P.O.V – KyuHyun on

Meus olhos fitavam ao teto. Saturno não parava de se mexer devido uma brisa fresca que havia entrado pela minha janela, não só Saturno como Marte e Vênus, mas Júpiter era arrogante demais para se mover mais que o necessário. Os noves planetas estavam ali, até mesmo Plutão, que nem planeta era considerado mais, adornava ao meu teto preso a um fio que lhe dava o movimento. Aquela decoração devia ter uns dez anos, mas eu não me cansava dela. Minha cabeça viajava de planeta em planeta até que encontrei algo que me fez sorrir. Não era nada concreto, nada que estivesse ao meu alcance, na verdade não passava de um rosto, um delicado e bonito rosto. Estiquei meu braço para o criado-mudo e peguei meu celular. Se eu queria vê-lo novamente aquele era o único modo. Embora receoso, busquei seu nome na agenda e apertei a tecla de chamar. Minha respiração pesou e calmamente aproximei o celular na orelha direita.

– Alô – falou aquela voz adocicada do outro lado da linha, fazendo minha respiração cessar.

Não era para ele ter atendido tão rápido, eu não esperava que ele atendesse tão rápido. Saltei da cama com o coração acelerado e voltei a me sentar nela em completo desespero. O que eu falaria para o hyung?

– Oi Sungmin, aqui é o Kyuhyun... - disse tremendo.

– Kyuhyun! - falou Sungmin entusiasmado – Estava mesmo esperando uma ligação sua... - houve um brusco silêncio do outro lado seguido por uma crise de tosse – Quer dizer, faz tempo que não nos vemos e... - sorri ao perceber o quão nervoso o mais velho estava, mas seu nervosismo estranhamente me dava forças para ser forte.

– Podemos nos encontrar agora? - perguntei sorrindo.

– Claro – respondeu o hyung em meio a um suspiro – Pode ser na cafeteria Handel & Gretel? É umdos lugares preferidos da minha irmã, ela sempre fala tão bem dessa cafeteria e estou aqui perto...

– Tudo bem Sungmin hyung, mas vou demorar um pouco... A propósito, onde fica isso? - perguntei franzindo o cenho pensativo, eu não era do tipo que andava pela cidade e conhecia os lugares.

Depois que Sungmin me passou o endereço, desliguei a chamada e me ergui da cama tirando minha camiseta. Eu precisava achar algo bonito no meu guarda-roupa para encontrar o mais velho. Revirando meu mediano e antiquado guarda-roupa de madeira encontrei uma camiseta com listras grandes na horizontal intercalando preto e branco e decidi que seria ela mesma. Eu não havia tomado banho e muito menos tinha tempo para tal, mas mesmo assim peguei meu perfume caro que Heechul havia me dado no meu aniversário passado e borrifei um pouco no pescoço. Meu cabelo estava despenteado, mas eu gostava de vê-lo de tal modo, pelo menos tirava um pouco do aspecto nerd com o qual todos da minha escola me viam. Peguei minha carteira de dentro do guarda-roupa e minha mochila preta que estava jogada no chão. Meu notebook estava ligado sobre a cama e antes de desligá-lo, apertei uma combinação própria de teclas e ordenei de modo mais claro possível.

– Procure por Pedro Assunção - rapidamente meu notebook começou a verificar o banco de dados virtual e milhares de resultados começaram a aparecer – Como pode ser tão incompetente? - perguntei revirando os olhos, fazendo a pesquisa parar. Nunca havia dito aquilo para ninguém, mas eu e meu notebook éramos tipo melhores amigos. Eu tinha medo de contar aquilo para tio Siwon e os outros, mas às vezes conversávamos e eu havia dado um nome a ele – Hyunnie, eu quero apenas sobre esse Pedro Assunção – disse tocando-o momentaneamente e fechando os olhos. Em minha mente a imagem do impertinente do Pedro apareceu e Hyunnie voltou a sua busca.

