– Eu posso desmaiá-lo novamente – sugeriu Siwon soltando um sorriso presunçoso.

Apenas passei meus olhos por sua face, acabando com seu sorriso. Obrigar o garoto a ir conosco para a Coréia do Sul, não era uma opção, mas sem conseguirmos falar seu idioma, ficava difícil convencê-lo que aquilo era o melhor. Isso me lembrava de quando nós três conhecemos Siwon. Assim como Pedro ele não queria partir conosco, mas pelo menos ele falava coreano.

– Eu resolvo isso – disse Heechul me afastando sutilmente de Pedro.

Revirei os olhos bufando e afastei-me do garoto. Pelo menos uma vez eu queria convencer uma criança a fazer algo que eu quisesse, mas pelo jeito, o único que inspirava confiança, era o Heechul e seu cabelo longo e repicado nas pontas. Heechul se agachou na frente do garoto e segurou ambos os braços do mesmo. Eu conseguia sentir ele usando sua empatia para acalmar o garoto, mas Pedro era de uma serenidade incrível para um garoto de doze anos. Não era possível que até agora ele só havia descoberto sua telecinese e ainda por cima de forma tão fraca como aquela.

– Pedro, nós precisamos de você – disse ele bem lentamente em coreano, como se o garoto fosse entender, mas seus olhos expressavam toda a mensagem de apelo – Não a mais nada para você fazer aqui, você tem que vir conosco.

Eu sentia pela expressão de Pedro que ele iria ceder aos apelos desesperados de Heechul, mas ele respirou fundo e soltou um forte e frio 'não'. Isso foi o bastante para Heechul se levantar e passar os olhos rapidamente por mim enquanto puxava o ar fortemente pelas narinas. Ele não ia... Antes que concluísse meu pensamento, ele lançou um de seus gritos super-sônicos na face de Pedro, fazendo-o cair desmaiado segundos depois.

– Por que você fez isso? - perguntei um tom mais alto que o normal enquanto corria desesperado e indignado na direção do garoto.

– Se você não levá-lo pelo céu, eu vou levá-lo pelo mar – avisou Heechul sério.

– Ele vai nos odiar – murmurei o pegando desconfortavelmente nos braços e o colocando nas costas.

Não fiquei para ouvir os resmungos de Heechul sobre o quão teimoso era o garoto, apenas dei um forte impulso ganhando o céu. Como eu podia voar sem a telecinese, eu podia cobrir grandes distâncias em pouco tempo e sem correr o risco de cair por causa do cansaço mental, além do que as nuvens me esconderiam, mas eu não estava nada animado para recepcionar Pedro sozinho quando ele finalmente ele acordasse.

P.O.V – LeeTeuk off


P.O.V – Pedro on

A última coisa da qual eu me lembrava, era do rapaz alto e de cabelo asa delta comprido e cheio de pontas falar algumas palavras estranhas para mim e em sequência gritar tão alto que eu perdi a audição e qualquer um dos meus outros sentidos. A perfeita escuridão que se instalou na minha cabeça, só foi quebrada quando voltei a sentir meu corpo. Eu estava acomodado em algo macio. Talvez os cincos homens, o galho sendo acertado na minha cabeça, os poderes incríveis que havia visto e a morte da minha mãe, não passassem de um terrível pesadelo e eu fosse acordar na minha casa, mas havia algo estranho no ambiente. Movi meus olhos embaixo das pálpebras e pisquei algumas vezes antes que pudesse focalizar algo. Minha primeira reação ao olhar em volta, foi o susto. Eu não estava na minha casa. O quarto onde eu estava era mediano e possuíam paredes em uma cor que ficava entre o branco e o amarelo, mas não me recordo o nome dessa cor. Além da confortável cama de solteiro na qual eu estava deitado, havia um guarda-roupa de madeira velha e escura e uma escrivaninha embaixo da janela que era feita de vidro e estava entreaberta.

Cruzando os braços sob o tórax, me estiquei para o chão e notei que havia um enorme tapete cinza cobrindo boa parte do piso que era feito de madeira clara e polida que devia ficar muito fria durante os invernos e dias sem sol, o que explicava o tapete. Muito calmamente deixei com que meus pés descalços tocassem o tapete e caminhei até a janela. Por segundos perdi o fôlego sem saber o que fazer. Eu estava diante de uma floresta como na minha casa, mas eu estava no alto e a floresta, além de ser diferente da habitual, estava mais próxima do que eu me recordava. Reconheci um carro preto estacionado na relva, mas não sei ao certo de qual marca pertencia, mas parecia ser muito caro.

