P.O.V - Pedro on

Sabe no dia anterior em que eu atravessei o piso do primeiro andar indo parar na cozinha e o líder me acusou de estar em seu quarto? Então, eu realmente estava lá. Vamos dizer que depois de ter sido sequestrado e espancado, tudo o que eu mais queria fazer era fugir, mas eles não me deixavam ir embora, então resolvi buscar algo que me ajudasse na minha fuga. Embora fosse pouco provável que eu fosse achar uma arma ou um recorte de jornal que provasse que eles eram pedófilos, perigosos e procurados, resolvi vasculhar os quartos. Primeiramente entrei na porta ao lado da minha, mas o quarto era praticamente idêntico ao meu. Os mesmos móveis, a mesma decoração. Não havia nada de interessante ali, mas o quarto de frente com esse era bem diferente, começando pelo tamanho. Ele era em enorme e com poucos móveis. Ao lado da porta estava um guarda-roupa gigantesco que cobria a parede inteira. Na parede na direita, havia três coisas notáveis, uma cama de casal bem ao centro, do seu lado direito havia uma escrivaninha com cadeira que devia ser muito pouco usada por causa da organização e do lado esquerdo da cama, um criado mudo com abajur. A parede de fundo era adornada apenas por uma janela de vidro e cortinas brancas. Já a parede a esquerda era coberta dois enormes armários, cada um de um lado de uma porta branca. Os armários eram repletos de livros e até alguns troféus empoeirados faziam presença, mas não era do meu interesse. No armário mais próximo a janela, havia uma enorme televisão daquelas finas e de imagem impressionante, mas também não parecia ser usada com frequência.

Mas meu real interesse estava em outra coisa, então fui atrás do que eu procurava. Abri o guarda-roupa e comecei a revirá-lo procurando por algo, mas tudo que achei de relevante, foi um álbum de fotografia antiquado. Como ele estava muito bem escondido, fiz questão de sentar-me no tapete felpudo que ficava entre o guarda-roupa e a cama e o abri. Tinha umas fotos bem estranhas, mas notei a falta de outras pessoas nelas, eram sempre os quatro e havia algumas fotos daquela garota de sorriso encantador. Com medo que fosse pego, peguei algumas fotos com a ideia que pudessem usá-las no futuro e guardei no bolso da minha calça tomando cuidado para não amassá-las. Voltei-me para o criado-mudo, mas minha tentativa de segurar o puxador foi em vão. De primeiro instante, acreditei que tivesse visto errado, que fosse só na minha imaginação que eu tivesse atravessado o criado-mudo com a mão, mas tentei insistir e simplesmente senti meu corpo sendo tragado em câmera lenta pelo chão. Ainda tentei me apoiar na cama me jogando nela, mas a atravessei e em questão de segundos, eu batia minhas costas no balcão de granito. Aquilo sem dúvidas havia sido muito assustador, mas aquela habilidade fazia de mim um fantasma e por mais inocente que eu tentasse me demonstrar, eu havia descoberto minha telecinese a um bom tempo e vinha a treinando sozinho, por isso eu conseguia controlar objetos leves sem apontar com as mãos. Até porque, a graça de você levitar as coisas, é elas acontecerem quando você está inocentemente em seu lugar fingindo estar prestando atenção em outra coisa e não quando está com as mãos lá, te incriminando descaradamente. Mas voltando ao momento em que paramos.

– Deixe-me ver isso – disse o líder empurrando sutilmente Heechul para trás e se esticou para pegar a fotografia. Isso pode parecer inocência demais, mas eu não imaginava que ele ia ter aquela reação. Assim que seus olhos bateram na fotografia, seu olhar curioso, foi rapidamente substituído por um olhar raiva – Onde você pegou isso? - ele perguntou de forma ríspida me deixando sem reação – Corra o mais rápido que conseguir – disse ele cerrando os punhos com força.

– Leeteuk... - começou Heechul apreensivo tocando levemente o ombro direito, mas não pensei duas vezes e sai correndo.

Tive que empurrar Kyu do meu caminho, mas a porta da frente estava aberta, o que era um bônus. Mas quem disse que o líder ia facilitar tanto para mim? Eu havia me esquecido da telecinese e foi tudo tão rápido... Eu empurrei Kyu da passagem da cozinha e escutei a corrida do líder atrás de mim. Meu coração acelerou mais ainda pela descarga de adrenalina e escutei a voz do líder soar alta no ar, acompanhada da porta da frente sendo fechada bruscamente.