Abri os olhos novamente e esperei que a busca cessasse. Eu precisava saber como estava as investigações sobre o desaparecimento do menor no Brasil, mas ao constatar que em nada eles haviam evoluído, desliguei Hyunnie e o guardei em minha mochila. De modo algum eu saia sem ele, até mesmo por saber o quão neuróticos eram netbooks e o quão melancólicos os computadores haviam se tornado, principalmente os velhos. Antes de sair, peguei meu cartão do metrô e verifiquei minha mochila para saber se estava tudo dentro da mesma mesma. Tendo certeza que não havia esquecido nada, passei no banheiro para escovar meus dentes e deixei minha casa apressado.

P.O.V – KyuHyun off


P.O.V – Leeteuk on

– Taeyeon, onde está o Donghae? - exigi saber adentrando furioso ao seu apartamento, se Pedro estivesse com um arranhão, por menor que fosse ele, eu acabaria com Taeyeon em dois segundos e teria enorme prazer em fazê-lo.

– Como você se atreve a arrombar minha porta e entrar no meu apartamento dessa forma? E quem lhe disse que estou com o Donghae? Eu nem sei quem é esse garoto, porque você não quis minha ajuda para treiná-lo - retrucou a loira me encarando perigosamente com seus belos olhos escuros.

– Não minta Taeyeon, eu vi você com ele, assim como o seu incomum teletransportador levá-lo para longe. Diga de uma vez, para onde ele o levou? – perguntou Heechul adentrando ao lugar sendo seguido de perto por Siwon e KangIn.

– Ora ora se não é o arrogante do Heechul e quem mais está aqui? O alcoólatra KangIn e o bonito Siwon, pelo o que vejo estão reunidos novamente por causa desse garoto, ele deve ser realmente detentor de um grande poder – respondeu Taeyeon com arrogância.

– Diga de uma vez – rosnou KangIn cerrando os dentes e os punhos com força.

– Para ser sincera eu não faço ideia de onde eles foram, vocês não me deram tempo de lhe indicar um lugar, mas garanto que eles devem estar bem longe daqui, vocês não voltarão a ver o Donghae – disse a mais nova soltando uma baixa risada de escárnio.

Ao meu lado Heechul paralisou tendo uma de suas visões. Bufei alto ignorando-o e ignorando tudo que o que Taeyeon havia representado para mim, aquilo era passado e agora ela estava passando dos limites. Estiquei a palma de minha mão direita bruscamente para ela e agarrei seu pescoço com a telecinese. Suas mãos delicadas ganharam seu pescoço, mas pouco me importei com seu esforço inútil e comecei a erguer meu braço.

– Diga para onde o Eunhyuk levou o Pedro! - exigi deixando-a na ponta dos pés e fechando gradativamente minha mão.

Taeyeon se contorcia tentando soltar-se do meu aperto, mas por mais que ela passe a mão do pescoço, não havia nada ali e não havia o que ela pudesse fazer que me afetasse por causa de nossa distância.

– Eu não sei – respondeu ela com a voz entrecortada, tentando ao máximo se livrar do enforcamento, mas até conseguir o que eu queria, eu apertaria mais e mais.

– Ela está falando a verdade – disse Heechul tocando suavemente meu braço esquerdo.

– O quê? - perguntei em um sobressalto incrédulo - Desde quando a Taeyeon fala a verdade?

– Assim que sairmos, ela sairá atrás do Pedro... - anunciou Heechul com seus olhos calmos fixos em minha face - Ela também não sabe onde ele está – disse ele fazendo-me abaixar Taeyeon a uma altura que seus pés tocassem completamente o chão, mas sem desafrouxar o aperto.

– Então vamos com ela, ela deve ter ao menos uma noção de onde ele pode estar – sugeriu Siwon.

– Não é necessário, o Donghae ficará bem – afirmou Heechul passando seus olhos pela face de Siwon, sem sair de sua plenitude. Sua calma exagerada estava começando a me frustrar. Voltando seus olhos para mim, pediu de modo frio, quase que uma ordem – Agora solte-a.

– Mas... - tentei protestar, mas ele me interrompeu.

