uma voz feminina, franzi o cenho confuso.

– É o celular do Sungmin?

– É sim, mas agora ele está no banho, quer deixar recado? – perguntou a jovem que havia atendido a ligação finalizando com um tom mais suave, pelo menos era uma moça gentil, pensei sorrindo, mas eu precisava me focar em meu objetivo.

– Não, eu só queria saber se o Kyu está ai com ele...

– Kyuhyun, Cho Kyuhyun – corrigiu tio KangIn que me acompanhava o tempo inteiro e ainda por cima roía a unha do polegar. Acho que sugerir que o Kyu estava com o Sungmin o deixou verdadeiramente tenso... A suposta surra que ele havia levado da irmã do Sungmin não devia ter sido pouca coisa.

– Kyuhyun.

– Não... – disse ela um tanto pensativa, provavelmente olhando em volta para ter certeza de suas palavras - Ele não está aqui... Aconteceu alguma coisa com ele?

– Não é nada com o que se preocupar, só não estamos encontrando ele... - falei entortando os lábios, de modo algum eu queria preocupar aquela gentil noona e muito menos preocupar Sungmin hyung, só quando ficasse provado que ele havia sido sequestrado ou algo do tipo, eu pensaria em contar para o hyung - Se ele aparecer por ai você diz a ele que o Pedro o está procurando? Pedro Assunção... Você faz esse favor por mim? – pedi fazendo um olhar expressivo de tristeza e abaixando o tom de voz, deixando-o mais humilde e tristonho.

– Ah! Tudo bem, se ele aparecer eu digo, quer deixar seu número? – perguntou a suposta noona.

– Oh! Não é preciso, ele sabe meu número.

– Tudo bem, espero que ele apareça logo – desejou a garota do outro lado da linha e desligou a chamada.

P.O.V – Pedro off


A jovem que a pouco falava com Pedro, apertou o botão vermelho do aparelho e o jogou de qualquer jeito na cama de casal na qual estava debruçada. Seus olhos vagaram vazios pelo cômodo de paredes rosa, ainda tentando digerir aquelas informações, mas era impossível não fazer o questionamento: Onde Kyuhyun havia se metido?

– O que está fazendo aqui? Precisa de algo? - perguntou seu irmão mais velho, Sungmin, deixando o banheiro sorrindo jovialmente, com os cabelos molhados e usando um roupão rosa bebê. Desde a noite anterior, ele sentia-se nas nuvens, seu coração batia acelerado, sua respiração mantinha-se pesada, suas mãos tremiam involuntariamente e a cada momento que ele fechava os olhos, podia sentir o cheiro de Kyuhyun e se arrepiava com a lembrança de seu toque. Nada poderia estragar sua felicidade.

– Nada... – respondeu Yuri negando com a cabeça e se ergueu da cama – Você tem visto o Kyuhyun recentemente? - o mais velho que havia pegado uma toalha de rosto em seu guarda-roupa e agora a usava para secar seu cabelo escuro, parou o que fazia.

– Eu... Eu o vi ontem – e sonhava com o reencontro. Na verdade ele chegou a se praguejar inúmeras vezes enquanto dirigia de volta para casa, mas achará que assim havia sido melhor, ele tinha medo do que aconteceria se não tivesse parado ao mais novo.

– Por que continua se encontrando com aquela coisa? Com tantas pessoas interessantes por ai, e melhor ainda, de nossa classe social, por que você tem logo que escolher o favelado? Qual é o seu problema Sungmin? - questionou ela elevando seu tom de voz.

– Omo dongsaeng! Abaixe esse tom! - ordenou ele cerrando os punhos com força – E você não tem nada que se intrometer em minha vida! Agora saia, irei me trocar – falou o jovem que se segurava para não tomar a irmã pelo braço e a arrastar até a porta.

A mais nova rosnou e deu as costas. Não que naturalmente ela se intrometesse na vida do irmão dessa forma, mas é que sempre havia alguém para atender seus caprichos, principalmente seus pais. Assim que bateu a porta atrás de si, bufando, ela parou.

