– Parece um coreano – disse Heechul surgindo atrás de mim com a mão direita espalmada indo em direção a minha franja.

Aquele movimento era feito com normalidade, mas eu conseguia captar em câmera lenta aqueles dedos compridos e aquelas unhas bem feitas indo em direção ao meu cabelo perfeito. Heechul podia ser meu hyung, meu ajusshi, até mesmo minha mãe, mas por puro instinto, ergui a mão direita e desferi um alto e dolorido tapa no dorso de sua mão.

– Fiquei longe do meu cabelo – falei rapidamente me aproximando do espelho, enquanto passava as mãos superficialmente por meu corte perfeito. Eu jamais assumiria em voz alta, mas meu cabelo estava tão bonito.

Olhando de perto, eu podia ver o quão maravilhoso estava aquele castanho super escuro e aquela franja jogada para o lado esquerdo. Virando um pouco a cabeça para o lado, eu podia ver o quão alinhado estava meu cabelo na parte de trás, nenhum fio fora do lugar, ao mesmo tempo em que me impressionava, me enchia de alegria. Escutei a risada alta de tio KangIn e encarei seu reflexo no espelho. Ele ria do hyung que se mantinha pasmado pelo meu ato de auto-proteção capilar.

– Não bata no seu hyung Pedro – advertiu o líder com a voz arrasta e meiga, era possível sentir no seu tom, que ele queria rir como tio KangIn, mas o respeito enorme que ele tinha por Heechul o impedia de fazê-lo.

– Para onde vamos agora? – perguntei mudando bruscamente de assunto, enquanto me virava para os mais velhos, altamente preocupado em não bagunçar meus fios tão perfeitos.

– Vamos buscar o Kyuhyun para almoçar conosco – respondeu o líder com um sorriso torto a delinear seus lábios.

– Mas espera, acho que vou cortar franja, o que acham? – perguntou Heechul hyung puxando o cabelo para face e se aproximando do espelho em que eu me analisava. Sem preocupação alguma, creio até que com um sentimento de vingança, ele me empurrou para o lado, para que pudesse se olhar melhor.

– Nem pensar – protestou o líder sério – Se quisesse cortar franja que o fizesse quando o Pedro estivesse aqui, agora vamos, estou morrendo de fome.

– Eu também – concordou tio KangIn afagando sua barriga saliente.

Mesmo contrariado, Heechul hyung acabou aceitando. Chegando ao carro do líder descobri o que eles estavam fazendo enquanto eu era mortalmente torturado, eles estavam fazendo compras. A quantidade de sacolas era absurda e segundo tio KangIn, que foi atrás comigo, metade daquelas roupas, sapatos e acessórios eram todos de Heechul, mas que não era para eu me preocupar que ele também havia comprado algumas coisas para mim.

Kyu não esperava nos ver tão cedo, mas não querendo perder a oportunidade de almoçar com os hyungs, pegou sua mochila e um objeto muito familiar. Enquanto eu era espremido por tio KangIn, pelo nerd e pelas compras de Heechul hyung, consegui identificar de quem era aquele objeto. Era a câmera fotográfica profissional do... Sungmin? Talvez seja isso.

– Por que está com ela? – perguntei ao Kyu passando os olhos rapidamente pela câmera, rompendo assim a necessidade de falar seu nome.

– Nunca se sabe quando vou encontrar o Sungmin hyung novamente – respondeu o nerd abrindo um mágico e encantador sorriso. Seus olhos brilharam no mesmo instante em que ele citou o nome daquele rapaz da praça.

– Quem é esse? – perguntou tio KangIn se inclinando para frente, para que pudesse ver a face do Kyu.

Pedi silenciosamente que ele não me acusasse de nada e foi exatamente o que aconteceu. O nerd contou aos hyungs sobre nosso passeio na praça, dizendo que ele havia sido maravilhoso, enquanto eu apenas assentia sério. Eu estava pensando seriamente em não tentar quebrar o notebook dele dá próxima que o visse, mas era apenas um pensamento, nada confirmado. Leeteuk parou na frente de um grandioso restaurante. O luxo estava presente em cada detalhe, principalmente na entrada, onde um manobrista uniformizado veio levar o carro. Eu nunca havia entrado em um lugar tão luxuoso como aquele, sendo impossível manter meus lábios juntos.

– Vá se acostumando Donghae – disse Heechul com um sorriso torto direcionado a mim.

Suspirei encantando. Nossa mesa estava reservada e fomos guiados pelo maître até uma das melhores mesas do restaurante. Infelizmente não havia assento para Simão, mas pela expressão de Heechul hyung e lembrando-me que ele podia ver o futuro, confirmei que ele tinha um motivo para não comparecer.

