– O que foi isso? – perguntou Jongjin surpreso e confuso com a cena que a pouco presenciara.

– Agora saberemos onde o Kyuhyun está – foi tudo o que o loiro respondeu em meio a um sorriso maroto.

Jongjin franziu o cenho mais confuso ainda, sem conseguir ver qualquer relação entre Kyuhyun e o beijo na desconhecida, mas antes que pudesse questionar novamente ao mais velho, sentiu que seu hyung e sua noona se aproximavam e correu ao encontro de ambos que visivelmente estavam esgotados com a luta que ocorrera a alguns metros.

– Vocês estão bem? - perguntou ele preocupado ao notar que o irmão de tão debilitado estava apoiado em Yuri e se colocou do outro lado do hyung, passando o braço direito do mais velho sobre seus ombros, para ajudar-lhe a ficar de pé. Ao perceber que Yuri também não estava em muito bom estado, Eunhyuk correu ao encontro dos outros e assumiu a posição da garota ao lado do jovem de cabelos bem negros e espetados para todas as direções do solo.

– Vamos... Vamos voltar para o acampamento – pediu o moreno reprimindo uma careta de dor. Após o choque de Yuri, Yesung havia ficado desorientado, mas voltando ao seu estado normal, ele sentia uma queimação incomum em todos os seus membros. Era como se a eletricidade tivesse ultrapassado sua carne e percorrido um caminho ao lado de seus ossos, ele apenas tentava não demonstrar isso.

Eunhyuk assentiu. Yuri disse que os encontraria lá, pois não queria ficar sem sua moto, e saiu andando apressada na frente, mas além seus cabelos e roupas desorganizadas, havia mais algo de errado com a jovem. Hyukjae foi o único a perceber e franziu o cenho sem reação, enquanto o lábio inferior pesava, deixando a boca semiaberta. Os passos da jovem desaceleraram e sem aviso prévio ela tombou para a direita. Eunhyuk correu ao seu encontro, deixando os dois rapazes para trás, e sem se importar com o sangue que molhava as costas da jovem, ele a pegou nos braços com um pouco de dificuldade e saiu correndo desesperado para o hospital mais próximo.


P.O.V – KyuHyun on

Tudo a minha volta movia-se tão devagar que eu estava completamente perdido no tempo. Pela falta de contato com o sol e até mesmo de relógios, não havia como saber a quanto tempo eu estava naquela prisão. Eu havia dormido por algum tempo depois da refeição que fiz com Yoseob, mas a claridade excessiva me impedia de descansar de verdade. Minha respiração havia se tornado ofegante apenas sentado naquele cubículo, mas eu tinha uma esperança que mantinha confiante. O mesmo poder que havia me prendido iria me libertar. Meus tios me salvariam, cedo ou tarde eles encontrariam o laboratório onde eu estava e libertaria a todos os incomuns, e o que eu pudesse fazer para ajudá-los, eu faria.

Escutei o som de passos proveniente do corredor e fitei ao Yoseob. O menor também pousou seus olhos apreensivos em minha face, enquanto abraçava as próprias pernas. Eram os dois homens de macacões azuis que eu havia visto há pouco tempo carregando Yoseob até sua cela. O mais alto tirou o cartão que ficava escondido junto ao peito e colocou naquela espécie de caixa eletrônica de Yoseob, que lhe permitia livre acesso a cela. O menor se encolheu mais ainda, assustado com o que poderia lhe acontecer, mas o homem mais baixo adentrou ao cubículo e o tomou pelo braço direito. Yoseob se recusou a se levantar e neste pequeno espaço de tempo escutei mais sons de passos seguidos pela presença do médico ocidental. O homem menor teve que estapear a pequena e delicada face de Yoseob para que este se levantasse. O médico que havia parado do fora da cela esperando por seu ratinho, se mostrou verdadeiramente irritado ao vê-lo sair na companhia de apenas um dos homens.

– Por que ele está sem luvas? Quantas vezes tenho que dizer que ele só pode sair dessa cela com as luvas? Bando de incompetentes! Coloquem as luvas nele! - ordenou o médico irritado e saiu bufando.

Franzi o cenho curioso, então independente do que Yoseob era capaz de fazer, ele precisava do contato direto. Eu gostaria de saber o poder do mais novo, mas ele se recusava a me contar. Seus olhos amendoados pousaram cabisbaixos em minha face deixando visível a marca vermelha em sua bochecha esquerda. Ele franziu o cenho por uma fração de segundos, mas quebrou o contato visual quando ouviu a pergunta do homem que o segurava.

– Cara, você tem uma luva ai?