– Tomara que ele fique perdido para sempre! – praguejou a garota cruzando os braços como uma criança mimada, mas pensando melhor, suavizou lentamente sua expressão irritada, até que tornasse apenas um beicinho contrariado – Eu preciso contar para o Yesung, ele ficou muito chateado com o Eunhyuk depois que ele levou ao Kyuhyun embora... Eu vou avisar ao Yesung – confirmou a garota desfazendo sua pose de brava e seguiu correndo para o seu quarto.


***


Em uma parte desabitada e desinteressante da floresta, um homem de aparência jovem concentrava sua atenção em um mapa da Seoul urbana que estava acima de uma enorme mesa de madeira. Seus pensamentos fervilhavam, lhe dando ideias e mais ideias, mas havia algo que não se encaixava em tudo aquilo. Uma jovem loira, de olhar astuto e sedutor, adentrou sorrateiramente e parou defronte com a mesa.

– Me chamou mestre? - Taeyeon se anunciou com uma polida e pequena reverência e um fraco sorriso em seus lábios pálidos. Normalmente ela passava os dias sondando sonhos, desenvolvem ao máximo o seu dom, mas haviam lhe dito que o mestre a procurava.

– Desde a fuga do Pedro, os nossos jovens andam inquieto, percebi também que eles andam se dissipando, passando mais tempo na cidade do que treinando seus poderes...

– E o que devo fazer mestre? – perguntou a jovem arqueando a sobrancelha esquerda.

– Descubra onde o Donghae está, se ele não quer ficar conosco, o executaremos antes de cumprir nossa vingança – respondeu o homem com naturalidade, mas sem esquecer de seu tom cortante. Havia rancor em seu coração, rancor e raiva que o estimulava a seguir em frente.

– Não acha perigoso ir atrás do Donghae? Ele pode ser um garoto, mas sua visão dizia... – a maioria das pessoas apenas ouviam ordens, mas Taeyeon tinha motivos relativamente fortes para questionar o seu mestre, uma pena que ele a interrompeu.

– A cada dia que se passa, ele se torna mais forte, eu tinha esperança de que quando ele desenvolvesse a criocinese e ficasse assustado com a reação em seu corpo, ele aceitaria ficar conosco, mas como ele se recusou só me resta uma alternativa, destruí-lo antes que ele desenvolva os cinco poderes.

– E quem garante que ele ainda não desenvolveu o quinto? Ele é um garotinho especial... – e novamente o homem de feições chinesas, a interrompeu.

– Mas eu saberia se isso acontecesse.

– Se assim o deseja, encontrarei ao Donghae – como qualquer um ali, Taeyeon sabia o quão obstinado aquele homem era, então sem insistir mais, até mesmo por saber que não adiantaria de nada, abaixou a cabeça como forma de submissão.

– Vá e não volte enquanto não tiver encontrado aquele garotinho insolente – ordenou o mestre erguendo-se de sua poltrona.

Mesmo relutante, Taeyeon assentiu com a cabeça e deu meia-volta.


P.O.V – Pedro on

– Não devemos ligar para a polícia? – perguntei fazendo um enorme bico. Depois de uma/duas horas sem sinal de Kyuhyun, o líder decidiu que iria para casa de Simão e como Heechul havia voltado literalmente ao seu estado normal, não havia Leeteuk capaz que deixa-lo trancado em um sobrado, sendo assim eu e tio KangIn exigimos nossos direitos também e no momento todos se encontravam na fria sala de Simão.

– Não, pela idade do Kyuhyun precisamos de um dia para dá-lo como desaparecido, se formos à polícia eles pedirão apenas que esperemos e além do mais não creio que alguém comum sequestraria ao Kyuhyun, ele pode ser afilhado do Siwon, mas poucas pessoas sabem disso – respondeu Heechul, que estava sentado no outro sofá com os cotovelos apoiados nos joelhos e os dedos entrelaçados, calmamente.

– O pai do Kyuhyun! – disse tio KangIn em um sobressalto – Todos aqui sabemos que ele não é uma pessoa muito confiável né? Então talvez alguém esteja cobrando-lhe uma dívida, algo assim, e pegaram o Kyuhyun para força-lo a pagar.