Pedi tudo que eu tinha direito e mais um pouco. Almoçar em um restaurante requintado como aquele não acontecia sempre na minha vida, então aproveitei para deixar minha boca cheia o tempo inteiro. Quando algum dos hyungs me advertia sobre meu comportamento, eu apenas soltava um grunhido irreconhecível e continuava a comer. Ao fim seguimos para o apartamento de Heechul. Eu quase não estava cabendo no carro, mas era aquilo ou ir correndo atrás do veículo e nas minhas condições preferi a primeira opção.

– Se você comer como um morto de fome no jantar beneficente, eu não respondo por mim – ameaçou Heechul hyung ainda no elevador, enquanto eu passava a mão sobre minha barriga dilatada.

– Ai... – soltei em meio a um gemido baixo, deixando meus olhos vagarem perdidos pelo elevador. Naquele momento eu conseguia sentir todo o peso daquela comida no meu estômago, brigando por mais espaço ainda. Lindamente eu começava a passar mal.

Aquele foi o estopim para Heechul hyung me dar uma bela de uma bronca e como o líder não podia fazer nada para me ajudar, fiquei estrebuchando e grunhido sons irreconhecíveis do sofá da sala. Pelo menos havia um ponto positivo em ficar no sofá passando mal, consegui ver toda a cena do filho pródigo que se passou no batente da porta.

Heechul hyung que estava na cozinha preparando um chá para que eu bebesse, simplesmente cortou a distância entre a cozinha e o hall de entrada em velocidade considerável e com todos seus músculos enrijecidos. Ele parecia mais um robô apressado. Sem um motivo aparente ele segurou a porta pela maçaneta e a puxou para trás, antes que houvesse qualquer movimentação do outro lado, revelando assim a figura alta e cabisbaixa de Simão. Ele parecia triste, decepcionado, mas tudo o que houve foi um longo abraço.

Heechul hesitou por ligeiros segundos, ainda segurando a porta para o jovem forte, mas deixando-se levar pelo sentimento de humanidade que ainda devia existir dentro dele, ele abriu os braços para Simão e se colocou nas pontas dos pés, enquanto contornava o pescoço de Simão em meio a um abraço apertado. Franzi o cenho achando aquela cena um tanto estranha, mas para quem vivia abraçando o líder por causa de pesadelos, era melhor me manter silêncio.

– Você está bem dongsaeng? – perguntou Heechul finalmente separando-se do maior que em momento algum havia retribuído seu abraço – Venha, entre – completou o hyung conduzindo Simão sutilmente para dentro do apartamento.

Tudo que fiz foi lançar um sorriso torto para o maior, mas com seu olhar frio e perdido, ele ignorou meu ato e deixou-se ser conduzido para a sala de televisão.

Alguns instantes depois, o líder veio em pessoa me trazer uma caneca fumegante de chá e ficou por ali mesmo conversando comigo. Não demorou para que tio KangIn também aparecesse com uma garrafa de vodka na mão e a medida que o tempo passava, mais próximo dos jantar estávamos. Heechul hyung me mandou tomar banho antes de todos os outros e em entregou roupas novas. Dentre elas havia uma que se destacava e que o hyung havia me pedido para usar. Era um blazer Pierre Cardin preto com abotoaduras douradas, mas naquele momento eu já havia simpatizado tanto com meu suéter preto que não queria mais tirá-lo. Tomei banho com todo o cuidado do mundo, para não bagunçar minha franja e desobedeci a ordem de Heechul, vestindo meu suéter preto, mas foi só ele me ver sair do banheiro, para que ele se irritasse.

– Eu não disse para colocar o blazer Donghae? – perguntou ele me espreitando com seus olhos semicerrados – Venha, troque de roupa no seu quarto – finalizou ele me arrastando sutilmente para uma das milhares de portas que haviam naquele corredor, mas espera, ele disse que eu tinha um quarto?

– Eu tenho um quarto? – perguntei sendo arrastado para a porta da esquerda, tirando é claro, a que dava acesso ao local.

– Vamos dizer que uma mãe gosta de manter seus filhos por perto – retrucou o hyung com um sorriso curto e divertido a delinear seus lábios rosados. Franzi o cenho para aquela citação, mas não contestei, apenas segui o Heechul. Estando na frente, ele abriu a porta e me entregou a sacola de roupas – Se vista – ordenou ele voltando a ficar sério e soltou um sorriso torto para mim, antes de desaparecer na grande e imponente porta branca que ficava de frente com a minha.