– É melhor soltá-la, ela também não sabe de nada e se ela tentar fazer algo para impedir que o Donghae volte sã e salvo para casa... - e agora seus olhos se voltavam para Taeyeon tornando-se perigosos – Eu saberei e ela se arrependerá de ter nascido – ameaçou o vidente espreitando os olhos para a mais nova e pousou novamente seus olhos mais amenos em minha face.

Muito contragosto, soltei Taeyeon e notei com os cantos dos olhos Siwon e KangIn se voltarem para a porta. Taeyeon caiu de joelhos exausta e apoiou uma das mãos no chão, enquanto a outra massageava o pescoço avermelhado. Ela ofegava e seus cabelos loiros estavam desorganizados. Heechul que ainda segurava meu braço me indicou a porta, mas me soltei dele e parei defronte com Taeyeon. Muito calmamente apoiei meu joelho direito no chão e chamei por seu nome.

– Se o Donghae tiver mais um pesadelo, seja ele sobre o que for, eu juro que te mato – falei assim que seus olhos pousaram nos meus e me ergui de forma arrogante.

Heechul que me esperava, levou a mão ao meu ombro e me conduziu para fora do apartamento, provavelmente temendo que eu fosse fazer algo contra Taeyeon se ficasse ali mais um segundo. Assim que passamos pela porta, ele a trouxe com a telecinese e a colocou de volta em seu lugar. Siwon havia apertado a botão do elevador, mas ninguém se atrevia a falar nada, ninguém a não ser KangIn.

– Vamos simplesmente esperar a volta do Pedro? - perguntou ele indignado.

– Eu sei que ele vai voltar, eu vi ele voltando – respondeu Heechul fitando ao moreno.

– E desde quando suas visões voltaram a ser precisas? - questionou KangIn com desdém.

– Você pode não acreditar em mim, mas eu sei que ele vai voltar e eu vou estar o esperando.

O elevador se abriu. Siwon que fitava desconfortavelmente ao chão foi o primeiro a entrar sendo seguido pelo vidente. Fitei a KangIn implorando que ele tivesse um pouco mais de confiança em Heechul, mas tudo o que fez foi revirar os olhos e adentrar no cubículo. Suspirei adentrando logo em seguida. Heechul estando certo ou errado, eu só esperava que Pedro não se machucasse e encontrasse o caminho de casa.

P.O.V – Leeteuk off


Pedro e Hyukjae apareceram na ponta de um enorme campo gramado cercado por árvores em todos as direções. O lugar era como um acampamento, uma residência temporária para incomuns enquanto eles se preparavam pelo o que vinha. Haviam tendas de lona verde musgo dispostas pelo local e também uma movimentação intensa de pessoas, mas Pedro só queria saber o porquê de estar ali.

– O que você vai fazer comigo? - gritou o menor empurrando Hyukjae para longe de si.

– Não vou fazer nada senhor Donghae e por favor, fale baixo – disse ele olhando para o acampamento que estava a uma distância de seis metros e tirou seu casaco preto – Não podemos voltar ainda, então por favor, coloque isso e por tudo o que é mais sagrado, não conte a ninguém que você é o Donghae – implorou o maior esticando o casaco preto para o garoto.

– Omo! Por que isso? - perguntou Pedro perdendo um pouco de sua irritação e fitando ao casaco confuso.

– Por favor, vista-se de uma vez, não quero que ninguém o reconheça – implorou Eunhyuk ainda lhe esticando o casaco preto.

Ainda desconfiado, Pedro pegou o casaco e colocou em seu corpo magrelo. Obviamente ele ficará gigantesco e Hyukjae ainda fez questão de cobrir sua cabeça com a capuz, para evitar que alguém que já o tivesse visto, pudesse reconhecê-lo.

– Quem é esse? - perguntou uma voz feminina, fazendo Hyukjae pular pelo susto, mas seu coração se aliviou ao notar que não se tratava de ninguém que tivesse visto a face de Pedro antes.

