Soltei um alto suspiro e me foquei em tio Siwon. Ele não parecia nem um pouco surpreso com o fato do rapaz alto e forte ter desenvolvido uma armadura e correu ferozmente ao seu encontro cerrando o punho direito. Aquilo seria bom, mas então o inesperado aconteceu. Siwon socou a barriga do homem, mas armadura apenas tremeluziu e o hyung recuou em meio uma careta de dor se debruçando sobre a mão direita, seu golpe havia doído mais nele do que no homem de armadura. Como meu padrinho estava recuando daquela forma? Pensava indignado. Antes que eu obtivesse minha resposta, o jovem de armadura cerrou o punho direito e o ergueu no ar para ganhar velocidade. Internamente eu rezei para que tio Siwon reagisse, mas foi tudo tão rápido que ele desferiu um golpe tão forte na face do hyung, que ele voou para próximo da varanda. Tio Siwon se moveu desorientado e olhou em volta levando a mão esquerda ao maxilar, enquanto o movia rapidamente, a dor devia ser insuportável, mas ele sabia esconder bem.

– Isso que é um punho de aço – reclamou ele se levantando, fazendo um sorriso cínico se formar nos lábios de ferro do oponente desconhecido.

– Fighting Tio Siwon! – gritei por impulso empolgado, o fazendo espreitar os olhos para mim e balançar a cabeça negativamente.

Ele provavelmente devia estar pensando que eu era um pupilo desastroso, mas rapidamente ele reassumiu sua pose séria e voltou a correr na direção do oponente que sorriu com malicia, provavelmente pensando em derrubá-lo novamente, mas ele não sabia dos poderes do meu padrinho. Tio Siwon encenava muito bem, tanto que corria inocentemente com o punho direito cerrado, mas antes que ele alcançasse ao jovem, ele abriu a mão e fez com que o jovem levitasse rapidamente parando a uma altura de três metros. O jovem se moveu inquieto olhando em volta assustado, mas meu tio Siwon era maldoso demais - talvez por influência de tio Jung-su que o treinava de forma realmente cruel – para ficar apenas naquilo. Esticando o punho cerrado para o jovem, ele voltou o punho para cima e foi lentamente abrindo a mão direita. Não precisava ler seus pensamentos ou sentir suas emoções para saber o que ele estava fazendo. Seu sorriso sádico e a careta de dor que o jovem fazia enquanto se contorcia no ar, revelava tudo. Ele estava afastando o ferro do jovem, como alguém que tenta arrancar sua pele.

Enquanto isso em outro ponto do vasto quintal, tio YoungWoon enfrentava o tigre, ou pelo menos o encarava um pouco zonzo. Semicerrando os olhos para a enorme fera, ele esticou o indicador esquerdo e balbuciou algo como “calma gatinho”, mas pela distância e sua voz embargada, não tinha como ter certeza de sua fala. De qualquer forma, seu pedido não funcionou e o tigre saltou sob ele. Eu gostava do tio KangIn... Pensei alto balançando a cabeça tristemente, mas em um momento de seriedade, ele moveu rapidamente as pernas, deixando a esquerda um pouco a frente para que tivesse maior apoio e abriu a mão esquerda com a palma voltada para o tigre que literalmente voava em sua direção. Um grande clarão explodiu diante dos meus olhos, fazendo-me recuar por instinto, mas sem tirar os olhos da luta, observei enquanto o hyung lançava uma forte e interminável labareda de fogo. Aquele era o KangIn que eu conhecia, pensei vibrando. Tio YoungWoon recuou dois passos fazendo o fogo parar de sair da palma de sua mão e vendo o jovem com cara de entediado cair diante de seus pés em seu estado normal e soltando um pouco de fumaça de suas vestes. O fogo havia atingido sua pelagem, a consumindo e o obrigando a voltar ao seu estado normal. Vendo-o imóvel diante dos seus pés, ele puxou sua garrafa de vodka e deu um generoso gole.