– Daqui você não sai! - foi o que ele gritou cerrando os dentes com força, mas rapidamente meu cérebro me informou que eu era capaz de sair dali e tudo que fiz, foi fechar os olhos e repetir mentalmente “eu vou atravessar, eu vou atravessar”, mas não foi o que aconteceu.

Eu estava tão otimista, que acelerei meus passos, mas a madeira estava bem sólida a minha frente e batia com tudo na porta, sendo jogado para trás. A primeira e última coisa que senti, foi minha testa latejar. Até ergui meu braço em sua direção, mas perdido os sentidos antes que chegasse a ela.

– ...mexeu nas minhas coisas! Eu não vou perdoá-lo – escutei de longe a voz do líder falar bravo.

Não sei ao certo quanto tempo fiquei desacordado, mas assim que voltei a sentir as coisas a minha volta, sentir minha cabeça e meus braços, em especial o direito, latejarem. Minha tentativa de atravessar a porta havia sido desastrosa, pelo menos agora, eu sentia algo macio abaixo do meu corpo e lentamente pisquei os olhos tentando focar as coisas a minha volta.

– Mas você precisa dar um jeito na testa dele – retrucou Heechul sério, o que mesmo havia acontecido com minha testa?

Levei minha mão direita até minha testa e a toquei com as pontas dos dedos, mas soltei um baixo grito me arrependendo daquele ato. Ela estava úmida, provavelmente de sangue, e ferida, eu realmente havia me dado mal.

– Por que entrou no meu quarto? - questionou o líder agarrando a gola da minha camiseta com a telecinese e me erguendo enquanto se aproximava semicerrando os olhos para mim e com o punho direito fechado, certamente era com ele que ele controlava o aperto.

– Por que me sequestraram? - questionei de volta franzindo o cenho, mas por causa da dor que me causou, desfiz a careta deixando minha expressão homogênea e indecifrável.

– Você é tão infantil – soltou o líder me livrando de sua telecinese.

– E você está agarrado ao passado! - retruquei de volta me irritando com o jeito confuso do líder.

– Não sou eu que fico insistindo que quero voltar para casa - falou líder que ainda se mantinha irritado.

– Parem com isso! - mandou Heechul em alto e bom som e continuou em tom normal ao notar que nem eu ou o Park tínhamos a intenção de continuar nossa discussão – E vamos falar do porquê desse nerd ter me acordado tão cedo – disse ele se referindo a Kyu, que sorriu sem graça, na porta da cozinha.

Ainda sentindo minha testa pulsar com força, sentei-me no sofá em que estava deitado e observei a figura de tio KangIn que estava no sofá menor e mantinha um sorriso torto na face.

– Estão procurando pelo Donghae em seu país e como encontraram a mãe dele enterrada no quintal, o que era apenas um duplo desaparecimento em uma cidade pequena, virou notícia em todos os jornais e estão como loucos atrás do Donghae – disse Heechul fitando a todos, cada um em um canto distinto da sala – E um pequeno detalhe, os familiares dele estão desconfiados que quem possa ter feito isso foi o pai do Donghae, mas ninguém sabe o paradeiro do homem, muito menos seu nome ou foto e agora eu me questiono, quem é seu pai Donghae? - ele perguntou focando seus olhos em mim, mas eles não foram os únicos.

Senti meus ombros pesarem pela atenção, mas rapidamente balancei a cabeça em forma de não.

– Eu não tenho pai – respondi sem expressar emoção alguma.

– Ahh, você tem. Ninguém nasce do Espírito Santo, amém – retrucou Heechul mais rápido ainda.

– Você nunca ouviu falar de mãe solteira? - perguntei arqueando a sobrancelha esquerda, mas senti um desconforto na testa – Então, a minha mãe era uma até vocês causarem a morte dela e agora estou aqui, sequestrado e nem sei quem são vocês, só sei que são um monte de solteirões inúteis. Um tenta ser meu pai, outro a minha mãe, o outro quer preencher a vaga de irmão mais velho que nunca tive, e também não faço questão de ter e o mais legal, é um alcoólatra. Que diabos são vocês quatro? - perguntei indignado. Eu não tinha a intenção de esquecer o Kyu, mas acabei esquecendo.

