– O que está fazendo? - ele perguntou com um sorriso mimoso no canto dos lábios. Ele ainda parecia confuso, mas eu diria que ele era muito gentil, pelo tom que usava comigo. Finalmente eu tinha forças para abaixar o braço.

– O mesmo que você – respondi rapidamente atento a sua reação, que foi melhor do que eu esperava.

– Ahh! - disse ele prolongando o som e arqueando as sobrancelhas juntas - Então você também gosta de capturar momentos? - ele perguntou com um sorriso gentil formando-se em seus lábios.

– Capturar momentos? - repeti em forma de pergunta, arqueando a sobrancelha esquerda e ele levemente assentiu com a cabeça – Eu diria tirar fotos de estranhos, mas claro, capturar momentos de alegria, felicidade, tristeza... Eu gosto de como a luz incide sobre aquele grupo – disse passando os olhos rapidamente sobre o grupo que ainda estava envolvido em seus próprios conflitos.

Ele olhou para o lado tentando reprimir uma risada. Eu havia dito algo errado em seu idioma? Eu esperava que não. Continuei o observando, até que ele olhasse novamente para mim recuperando o fôlego e substituindo a risada por um sorriso branco.

– Mas você precisa de uma câmera pequeno, com o celular não tem como você variar a entrada de luz e a quantidade de megapixels é absurdamente baixo, na verdade imagem de celular é horrível, prefira uma câmera, nem que seja uma compacta, e aos poucos você vai juntando dinheiro e aprendendo sobre o oficio. Substituindo por uma semiprofissional e depois passe para uma profissional. Essa mesmo é uma Nikon D5100, com 16,2 megapixels e lente de 18-55mm.

– Ahn... – soltei encabulado, aquele jovem não poderia ser do mesmo planeta que eu, não mesmo. Talvez esse fosse o mau dos coreanos, terem muitos discursos prontos e se empolgarem por qualquer coisa. Não sei ao certo, mas ele me lembrava Siwon falando de mutantes – Eu até queria ser fotógrafo, mas depois dessa eu desisto.

O jovem riu ruidosamente com minhas as palavras, sendo obrigado a cobrir a boca para que as gengivas não aparecessem. Apenas o encarei franzindo o cenho. Eu devia ser muito engraçado para ele. Malditos orientais, pensei bufando.

– Pedro – ouvi a voz ofegante de Kyu me chamar. Ainda com pensamentos perversos ligados a câmera do outro jovem, olhei entediado na direção da voz e franzi o cenho ao notar Kyu correndo todo desajeitado ao meu encontro com dois cachorros-quente em mãos. Chegava a ser vergonhoso vê-lo descer os degraus – O que está fazendo? Pare de incomodar ao hyung – disse ele sério parando ao meu lado e olhou de relance para o jovem. Notei que subitamente ele paralisou observando o jovem sem reação.

Aquele era um momento perfeito. Enquanto Kyu admirava ao hyung com cara de tonto, discretamente, levei a mão esquerda a nuca e estiquei os dedos de uma vez, fazendo as pernas de Kyu bambearem e ele despencar no chão. O outro se assustou com a repentina queda e logo se pôs a ajudá-lo.

– Você está bem? – perguntou se agachando de frente a Kyu, se esquecendo da câmera e nesse momento, com um sorriso malicio nossos lábios, acidentalmente sua câmera caiu com toda a força no chão, fazendo algumas peças voarem pelos ares.

O jovem parou atônito, enquanto Kyu ainda reclamava de dor no joelho.

– Minha câmera – disse o jovem desconhecido esticando os braços para o equipamento quebrado e com os olhos ficando úmidos. Os homens não tinham mais dignidade – Como isso foi acontecer? – ele se perguntou soluçando.

Recuei lentamente tentando me afasta daqueles estranhos.

– Tudo bem – falou Kyu parando um pouco de pensar apenas em sua dor e se aproximando do outro – Eu conheço alguém que pode conserta a câmera em dois segundos. Meu padrinho é ótimo com eletrônicos, ele pode consertá-la – falou Kyu tentando confortar o outro.

– Ela veio do Japão, é a minha preferida, vai precisar de peças novas, ele não vai conseguir arrumar – respondeu o outro juntando as peças da câmera enquanto eu apenas observava aquele drama entediado.

– Ele consegue – disse Kyu com um sorriso otimista na face, segurando as mãos do hyung para que ele parasse para escutá-lo.

Não pude deixar de notar que sobrou ar no ambiente. Kyu ostentava um sorriso meigo e confiante, enquanto o outro era tomado pela doçura de seus olhos negros, esquecendo-se de respirar. Eu disse doçura?

– Estou com fome – falei em alto e bom som, apenas para acabar com aquela cena.