E em um terceiro ponto tio Heechul desviava com um movimento de mãos, de todas as estacas que a líder lançava-lhe, enquanto caminhava calmamente em sua direção. Com toda a certeza, a telecinese que todos os diferentes possuíam era um poder muito útil. A líder parecia irritada com todos os fracassos em atacar o mais velho, o que fazia com que ela soltasse mais e mais estacas, porém menores e mais finas em direção ao hyung, mas ele estava se cansando disso e isso ficou bem claro quando ele revirou os olhos e puxou o ar fortemente pela boca. Por impulso cobri meus ouvidos a tempo de abafar um pouco do grito supersônico que ele direcionou a líder, fazendo-a voar para trás e cair no chão atordoada. Os outros jovens também se incomodaram, até mesmo tio Siwon tampou os ouvidos perdendo o domínio do jovem o fazendo cair na grama. O jovem forte também voltou ao seu estado normal, enquanto fazia esforço para cobrir os ouvidos. Apenas tio KangIn não demonstrou nenhum tipo de incomodo. Neste instante tio Heechul paralisou, provavelmente tento uma de suas visões.

P.O.V – KyuHyun off


P.O.V – LeeTeuk on

Em um piscar de olhos meu corpo tomava forma em outro ponto da rica vegetação. A sensação de explosão incomum era substituída com um frescor momentâneo devido aos ventos frios e calmos que balançavam as copas das árvores. Assim que meu corpo tomou forma, eu caí de costas na terra, mas eu não fui o único que caiu no chão desorientado. Pedro também desabou na terra e jovem loiro virou-se para mim desacreditado.

– Isso poderia ter sido desastroso – reclamou o jovem em perfeito coreano com irritação.

– Ainda bem que você é bem treinado – respondi cinicamente me levantando, na verdade aquelas palavras eram de certa forma verdade, pois sem se concentrar em mim, ele poderia ter deixado alguma parte do meu corpo para trás, mas pelo simples fato de eu ter literalmente me agarrado a ele, ele havia me teletransportado sem problema algum.

– Você vai se arrepender de ter me seguido – disse ele cerrando os dentes com força e partiu para cima de mim com o punho direito cerrado.

Sorri ao ver o loiro se preparar para me golpear, eu treinava muito minha telecinese, então parar aquele golpe era fácil, mas ele não facilitou para mim. Antes que seu golpe me alcançasse, ele desapareceu, deixando sua fumaça negra para trás. Movi minha cabeça rapidamente para o lado direito, tentando captar o rapaz, mas ele surgiu atrás de mim, me dando um forte soco do ombro direito. Curvei meu corpo para frente, sentindo a dor explodir em meu ombro e levei um soco na minha costela esquerda. Cerrando os dentes com força para não gritar, me virei bruscamente para o rapaz, mas agora só restava à fumaça negra. Mal movi meus olhos em volta tentando captá-lo e ele surgiu ao meu lado me dando um forte chute nas pernas. Não era possível que eu estava levando uma surra de um incomum. Dobrei minhas pernas pendendo para trás, mas antes que eu caísse, a fumaça se materializou na minha frente e levei um forte uppercut, que resumidamente é um forte soco no queixo de baixo para cima.

Cai na terra fofa e marrom sentindo meu queixo latejar. Aquela combinação de luta e teletransporte era incrível. Quem treinava aquele jovem, sabia muito bem o que estava fazendo, mas eu não tinha tempo de pensar em nada disso. Assim que senti meu corpo dar um pequeno impulso para cima por causa da queda, fechei os olhos puxando o ar rapidamente para os pulmões e desapareci. Meu corpo voltou a se encontrar com a terra, mas impulsionando meu peitoral para cima, me pus rapidamente de pé. Olhei em volta procurando o jovem loiro e notei que ele se teletransportou para à cima de uma das altas árvores, provavelmente me procurando. Aquilo seria divertido. Soltando um sorriso torto, dei um pequeno impulso interno e voei rapidamente em direção ao jovem. Voar sem a ajuda da telecinese era uma sensação mágica e descritível. Era só pensar, desejar, na verdade era praticamente involuntário, como uma comando rápido para o cerébro. Sem esforço algum eu ganhava o ar. Como eu estava invisível, ele não conseguiu notar minha aproximação sorrateira e aproveitando que ele havia abaixado a guarda, lhe dei um forte soco na face, o fazendo despencar da árvore. Ainda no ar, voltei a ser visível e deixei com que meu corpo caísse, parando apenas centímetros do chão, para diminuir o impacto. O jovem loiro ainda estava atordoado com a queda e corri rapidamente para Pedro, que observava tudo inquieto.

– Vem, vamos embora – disse com a voz entrecortada mesmo sabendo que ele não entenderia e o joguei no meu ombro esquerdo, saindo correndo em direção a fazenda de sua família, que inexplicavelmente eu sentia que estava bem próxima, e não posso negar que também fui orientado pelo grito supersônico de Heechul que ecoava fortemente pelo local.