– Não cara... Vamos buscar – disse o maior saindo apressado, enquanto o outro, sem ao menos protestar por ter que levar o menor sozinho, o acompanhou.

A cela ficou aberta. O cartão estava na máquina com o fio preso a ele, mas o que eu poderia fazer? Tentei passar minhas mãos por aqueles buracos da ventilação, mas era impossível passar por um espaço tão estreito e além do mais o corredor era mais largo do que o tamanho do meu braço. Entrando em desespero, comecei a esmurrar aquela parede de vidro, mas ela era grossa e resistente o suficiente para manter-se intacta.

– Aish! - esbravejei irritado sentindo as mãos arderem e escutei mais uma vez o som de passos. O homem que havia deixado o cartão, o tirou da máquina e me fitou por longos segundos com expressão fechada.

E lá se ia minha única oportunidade de fuga.

P.O.V – KyuHyun off


P.O.V – HeeChul on

Minhas mãos estavam firmes no volante, mas elas tremiam involuntariamente. A raiva me consumia de tal forma que Siwon se arrependeria de ter nascido caso a Krystal fosse minha filha. Eu jamais permitiria que alguém inferior como ele brincasse com os sentimentos de uma filha minha, jamais. Estacionei na calçada de Siwon e desci do carro bufando. Eu precisava trocar algumas palavras com ele antes de sua execução. Ainda escutei os apelos de Leeteuk hyung me pedindo para me acalmar, mas se eu não havia me acalmado nos trinta minutos de percurso, não seriam alguns passos que me fariam mudar de ideia. Próximo à porta do mais novo, tudo o que fiz foi um movimento da mão direita a mandando para longe. Ele apareceu na porta da cozinha com um suco em mãos e uma expressão assustada, mas ao pousar os olhos em minha face, ele sorriu menos preocupado.

– O que estão fazendo aqui? - perguntou ele com uma falsa inocência que me irritava. Não respondi com palavras, respondi agarrando seu pescoço pela telecinese e o joguei nas escadas para o andar superior que ficava ao lado da entrada da cozinha – Desculpa hyung – implorou Siwon em meio uma careta de dor.

– Então você já sabia? – esbravejei mais irritado ainda.

– Desculpa hyung, eu vou mandar consertar, não se preocupe, vai ficar como novo... – implorava o dongsaeng se erguendo da escadaria, mas o interrompi.

– Que mandar consertar o que! Você nunca mais vai chegar perto da minha filha seu pervertido! – esbravejei enquanto me aproximava do mais novo com o indicador direito apontado para sua face medrosa.

– Filha? – perguntou ele em meio uma careta confusa.

– Eu disse que ele ia te matar – comentou Youngwoon dando de ombros.

– Mas que filha?

– Se a Jessica me confirmar que a Krystal é minha filha, eu desejaria nunca estar na sua pele – ameacei irritado e dei as costas. Meu blazer alongado descreveu um gracioso arco no ar, mas sem me importar com nada que fosse banal, passei pela porta da frente marchando e fiz um movimento rápido com a mão esquerda, trazendo-a ao seu lugar.

Durante o longo percurso até a cidade, eu havia conseguido o número de Jessica pela agência de modelo em que Siwon trabalhava e com um pouco de dificuldade eu havia marcado um café amigável no shopping mais próximo que havia da casa do dongsaeng. Novamente Leeteuk tentou me impedir, dizendo que eu precisava me acalmar, que talvez tudo aquilo não passasse de um equivoco de Young-woon, mas por ser um vidente, não havia como não acreditar naquele alcoólatra repugnante, não depois dele ter duas visões relacionadas à Krystal.

Cheguei ao local no horário marcado, mas não havia sinal dela. Sentei-me à mesa mais reservada da cafeteria e fiquei olhando para o relógio de minuto em minuto. A jovem garçonete veio perguntar meu pedido, mas respondi apenas que esperava por uma pessoa. Enquanto esperava mergulhado naquele mar de aflição, meus dedos tamborilavam a mesa, Jessica não seria capaz de quebrar um compromisso comigo, seria? Quando finalmente me rendi à ansiedade, levando a unha do indicador à boca, vi uma mulher loira e com aparência de vinte e seis, vinte e sete anos adentrar ao local. Seu cabelo liso caia os ombros e sua franja cobria completamente sua testa. Mesmo possuindo traços coreanos, seu cabelo loiro era de um brilho tão intenso e de uma cor tão viva, que parecia ser natural. Sua postura era tão perfeita quando de uma modelo e seu olhar sério reforçava mais ainda sua maturidade. Ela usava um salto agulha vermelho e um justo vestido preto. A maquiagem era leve e adequada ao horário, em resumo ela estava tão bonita quanto eu me lembra, talvez até mais. Ergui-me atônito, fazendo com que ela me vise e ensaiasse um sorriso torto.