Ambos sorriram constrangidos e focaram em pegar as peças. Eles se levantaram juntos, cada um com as mãos cheias e com um sorriso tímido, Kyu voltou a se pronunciar.

– Me dê dois dias e eu te entrego sua câmera melhor do que nova.

– Tudo bem – disse o outro entregando as peças que havia pegado e se apressou em vasculhar seu bolso em busca de um pequeno cartão – Me ligue quando estiver pronto e a propósito, meu nome é Sungmin – disse o estranho entregando o cartão para Kyu com um sorriso gentil contornando seus lábios delicados.

– Obrigado pela confiança Sungmin hyung, nos vemos em breve – disse rapidamente para evitar a careta abobalhada de Kyu e arrastei o mais velho em direção a escadaria, já que a barraquinha ficava naquela direção.

– Até mais Pedro e... – ele deixou sua perguntar no ar.

Eu necessariamente não fazia questão de responder, mas eu não estava sozinho.

– Kyuhyun – respondeu o mais velho exibindo seu sorriso abobalhado e quase caiu no primeiro degrau, mas o reprimi, fazendo-o se concentrar nas escadas.

Tentei convencer Kyu a passear comigo depois de nossa refeição, mas ele estava certo que eu havia quebrado a câmera e dizia que como castigo, além de contar para o líder, íamos ficar quietinhos esperando por sua volta, mas o que ele realmente queria, era tentar consertar a câmera do tal do Sungmin. Aquela sua dedicação sem resultado me deixava entediado, tudo porque eu havia tirado uma foto de um estranho. Não posso negar, que se eu fosse mais relevante, a câmera não teria sido quebrada, mas minha cabeça estava bagunçada. Ao mesmo tempo em que eu queria dar uma bagunçada nos cinco homens que haviam me sequestrado, eu aceitava que aquele sequestro era o melhor. Eu poderia aprender tantas coisas com eles e eu tinha, segundo eles, mais dons para serem descobertos e nada melhor, do que descobri-los em um ambiente onde eu não precisaria escondê-los, onde eu poderia ser eu mesmo e ainda por cima, onde eu poderia pedir ajuda.

Aceitar ou não aceitar, essa era a verdadeira questão. Ficamos na praça até por volta das três, que foi quando o líder chegou em seu carro. Meu coração não podia estar mais acelerado. Eu levaria bronca dupla, primeiro por usar poder em público e segundo por usar o poder de forma destrutiva, pelo menos, foi o que eu imaginei, mas por algum motivo incomum, Kyu acabou não contando sobre o incidente com a câmera alheia e antes de voltar para casa, o líder o levou para sua, argumentando que Simon não voltaria ainda, então era melhor que Kyu ficasse na sua casa.

Estranhei um pouco a moradia de Kyu, era bem humilde e na zona pobre da cidade, mas nada comentei, não queria correr o risco de ser delatado ao líder. Após isso seguimos sozinhos até o sobrado isolado do líder. Eu não gostava nem um pouco daquilo e sentia que ia ser mortalmente espancado, mas tentava ser o mais sublime possível e não demonstrar medo algum. Assim que o carro estacionou no gramado, desci e esperei pelo líder, mas ao descer do veículo com a chave em mãos, ele fitou ao molho pensativo e em sequência ao céu, me deixando apenas na curiosidade.

– Pegue a chave – disse ele fitando o chão em um sussurro.

Observei sua face confuso e me assustei quando ele moveu o braço direito bruscamente para trás, criando impulso para arremessá-la. Tentei dizer um não, mas a chave já ganhava o ar com velocidade. Estiquei meu braço direito para ela, tentando adquirir seu controle e puxá-la para mim, mas devido seu rápido movimento e distância, não conseguia pará-la e ela desapareceu atrás da casa.

– Agora vamos ficar do lado de fora – disse o líder friamente cruzando os braços sob o tórax. Ele nem sequer olhou para a minha face.

– Você vai – retruquei rapidamente e sai correndo em direção a varanda.

Voar, ficar invisível ou curar pessoas, não ajudava em nada, mas minha habilidade de atravessar paredes era sensacional. Realmente estava se saindo melhor do que eu esperava. Subi os três degraus rapidamente controlando minha respiração e fixo no objetivo de atravessar a porta, mas me atrapalhei um pouco e no meio da varanda, minha perna esquerda começou afundar. Pelo susto, pensei apenas em parar com aquilo e senti minha perna ficar sólida de novo, mas acabou ficando presa na madeira e como meu corpo ainda, de certa forma, se movia para frente, batia com a testa na porta e cai para o lado direito dobrando minha perna, fazendo-me sentir uma forte fisgada no joelho. Soltei um grito duplo de dor, sentindo meu osso latejar e desejei morrer, quando escutei os passos do líder na escada. Só faltava ele estar com o taco de madeira.

