P.O.V – LeeTeuk on

Pedro estava visivelmente tenso em ter que treinar comigo, mas notando que ele caminhava ao meu encontro, soltei um sorriso interno tamanho era sua coragem. Siwon passou ao lado de Pedro ofegante e tocou levemente seu ombro como forma de passar apoio e confiança, mas garanto que se ele tivesse me derrubado, aquilo passaria mais confiança a Pedro, que parou de defronte comigo respirando de forma rápida e descompassada. Apenas ajeitei o bastão no ombro esquerdo.

– A respiração é sempre importante, quando mais calma você a mantê-la, maior será seu nível de concentração, então mantenha o controle do seu corpo e você terá o controle pleno de seu poder – fiz uma pequena pausa notando ele assentir com a cabeça e tomei fôlego para perguntar – O que você consegue fazer?

– Não muita coisa, apenas levitar coisas pequenas – disse ele rapidamente, passando os olhos em volta e voltando para mim, ele não podia estar falando sério, não havia como alguém levitar um notebook totalmente com a força do pensamento, sem auxilio algum das mãos, e não conseguir levitar coisas de médio porte nem que fosse com ambas as mãos.

– Você está mentindo – disse descrevendo um arco rapidamente com a mão esquerda, acercando o bastão com toda a força possível no braço direito de Pedro.

Sua mão esquerda rapidamente foi ao lugar do impacto e ele caiu de joelhos ao chão cerrando os dentes com força e gemendo de dor, mas segurando-se para não gritar. Embora seus olhos houvessem ficado úmidos, seu orgulho em não chorar era admirável, mas havia um porém em meio a tudo isso, eu estava certo que ele ia parar ou pelo menos desacelerar meu golpe no ar, então porque não fizera? Tentei não demonstrar preocupação enquanto falava com ele.

– Telecinese também serve para parar golpes – disse sério, como se fosse uma lição e fitei KangIn que nos observava curioso, mas assim que viu meus olhos pousarem em sua face, ele ajeitou o jornal de forma que cobrisse sua face – Levante-se! – ordenei vendo o garoto ainda gemer de dor.

Respirando pesadamente, ele se colocou de pé, mas mantendo a cabeça baixa e mão esquerda no braço direito.

– O que você consegue fazer? – perguntei novamente, apoiando o bastão no ombro esquerdo, eu precisava ser rígido com ele pelo menos nos treinos, se quisesse que ele desenvolvesse e me mostrasse seus poderes.

– Você me acertou com um pedaço de madeira – disse o garoto com a voz baixa e firme.

Eu podia ver suas mãos tremerem, mas tudo o que fiz foi revirar os olhos e voltar a perguntar.

– O que você... – não consegui completar.

O bastão que estava no meu ombro esquerdo bruscamente virou-se contra mim, me acertando com tudo no pescoço. Por impulso o soltei juntamente com um curta ‘ai’ e vire-me irritado para Pedro que sorria.

– Por que você fez isso? – perguntei esticando a mão esquerda para o bastão e o trazendo para mim.

– Você me acertou primeiro – retrucou ele como uma criança mimada.

– Seu infantil! – despejei traçando novamente um arco no ar com a mão esquerda e acertando com o bastão em seu braço direito. Ele gemeu de dor enquanto eu trocava agilmente o bastão de mão – Quando... – disse fazendo uma curta pausa para acertar seu braço esquerdo com o bastão, fazendo-o recuar com os braços latejando - ...você... – nesse meio tempo troquei novamente o bastão de mão, voltando a acertar seu braço direito com força, enquanto ele recuava passo a passo para a varanda - ...vai... – e novamente eu acercava seu braço esquerdo, arrancando um grito de dor de Pedro - ...crescer? – e meu derradeiro golpe em seu braço direito o fez cair derrotado, soltando gritos e gemidos abafados de dor – Eu não tenho tempo para brincadeiras! – disse apontando o bastão para Pedro que se aninhava ao chão como uma criança amedrontada, deixando algumas lágrimas rolarem por suas bochechas. Seus braços estavam com grandes vermelhidões que mais tarde ficariam roxos. Ele precisava entender que durante os treinos, ele deixava de ser criança.

