– COMO VOCÊ FOI CAPAZ DE FAZER ISSO COM O MEU CELULAR? - esbravejou Jongjin completamente irritado e por consequência esquecendo-se que estava em um ambiente que exigia silêncio. Eunhyuk que havia lhe contado de seu bravo feito, fez sinal para que ele falasse mais baixo – Por que não entregou o seu celular? - perguntou o menor em tom mais baixo e controlado, porém ainda era possível sentir a irritação em sua voz.

– Porque o meu celular não possui GPS – respondeu o loiro dando de ombros, como se aquilo fosse a coisa mais banal do mundo – De qualquer forma não se preocupe, rastrearemos a detectora e além de salvarmos o Kyuhyun, pegaremos seu celular de volta.

– Isso se ela não o encontrar primeiro e o quebrar em um milhão de pedacinhos! Como você é burro Eunhyuk! Você é mais burro que uma porta! Não, nem te chamar de burro eu posso, porque estarei ofendendo aos burros... – Jongjin repetia elevando o tom de voz, mas foi interrompido por uma mulher de feições coreanas que estava vestida de branco da cabeça aos pés.

– As visitas estão liberadas – avisou a enfermeira em um estado em que a calma e o tédio se misturavam e antes mesmo que Yesung terminasse sua curta reverência como forma de agradecimento, ela deu as costas e desapareceu em um dos corredores do enorme hospital.

– Vocês dois! - disse o mais velho em meio uma carranca irritada quando notou que estava novamente sozinho com seus dongsaengs - Parem de briga! Primeiro veremos a Yuri e depois decidiremos o que fazer, estamos entendidos? - Eunhyuk buscou o chão com os olhos e assentiu com a cabeça submisso, enquanto Jongjin entortou os lábios contrariado – Estamos entendidos? - repetiu Yesung sério fitando a face do mais novo.

– Ai do Eunhyuk hyung se ele não me comprara um celular novo – ameaçou o menor. O loiro tentou protestar, mas o líder apenas assentiu com a cabeça e fez sinal para que ambos o acompanhassem até a enfermaria.

A enfermaria era uma típica sala branca com um total de dez camas distribuídas igualmente pelo espaço. Para cada leito havia um banquinho para o acompanhante e um baixo armário que se mantinha sempre organizado, limpo e fechado. Além disso, havia divisórias entre as camas. Yuri se encontrava descansando no segundo leito à direita.

– Oppa! – disse a jovem ao percebendo a presença de Yesung, que tomava a frente do grupo, e completou ao ver os demais - Dongsaengs... - ela ensaiou um sorriso, mas se limitou a suspirar.

– Como você se sente? - perguntou o mais velho sereno parando ao lado da cama da jovem. Jongjin e Eunhyuk preferiram ficar ao pé da cama, em especial o primeiro, que gostaria de levar a discussão acerca de seu celular à frente, mas faltava-lhe oportunidade.

– Estou bem oppa, só me sinto triste por ter me machucado atoa... Se pelo menos tivemos encontrando uma pista que nos levasse ao paradeiro do inútil do Kyuhyuh, eu poderia salvá-lo e esfregar isso eternamente em sua cara patética.

– Noona, não guarde tanto rancor em seu coração – disse o loiro em meio uma careta tristonha, mas ao receber o olhar de desprezo da mais velha, se aprontou em completar – Omo! Não me olhe dessa forma, eu consegui mais informações do que você e o Yesung hyung.

– Conseguiu? – perguntou Yuri sentando-se na cama. O mais velho fez sinal discretamente pedindo que o loiro ficasse quieto, mas diante da curiosidade e até mesmo aflição de sua noona, não havia como ele se manter quieto.

– Sim Yuri, eu peguei o celular do Jongjin dongsaeng e coloquei no bolso da detectora sem que ela percebesse, agora tudo que nos resta é usar um celular com internet para rastrear ao celular do maknae e pelo o que vimos no centro, tenho certeza que ela está envolvida no sequestrado do Kyuhyun.

– Eu não esperava isso de você... – disse a jovem surpresa, acabando com a animação do loiro, mas por fim ela abriu um entusiasmado sorriso – Precisamos encontra-la imediatamente!

– Mas e a sua cabeça? O médico disse que precisa ficar em observação... – argumentava Yesung, mas foi interrompido.