Espiei pela fresta que o hyung havia deixado e respirei fundo com um único pensamento. “Que o quarto não seja rosa! Que o quarto não seja rosa!” eu repetia em forma de mantra e entrei no quarto aflito, mas para o meu alívio, as paredes eram todas na cor azul claro e aquele quarto sem dúvidas era maior que o quarto que eu tinha no sobrado do Leeteuk. Havia um enorme tapete creme, areia e marrom claro no meio do quarto, além do enorme guarda-roupa de madeira clara e nobre. Minha cama de colchão extremamente macio e lençóis azuis com almofadas cinza ficava na parede de frente com a porta e ao seu pé, estava uma escrivaninha de madeira escura, como do meu criado-mudo, e com um notebook e uma luminária a adornando. Não acreditei que eu estava ganhando um notebook assim, de modo tão fácil, mas não quis sair para perguntar, não depois de ver a enorme porta de vidro que existia ali, na parde da direita. Com um enorme sorriso, afastei a cortina de tons papéis e descansei as mãos na porta da direita, fazendo-a correr sutilmente para a esquerda, abrindo um grande espaço para que eu pudesse passar. Bem que eu havia notado que na varanda havia duas portas, mas por causa das cortinas claras e pelo fato da segunda porta estar bem trancada, não consegui ver aonde que aquela porta ia dar. A visão da cidade ao pôr do sol, era maravilhosa e som de trânsito era quase inexistente. A brisa fria, mas agradável, cortou minha face fazendo-me recordar de momentos da minha infância. Se aquele momento da minha vida era um sonho, eu jamais queria acordar.

Tio KangIn que explorava cada canto do apartamento curioso, entrou no quarto vestindo roupas bonitas e estilosas demais para eu acreditar que havia saído de seu guarda-roupa. Sua enorme camiseta branca com detalhes em cinza, era bem simples, mas o colete que ele usava por cima, era realmente belo. Seu cabelo também estava diferente. Estavam um pouco úmidos, mas havia sido penteado e agora uma negra franja adornava sua testa. Realmente tio KangIn estava diferente, não estava desleixado como eu estava costumado a vê-lo, mas ele não parecia assim tão animado com meu quarto.

– Ah... - soltou ele em meio a um suspiro baixo - Eu apostei com o Leeteuk que seu quarto seria rosa... - comentou o mais velho fazendo um pequeno bico. Ele estava falando sério?

Depois de explorarmos meu quarto e até mesmo ficar pulando na cama como duas crianças, seguimos para a sala de estar para esperar os demais. Algo que não posso deixar de comentar, foi a entrada triunfal de Heechul hyung. Não me pergunte com a ajuda de quem, mas ele havia feito o que queria, ele havia cortado franja. Fiquei boquiaberto diante daquela franja tão perfeita a cobrir-lhe as sobrancelhas. Eu ainda ia usar uma daquelas.

– Vamos? - chamou o hyung cheio de arrogância e seguiu na frente para o hall de entrada. Humildade não era um amigo muito próximo do hyung.

Deixamos o apartamento de Heechul hyung por volta das oito e meia da noite e como Simão havia levado o carro do hyung, fomos nos dois carros. Fui com o líder e tio KangIn, mas assim que chegamos ao grandioso local do evento, me juntei a Kyu, assim como o líder se aproximou de Heechul.

Eles eram de fato os importantes ali, mas logo um homem de meia-idade veio falar com Simão e tio KangIn saiu em companhia do líder me deixando sozinho com o nerd. O salão do jantar era típico de todas as festas, com aquela iluminação ruim, mesas grandes e redondas com pano de mesa combinando com a decoração e um lindo e grandioso arranjo de flores ao centro. Pratos, talheres e copos já estavam distribuídos pela mesa, mas como eu não havia sentado em um ainda, estava me sentindo um pouco deslocado. No centro da parede à esquerda, estava montado um palco e a sua frente seguia uma pista de dança, mas por enquanto as músicas eram todas calmas. Eu só esperava que não tivesse aquelas músicas que só tem ritmo, porque letra mesmo deixa muito a desejar.

– Vamos ficar aqui mesmo? – perguntou Kyu que estava logo atrás de mim, vestido um blazer ou seria um terninho? Não sei ao certo, mas parecia mais um blazer azul marinho, que por estar aberto, dava ao nerd um ar juvenil e pela ausência de gravata, eu acreditava que fosse um.

Estavamos parados no meio do corredor, enquanto outras pessoas, muito bem vestidas, chegavam aos montes e iam se ocupando dos lugares vagos.

– Onde será que os hyungs preferem sentar? – questionei de volta passando os olhos pelas mesas perto do palco. Eu imaginei que o Heechul hyung gostaria se sentar por aquele lado, mas quanto a tio KangIn, eu não tinha muita certeza. Quem sabe perto da cozinha, onde ele poderia pedir muita vodka ao garçom, ele ficasse mais feliz.

Eu me perdia em divagações quando notei um rapaz tocar gentilmente o ombro esquerdo de Kyu e o puxar para trás. Em minha curiosidade, apenas observei de longe, mas não pude evitar de me aproximar sorrateiramente ao notar que se tratava de Sungmin em uma camiseta social cinza bem escura, com calça, sapato e gravata combinando na cor preta.