– Kim HeeChul – disse ela caminhando graciosamente ao meu encontro e parou defronte comigo – A quanto tempo, pelo visto não sou a única que vestiu em cremes de rejuvenescimento – provocou ela soltando um sorriso com desdém, mas não deu tempo para resposta – Por que depois de todos esses anos, resolveu marcar um café comigo? – questionou a mais nova arqueando uma das sobrancelhas.

– A Krystal é minha filha? – sem ao menos nos sentar, fui logo ao assunto, deixando a dongsaeng boquiaberta.

– De onde tirou isso? - perguntou ela pasma.

– Não minta para mim Jessica, eu preciso saber de uma vez, a Krystal é minha filha?

– Não, claro que não! - respondeu a mulher negando fervorosamente com a cabeça.

– Young-woon... Não sei o que passou em minha cabeça para dar credibilidade a um alcoólatra. Eu mato aquele infeliz! – disse em um pensamento alto me praguejando por pelo menos uma vez na vida acreditar nas palavras do dongsaeng, mas voltando a realidade do presente, disse da forma mais calma em que eu havia estado durante o dia todo – Tudo bem, tenho que ir.

– Espera! Você me chamou aqui só para me fazer essa pergunta sem nexo algum? – questionou Jessica franzindo o cenho, indignada. Sem dizer nada, assenti com a cabeça – Então eu fiz muito bem em ir para os Estados Unidos e te ignorar todo esse tempo.

– Você foi para os Estados Unidos porque eu terminei com você, pensa que eu não conheço essa história? Deve ter sido tão doloroso para você, mas foi boa sua viagem, eu também não aguentaria ficar vendo essa sua cara esnobe todo esse tempo – retruquei sem ao menos pensar em minhas palavras, eu só não queria ser humilhado em um lugar público e deixar por isso mesmo.

– Seu arrogante e prepotente! Não é atoa que nunca se casou! – retrucou Jessica tentado me ofender, mas suas palavras eram vagas demais.

– Então você esteve todos esses anos preocupada com o meu estado civil? - perguntei sorrindo com desprezo.

– Você continua o mesmo arrogante de sempre! Não acredito que vim até aqui pensando que você queria me ver, que pudesse ter mudado.

– Eu que tinha esperanças de você pudesse ter mudado ou que pelo menos estivesse mais suportável, mas não, você continua a mesma patricinha egocêntrica de sempre. Dou graças a Deus pela Krystal não ser minha filha, porque eu não aturaria alguém que saiu de você – disse por fim, acabando com aquela discussão. Bufei irritado e segui para saída, mas assim que passei por Jessica, ela virou-se para minhas costas e disse algo que estava bem preso no fundo de sua garganta.

– Mas ela é sua filha, idiota! - gritou ela me paralisando e deixando todo o ambiente no mais perfeito silêncio – Foi por isso que eu fui para os Estados Unidos, eu não queria que você soubesse que eu estava grávida – disse ela de forma mais baixa e controlada, enquanto eu me virava lentamente para encara-la.

– Mas nós não nos vemos há vinte anos – retruquei respirando com dificuldade.

– Você terminou comigo no fim do ano e Krystal é de junho, faça as contas. Eu estava grávida de três meses quando você me deixou, então depois disso eu fui embora. Quando minha mãe soube do nascimento da Krystal, ela quis contar tudo a você, mas eu já havia encontrado um homem descente e que me amava o suficiente para assumir a paternidade da minha filha.

– Se ele te amava tanto, por que o deixou? - questionei com desprezo.

– Seu pabo! - esbravejou ela escondendo a face com as mãos e saiu correndo para a saída.

P.O.V – HeeChul off


– Por que o hyung-nim pode ir a encontros com noonas e eu tenho que ficar aqui? – questionou um magricelo garotinho de feições coreanas, com os braços cruzados sobre o tórax, expressão fechada e sentado em um sofá de cor clara.

– Não é um encontro, é um esclarecimento de fatos – retrucou o líder sentando ao lado do mais novo, que estava exatamente no meio do sofá de três lugares.

– Falando em esclarecer fatos, faz dias que quero esclarecer um – disse o maior do grupo, que embora sentisse seu corpo dolorido pela agressão que havia sofrido de Heechul, possuía questionamentos mais importantes em sua mente.