– Eu vou até a casa do pai do Kyuhyun verificar isso direito, enquanto isso quero o Siwon no centro, KangIn no bairros periféricos e Heechul vá ao seu apartamento saber se ele não passou por lá e depois ligue para todos os postos de polícia. Pedro fique aqui esperando. Enquanto sigo para a casa do pai do Kyuhyun vou ligar para todos os hospitais da região – ordenou o líder pegando seu casaco preto que estava ao meu lado no sofá.

– Não quero ficar aqui sozinho – disse rapidamente me erguendo, enquanto fazia um bico muito aegyo.

– Não se preocupe Pedro, não vamos demorar e se acontecer algo, use o celular do Kyuhyun, tenho certeza que ele tem nossos números. E além do mais, você é um garoto forte, seus poderes são em maioria ativos, tenho certeza que você consegue se defender muito bem – disse o líder com um curto sorriso afagando meus cabelos e voltou-se sério para o demais – Vamos.

Sentei-me inquieto no sofá, eu não queria ficar sozinho, ainda mais esperando por Kyuhyun que segundo as evidências, havia sido sequestrado. Eu precisava fazer algo e precisava ser naquele momento. Apoiando o queixo nos dedos entrelaçados, fiquei repetindo 'pensa, pensa, pensa' para mim mesmo por uma porção de minutos até que um sorriso iluminou minha face.

– Já sei! - exclamei animado e quase cai do sofá para pegar o celular de Kyuhyun que havia ficado na mesinha de centro. Rapidamente busquei um papel rústico dentro do bolso da minha calça jeans, papel que eu sempre levava comigo para todo lugar e disquei o número de Eunhyuk.

– Oi... - disse uma voz sonolenta e entrecortada do outro lado.

– Hyukie! Acorde! Eu estou na casa de um... Tio, por favor, venha me buscar, preciso muito de sua ajuda – pedi ao mais velho em meio uma careta tristonha, mas sem perder meu tom autoritário. Eunhyuk não parecia muito diferente daqueles incomuns lunáticos, não em personalidade, então se eu não quisesse que ele se tornasse arrogante e convencido, eu tinha que tomar cuidado com minhas palavras.

– Donghae? - perguntou o mais velho assustado – O que aconteceu? Onde fica isso?

– Espere, vou lhe mandar uma foto – disse ao me recordar que o celular de Kyuhyun havia câmera e desliguei a chamada.

Como a porta havia sido trancada por Leeteuk, tive que procurar por uma chave, mas não encontrando uma, saltei pela janela da sala e corri para a rua. Achei que a imensa árvore do outro lado da rua daria uma boa imagem, então após achar um bom ângulo, que ressaltava a beleza daquela planta, tirei a foto e enviei para o número de Hyukie. A imagem demorou algum tempo para ser enviada, mas quando foi dado como concluído o envio, voltei para a casa de Simão e sentei-me a porta esperando pelo maior.

– Vamos Hyukie, vamos – repetia batendo o pé impaciente no chão, quando o hyung se materializou defronte com a árvore – Hyukie! – exclamei me erguendo apressado e corri na direção do mais velho, que ao ouvir o som da minha voz, virou-se em minha direção – Você precisa me ajudar.

– O que aconteceu Donghae? De quem é o celular que está usando? - perguntou o loiro, que novamente usava seus cabelos escorridos, tocando suavemente meus braços. Arfei involuntariamente quando nossos olhos se encontraram, mas para a minha sorte não havia ninguém na rua, exceto uma brisa gelada que convidava seus fios claros majestosamente a dançar.

– É do Kyuhyun... – respondi buscando o chão desconfortavelmente com os olhos - Ele desapareceu sem deixar vestígios – completei com minha voz baixa e manhosa, finalmente voltando a fitar a face do maior.

– Kyu-hyun? - perguntou ele lentamente, enquanto franzia o cenho como uma criança que está levando bronca dos pais.

– Sim.