Passei por KangIn bufando e larguei o bastão pela varanda mesmo. Eu precisava apenas relaxar e me esquecer daquela criança desobediente. Subi as escadas apressado, passando por Siwon no caminho, mas não disse nada, apenas venci as escadas e segui para o meu quarto que era a única porta a esquerda. Um grande espaço vazio e solitário, esse era o resumo do meu quarto. Segui para o meu banheiro que também era exageradamente grande enquanto me despia. Com apenas a água gelada correndo entre meus cabelos e corpo, eu podia sentir paz. É claro que nada se comparava ao vento, mas os ares estavam muito tumultuados do lado de fora para que eu aproveitasse o vento.

Demorei um bom tempo no banho, tanto que quando sai, Heechul já havia chegado e perambulava pela minha cozinha procurando as panelas e outros utensílios para cozinhar. Passei por Pedro que agora usava uma camiseta azul de mangas longas, que encobria praticamente seu braço inteiro e expressava total silêncio, andando de cabeça baixa, mas não fiz questão de trocar uma palavra com ele. Siwon conectava seu Xbox 360 na minha televisão, enquanto KangIn estava tendo uma crise de abstinência na varanda.

– O que trouxe de bom? – perguntei ao entrar na cozinha, passando os olhos sobre as sacolas em cima do balcão. Heechul havia comprado o supermercado inteiro para o almoço.

De primeiro instante ele não me respondeu, apenas movimentou as sacolas em busca de algo, mas então secando as mãos que já estavam secas com um pano de prato branco, ele me fitou com um olhar feroz.

– Você não deve espancar uma criança durante um treino, mas se o fizer, pelo menos trate de acabar com os hematomas dela - disse ele com a voz bem rígida.

– Então estamos falando do Donghae? – perguntei apoiando as mãos no balcão de granito.

– E de quem mais seria? – perguntou Heechul apontando uma faca perigosamente para mim. Recuei sutilmente apenas por segurança – E vá cuidar do YoungWoon que ele está correndo pela sua varanda tendo alucinações.

– Ahnnnnn, depois! – soltei entediado e buscando com os olhos umas das banquetas para me sentar. Quando localizei uma e estiquei o braço esquerdo para puxá-la mentalmente para mim, algo despencou do teto espatifando nas sacolas de Heechul.

Pedro soltou um grito alto de dor, ao ir com as costas de encontro às sacolas. Imediatamente procurei pela deformação no teto, mas não havia nada. Eu e Heechul nos entreolhamos por cima do balcão enquanto Pedro se colocava sentado sobre o balcão. Siwon entrou na cozinha preocupado, também buscando o porquê do alto barulho. Novamente procurei uma deformação no teto, mas ele estava em perfeitas condições, aquilo não era normal, mas só então eu reparei em um pequeno detalhe.

– O que você estava fazendo no meu quarto? – esbravejei sem me importar com o estado do garoto, que parecia atordoado com a queda.

– Eu não... – começou o garoto com a voz esganiçada enquanto tentava descer do balcão, mas Heechul o interrompeu com suas palavras.

– Como você chegou aqui? – perguntou Heechul sutilmente o ajudando a descer do balcão.

– Não sei – respondeu o garoto em um fôlego só, enquanto saltava para o chão – Eu estava lá em cima e do nada, minhas pernas começaram a afundar e quando fui ver e já havia atravessado o chão – respondeu Pedro passando as mãos desconfortavelmente nas costas, elas deviam estar doloridas, mas nada anulava o fato de ele estar no meu quarto.

– O segundo poder do maknae – exclamou Siwon todo animado da entrada – Ele atravessa a matéria sólida, eu acho esse poder tão magnífico – espera, ele estava mesmo se referindo a Pedro como o maknae? Ele era o maknae, nem mesmo Kyuhyun que passava bastante tempo conosco era considerado o maknae por não ser um diferente, mas se bem que a demonstração daquele segundo poder apenas realçava minha tese... – Pedro é mesmo um diferente – disse Siwon com animação incomum.

Pedro apenas olhou para todos confuso.