– Yuri... - disse ele esfregando os braços pela baixa temperatura ocasionada pela tempestade que logo mais começaria - Esse é o meu primo... - ele fez uma breve pausa pensando – Hyukmin, ele também é um incomum como nós.

– Um incomum? - perguntou a jovem sorrindo entusiasmada – E qual é seu poder Hyukmin dongsaeng? - perguntou ela apoiando as mãos nos joelhos, para ficar da altura do menor.

– É Hyukmin, qual é mesmo seu único poder? - perguntou Hyukjae reforçando bastante a palavra 'único' e implorando para que Pedro fosse sensato em sua resposta.

– Eu... Eu consigo criar campos de força, como escudos protetores – respondeu Pedro com a respiração descompassada, mas tentando se mostrar orgulhoso de si mesmo.

– E será que eles conseguem parar meus raios de energia? - perguntou Yuri voltando a postura correta e ergueu a palma da mão direita para cima, fazendo-a brilhar para o menor, mas Hyukjae rapidamente interveio, tudo o que ele menos desejava era ver Pedro ferido.

– Depois vocês tentam, primeiro é melhor almoçarmos – disse ele entrando na frente do menor.

– E você acha mesmo que eu vou lutar contra um dongsaeng pequeno como ele? - perguntou Yuri acompanhando os dois para a tenda maior, que era onde se serviam as refeições – Só vim mesmo avisar do almoço, até porque daqui a pouco eles retiram a mesa e você principalmente Hyukjae, precisa se alimentar muito bem.

– Por quê? - perguntou Pedro curioso.

– Você por acaso já viu ele parar em casa? Ele passa muito tempo aqui e logo entraremos em uma grande batalha, precisamos estar fortes, e se você treinar e se alimentar muito bem, quem sabe a noona te leve junto com ela – falou Yuri sorrindo e dando uma piscadela para Pedro.

– Ele não irá em batalha alguma, só o trouxe aqui para conhecer um pouco do nosso acampamento, mas não quero que ele treine – respondeu Eunhyuk secamente.

– Omo! Por que não? - questionou Yuri incrédula.

– Eu sou muito bom com minha habilidade noona, meus campos de força são rápidos e fortes, já derrubei bastante pessoas usando eles – falou Pedro tentando acabar com aquela discussão.

– Mas eles são duradouros? E também tem outra, se essa sua habilidade for apenas isso, em estágios mais avançados, você pode bloquear outras pessoas de lerem seus pensamentos ou até mesmo de terem visões com você. Pessoas que treinam bastante seu campo de força, podem bloquear diversas coisas como... - Yuri lhe daria uma lista de coisas se Hyukjae não a interrompesse.

– Não seja impertinente noona, Hyukmin dongsaeng está com fome.

– Aigo! Só estava lhe contando sobre os poderes que ele pode vir a desenvolver se treinar bastante, porque treino é sempre estímulo para nossas habilidades.

– E eu treinarei muito noona, serei um grande incomum – disse Pedro sorrindo para Yuri.

Yuri sorriu entusiasmada para o garoto tão fofo e amável e lhe desejou uma boa refeição, dizendo que voltaria para casa, já que possuía um compromisso com seu pai. A tenda usada como refeitório era a maior delas e era lá que todos os incomuns se reuniam. Seu solo era a grama e haviam cinco longas mesas de metal acopladas em cadeiras do mesmo material dos dois lados. Haviam lugares para sessenta pessoas ao todo e em uma longa mesa de madeira, ficava a refeição. O prato do dia era arroz, kimchi e carne cozida acompanhado de suco de uva. Ambos pegaram três tigelas com a comida e um copo descartável com o suco e seguiram para a mesa que estava sendo ocupada apenas por três jovens. Hyukjae cumprimentou os rapazes que ali estavam e sentou ao lado de Pedro em um dos cantos vazios.

– Você consegue mesmo fazer campos de força? - sussurrou Hyukjae distribuindo as tigelas pela mesa.

