P.O.V – Pedro on

– O que faremos? - perguntei com um enorme beicinho manhoso, passando os olhos sobre as faces cabisbaixas do quarteto que mais uma vez estavam reunidos na fria sala de Simão.

– Se ele for preso ou der entrada em um hospital da região, pedi que nos informassem... - respondeu o líder, depois de um longo momento de silêncio, sem tirar os olhos da mesinha de centro.

– Não foi isso que perguntei – retruquei friamente.

– O pai do Kyuhyun nega qualquer tipo de envolvimento com o desaparecimento do filho, e como não completou um dia ainda, não podemos dá-lo como desaparecido. Quem fez isso não deixou nenhum tipo de pista, estamos de mãos atadas Donghae – respondeu meu padrinho sério, aumentando por vez minha revolta.

– Mas vocês não são... - eu expressava tudo que passava em meu coração aflito, afinal, eles não eram o tão poderoso grupo de diferentes? Então por que estavam de mãos atadas? Mas o líder me interrompeu.

– Espera – disse ele que estava em pé próximo à janela, tocando superficialmente a testa – Talvez... - seus olhos moveram-se rapidamente da direita para a esquerda e ainda absorto como ele se encontrava, caminhou até a porta principal e tocou a maçaneta – Aqui, ele veio até aqui e... - ele abriu a porta e encarrou à rua deserta.

– O que aconteceu? - perguntei afobado saltando do sofá.

– Não sei, mas seja lá quem o pegou, sabia que ele estava na casa do Siwon e provavelmente sabia que o dongsaeng não dormiria em casa, ou talvez só tenha ficado de vigia, esperando que o Kyuhyun ficasse sozinho... Eu devia ter sido mais atento quando o trouxe – praguejou o líder a si mesmo, balançando a cabeça negativamente como reprovação de sua atitude.

– Não se preocupe com isso Leeteuk hyung, logo nós encontraremos o Kyuhyun – disse Simão tocando amigavelmente o ombro do mais velho e sorriu, nem parecia mais o desesperado Simão do celular – Agora fiquem a vontade, que tenho que sair.

– Aonde vai? – questionou Heechul roubando as palavras de minha boca.

– Eu gostaria muito de continuar nesta aflição com vocês... – disse Simão com a maior falsidade do mundo - Mas tenho uma festa da minha agência para ir. E vocês sabem né? É minha agência, preciso manter as aparências... - falava Simão como uma defesa, mas bruscamente tio KangIn o interrompeu.

– Eu quero ir! Leve-me com você dongsaeng – implorou o mais velho fazendo um enorme beicinho aegyo, eu nem sabia que ele era capaz disso.

– Nem pensar, você está redescobrindo seus poderes, não quero que corra riscos desnecessários – retrucou o líder sério.

– Com ou sem sua aprovação eu irei junto, não aguento mais essa vida reclusa e além do mais eu controlei minhas habilidades por tanto tempo, que mesmo sem nunca ter treinado, eu consigo controlar muito bem a duplicação. Tenho certeza que não acontecerá nada de ruim, quanto ao Young-woon, concordo com você hyung, se ele beber ai sim os riscos aumentam – disse Heechul paulatinamente.

– Nem pensar! – protestou tio KangIn fazendo birra - Se você for, eu vou também! – e bateu o pé com força no chão. Aquele era um momento no qual eu não sabia quem possuía a menor idade mental, se era eu ou ele, mas eu não perderia aquela oportunidade.

– Eu posso ir também? - perguntei com um sorriso gigantesco.

P.O.V – Pedro off


P.O.V – KyuHyun on

Primeiro colheram amostras do meu sangue, fios de cabelo, unha e saliva, tudo para exames e depois me colocaram em uma espécie de máquina gigante e claustrofóbica, enquanto meu cérebro era monitorado por inúmeros fios presos a minha testa e têmporas. Um rato de laboratório, era nisso no qual eu havia me transformado. Eu sempre ouvia conversas entre meus tios diferentes sobre laboratórios secretos de pesquisas que tentavam descobrir como e onde a mutação ocorria para reproduzi-la. Essa era a preocupação principal deles, impedir que pessoas habilidosas como nós fossem mantidas em cárcere para pesquisas, tanto que eu nunca havia imaginado que um dia isso aconteceria comigo, mas lá estava eu, com meu pijama branco, em uma sala fria e deitado sobre uma espécie de cama com um colchão muito fino.

– Olha o tamanho da glândula pineal desse rapaz, é enorme – escutei o homem de traços ocidentais, que depois de encará-lo por longos segundos enquanto ele colhia meu sangue, percebi que ele possuía olhos azuis bem escuros, tão escuros que se você não olhasse com atenção, pensava que era castanho escuro – Temos que monitorá-lo enquanto ele usa sua habilidade.

– Eu vou buscar um computador – disse o homem troncudo, de feições coreanas e bigode longo, que o acompanhava para tudo quanto é canto, provavelmente para impedir que eu fugisse, pois quem realizava todos aqueles exames era o ocidental. Escutei o barulho da porta, sendo seguido pela voz do homem de olhos azuis que usava um jaleco branco de médico.