– Aish! Não acredito que ele foi pego, o Yesung hyung vai me matar! – disse Hyukie desesperado levando as mãos à cabeça – Olha, não se preocupe com isso Donghae, eu vou avisar ao Yesung e vamos iniciar uma busca tudo bem? Se bem que se eu contar para o Yesung ele vai querer me matar, principalmente o Jongjin que ficou bravo quando soube que eu havia o levado para o prédio do Heechul...

– Espera, você já esteve com o Kyuhyun? - perguntei franzindo o cenho confuso, na minha cabeça seu único encontro havia sido na minha casa no Brasil e mesmo assim todos haviam ignorado o pobre do nerd.

– Para ser sincero, sim. O que também me leva a crer que o seu amigo foi sequestrado... A história é o seguinte, havia um incomum procurando o Kyuhyun, o motivo: desconhecido. No dia que ele o encontrou, o Yesung o salvou, segundo ele pelo simplesmente fato do Sungmin estar em risco, mas para cada um que pergunta ele diz uma resposta diferente. Então depois que foi salvo o Kyuhyun conheceu a irmã do Sungmin, aquela garota que você conheceu no acampamento, e sem motivo brigou com ela. Ai depois disso o Yesung levou-o até o acampamento e quando eu o vi lá, o levei para o prédio em que você mora... Ou morava – completou o hyung confuso, mas acabei ignorando o final.

– Mas o Kyuhyun também é um incomum, qual o problema dele ficar no acampamento? – perguntei, me desfocando do assunto principal, por ser algo que o próprio Eunhyuk havia me negando dizendo que eu não era um incomum para morar com outros da mesma categoria.

– O Kyuhyun é incomum soberba, ele não duraria dois dias – retrucou Hyukie com uma seriedade e insolência que me incomodou.

– Omo! Você parece tão mau falando dessa forma... - disse fazendo um beicinho meigo.

– Eu nunca disse que sou bonzinho – respondeu o hyung com um sorriso torto adornando-lhe o canto direito dos lábios.

– Então vá embora, eu não preciso de nenhum vilão comigo!

– Oh! Desculpe-me Donghae, só estava brincando – implorou Hyukie tocando novamente meus braços, mas apenas revirei os olhos com menosprezo e recuei para longe do alcance de seu toque. Fitando ao chão, Hyukie que usava uma calça jeans rasgada e uma camiseta preta, soltou um longo suspiro enquanto enterrava as mãos nos bolsos traseiros de sua calça e em meio uma careta fitou minha face – Eu vou falar com Yesung... Prometo a você que trarei o Kyuhyun de volta.

– Tudo bem Hyukie, mas não demore – pedi abrindo um torto sorriso na face do mais velho, que apenas assentiu e desapareceu deixando para trás uma densa e escura névoa.

P.O.V – Pedro off


P.O.V – KyuHyun on

Minhas pálpebras pesavam uma tonelada. Minha cabeça estava zonza e eu ainda conseguia sentir no ar aquele cheiro forte que havia desligado meus sentidos. Insisti por longos segundos até que consegui abrir os olhos, mas desejei não ter aberto. O minúsculo cômodo no qual eu estava deitado em posição fetal era tão claro, que machucou minhas pupilas. Tive que piscar os olhos o dobro do tempo normal até que conseguisse mantê-los abertos. Mesmo desorientado, sentei-me e olhei em volta com a visão ainda embaçada.

Eu me encontrava em um cubículo, sem cama, sem portas ou janelas. Cada parede não media mais que um metro, mas o teto, também branco, parecia alto o suficiente para me caber em pé. Olhando ao meu redor, reparei que ele havia três paredes brancas e no lugar da quarta, havia uma parede de vidro com três círculos redondos no alto. Meu corpo parecia anestesiado, mas me apoiando nas paredes, me coloquei de pé e toquei as aberturas com a mão direita, mas além de serem muito altas, elas eram muito pequenas, tão pequenas que minhas mãos não eram capazes de atravessá-las.