– Consigo sim, formar campos de força e outras coisas, mas como gosto bastante da criar campos, preferi falar sobre ele – respondeu Pedro enquanto tentava segurar o par de hashis com o indicador e o polegar.

– Está errado – avisou Hyukie com um grandioso sorriso adornando-lhe a face pálida – É assim olha – falou ele segurando ao seu perfeitamente, mas a careta de desentendido de Pedro o fez sorrir novamente – Use o anelar e o polegar para segurar o hashi de baixo – orientou ele colocando a mão de Pedro no lugar certo. O menor enrubesceu ao ser tocado pelas mãos frias de Hyukjae, mas o maior não percebeu, apenas continuou as orientações até estar arrumado – Pronto, agora tente mover o médio para cima juntamente com o hashi.

– Você não está querendo nada né Hyukie? - perguntou Pedro fazendo o maior rir.

Hyukjae voltou a orientar Pedro e com um pouco de demora eles terminaram o almoço. Quando finalmente acabaram a chuva havia começado e fustigava a entrada da tenda. Eunhyuk se ergueu primeiro e levou Pedro até a pia improvisada onde começou a lavar as tigelas de ambos.

– Aqui cada um lava a sua? - perguntou Pedro observando ao maior.

– Somos organizados na medida do possível – respondeu Hyukjae sorrindo.

– Posso ajudar?

– Não, a água está muito fria, apenas fique do meu lado que daqui a pouco eu termino.

– Hyukjae, quem é o garoto? - perguntou um homem alto e forte, de cabelos negros, curtos e arrepiados, parando trás do loiro.

– Sou o primo dele, Hyukmin – respondeu Pedro sorrindo gentilmente para o rapaz ainda com parte da face escondida na penumbra do capuz do casaco negro.

– É, meu primo incomum – respondeu Hyukjae quase derrubando uma das tigelas.

– Primo? Eu não sabia que tinha primos, você tem cabelos loiros como de seu primo? - perguntou ele para Pedro levando sua mão ao capuz.

– Deixe ele, ele é apenas um garoto de doze anos – retrucou Hyukie entrando na frente de Pedro desesperado. O rapaz alto estava com ele quando foi em busca do mais novo pela primeira vez, então de maneira alguma ele podia permitir aquele tipo de aproximação.

– Doze anos? - perguntou Doojoon dando de ombros – É a idade que o Donghae tem... Você não estuda com nenhum Donghae não é verdade – perguntou ele para Pedro.

– Eu não estudo aqui e não conheço mais ninguém que possua poderes a não ser o meu primo – respondeu Pedro tocando sutilmente as costas de Hyukjae que se apressava em terminar de lavar as tigelas.

– Você é da onde?

– Parem de conversa e me ajude com essas tigelas dongsaeng! – ordenou Hyukjae a Pedro sério e lhe indicou a louça.

Pedro apenas concordou e ligou a torneira improvisada, para enxaguar as tigelas, mas assim que sua mão tocou a água fria ele resmungou.

– Como está fria...

– Eu lhe disse – respondeu Hyukjae sorrindo.

Assim que terminaram, ambos se despediram de DooJoon com polidas reverências e deixaram a tenda correndo indo para uma com menos movimento. Essa segunda era mais baixa que a primeira, mal cabia Pedro de pé e parecia mais uma barraca do que uma tenda, por possuir um chão de lona resistente e impermeável para impedir que a água molhasse os colchões dispostos pelo local. Era um de cada lado, sobrando um extenso corredor.

– É aqui que eu durmo quando não quero ir para casa – informou Hyukjae sentando no fino colchão da direita próximo a entrada que havia sido fechada para impedir que a água invadisse as acomodações.

– Vocês estão mesmo se armando para uma batalha? - perguntou Pedro sentando-se no colchão da esquerda, de frente com o maior.