– Pedro? - uma voz me chamou da porta, fazendo-me virar no mesmo instante assustado. Era o homem de franja lisa e castanha levemente jogada para a direita que possuía o mesmo dom que o meu e que desaparecia, então tudo havia sido real. Ele carregava uma bandeja de metal brilhante e sob ela estava uma caneca fumegante – Como você está? - ele perguntou demonstrando preocupação naquele idioma estranho, que pelos seus olhos puxados, eu desconfiava que se tratasse de japonês ou quem sabe chinês, mas sinceramente, eu não havia entendido nada.

Deixando minha confusão momentânea de lado, olhei em volta deixando com que minha respiração acelerasse e apertei a mandíbula com força. Ele havia me sequestrado, então aquela sua calma, preocupação e voz amiga, fazia-me sentir raiva.

– Onde eu estou? O que você vai fazer comigo? - eu perguntei elevando meu tom de voz, eu havia esquecido dos ensinamentos da minha mãe, sobre... Minha mãe! Com um pensamento súbito na imagem da minha mãe caindo sobre o gramado, cerrei o punho com força, e perguntei aos berros me aproximando daquele estranho – O que você fez com a minha mãe? - gritei enraivecido e não deixei que ele se explicasse, afinal, eu não entenderia mesmo. Eu simplesmente estique bruscamente a mão direita para porta e a fechei com tudo na face daquele homem.

Eu esperava que ele quebrasse o nariz e se queimasse com o líquido fumegante que estava na caneca. Escutei o barulho da porcelana sendo quebrada ao contato com o chão e um gemido baixo de dor enquanto corria para porta tentando trancá-la, mas não havia chave. Eu estava literalmente – desculpem-me o termo - ferrado. Rapidamente voltei-me para o guarda-roupa que estava na parede da esquerda, contando a parede da porta como principal, e estiquei minhas mãos para ele enquanto tentava bloquear a porta com meu corpo. O guarda-roupa era realmente muito mais pesado do que eu imaginava e na hora do desespero, eu fazia sinal para que ele viesse na minha direção, mas não consegui movê-lo um centímetro sequer. Talvez até o fiz tremer, mas não tenho como provar.

– Pedro Assunção! - gritou a voz do outro lado batendo fortemente na porta.

Sentindo a madeira reagir ao golpe furioso, não pensei duas vezes e corri para a janela. Naquele momento eu me esqueci da altura e simplesmente terminei de abri-la subindo na escrivaninha e pulei em seguida. Ainda consegui ver a porta ser aberta, antes de torcer o pé esquerdo no telhado e descê-lo rolando. Meu corpo rolou pelo curto telhado e despencou para a grama. E novamente eu perdia os sentidos.

***

Acordei estranhamente sem sentir qualquer tipo de dor, meu primeiro pensamento, como de toda pessoa normal, era que um anjo de luz e bondade havia me salvado antes que eu fosse de encontro ao chão e agora eu acordava calmamente em casa, mas eu me lembrava do meu corpo caindo com tudo na grama e meu peso pressionar perigosamente meu braço direito contra o chão. Pelo barulho que eu ouvi e pela dor que senti antes de novamente perder os sentidos, ele devia estar quebrado, mas eu não sentia dor alguma. Abri os olhos e dei de cara com o rapaz do notebook que eu havia quebrado. Ele estava sentado ao pé da cama com o notebook fechado no colo e me analisava sério, mas ao perceber que eu acordava, ele sorriu.

– Como você se sente Pedro? – ele perguntou com seu sorriso amigável, graças aos céus novamente ele falava meu idioma, mas eu não sabia se podia confiar nele, ainda mais depois de quebrar seu notebook, que a propósito, foi intencional, mas eu não esperava que ele chorasse.

– Como eu faço para voltar para casa? – perguntei em um sussurro enquanto me sentava na cama.

– Ahn... – ele olhou para o lado esquerdo desconfortavelmente bagunçando sua cabeleira preta que já estava bagunçada, todos ali, exceto eu e o que possuía o mesmo dom que o meu, tinham cabelos pretos e lisos – Você está a quilômetros e quilômetros de casa, não tem como você voltar para casa sozinho sendo menor de idade, você tem que ficar conosco.

– Eu não quero ficar – disse cruzando os braços – Isso é sequestro e eu nem compreendo o que eles dizem – disse fazendo referência clara aos outros homens.

– Por isso que eu estou aqui, eu vou tentar fazê-lo entender coreano tudo bem? Não sei se vou conseguir e isso pode ser um pouco confuso para a sua cabeça, mas não custa nada tentar - completou ele com um sorriso otimista e abriu o notebook.