– Está doendo? – ele perguntou sem nada expressar.

– O que você acha? – esbravejei me contorcendo no chão. Meu joelho doía demais e minha testa latejava. Eu não sabia de deitava de bruços e deixava minha testa mais dolorida ainda, ou se, desculpem-me o termo, ferrava com meu joelho de vez.

– Saia daí sozinho – respondeu ele de forma tão ríspida e fria, que sentia suas palavras contarem minha garganta. Sem ligar para o meu estado de agonia, ele passou por cima de mim e puxou uma nova chave do bolso e colocou na fechadura, abrindo a porta com facilidade – E traga-me a outra chave – pediu ele antes de entrar, mas terminado suas palavras, me deixou sofrendo sozinho.

Eu não devo ter comentado, mas quem havia me soltado da prateleira no supermercado, havia sido Simão e seus braços incrivelmente fortes, mas agora até o líder havia me abandonado naquela madeira e Simão não estava ali para me salvar. Minha primeira idéia, que demorou a chegar, já que eu não conseguia pensar direito por causa da dor, foi usar da telecinese para abrir a madeira, mas eu não era forte o suficiente para fazer aquilo, então tive que apelar para o único outro poder que eu possuía e que havia me metido naquilo. Estabilizando ao máximo minha respiração, me concentrei em ser um fantasma. As pessoas podiam me ver, mas ninguém poderia me tocar. Um pouco dramático, mas inspirativo. Se eu dominasse aquele poder, só em parceria com a telecinese e a imortalidade, eu poderia me tornar um deus... Deus? Tudo bem, estou exagerando um pouco, mas quem sabe um soberano eu me tornaria. Concentrando-me nisso, tentei mover minha perna esquerda, mas apenas senti a dor pelo esforço no joelho. Bufei e continuei tentando por longos minutos, até que o líder surgiu na porta com sua carranca irritada.

– Deixe de ser egocêntrico Pedro, o verdadeiro poder está nos momentos de plenitude, paz e felicidade, daí vem o verdadeiro poder, seus pensamentos egoístas vão limitar seu dom – disse ele friamente e voltou a fechar a porta.

Por que ele estava fazendo aquilo? Devia fazer parte de seu treinamento sadomasoquista, me deixar sofrendo de dor, enquanto ele ficava me observando, provavelmente, pela janela do seu confortável sobrado, mas se ele queria plenitude, era isso que ele teria. Voltando a tranquilizar minha respiração, deixei com que as lembranças me absorvessem. Eu precisava de um momento de paz na minha vida, um momento de paz e felicidade. Era a plenitude que eu precisava, então era em algo assim que eu pensaria.

Desacelerando até mesmo as batidas do meu coração, por causa do meu novo ritmo respiratório, fechei os olhos e abri em uma nova realidade. A luz era intensa em meus olhos, me obrigando a cobri-los com a mão esquerda, mas me acostumando à intensa luz, consegui focalizar o que estava mais a frente. Era a minha verdadeira casa. Um sorriso animado surgiu em meus lábios e analisei cada canto daquele vasto quintal com cuidado até meus olhos pousarem na porta da minha simples casa. Minha mãe sorria para mim, com um pano de prato sob o ombro esquerdo. Sempre tão ocupada com os deveres da casa, mas sempre, sempre, parava para me receber. Senti o peso nas costas, o peso da mochila e imaginei apenas, no quão feliz e orgulhosa ela ficaria se descobrisse dos meus poderes. Ela sempre dizia que eu era um garotinho especial, mas eu não tinha coragem de mostrar a ela minha telecinese e agora era hora.

Senti minha perna esquerda ganhar liberdade, mas em sequência, meu corpo inteiro afundou na varanda, me deixando preso embaixo daquele momento de madeira. Agora as coisas estavam ficando sérias demais. Por impulso, comecei a gritar por ajuda, até que o líder apareceu na porta da sala.

P.O.V – Pedro off


P.O.V – LeeTeuk on

Depois que tirei Pedro debaixo da varanda pela escadinha, não permiti que ele entrasse, pois ainda tinha um molho de chaves para encontrar. Aquele garoto estava suprindo minhas expectativas no quesito poder, mas na personalidade, ele estava sendo tão flexível quanto uma porta. Preparei o jantar enquanto o esperava e por volta das sete da noite ele apareceu irritado com o molho de chaves. Obviamente era um molho falso e ele havia percebido, então não era para menos sua irritação.