– Ela está latejando um pouco, é verdade, mas é apenas uma busca, se não o encontrarmos, eu voltarei para o hospital tranquilamente, ou melhor, irei para um hospital particular, então nada de sermões Yesung oppa, o importante no momento é encontrar o inútil do Kyuhyun – disse a jovem descobrindo as pernas e fez um movimento brusco para descer da cama, porém quando jogou suas pernas para fora dela, fez uma careta de dor.

– Isso não vai dar certo – resmungou o líder.


P.O.V – Pedro on

– Sai Lucifáh! - exclamou o líder tampando a boca de Simão com ambas as mãos e salto tão alto e rápido por cima do sofá, que poderia ser descrito como um gracioso voo. O maior que não esperava por aquilo e continuava a se inclinar em direção ao mais velho, caiu com a face no estofado, enquanto Leeteuk parava ofegante do outro lado do lado – Mas que tipo de assédio é esse que estou sofrendo!?? Primeiro o KangIn, agora você, parem com isso! Eu não vou servir de cobaia pra ninguém! - esbravejou o líder bufando de tão irritado.

– Omo! Mas se não for com você, com quem será? – perguntou Simão inocentemente, que agora havia se recomposto e estava ajoelhado ao meu lado no sofá - Talvez o beijo não funcione com o KangIn e o Heechul hyung porque seus poderes foram trocados posteriormente e como o Pedro não desenvolveu seu sexto poder ainda, contando com a telecinese é claro, resta apenas você líder.

– É uma lógica irrefutável – concordou tio KangIn assentindo com a cabeça.

– Ai! - exclamei baixinho levando a mão à testa e me encolhi no sofá. Os hyungs imediatamente perguntaram o que tinha acontecido. Levei algum tempo até que estivesse apto a responder suas inúmeras perguntas que apenas cresciam diante do meu silêncio – Não foi nada, apenas uma pontada na cabeça, mas não se preocupem... – disse me erguendo do sofá e pousei os olhos na face preocupada do líder, que mesmo assim se mantinha do outro lado do sofá - Eu só preciso ficar longe dessa boiolice.

Leeteuk separou os lábios indignados, pronto para protestar, mas não houve som algum. Não havia palavras que discordassem na minha lógica e por se tratar de uma vingança, eu consegui exatamente o que queria, deixar o líder inquieto e sem resposta. Deixei os três discutindo sobre a causa da troca de poderes e subi para o primeiro andar, mas chegando ao piso superior, eu não sabia o que fazer. Minha cabeça doía com tanta intensidade que me ajoelhei no corredor e apertei minhas têmporas. A telepatia, pensei em um sobressalto e me arrastei em direção as escadas. Achando que estava camuflado, fitei ao tio KangIn com os olhos semicerrados tentei me concentrar unicamente nele, tentando de certa forma, liberar este poder que me causava dor, mas não havia nada em sua cabeça, era como se ele simplesmente não estivesse pensando, apenas falando, falando e falando mais um pouco, sem com que as palavras passassem por seus pensamentos.

Mas o que eu poderia esperar de tio KangIn? Questionei a mim mesmo entortando os lábios e desci passar para a cobaia número um. O líder, que discordava de todos os argumentos de Simão, ainda ostentava toda a irritação por ter sido quase beijado por um garoto pela segunda vez. Normalmente eu não via problema quanto a isto, na verdade isso me lembrava do inútil do Hyukie que havia desaparecido com a promessa de encontrar o Kyu e até o momento não havia feito contato. Mas voltando a minha insistente dor de cabeça, tentei captar um pensamento, qualquer que fosse, da cabeça do líder. Minha aflição atrapalhava minha concentração, mas meus olhos estavam vidrados no líder, eu não podia bloquear um poder como aquele, e principalmente não podia ficar a mercê de dores de cabeça, não depois de ter me livrado da hipotermia. Minha respiração era pesada, mas sob ela era possível ouvir um zumbido.

Mas que raios de ideia! – resmungava ele em pensamento, enquanto bufava com as mãos apoiadas na cintura.

Seus pensamentos eram um tanto vagos, todos relacionados à discussão que ocorria no piso inferior, mas me mantive concentrado em suas palavras até que a porta, que já não estava fixa na parede, desabou. Todos os olhares voltaram-se para a abertura e com um pouco de esforço, me estiquei sobre as escadas o suficiente para captar a imagem séria e abatida de HeeChul. Simão, que estava de joelhos no sofá, engoliu em seco observando ao mais velho.

– A Krystal Jung... – minha respiração falhou, junto com a de Simão, que desejava imensuravelmente que ele não dissesse... - É minha filha – anunciou o hyung-nim com seu olhar vidrado no piso.