– Eu não quero ficar atravessando as coisas – disse ele com a voz baixa e manhosa e com os olhos ficando úmidos – Eu só quero ir para casa – completou ele com os olhos lagrimejando e saiu correndo para o primeiro andar. Como alguém caia do primeiro andar e na primeira oportunidade voltava para ele? Ele devia ter sérios problemas.

– Eu preciso de álcool! – berrou KangIn para Siwon, aparecendo na entrada da cozinha, ele estava pálido e seus cabelos estavam bem mais desorganizados do que o normal – Nós precisamos sair desse fim de mundo, eu preciso de vodka! – disse ele desesperado em meio a sua crise de abstinência.

– KangIn hyung, vai ficar tudo bem, você só precisa se acalmar – disse Siwon colocando ambas as mãos no ombro de KangIn, tentando lhe passar confiança e apoio, mas KangIn estava surtando.

– Você tem que entender que eu produzo fogo e de onde esse fogo sai? Do álcool que eu bebo, então eu preciso beber, eu preciso de vodka, estou definhando – disse ele aos berros, soltando-se de KangIn e voltando-se para mim – Por favor hyung, me preste seu carro.

– Não a nada que prove que o álcool que ingere tem ligação com o fogo que produz – disse cruzando os braços sobre o tórax sério – E você não pode dirigir nesse estado.

– Nana-nina-não – falou KangIn fazendo não com o indicador esquerdo se aproximando um pouco zonzo – Está provado sim, eu não produzo fogo sem álcool, eu preciso de VO-D-KA! – disse parecendo um psicopata assassino.

– Temos que nos concentrar em Donghae e em um treinamento para que ele desenvolva sua habilidade de atravessar a matéria, assim como desenvolver seus outros poderes – comentou Heechul pensativo.

– Vodka! – gritou KangIn no meu ouvido esquerdo me causando uma surdez temporária.

– Se você ir, você trará inimigos com você – disse Heechul do outro lado do balcão.

– Eu não estou pouco ligando! – grito KangIn novamente, eu nunca havia o visto tão alterado, a não ser no dia que Heechul esvaziou suas garrafas de vodka enquanto ele treinava comigo.

– Eu levo ele – disse Siwon pegando KangIn pelo braço esquerdo – Eu tomarei cuidado para que ninguém nos siga – disse ele puxando sutilmente KangIn consigo.

Embora descontente, entreguei a chave do meu carro para Siwon e deixei que os dois partissem, era melhor que eles fossem sozinhos, mas ainda havia algo que em intrigava, o que Pedro fazia no meu quarto? Porque querendo ou não, meu quarto ficava em cima da cozinha, então não havia explicação melhor.

P.O.V – LeeTeuk off


P.O.V – Siwon on

Era ruim e decepcionante ver o hyung daquela forma, mas eu não tinha escolha, a não ser levá-lo para a cidade para comprar bebida. Eu podia não ter um carro como os outros dois hyungs, mas eu sabia dirigir, o que já era um começo promissor, então abri a porta e entrei, notando um casaco preto embolado atrás do banco do motorista, mas não dei importância. Pegando a auto-estrada em alta velocidade, em pouco tempo nós chegamos à cidade. Imaginando que o hyung vidente só houvesse comprado coisas saudáveis, estacionei no estacionamento de um enorme supermercado, com a intenção de comprar muitas bobagens e foquei no hyung ao meu lado.

– Olha hyung, não exagere na bebida tudo bem? Não queremos ser um mau exemplo para o Pedro maknae – disse com calma, querendo que pelo menos uma vez na vida ele em escutasse.

– Tudo bem, ele não é o primeiro alcoólatra que eu conheço – disse uma voz fina e infantil saindo do banco traseiro.

Eu e o hyung olhamos juntos para trás não vendo nada, além do casaco preto do líder que estava embolado atrás do meu banco. Soltando o ar pesadamente pela boca, puxei o casaco para cima, relevando Pedro que estava silencioso e encolhido, tampando a boca com ambas as mãos.

– O que está fazendo aqui? – perguntou KangIn hyung juntando as sobrancelhas em uma ruga de interrogação que formava em sua testa.