Sem ter notícia dos três que haviam saído pela manhã e sem fazer questão de falar com o mais novo, segui para o meu quarto assim que terminei de limpar a cozinha, mas havia algo que me perturbava. Eu sentia que SiWon, KangIn e HeeChul estavam precisando de mim, mas era apenas um pressentimento e eu esperava com todas as forças, que eu estivesse errado. Depois do meu banho, deitei em minha cama e fiquei observando o tremular da cortina por um longo tempo. Seria certo buscar pelos três? Talvez, mas por enquanto eu tinha uma pessoa com quem me preocupar.

Mergulhado em um sonho superficial, acordei com os gritos e gemidos vindos do outro cômodo. Sentei-me em um sobressalto na cama e olhei para os lados, para ter a confirmação que tudo não passava de um sonho, mas voltando a ouvir um grito estridente vindo do corredor, joguei o cobertor de lado e corri rapidamente para o único lugar possível de onde vinha o grito. Pedro mudava de posição constantemente, enquanto suava e soltava grunhidos e sons irreconhecíveis. Como aquele garoto me dava trabalho, mas achei que seria melhor acordá-lo e foi exatamente isso que eu fiz.

– Você não devia fazer tanto escândalo – disse de forma irritada assim que notei ele abrir os olhos, mas como na noite anterior, ele se agarrou ao meu corpo suavizando minha expressão.

– E você devia dormir aqui comigo – retrucou ele rapidamente sem tirar a face do meu peitoral. Aquele garoto não tinha jeito.

Soltei um suspiro baixo contornando seu corpo com meus braços e esfreguei calmamente suas costas, tentando lhe passar um pouco de conforto.

– Eu ficarei aqui com você – respondi esquecendo-me da raiva que eu sentia por ele ter entrado no meu quarto e ter pegado uma foto de Taeyeon. Logo Taeyeon, uma jovem por quem eu tinha tanto apreço... Tratei de completar antes que ele soltasse de mim – Mas você precisa me prometer uma coisa – falei o sentindo soltar-se da minha cintura e pousar seus olhos em minha face.

– O que? - ele perguntou com a voz baixa e entrecortada.

– Você tem que me prometer que vai confiar em mim e nos outros, porque nós não queremos o seu mal, nós somos como você. E eu, mas do que ninguém, sei como é perder uma mãe – disse alisando seus cabelos, com os olhos fixos ao dele. A pouca luz que atravessava a porta vinda do corredor, me impedia de ver sua face com perfeição, mas sentia que ele pensava sobre a proposta.

– Confiança é algo que se conquista – retrucou ele se afastando completamente de mim e deitando na cama com a face virada para a parede.

Em meio a esse movimento, ele puxou o cobertor para cima de seu corpo e novamente eu sentia o frio estranho que fazia ali dentro. Talvez ele deixasse a janela aberta muito tempo ou talvez fosse a porta que ficava entreaberta, de todo modo, ele havia deixado bem claro que não me queria ali, então simplesmente soltei um suspiro e me levantei caminhando em direção a porta.

– Park – chamou ele antes que eu atravessasse a porta, fazendo-me parar e olhar em sua direção que sentava na cama – Me desculpe – pediu ele com o olhar baixo e respiração lenta – Eu queria apenas voltar a ser quem eu era, eu queria voltar a me sentir único. Com vocês cinco, acaba a graça de ter algum poder – disse ele formando um sorriso torto, mas rapidamente reassumindo sua pose séria – Mas eu estou feliz por estar aqui e... - ele fez uma leve pausa enquanto mudava sua expressão séria para o choro - Eu estou com medo, você não pode me deixar aqui sozinho – disse ele como uma criança mimada que está prestes a chorar.

Tentei não rir de sua última fala e voltei para o seu lado, sentando-me na cama.

– Não se preocupe, eu cuidarei de você enquanto dorme – disse lançando-lhe um sorriso paternal, enquanto ele voltava a se deitar.

O ajudei a se embrulhar e ele novamente me cobriu com seu cobertor. Sentindo sua bochecha macia e quente no dorso da minha mão esquerda, eu me sentia melhor. Sua pele era como uma chama que aquece, mas não queima. Uma sensação boa e de conforto eu conseguia captar do menor, pelo simples fato de estar de bem com ele, de pelo menos uma vez, conseguir descobrir o que se passava em sua cabeça. Sua respiração calma e expressões serenas me tranquilizavam. Filhos era algo com o qual eu havia deixado de sonhar a muito tempo, mas com ele do meu lado, tudo que eu pensava, era em ajudá-lo com a lição e ir a seus jogos de futebol. Um sentimento estranho de felicidade invadia meu peito apenas em pensar nisso e depois de tantos anos, quando eu fechei meus olhos, eu consegui sonhar.

P.O.V – LeeTeuk off