– Estou morto – foi tudo o que Simão falou, antes de se jogar para trás. Seu corpo robusto tocou o tapete da sala com violência, por poucos centímetros ele não acertou a mesinha de centro, mas hyung-nim ignorou a ele e ao barulho.

– Concentre-se na Krystal – pediu Heechul com seu olhar vacilante pousado na face de tio KangIn e caminhou abatido em direção a escadaria.

No mesmo instante me ergui do corredor e corri para a primeira porta que avistei. No estado em que o mais velho se encontrava, não seria bom para o seu orgulho que eu o visse, então preferi me esconder, mas o afobamento era tamanho, que a porta do banheiro onde eu havia estrado, ficou entreaberta. O som dos passos do hyung-nim cresciam a cada segundo e levado pela curiosidade, olhei pelo pequeno espaço no exato momento em que ele completava as escadas. Seus olhos pousaram de relance em minha face, mas ele nada disse ou expressou, simplesmente entrou em um dos quartos. Assim que ouvi o som de sua porta sendo bruscamente fechada, deixei o banheiro e desci as escadas correndo.

– O que aconteceu com o hyung-nim? Por que ele está daquele jeito? – perguntei fitando aquelas três estátuas surpresas e pensativas, enquanto forçava um pouco de inocência. Seria melhor se eles achassem que eu não havia ouvido nada, apenas escutado o barulho da porta desabar e depois o som de passos na escadaria, algo que anunciasse a chegada do ex-vidente.

– Ele não está passando por um dia bom... – respondeu o líder após um breve momento de hesitação - Deixe-o descansar – completou ele indiferente e deu as costas indo em direção à cozinha.

– Espere Leeteuk hyung! – pediu tio KangIn, fazendo este parar e encará-lo sério – Ajude-me a esclarecer isso de uma vez. Eu não consigo me imaginar beijando a Cinderela, mas não quero controlar a água pelo resto da minha vida. Eu quero controlar o fogo, quero ser veloz, poder estar em vários lugares ao mesmo tempo... Eu quero ser livre e indomável!

– Aish! Eu não far... - sem que percebesse Simão se aproximava sorrateiramente do líder e no momento em que ele protestava pela milésima vez, o maior lhe calou com um beijo. Meus olhos se arregalaram diante daquela cena. Leeteuk estava estático e assustado, como um dia eu havia estado, enquanto Simão pressionava suavemente seus lábios.

A expectativa de tio KangIn, chegava a ser perturbadora, mas por sorte aquele beijo não durou mais que alguns segundos. Quando Simão se afastou abrindo seus olhos, Leeteuk recuou em meio uma careta enojado, mas ainda com seu olhar parado e sem conseguir dizer absolutamente nada.

– Dongsaeng, você sente algo de diferente? - perguntou tio KangIn visivelmente apreensivo.

– Eu me sinto... Estranho – disse Simão colocando a mão sobre barriga – Minha barriga está formigando, é que como se eu pudesse... Voar - Simão voou literalmente pelos ares, mas não por causa de uma possível nova habilidade e sim, por culpa de Leeteuk que lhe apontava as palmas de suas mãos. Seu corpo voou pela sala caindo exatamente sobre a sua enorme televisão.

– Seu infeliz! - esbravejou o líder bufando e desapareceu.

– Por que vocês... ? - começou tio KangIn atônito – Leeteuk hyung? - perguntou ele olhando para os lados confuso, mas não havia sinal do líder que assumira sua forma invisível.

– Seja lá o que causou a troca, espero que se acostume com os poderes do hyung-nim – disse tocando o ombro de tio KangIn em meio um sorriso irônico e completei fitando também a Simão, que se erguia desorientado – Arrumem essa bagunça, quando o líder aparecer, voltaremos para o sobrado, será melhor para o hyung-nim.

Os dois apenas me encararam estupefatos enquanto eu subia apressado para o andar superior.

P.O.V – Pedro off


– Ele não está achando e você terá que me pagar um celular novo, seu inútil! – esbravejou Jongjin, que estava ao lado de Eunhyuk, observando com ele a tela do celular de Yuri no qual o mapa de Seoul estava estampado, porém uma mensagem no topo indicava que uma busca havia sido fracassada.

– Mas, mas... – gaguejava o loiro que o tempo inteiro se mantinha confiante em seu plano.

– Vamos, é melhor levar a Yuri de volta ao hospital.

– Mas... Eu só queria... – os olhos do loiro pousaram na face pálida e tristonha de Yuri, mas ele se calou ao perceber a falta de sinal.