– Nenhum de nós está tentando preencher algum vazio em sua vida Donghae – começou Heechul com calma extrema e devo admitir que quando seus olhos escuros encontraram aos meus, senti uma descarga boa de energia, de paz, era algo que a tempo eu não sentia – Se você nos vê como isso, é porque você está carente pela perda de sua mãe e busca algo para preencher essa vaga, mas nós estamos aqui, apenas para ajudá-lo, a orientá-lo. Eu sei que pode parecer difícil, eu sei que nos culpa pela morte de sua mãe, eu consigo captar todos os seus sentimentos e sei que está confuso com tudo isso, mas você é um diferente, manter você nas ruas, será perigoso apenas para você mesmo, sabesse lá qual outros poderes você vai desenvolver. Nós queremos sim, te proteger enquanto ainda não tem pleno domínio de seus poderes, mas nós queremos também ser seus amigos, não uma figura paterna ou materna e... Se você dizer que eu sou a figura materna... - começou ele elevando o tom de voz e semicerrando os olhos para mim, mas foi interrompido por Kyu.

– Tio Heechul, não é melhor você falar de uma vez da clínica? - ele perguntou fingindo-se de inocente apenas para acabar com a discussão. No momento que meus olhos pousaram nele, procurei seu notebook e sorri ao notar que ele carregava uma mochila de costas preta. Com certeza ele devia estar lá dentro.

– Verdade... - concordou Heechul muito contragosto – É o seguinte, ontem tentei ligar para a instituição quantas vezes era possível, mas ninguém me atendeu. Então liguei para a minha secretária e pedi que ela dessa uma olhada na conta bancária, para saber se ainda tinha fundos de investimentos voltados para a instituição e ela me confirmou que o dinheiro continuava a ser depositado mensalmente. Como último recurso, decidi que ia até a instituição, para ver se eu conseguia ter uma alguma visão do lugar, mas não houve nada. Então não a outro jeito, a não ser ir lá pessoalmente procurar a ficha da Lee Chae-rin

– Não podemos deixar ele aqui sozinho – disse o líder se referindo a mim com desdém, mas eu não estava nem um pouco interessado em seu tom, estava interessado apenas, em saber como tudo isso me afetaria no fim da conversa.

– Por isso que eu trouxe o nerd, para ele cuidar do Donghae ou você acha que eu o traria apenas para dar uma notícia? - ele perguntou demonstrando indiferença, mas rapidamente completou – E não diga que não confia no Kyuhyun cuidando do Donghae, na verdade ele tem até planos para os dois, não é mesmo Kyuhyun? - perguntou Heechul com um sorriso torto, deixando o outro sem jeito.

– Na verdade eu tinha mesmo – concordou Kyu entortando os lábios desconfortavelmente – Achei que seria legal se eu o levasse a um parque ou uma praça, afinal, ele só tem doze anos e está em um país diferente, ele merecesse conhecer um pouco da cultura local e eu andei pensando em umas coisas aqui, que se por exemplo, mesmo que alguém tire uma foto dele e coloque na internet, eu posso rastreá-la e deletá-la, não tem como alguém do Brasil descobrir que ele está conosco – finalizou Kyu com um sorriso torto. Ele devia ser mesmo um subordinado daqueles quatro e me parecia muito boa a ideia de ter um tempo nosso juntos, talvez eu pudesse encaixá-lo em um plano de fuga, mas ao mesmo tempo que eu pensava nisso, ainda sentia uma paz enorme dentro de mim, que tecnicamente, afastava esses pensamentos.

Embora relutante, o líder pareceu parcialmente convencido.

– Então nos dividiremos. Você, Siwon e KangIn vão até a instituição e nós três ficamos – disse o líder enquanto se afastava da escada e se aproximava de Heechul que estava de pé atrás do meu sofá – E por favor – pediu Park tocando o ombro direito de Heechul - Tome cuidado, estou com uma sensação ruim – completou ele um tom mais baixo para que os outros não escutassem, mas era provável que tivessem.

– Vamos agora? - perguntou Simão que estava em uma das poltronas com o corpo inclinado para frente e com os cotovelos apoiados nas pernas. Ele esfregava uma mão na outra entregando sua ansiedade.

– Se quiserem terminar o café..., mas sejam rápidos – respondeu Heechul sério.

Suspirei pensando em jogar meu corpo no sofá mais uma vez, mas ao invés disso, senti uma mão pressionando minha testa, arrancando-me um abafado grito de dor. Imediatamente levei minhas mãos até aquela que me causava dor e a tirei da minha testa encarando o líder sério.

– Eu vou te curar – disse ele tão frio e sério, quanto o olhar que eu direcionava a ele.