– Não importa quais são os seus questionamentos Simão, os meus são mais importantes – retrucou Pedro de forma tão arrogante, que Siwon ficou sem palavras - Eu quero que vocês me expliquem essa história do hyung-nim ter filhos, eu nem sabia que diferentes podiam ter filhos.

– Não somos estéreis se é isso que está insinuando – retrucou KangIn, que havia se recuperado de sua ressaca, com os olhos semicerrados.

– Eu não disse isso – respondeu Pedro rapidamente, enquanto erguia ambas as mãos para reforçar sua inocência. Em sua cabeça ele não tinha culpa pelo seu hyung entender algo de forma errada, mas que ele estava sendo arrogante e impertinente em demasia, isso todos da sala concordavam.

– Não é que não podemos ter, apenas preferimos não ter, porque eles nasceriam incomuns e a única certeza que teríamos é que morreríamos primeiro que eles. É complicado você construir uma família dessa forma, não pode ser com qualquer pessoa e além do mais temos vidas ocupadas demais, não é como se fossemos apenas médico, modelo ou empresário, somos também heróis, quando a sociedade precisa de nós, precisamos estar lá.

– E como sabem que um filho de um diferente nasceria incomum? Por acaso já fizeram o teste? – retrucou o menor bufando baixo.

– Pouco importa – retrucou Siwon se irritando com todo aquele diálogo - O importante é que se a Krystal for mesmo filha do Heechul, espero que ele não se zangue tanto comigo, nunca imaginei que ele fosse um pai tão super protetor e nem para você me avisar – retrucou Siwon fitando ao fim KangIn, que apenas deu ombros.

– O que você queria esclarecer mesmo Siwon? – perguntou o líder tirando o maior de seus pensamentos.

– Ah sim – disse ele após alguns segundos suavizando sua expressão – Os poderes do KangIn e Heechul hyung já destrocaram? – Leeteuk apenas abanou negativamente com a cabeça – Então eu gostaria de fazer um teste – disse ele se erguendo do outro sofá onde estava sentado e parou defronte com o líder.

– Que tipo de teste? – perguntou o mais velho do grupo, franzindo o cenho desconfiado, quando Siwon se colocou de joelhos a sua frente e tomou-lhe as mãos.

– Este – respondeu o maior puxando Leeteuk para seus lábios que formavam um meigo bico.


***


Em uma comum sala de espera havia três rapazes que aguardavam ansiosos noticias de uma jovem, mas havia tantas outras coisas em suas mentes, que eles não poderiam manter tudo aquilo apenas para si.

– Não acredito que além de não conseguir nenhuma pista quanto o desaparecimento do Kyuhyun, ainda por cima a Yuri foi hospitalizada – reclamou Yesung mais para si mesmo do que para os outros, mas tanto Jongjin quanto Eunhyuk encararam ao mais velho.

– Na verdade eu tenho uma – respondeu Eunhyuk sorrindo com o canto direito dos lábios.

– Kim Jongwoon... - chamou o médico coreano finalmente surgindo na recepção.

– Aqui – respondeu o mais velho aflito se erguendo junto com os seus dongsaeng – Qual é o estado da Yuri? Ela vai ficar bem? – questionou ele parando ao lado do médico, que era um pouco mais alto que ele e usava seu cabelo todo penteado para trás.

– Ela se feriu na cabeça, mas não foi nada profundo, suas funções cerebrais continuam intactas, exceto por um pequeno detalhe, mas não se preocupe, não é nada grave. Ela ficara em observação por um dia apenas para termos certeza de seu estado. No momento estão transferindo-a para a enfermaria, só então as visitas serão liberadas. Guardem alguns minutos, por favor – disse o homem serenamente, sem expressar absolutamente nada.

– Obrigado doutor – disse Yesung em meio a uma polida reverência.

O homem apenas assentiu com a cabeça e voltou a suas atividades. Os três comemoraram entre si o estado de Yuri e voltaram a sentar nas cadeiras disponíveis na recepção, ansiosos pelo momento em que poderiam encontrar com Yuri, mas em meio a tanto silêncio, Jongjin recordou-se de algo.

– Que tipo de dica você tem Eunhyuk hyung? – perguntou o menor encarando ao loiro com seus olhos infantis e curiosos.

Fazendo um pouco de suspense, Eunhyuk pousou os olhos sobre a face de Jongjin e em seguida fitou Yesung que também se interessara pelo assunto. Abrindo um torto sorriso, ele anunciou o que gostaria de ter dito há muito tempo, apenas para demonstrar o quão esperto era.

– Podemos rastrear a detectora.