– Kyuhyun? Você pode me ouvir? - não respondi, apenas movi a cabeça para o lado – Vou considerar como um sim – respondeu o homem passivamente e continuou – Nós traremos um computador e pedimos que para o seu próprio bem, nos de uma amostra do que sabe fazer.

Novamente não lhe dei resposta. Quando escutei novamente o som da porta, a máquina começou a se mover me levando para fora. Os dois homens entraram naquela pequena sala trazendo um netbook cinza escuro. O homem de jaleco o colocou ligado sobre meu colo. Aquela era minha chance, eu poderia fácil fugir usando a internet, pensei com otimismo, mas busquei não representar nada além da indiferença. Embora temeroso, ergui a mão esquerda que tremia involuntariamente e toquei a tela, mas nada aconteceu.

– Você não achou que lhe daríamos um netbook com internet, achou? - perguntou presunçoso o possível médico.

– Seu netbook sem internet é inútil para mim – respondi friamente.

O homem sorriu de canto.

– Ele tem a mesma habilidade que ela... - disse o homem com um sorriso debochado e deu as costas para mim - Leve-o para o refeitório, por hoje chega de testes.

O coreano de bigode volumoso concordou com a cabeça e começou a tirar os fios colados com adesivos em minha testa, enquanto o homem de jaleco deixava a sala. Assim que ele terminou, colocou uma algema em minhas mãos e me levou pelo braço até o refeitório. De duas, uma: Ou eles achavam que eu era um completo inútil magrelo sem um computador ou a segurança era muito boa e se eu tentasse fugir eles me deteriam antes que eu chegasse ao fim do corredor.

O refeitório de paredes cinza cimento, deixado apenas no reboque, era pequeno, do tamanho de uma sala de aula comum. Antes que eu entrasse, o homem destrancou a porta e assim que entrei escutei o som dela sendo trancada novamente. A minha esquerda estava àabertura para entrega da comida. Assim que olhei para ela, uma bandeja com uma tigela de arroz, outra de vegetais cozidos e uma com carne também cozida, um par de hashis e um copo com água apareceu ali. Peguei a bandeja e olhei em volta. Havia nove mesas retangulares, cada uma com capacidade para quatro pessoas, já que não havia cadeiras nas cabeceiras das mesas dispostas pela sala. A quantidade de jovens ali era mínima, para ser mais específico, havia três jovens. O coreano de cabelos bem negros não tirava os olhos de sua comida e estava na mesa mais próxima da porta. Uma jovem de longos e ressecados cabelos loiros estava a uma mesa deste e comi com as mãos, provavelmente por não saber como usar o hashi. E o último jovem, o mais afastado possível, reconheci de imediato.

– Yoseob – disse seu nome ao sentar-me defronte com ele.

Ele comia desajeitadamente por ter suas mãos cobertas por luvas negras e presas por algemas de metal, mas assim que disse seu nome, seus olhos ergueram-se inocentes e pousaram em minha face.

– Oh! Você está bem – disse ele sem mudar sua expressão serena, com uma voz que deixava em evidência que ele não era assim tão novo quanto eu imaginava, ela não era fina como a de Donghae, ele havia passado muito bem por essa fase, parando em uma voz doce, não tão fina, mas não era grossa, era melodiosa, bonita demais para um jovem encarcerado.

– Onde estamos? Quem comanda isso aqui? - perguntei pousando meus antebraços sobre a mesa, mas tomando cuidado com a corrente da algema.

– Coma sua comida e seja discreto, estão de olho em nós – e seus olhos ensaiaram olhar para a diagonal acima, mas voltou-se para o prato. Eu não havia reparado, mas havia quatro câmeras, uma em cada vértice de parede – Podemos comer juntos porque somos inúteis demais para criar uma rebelião e conseguir fugir, mas alguns de nós estão isolados por mau comportamento, também tem isso aqui – explicou o menor pegando os vegetais habilidosamente com o hashi, mas sua mão esquerda estava abaixo da outra e a seguia para todo o lado para garantir o livre movimento da comida.

– Quando você diz nós, quer se referir aos incomuns com habilidades passivas? - perguntei destacando meus hashis e observei a comida escolhendo por onde começar.

– Isso, habilidades passivas, não servem para ataque, nem sequer conseguimos reproduzir isso para... Fora de nós, é claro que isso é muito relativo, os controladores de mentes por exemplo, alguns os consideram passivos, outros ativos, de qualquer forma eles ficam isolados, e geralmente são vendados quando precisam fazer testes – disse o menor levando o hashi à boca.

– Como você sabe disso tudo? - perguntei de cabeça baixa enquanto me alimentava com a comida sem tempero. Normalmente eu me recusaria a comer algo assim, mas a fome falava mais alto.

– Meu poder, ele me permite saber certas coisas.

– Qual o seu poder? - meus olhos curiosos pousaram em sua face infantil.

– Coma - foi tudo o que ele respondeu voltando a fixar os olhos em seu prato.