Pensei em soltar um 'eu não preciso de sua ajuda', mas se eu pretendia fugir, era melhor que eu estivesse em ótimas condições. Mas eu era um bom observador e sabia muito bem que ele não precisava me tocar para me curar.

– Eu sei que não precisa me tocar – retruquei sério, arrancando um sorriso torto do canto dos lábios do líder.

Todos voltaram para a cozinha, exceto tio KangIn que subiu para o primeiro andar. Quando ele desceu, não teve como não fazer uma careta, ele havia feito a barba. Agora ele parecia mais um jovem, com idade semelhante ao do Kyu. E mais um detalhe importante, ele parecia sóbrio. Antes que o grupo de Heechul saísse, tio KangIn ressaltou algo que me deixou constrangido.

– Como assim ele não sabe ler? - questionou Heechul franzindo o cenho indignado – Olha o tamanho dessa criança, não tem como ele não saber ler.

– Ei Cinderela, você não me deixou terminar – respondeu o tio sério – Ele não sabe ler em coreano, mas ele sabe ler em sua língua. Acho que a macumba do nerd maknae não deu muito certo, ele apenas fala em coreano, mas para ele nossas letras são um monte de risco – explicou tio KangIn e aquilo era verdade, quando fomos ao supermercado, fiquei encarando aquelas diversas embalagens de doces e não conseguia entender nada do que estava escrito. No Brasil eu lia que era uma beleza, mas na Coreia eu era um verdadeiro analfabeto.

– Mas eu consigo ler em português – argumentou Kyuhyun da entrada da cozinha.

– É, mas ele não consegue ler coreano, então ensinem a ele pelo menos o básico, até porquê não sabemos se um dia esse coreano dele vai desaparecer e se isso acontecer, se ele tive aprendido a ler, acho que será mais fácil ensiná-lo coreano novamente não é mesmo? Não faço ideia de qual tipo de memórias podem desaparecer junto, então é bom garantir.

– É uma pena que vocês não possam ir até a Praça Cheonggye – disse o líder abrindo um enorme sorriso cínico.

– Deixe de ser malvado Leeteuk – retrucou Heechul sorrindo – Hoje almocem com ele fora e fiquem na cidade pelo menos até as três, o resto do tempo treinem um pouco seus poderes e amanhã de manhã ele começa as aulas de coreano. Isso porque temos que colocá-lo em uma escola – disse Heechul pensativo e pousou seus olhos escuros em minha face – Mas não se preocupe Donghae, com a imortalidade você passará tanto tempo com essa carinha de criança que mesmo que você atrase uns dois anos, ninguém vai reparar em sua idade.

– Isso é verdade – concordou Simão entortando os lábios, mas sem tirar os olhos do chão. Ele evitava a olhar ou falar comigo desde a minha discussão com Heechul – Vamos – chamou ele passando pela porta primeiro.

Heechul e tio KangIn acenaram para nós e seguiram Sion, que não parecia assim tão animado. Talvez ele estivesse bravo por eu ter dito que não queria ter um irmão mais velho, mas eu não podia sentir remorso, eu precisava ser forte se queria fugir dali... Minhas crenças começavam a ser abalas, mas eu não podia me esquecer que Leeteuk queria me matar por causa da foto, então esse era um bom motivo para que eu voltasse para a minha terra. Se bem que só uma ligação para polícia resolveria muita coisa, mas eu não sabia o número. Nunca fui interessado por coisas banais.

– Vamos agora tio Jung-su? - perguntou Kyu me tirando de meus devaneios – O horário de almoço se aproximava – argumentou ele que até a poucos minutos estava enchendo a barriga de torrada.

– Verifique se a porta da cozinha está trancada – pediu o líder sério e voltou seus olhos escuros e frios para mim – E você nem pense em aprontar nada que eu estou de olho.

Ele precisaria de muito mais que uma simples ameaça para me intimidar. E nesse pseudo clima pacífico, seguimos os três para a cidade. Durante o percurso Kyu me dava informações sobre o lugar para onde íamos e devo confessar que fiquei curioso em conhecê-lo. A praça na verdade era o ponto de partida de um rio bem extenso chamado Cheonggyecheon que pela industrialização, haviam construindo uma auto-estrada em cima dele e ele havia degradado bastante, mas agora o rio havia sido recuperado e era um local arborizado e muito popular. Uma cidade que substituía concreto por vegetação. Aquilo era muito surpreendente.