Apenas fiquei o observando enquanto ele esperava o notebook ligar. Quando esse finalmente ligou, ele rapidamente começou a digitar e mexer naquele negócio, como é mesmo o nome? Touchpad? Deve ser algo assim. Em poucos segundos, ele se aproximou de mim com o notebook em mãos. Havia uma página de internet aberta e ele cuidadosamente colocou o notebook sobre meu colo e segurou minha mão esquerda.

– Por favor, feche os olhos e não o derrube novamente – pediu ele aflito e fechou os olhos levando minha mão em direção a tela.

Embora eu estive com um pouco de medo, também fechei os olhos, quem sabe se eu falasse aquele idioma estranho, eu pudesse me comunicar com aquele quarteto e dar um jeito de ir embora. A ponta dos meus dedos e do outro rapaz, tocaram a tela gelada. Senti uma luz azulada atingir meus olhos e os abri por curiosidade. Uma luz azulada e anormal se acendia iluminando minha face. Conforme ela se acendia, meus olhos pisavam sem conseguir se manter abertos e então senti uma queimação nas minhas retinas e empurrei o aparelho das minhas coxas enquanto levava ambas as mãos aos olhos e gritava de dor.

– Meu notebook – gritou Kyuhyun vendo o aparelho cair novamente no chão, mas por enquanto eu só me importava com meus olhos que queimava sem fogo, aquilo era estranho e perturbador.

– O que está acontecendo aqui? – perguntou o de franja castanha entrando no quarto, enquanto o outro soluçava no chão abraçado ao notebook.

– Meus olhos estão queimando – respondi me contorcendo na cama.

– Deixe-me ver isso – disse o outro ajoelhando na minha frente.

Embora relutante, deixei que suas mãos tirassem as minhas da minha face e notei que ele afastou subitamente assustado. Minha visão estava embasada e um líquido quente corria por minhas bochechas, enquanto o cheiro de sal e ferrugem molhada invadia minhas narinas. Aquilo só podia ser...

– Por Deus Pedro! Você não consegue ficar dois minutos sem se machucar? – resmungou ele tirando sua camiseta marrom. Em sequência ele secou o sangue que escorria dos meus olhos e deixou a camiseta de lado enquanto analisava meus olhos que ainda ardiam, tudo ao som do choro do outro – Fique quieto – pediu ele observando meus olhos sério e segurou minha cabeça com a mão direita, enquanto tocava a minha testa com os seus dedos da mão esquerda.

Ele fechou os olhos fazendo uma espécie de oração silenciosa, talvez ele fosse o meu anjo salvador, mas duvido que ele tenha movido um músculo para me salvar quando cai do telhado. Uma luz branca como o leite começou a brilhar na mão dele e fechei os olhos automaticamente, evitando ao máximo olhar para ela. A dor foi passando e eu sentia meus olhos como antes quando ele parou. Ele se afastou calmamente e me pediu que abrisse os olhos. O obedeci sem sentir dor alguma e olhei tudo em volta, minha visão nunca esteve tão boa.

– Você está bem? – ele perguntou me fitando preocupado.

– Estou – respondi ainda olhando tudo em volta.

– Espera, você está falando coreano – ele falou subitamente, fazendo até mesmo o outro parar de chorar.

– Sou super poderoso, melhor que vocês dois – se gabava o jovem aos saltos pelo quarto, esquecendo seu notebook no chão, isso porque até segundos atrás ele chorava por ele.

– Cale-se Kyuhyun – disse o outro sério, fazendo ele se calar assustado, ele não parecia ser do tipo que mandava os outros ficarem quietos, mas o Kyu estava provocando e que nome era aquele? Kyuhyun? Era pequeno e engraçado – É bom poder me comunicar com você – voltou a dizer o de franja castanha – E primeiro de tudo eu gostaria de me apresentar. Eu sou Park Jung-su, o líder do grupo dos diferentes. Eu sei que você está confuso com tudo isso e faria de tudo para fugir, mas... – acertei o notebook que eu controlava com minha telecinese, com tudo na cabeça do líder Park, fazendo-o cair na cama.

Kyu soltou um grito abafado e eu saí correndo desesperado para a porta, mas havia três figuras altas barrando meu caminho.

– Então agora você está falando coreano perfeitamente e movimentando coisas pequenas sem o auxilio das mãos, é isso? – perguntou o de cabelo asa delta comprido e cheio de pontas em tom hostil. Pelo menos o preto dos seus cabelos realçava a tom branco de sua pele.