– De certa forma... - disse ele abraçando as pernas pelo frio que sentia – Os mutantes, sejam eles de qual classe for, sempre foram muito oprimidos, sem jamais sair da sombra da sociedade, porém segundo a profecia, haveria um jovem que acabaria com essa opressão, um garoto detentor de um poder supremo e que faria parte do mais forte grupo que existesse. Você é a quinta criança Pedro e embora meu mestre ache que seja perigoso para você passar tempo demais com o quarteto de diferentes, ele sabe que você precisa deles, ainda não entendi claramente o porquê, mas você precisa deles para desenvolver seus poderes, por isso ele não o quer aqui.

– Vai ver ele sabe que o quarteto têm ótimo métodos para que eu desenvolva minhas habilidades... – retrucou Pedro revirando os olhos – E ainda não sei, mas quem é esse seu mestre?

– Eu não posso dizer, mas você pode ter certeza que tudo o que ele quer é um mundo livre para todos nós.

– E foi ele que fez a profecia sobre mim? - perguntou Pedro tirando o capuz da blusa de frio.

– Sim.

– Então ele é um vidente – respondeu Pedro sorrindo de modo perspicaz.

– Dizem que ele é muitas coisas, mas eu não o conheço, sei apenas que é um vidente – respondeu Hyukjae deixando seus olhos vagarem perdidos pela estreita barraca.

– Muitas coisas... - repetiu Pedro pensativo.

– Sabe Donghae – falou Hyukjae voltando a fitar o maior e soltando suas pernas que acabaram cruzadas e com os cotovelos apoiados sobre elas - Por mais especial que você seja, não acho que deveria se esconder, acho que você deveria estar estudando, conhecendo pessoas, com muitos amigos e uma namorada.

– Quem houve você falando dessa forma acha que você tem muitos amigos e uma namorada... - falou Pedro dando de ombros, mas rapidamente ele lembrou-se de algo sutil e fez a pergunta mais impertinente que podia - Me conte a verdade Hyukie, você já beijou alguém? - perguntou Pedro sem se importar em ser inconveniente ou não, ele era apenas um garoto curioso.

Hyukjae corou.

– Isso não é da sua conta - respondeu o mais velho arrumando imediatamente a postura.

Pedro gargalhou alto.

– Claro, claro que não, mas você já me respondeu só por ficar vermelho, tome vergonha na cara Hyukie, quantos anos você tem? Dezoito? Dezenove? Não sei como funciona as coisas aqui na Coreia do Sul, mas no meu país você seria muito zoado por nunca ter beijado.

– Omo! Não seja tão arrogante senhor Donghae. Você por acaso já beijou alguém? - perguntou o loiro franzindo o cenho frustrado.

– Isso também não é da sua conta - respondeu Pedro corando e dessa vez foi a vez de Eunhyuk rir alto.

– Como você pode ser tão arrogante comigo se também nunca beijou ninguém?

– Mas eu sou uma criança, não tenho dezoito anos como você - retrucou Pedro cruzando os braços sobre o tórax como uma criança mimada e frustrada, o que não fugia tanto da realidade.

– Omo! Por que acha que sou tão velho? - perguntou Hyukjae indignado - Eu diria que sou quatro anos mais velho que você, então não sei como funciona as coisas no seu país, mas no meu você devia me respeitar.

– Dezesseis anos? - perguntou Pedro semicerrando os olhos incrédulo.

– O que tem? - questionou o maior preocupado.

– Você é muito alto para um garoto de dezesseis anos, você não parece ter dezesseis anos, garotos antissociais de dezesseis anos com super poderes e que não param em casa, não ficam pintando o cabelo de branco.

– De onde tirou tudo isso? - perguntou o mais velho confuso, mas não esperou uma resposta, simplesmente balançou a cabeça negativamente e completou - Eu tenho dezesseis anos sim e você deve me respeitar do mesmo jeito.

– Você continua sem nunca ter beijado uma garota – retrucou Pedro dando de ombros.

– O que tem demais nisso? Talvez eu só não tenha encontrado a garota certa - respondeu o loiro passando os olhos vagamente pelo chão da estreita barraca, enquanto um fofo bico formava-se em seus lábios.