Embora o líder não confiasse muito em Kyu para cuidar de mim, ele disse que tinha outras coisas para fazer e após entregar uma quantia considerável de dinheiro - que eu nunca havia visto antes - para Kyu, ele nos deixou. Descemos do carro e fiquei o observando até que seu carro desaparecesse de vista. Vendo que estávamos realmente sozinhos, olhei em volta soltando uma encantando ‘uou’. Eu não conhecia nenhuma praça que possuísse a beleza daquela. Ela era bem ampla e lisa, o movimento das pessoas era calmo e havia uma admirável cascata que dava início ao rio. Havia uma bela ponte sob o riacho, mas eu estava interessado mesmo, em descer as escadarias ao lado da cascata e fazer a caminhada junto ao rio. O ar era tão puro e a brisa tão fresca, que me dava a sensação de estar em casa ou mesmo no sobrado do líder. Eu estava completamente absorto e encantado com a praça, quando me lembrei do líder e questionei Kyu, perguntando aonde ele havia ido.

– Talvez tenha ido a sua clínica – respondeu o mais velho pensativo.

– Ele tem uma clínica? - perguntei franzindo o cenho desacreditado, então pelo menos um deles não era tão inútil quanto eu pensava.

– Na verdade é um hospital particular, daqueles grandes. Quem o ajudou a abrir foi o Heechul, porque ele sim é o rico dos quatro, mas foi a dedicação de Leeteuk que fez o hospital crescer, mas desde que você chegou e isso deve fazer uma semana, ele não vai a clínica.

– Eu não estou aqui a uma semana – disse rapidamente. Aquele era o meu segundo dia naquele país e eu já havia sofrido em demasia.

– Na verdade – começou Kyu desconfortavelmente - Quando você caiu do telhado, você ficou inconsciente por uma semana e durante todo esse período, o Leeteuk ficou ao seu lado o tempo inteiro.

– Ficou? - foi tudo que eu conseguia perguntar.

Kyuhyun assentiu sorrindo com a cabeça.

– E no dia que Heechul previu que você ia acordar, ele foi me buscar, mas vamos atrás de uma daquelas barraquinhas de cachorro quente, estou morrendo de fome – disse Kyu passando mão esquerda na barriga.

– Mas espera – disse antes que ele saísse atrás de uma barraquinha que eu havia visto a uns cinquenta metros e me largasse sozinho – Eu preciso de uma máquina fotográfica para tirar fotos, pelo menos no meu país, sempre que você vai a um lugar novo e belo, você costuma tirar fotos do lugar para não se esquecer dele – falei bem sério esperando que ele me entregasse uma máquina, mas eu estava falando a verdade, tudo que eu queria era tirar fotografias, eu não tinha nenhuma intenção escondida por trás disso, ainda mais depois do que ele havia me dito.

– Eu não tenho uma máquina – disse ele tateando os bolsos da calça jeans que ficava um pouco grandes em seu corpo esguio – Mas eu tenho um smartphone, serve? - perguntou ele esticando um celular preto para mim.

Não era o que eu estava esperando, mas ia servir. Assenti com a cabeça pegando o celular de sua mão e rapidamente comecei a apertar os botões procurando a câmera. Logo escutei ele avisar que havia encontrado uma barraquinha, mas dei de ombros, dizendo que não estava com fome e sai andando sozinho para as escadas, enquanto ele corria até a comida. Observei ele literalmente correr com sua mochila batendo em suas costas e franzi o cenho, ele era muito estranho. Apontei o celular para várias direções enquanto descia as escadas, procurando uma boa paisagem para tirar uma foto, mas o que realmente me chamou a atenção, foi um jovem tirando fotos com uma câmera que parecia profissional. Observei de relance para a direção em que ele tirava a foto e sorri ao ver que capturava um grupo de jovens conversando do outro lado do riacho. Pelo modo como interagiam entre si, nem devia saber que estavam sendo flagrados e por isso, resolvi tirar uma foto daquele jovem. Às vezes eu sou um pouco excêntrico, mas só as vezes. Achei um bom ângulo e apertei o botão do centro, eu seria um fantasma, mas o smartphone me delatou, soltando um barulho alto de flash. Paralisei sem ter reação, muito menos abaixei o braço. O jovem abaixou a câmera e me fitou confuso. Nos estávamos a uma curta distância, por isso ele olhou bem para os dois lados e para trás procurando qual era a minha paisagem, mas não encontrando nada de interessante e ainda fazendo uma careta confusa, ele caminhou em minha direção.

Sua imagem ainda aparecia no visor do celular e não sei porquê, eu sentia uma vontade imensa de correr.

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