Pedro se debatia em meu ombro querendo descer, mas continuei correndo com ele até que avistei a fazenda. Os três incomuns que haviam ficado, estavam todos no chão em estados parecidos de desorientação. Eu queria ter visto a luta entre eles e os três diferentes, já que Kyuhyun estava imóvel na varanda, mas agora estavam todos derrotados. O jovem com expressão de entediada tentava se erguer quando KangIn o agarrou pela gola do casaco de couro negro.

– Quem os mandou aqui? Quem? - ele perguntou de modo firme, claro e sério, até sua voz inspirava mais confiança, algo completamente diferente do bêbado desorientado de instantes atrás.

Enquanto suas palavras eram sido ditas, Kyuhyun guardava seu notebook dentro de sua mochila. Eu não sabia qual era o poder daqueles três incomuns, mas devia ter apavorado o mais novo, que só agora se levantava. Ele deixava a varanda quando a porta da frente foi aberta. Coloquei Pedro no chão, mas me mantive agarrado aos seus ombros. Não tinha como saber se aqueles três tentariam algo contra ele ou se o rapaz loiro voltaria a aparecer.

– Você nunca saberá – respondeu o garoto voltando a sua expressão entediada.

Uma mulher de meia-idade e cabelos naturalmente loiros deixou a casa boquiaberta e com seus ricos olhos azuis movendo-se depressa. Ela reconheceu Pedro sob os meus cuidados e saiu correndo em direção a ele. Ele tentou correr ao encontro dela, mas o jovem loiro surgiu entre os dois e o impedi de correr a ela.

Infelizmente a líder do outro grupo percebeu a aflição da criança e da adulta e se levantou deixando com que uma estaca pequena e silenciosa saísse da palma de sua mão direita. O jovem alto e forte parou próximo ao loiro tocando seu ombro esquerdo, enquanto o outro se livrava de KangIn também se juntando ao grupo.

– Covardes! – gritou Kyuhyun indignado sabendo o que fariam, mas antes que os quatro desaparecem, a líder lançou sua derradeira estaca em direção a mulher que corria ao encontro de Pedro.

Quando percebi sua ação, estiquei meu braço esquerdo para frente, tentando parar a estaca, mas a jovem estava mais próximo da mulher, e a estaca penetrou o lado esquerdo de seu peito, fazendo-a parar subitamente e ganhar o chão. Os quatro desapareceram deixando o rastro de fumaça negra para trás. Eles não iriam muito longe por causa da quantidade de pessoas e inexperiência do loiro, mas estariam longe o suficiente para não serem mais atacados.

Vendo a mulher cair lentamente no chão, Pedro se livrou dos meus braços e correu em direção a ela, parando ajoelhado ao seu lado e tirando a estaca do seu peito com as mãos trêmulas. Talvez ainda tivesse tempo de ajudá-la, mas assim que fiz menção de correr em direção aos dois, senti meu corpo ser bloqueado e olhei na direção de Heechul, que estava com o braço esquerdo esticado para mim. Seus olhos estavam fixos nos dois, mas ele os desviou rapidamente para mim negando com a cabeça, para enfim me soltar de sua telecinese.

A mulher loira disse uma frase para o garotinho que se debulhava em lágrimas e calmamente ele assentiu com a cabeça. Ela soltou seu último suspiro e fechou os olhos, fazendo Pedro se debruçar sobre o seu corpo e chorar mais alto ainda. Heechul deu alguns passos em direção ao garoto parando trás de si. Pedro não parecia notar sua presença e gentilmente Heechul o abraçou por trás, tirando de cima do corpo da mulher.

– Ei, vai ficar tudo bem – disse Heechul calmamente quando conseguiu virar o garoto para si.

Pedro estava emocionalmente abalado e sem mais ninguém para servir de apoio, ele abraçou a Heechul, que soltou um baixo suspiro o pressionando contra seu corpo. Os dois permaneceram abraçados por um longo tempo e embora não fosse do meu agrado, Siwon enterrou a mulher no próprio quintal.

Aproximei-me de Pedro que se mantivera o tempo inteiro abraçado a HeeChul e me agachei defronte com ele.

– Pedro – comecei com muita calma, eu sabia que ele não ia entender, mas as palavras eram importantes para mim – Nós precisamos ir – e novamente eu gesticulava, fazendo um círculo com o indicador e depois o típico sinal de corre.

Não – respondeu ele friamente em português negando com a cabeça, aquela era a única palavra que eu sabia naquele idioma desconhecido e estava começando a odiá-la.