– Não tem isso de garota certa não, você está vendo filmes e novelas demais, se você estivesse no Brasil daria um beijo em sua prima noona e pronto, ia espalhar para os seus amigos, eu mesmo só não o fiz porque não conheço nenhum dos meus parentes, eu e minha mãe éramos meio que excluídos da família - disse Pedro sem se comover com sua história.

– Como você pode ser assim? Como pensa em dar o seu primeiro beijo em qualquer uma? - questionou Eunhyuk pasmado - Isso é horrível Donghae.

– É uma questão de não ser considerado um bebê entende? Horrível mesmo é ter dezesseis anos e estar sonhando com princesa encantada – retrucou Pedro dando de ombros – Espera, você não vai a escola? Não tem um monte de amigos como queria que eu tivesse? Não tem uma menina de quem você goste?

– Eu deixei a escola a alguns anos, eu não tenho ninguém.

– Você tem a mim – disse Pedro apoiando as mãos no colchão e engatinhou até Eunhyuk – E então, qual desculpa você vai dar agora? - perguntou Pedro parando com sua face a um palmo da face do mais velho.

A respiração de Eunhyuk descompassou. Seus olhos instintivamente passaram pelos lábios pequenos de Pedro e voltaram para seus olhos. Estar tão perto do menor lhe causava desconforto e fazia todo o seu sistema nervoso entrar em colapso. O bater de seu coração se tornou tão alto aponto de encobrir o barulho da chuva e sua boca estava tão seca que ele sabia que só havia uma forma de acabar com tudo aquilo. Fechando os olhos, ele completou a distância que havia entre os lábios de Pedro e os seus, os pressionando com força, mas suavemente se afastou a uma distância em que seus lábios apenas roçavam um ao outro. Os lábios que Hyukjae buscaram por um beijo, sorvendo levemente o lábio inferior de Pedro, mas o menor estava tão atônito, que não conseguia sequer fechar os olhos. Eunhyuk pressionou os lábios de Pedro mais uma vez, porém com menos força e se afastou abrindo os olhos. Os olhos de Pedro que estavam vidrados no vazio, moveram-se confusos e o menor recuou bruscamente sentando de volta em seu colchão e abraçando as suas pernas.

– Leve-me para casa – ordenou Pedro ainda paralisado.

– Mas Donghae, você não pode dizer a ninguém que esteve aqui.

– E não direi, agora me leve para o edifício Royal Princess – ordenou Pedro novamente sem nada expressar além de sua frieza e indiferença.

Os olhos de Eunhyuk procuraram ao chão. Ele se praguejava por dentro, por ter feito aquilo, mas agora era tarde demais para se lamentar. Respirando fundo, ele levou as mãos ao braço de Pedro que recuou imediatamente assustado e assustando ao mais velho.

– Eu preciso tocá-lo para levá-lo até lá senhor – disse Hyukjae desconfortavelmente e esticou a mão direita trêmula para o pequeno diferente.

Seus olhos se encontraram momentaneamente revelando todo o temor do menor. Embora todas as fibras de seu corpo dissessem que não, que ele devia se erguer e sair correndo, seus olhos pousaram no chão e sua mão esquerda sobre a mão direita de Eunhyuk, que apenas fechou os olhos e quando abriu estavam dentro de um banheiro. Pedro recuou rapidamente buscando a saída e quando descobriu que ela estava a suas costas, virou-se para ela ignorando completamente ao loiro.

– Me desculpe senhor Donghae – pediu Hyukjae com os olhos marejados pesando para o chão.

Pedro levou a ponta dos dedos da mão direita a boca com uma expressão confusa em sua face. Aquilo tudo lhe causa tremores, ele estava completamente confuso, não conseguia ao menos raciocinar direito.

– Vá embora – ordenou ele tirando a mão dos lábios e saiu marchando em direção a porta.

Os olhos de Eunhyuk buscaram pela face do menor, mas ao notar que ele não cederia, apenas os fechou e desapareceu deixando uma fumaça densa e negra para trás. Pedro parou na porta e meneou a cabeça, fazendo menção de olhar para trás, mas simplesmente desistiu e seguiu para o elevador.