“Ventilação” – pensei alto recuando assustado e só parei quando meu corpo encostou-se a parede. Meus olhos pousaram no chão, que também era compulsivamente branco e reparei que eu também usava um uma espécie de pijama branco, que era um conjunto de calça e camiseta de mangas compridas.

– Oh! O que aconteceu? – perguntei tocando minha testa enquanto sentia o desespero tomar conta do meu corpo, eu havia sido preso em uma cela minúscula, fria e sem saída, e o pior é que eu não sabia o porquê de estar ali e muito menos quais eram as intenções de quem havia me prendido. Ao ouvir o som de passos se aproximando, corri para aquela parede de vidro e comecei a esmurra-la enquanto gritava por socorro – Por favor, alguém me ajude!

Em minha mente despreparada, eu apenas pedia por socorro na esperança que fosse uma pessoa boa, mas quando dois homens de macacões azuis entraram em meu campo de visão, fiquei em silêncio. Eles traziam consigo um adolescente de roupas iguais as minhas, um rapaz que estava tão debilitado, que ia sendo praticamente arrastado pelo corredor. Sua cabeça estava voltada para baixo, ele tentava dar alguns passos, mas os homens eram apressados demais para ele. Os três pararam diante da cela que havia defronte com a minha. Não consegui ver direito o que um deles fez, mas a parede de vidro correu para o lado, desaparecendo na parede e eles jogaram o garoto dentro da cela. Esticando um pouco o pescoço consegui ver o momento em que um dos homens tirou um cartão de dentro de uma espécie de caixa que ficava ao lado da porta, fazendo essa se fechar. Sem espaço para se movimentar, o garoto ficou encolhido naquele chão frio. O mais alto dos homens, colocou a fita que estava presa ao cartão em volta do pescoço e a escondeu dentro de seu macacão. Acompanhei aqueles homens com os olhos enquanto eles faziam o caminho inverso. Era inevitável não sentir repulsa ao vê-los conversando tão entretidos sem se preocupar com o estado deplorável do garoto. Quando meus olhos recaíram mais uma vez sobre a imagem do jovem, levei um susto. Ele estava sentado defronte com o vidro e com as pernas cruzadas de modo que escondia seus pés, que assim como os meus estavam descalços.

Sua pele branca estava excessivamente pálida, havia profundas olheiras abaixo de seus olhos e ele respirava com dificuldade. Pelo seu rosto pequeno e suas feições infantis, achei que ele teria a idade de JongJin para mais novo. Seus cabelos negros estavam bagunçados e alguns fios caíam sobre os olhos. Respirando com mais força e velocidade, o garoto puxou o ar com toda a força para os pulmões e assoprou no vidro.

“Oi” – escreveu ele com a ponta de seu indicador fino da direita para a esquerda e ao contrário para que eu pudesse entender perfeitamente o que ele queria dizer. Sua expressão era a de cansaço.

Em primeiro instante fiquei confuso, eu não sabia como responder àquilo, mas respirando com força, assoprei o meu vidro também, deixando o vapor se condensar no vidro e escrevei o mesmo cumprimento para o garoto.

“Yoseob” – escreveu ele vagarosamente e tocou seu peito, deixando em evidência o que ele queria dizer.

“Kyuhyun”

– O novo garoto não parece ser perigoso... – escutei uma voz masculina dizer e quando voltei os olhos para o garoto, ele estava encolhido e abraçando as pernas. Em seu vidro não havia nada e seu dedo esguio foi aos lábios pedindo silêncio. Limpei ao vidro de qualquer jeito com a manga comprida do pijama branco e me encostei à parede do fundo como ele – Até onde sabemos o poder dele é passivo, mas é incrível.

– Pensarei em como poderei usá-lo – disse um homem de meia-idade, feições ocidentais e jaleco branco parando na frente de minha cela com uma prancheta em mãos certamente com diversas informações sobre mim.

Enquanto eu o analisava discretamente, nossos olhos se encontraram, causando um arrepio em meu corpo inteiro. Havia algo em seu olhar que me avisava sobre o seu péssimo caráter. Seus olhos brilhavam com ira, brilhavam com ambição.

P.O.V – KyuHyun off