– Queria conhecer a cidade – respondeu o garoto soltando um sorriso amarelo.

– Você complica as coisas assim Pedro – disse balançando a cabeça negativamente, se os hyungs soubessem que eu não havia notado sua presença seria terrível, mas seria mais terrível se eles percebessem que ele havia desaparecido. De todo modo eu não queria perder a viagem – Vamos Pedro, você vai conosco – disse sério e desci do carro, esperando pelos outros dois.

O maknae exibia uma careta derrotada, enquanto o hyung estava todo animado. Pedi para KangIn que cuidasse de Pedro e procurei por um telefone público. Ao lado da entrada do supermercado havia um e embora com um pouco de medo da reação dos mais velhos, liguei para o celular de Heechul, que nem chegou a chamar.

– Donghae está com você? – ele perguntou sério me fazendo arrepiar, eu devia ter me lembrado que ele era vidente antes de ligar.

– Sim – respondi recebendo o silêncio como resposta – Está tudo bem? – perguntei sentindo-me incomodado, ele não poderia estar tendo uma visão no celular poderia?

E o silêncio prolongou, até que ele pediu com a voz firme e sussurrada.

– Por tudo que é mais sagrado, não use seus poderes e não deixe nenhum dos outros dois usarem – pediu ele desligando a ligação em sequência.

Eu sabia daquilo, nunca usar poderes em público, ele por acaso achava que eu era criança? Indignado com aquele pedido, coloquei o telefone de volta no gancho e entrei no supermercado bufando. Logo localizei KangIn e Pedro na seção de doces. O mais velho, que segurava uma garrafa aberta e pela metade de vodka, parecia explicar ao mais novo o sabor e composição do doce, tudo devia ser tão novo para o maknae, que acabei sorrindo com esse pensamento.

– Então eu vou levar esse – disse Pedro colocando o pacote de marshmellow com recheio de chocolate dentro do carrinho que KangIn estava apoiado.

– Pegue dois – disse KangIn piscando para o mais novo – E pegue também a balas de morango com recheio de chocolate branco – disse ele dando um gole em sua garrafa de vodka, sua aparência estava bem melhor, era o KangIn que eu conhecia.

Aquela era a primeira vez que eu via Pedro animado.

– KangIn, não é certo abrir embalagens dentro do supermercado – repreendi o mais velho, mesmo sabendo o quão perigoso isso era, era tudo para dar bom exemplo ao maknae – E não comprem muito doces, se não Heechul vai jogar tudo fora.

– Eu disse isso a ele – respondeu Pedro sorrindo.

– Não se preocupe Siwon – disse KangIn dando de ombros para minha primeira fala, mas ostentando um sorriso astuto para a minha segunda – Ninguém vai resistir a essa coisa fofa pedindo para ficar com todos os doces – completou fazendo aegyo para Pedro, se ele não estivesse com a garrafa em mãos, era provável que ele apertaria as bochechas do mais novo até elas ficarem vermelhas.

– Tem um bicho na sua roupa Simão – disse Pedro sem dar importância, quando passou os olhos rapidamente por mim, mas voltou a analisar os doces, tentando identificar o que eles tinham de bom.

E qual era o problema que ele tinha com o meu nome?

– Onde? – perguntei olhando minha roupa com calma.

– Aqui – disse Pedro se aproximando e me surpreendendo com um forte tapa no ombro direito.

Fiz uma careta para o grilo verde que caiu ao chão e tentei parar Pedro antes que ele esmagasse o bicho no meio do corredor, mas antes disso, ele pisoteou o grilo com pé direito, fazendo um baixo ‘crash’ seguido de uma transformação. Embaixo do pé de Pedro, o grilo ganhou tamanho, fazendo o maknae recuar assustado. O grilo acabava de se transformar em um homem de feições familiares que exibia uma careta de dor. Escutei um grito alto de criança no fim do corredor enquanto entrava em meus devaneios. Aquilo não era possível, a última vez que eu vi aquele homem, havia sido no Brasil, mas de toda forma eu tinha que me concentrar em apenas uma coisa: Parecer comum para as pessoas que perambulavam pelo supermercado.