P.O.V – KyuHyun off


P.O.V – Siwon on

O líder era o LeeTeuk hyung, mas o HeeChul era insistente e irritante demais aponto de contestar sua autoridade. Então depois de muita discussão, ficou decidido que os quatro iriam comigo. Como havia roupas do Pedro no apartamento do Heechul, ele e o hyung seguiram para o apartamento, enquanto KangIn e LeeTeuk se aprontaram em meu sobrado.

Esperar por Heechul e Pedro foi sem dúvidas a pior parte, aqueles dois demoraram horas para voltar, eu estava quase desistindo da festa quando o hyung estacionou seu sedan prateado na porta de minha casa e buzinou impaciente.

– Por favor, hajam como pessoas normais tudo bem? Este é o meu ambiente de trabalho, estas são as pessoas com quem eu trabalho, então por favor, principalmente você KangIn hyung, por tudo que é mais sagrado, não beba, eu lhe imploro – eu falava ao hyung com as palmas das mãos unidas, quando uma voz feminina e alegre me interrompeu.

– Siwon oppa! – escutei a bela Krystal me chamar ao longe. Ela estava linda em um vestido azul com desenhos geométricos na cor vermelha. Seu salto vermelho lhe permitia ficar mais alta e seus cabelos esvoaçavam com suas passadas. De imediato notei o sorriso malicioso de KangIn para Pedro, mas minha dongsaeng nem percebeu o menor, ela veio diretamente a mim e me deu um curto e meigo beijo, que podia ser descrito com um simples encostar de lábios – Você demorou oppa, achei que não viria – disse ela manhosa se agarrando ao meu pescoço.

– Meus hyungs decidiram de última hora que viriam, então tive que ficar os esperando – expliquei enquanto entrelaçava meus braços em volta de sua cintura fina.

Só neste momento em que ela foi notar que eu estava acompanhado. Por sorte seus olhos focaram-se primeiro em Leeteuk, pois KangIn me espreitava perigosamente com os olhos.

– Você deve ser o doutor Jung-su, é um prazer conhecê-lo – disse ela com uma polida reverência, recebendo o mesmo tratamento do líder, que embora não estivesse a vontade, não perderia em momento algum o bom senso e a educação – HeeChul? - ela se assustou ao ver o hyung – Kim HeeChul? - perguntou ela incrédula. Ele assentiu – Sou Krystal Jung, filha da modelo Jessica Jung, lembra-se dela? - perguntou ela soltando-se totalmente de mim e KangIn se aproveitou desses breves segundos para me agarrar pelo braço e me puxar para longe do grupo.

– Que história é essa de namorar a futura namorada do Pedro? - esbravejou ele, mas tomando o cuidado para manter um tom baixo, porém audível e ameaçador.

– Como você disse, está no futuro, ainda não aconteceu, e o que eu posso fazer se ela é apaixonada por mim e achou que eu correspondia esse sentimento quando a convidei para aquele almoço? - perguntei dando de ombros, a resposta era tão óbvia que eu não entendia o porquê de ser obrigado a fazer a pergunta.

– Ôoh garanhão da madrugada, você não tinha nada que sair com a futura namorada do Pedro! Depois ele vira gay, e não vai ser eu que vou apresentar amigos para ele, muito menos aguentar seus ataques de bichisse – esbravejou o hyung irritado, mas sempre tomando cuidado para não chamar a atenção das pessoas que lotavam aquela ampla e animada sala.

– Não precisa se estressar hyung, e mesmo que o Pedro vire gay, qual diferença fará? Na verdade é até melhor, porque assim eu fico com a Krystal só pra mim – respondi sorrindo maliciosamente.

– Seu desgraçado egoísta! – esbravejou ele bufando, mas subitamente paralisou. Preocupei-me com o hyung de uma força, que até o agitei esperando uma reação, mas seus olhos estavam vidrados no nada e seus lábios estavam semiabertos. Quando conseguiu sair de seu transe, ele disse exatas cinco palavras que me perturbariam pelo resto da noite - O Heechul vai te matar!

– Oh não! Ele vai descobrir que arranhei o carro dele? - perguntei apavorado, Heechul hyung dava tanta importância aos seus bens materiais, que eu nem havia tocado no assunto, simplesmente mandaria arrumar a tintura e pronto, mas até o momento eu não tinha tido tempo.

– Não, é muito... Espera, você arranhou o carro do Heechul? - perguntou o hyung parando com a boca semiaberta novamente. Entortei os lábios encabulado e assenti com a cabeça – Você sabe como o Heechul dá importância para essas coisas e você arranha o carro dele? - disse o hyung exaltado, apenas fiz sinal para que ele falasse mais baixo, porque as pessoas a nossa volta já começavam a nos olhar com o canto dos olhos – Não importa, o que ele vai descobrir é muito pior do que um simples arranhão na tintura.

– E o que pode ser pior que isso? - perguntei franzindo o cenho amedrontado e confuso, a única coisa que eu conseguia imaginar ser pior, era atear fogo em seu lindo e luxuoso apartamento com todas as suas roupas de grifes famosas dentro, mas eu jamais faria isso ou faria?