– Vamos! – repetiu Yesung firme e sério.

Voltando seu olhar contrariado para o chão, Eunhyuk respirou fundo escutando por uma fração de segundos apenas os passos apressados a sua volta e fitou a face séria do mais velho. O loiro ainda entortou os lábios hesitante, mas por fim entregou o celular para Yesung.

– Eu te aju... – dizia o moreno tentando encorajar ao loiro a não desistir da busca de Kyuhyun, mas um som agudo lhe calou.

– Achamos – disse Eunhyuk abrindo um sorriso entusiasmado e tomando o celular das mãos do líder.

– Está marcando onde? - perguntou Yuri parando ansiosa ao lado do jovem que mesmo sendo mais novo do que ela, era um pouco mais alto que sua noona.

– Está... Na saída da cidade... Em movimento - disse Eunhyuk sem conter o sorriso.

– Como a detectora não viu ou sentiu o celular em seu bolso? – questionou o menor do grupo indignado - Essa é mais burra que o Eunhyuk, mas é melhor irmos, antes que o sinal desapareça – resmungou o menor fingindo ainda estar bravo, mas por dentro ele estava aliviado.


***


Em meio à floresta um enorme muro cinza se erguia. Um muro um pouco mais alto que um sobrado e no topo dele havia cerca elétrica e arrame farpado. A única entrada era guardada por uma guarita de vidros tão escuros que era impossível ter certeza se havia mesmo alguém ali dentro e pelo menos visivelmente as duas câmeras de segurança estavam todas voltadas para os portões, apenas uma terceira alternava dos portões para a guarita, mas mesmo assim ela deixava um intervalo de tempo muito longo.

– Eunhyun, você entra, acha o Kyuhyun e sai – ordenou Yuri em sussurros, escondida junto com os outros rapazes atrás de uma árvore a uma distância de aproximadamente cinco metros da entrada.

– Como se eu conseguisse entrar em um lugar que não conheço... – resmungou o loiro – E mesmo que eu conseguisse, ali deve ter inúmeras câmeras, não posso entrar sozinho, vão me matar ou melhor ainda, vão me capturar e usar de cobaia.

– Deixe de ser covarde – retrucou Yuri dando-lhe um soco do braço direito. O loiro reclamou do golpe em meio uma expressão de choro, mas tudo o que a jovem fez, foi lhe ignorar - Nós precisamos de um bom plano e precisamos para agora! – afirmou Yuri voltando seu olhar perspicaz para a entrada.


***


– Isso não vai dar certo! - exclamou Yesung, que estava com as mãos espalmadas voltadas para o sol, enquanto transpirava e ofegava devido o grande esforço que fazia.

– Vamos! É pelo inútil do Kyuhyun! - argumentou Yuri tocando suavemente o ombro direito do garoto.

Ele apenas balançou a cabeça, pedindo que ela se afastasse e voltou a se concentrar. Sendo ele um controlador de sombras, Yesung conseguia com facilidade apagar pequenas lâmpadas e escurecer outras, porém o que ele tentava fazer estava muito distante do que ele normalmente era capaz de fazer. Densas nuvens extremamente negras começaram a sair detrás das nuvens comuns cobrindo ao sol, mas elas eram pequenas e vagarosas em demasia e mesmo assim era o suficiente para fazer a cabeça do moreno latejar.

– Vai mais! - exigiu Yuri.

– Estou tentando! – retrucou o jovem cerrando os dentes com força.

– Olha ali! Os guardas estão saindo! - avisou Jongjin apontando para a guarita de onde dois homens vestidos com um macacão azul, saiam tentando descobrir de onde vinha aquela repentina sombra.

– Vai Eunhyuk! – ordenou a jovem ao ter certeza que mais ninguém sairia e percebendo que a terceira câmera estava voltada para os portões.

EunHyuk assentiu com a cabeça e desapareceu deixando para trás sua típica névoa negra. Pela curta distância, em poucos milésimos ele surgiu atrás dos dois homens, os agarrou pelo colarinho do macacão e voltou a desaparecer levando-os consigo. Yesung desabou no solo exausto, enquanto esperava por Eunhyuk. Sua nuvem negra rapidamente se dissipou no ar, mas o silêncio que havia se instalado, sendo este perturbado apenas por sua respiração pesada, lhe incomodava.

– Oi – disse Eunhyuk surgindo atrás do moreno com um enorme sorriso entusiasmado e vestido com o macacão azul – Quem vestirá o outro? – questionou ele erguendo a outra vestimenta.