– Kyuhyun... - disse o outro sorrindo, então esse era o nome de Kyu? Kyuhyun? Sabia que eu sempre esquecia uma parte – Eu estou surpreso em vê-lo... O que faz aqui? - perguntou o jovem concentrado em analisar discretamente as feições de Kyu.

– Sungmin... - falou Kyu surpreso – Eu digo o mesmo, não esperava reencontrá-lo tão facilmente, ainda mais aqui, mas olhe, com um pouco de mérito meu, sua câmera está como nova – disse ele todo animado mostrando a câmera profissional para o outro que ele havia intitulado de hyung, sem ao menos saber se era mesmo mais velho que ele.

Não aguentei a presunção de Kyu e me aproximei de Sungmin hyung.

– Na verdade ele não tem mérito algum, mas finja que acredita e ele ficará super feliz – sussurrei para o mais velho que sorriu maravilhado ao me fitar pela primeira vez.

– Pedro dongsaeng, você mudou o corte, como está gracioso – disse ele levantando a mão a minha franja, mas o interrompi com um tapa alto no dorso de sua mão.

– Não pegue, vai bagunçar – briguei fazendo bico, fazendo o mais velho rir.

– Vocês se conhecem? - perguntou Simão entrando sem mais nem menos na nossa conversa – Tipo, você conhece o Kyuhyun e o Pedro? - perguntou ele para Sungmin fazendo uma careta de espantado. Aquilo de certa forma me deixava feliz, então eu não era a única pessoa que achava o Kyu um nerd fracassado, mas por que ele havia me incluído na pergunta? Confesso que não gostei nenhum pouco de seu tom.

– Obviamente conheci os dois há algum tempo – respondeu Sungmin educadamente – E o senhor? Quem é? - ele perguntou ao mais velho, que apenas balançou negativamente.

– Não sou ninguém – respondeu ele rapidamente, enquanto recuava alguns passos - Continue conversando com seus dois amigos... estranhos, só tome cuidado para não virar um – completou ele com um sorriso cínico e saiu andando pelo salão.

Apenas espreitei meus olhos para Simão.

– Ignore meu padrinho, ele costuma ser mais gentil – disse Kyu dando de ombros e tirou à câmera do pescoço – Eu te liguei algumas vezes, mas você não atendeu ou retornou... De qualquer forma, essa câmera lhe pertence – disse ele entregando a máquina para o mais velho, que sorriu timidamente enquanto a tomava em mãos.

– É muita gentileza a sua Kyuhyun, mas... - ele fez uma longa careta antes de continuar – Eu comprei outra – soltou ele ao fim, fazendo Kyu fazer uma careta de desapontamento. Tão tristonho e fofo com seu bico, que ri alto por dentro – Mas o filme ainda me interessa... – disse ele rapidamente tentando animar ao nerd – Mas acho melhor que ela fique com o Pedro – completou ele passando os olhos por minha face, em meio a um sorriso gentil.

– Eu? - perguntei com um pouco de dificuldade, enquanto Kyu se encontrava no mesmo estado de surpresa que eu.

– E quem mais seria? - ele perguntou sorrindo – É o melhor jeito de fotografar o mundo e eu posso ensiná-lo a usá-la. Não vou dizer que será fácil, mas acho que você merece, ainda mais agora que parece um rapazinho com essa franja escura – disse o meu hyung preferido esticando a câmera para mim.

A peguei suspirando e tive que me concentrar para não deixá-la cair. Uma câmera profissional, totalmente minha. Eu não podia estar mais feliz. O sorriso era tão grande que não cabia em minha face.

– Obrigado hyung – disse em meio a uma reverência rápida e sai saltitante pelo salão.

Mais animado que criança no dia de Natal e curioso como sempre fui, logo descobri onde ligava e comecei a procurar algo interessante para capturar. Havia tanta coisa acontecendo, tantos pequenos detalhes que eram escapados, principalmente aos olhos humanos, mas as lentes de uma câmera profissional, eu podia capturar tanta coisa... Mas aquilo ia além da minha capacidade de compreender as coisas. Tio KangIn e HeeChul conversando pacificamente? Aquilo era real? Por via das dúvidas, levei a câmera ao olho direito e ajeitei o foco por instinto. Eu havia nascido para aquilo. Suavemente apertei o botão de captura que veio acompanhado de um alto e brilhante flash que chamou a atenção. Eu devia ter me lembrado dele, pensei envergonhado e sai sorrateiramente do centro do salão, enquanto desligava a câmera e passava a fita envolta do meu pescoço. Atenção era tudo que eu menos queria, mas uma mão descontrolada tocou minha franja. Desvencilhei-me rapidamente daquela mão, mas meus fios haviam sido brutalmente movidos do lugar.

– Leeteuk – resmunguei para o mais velho que sorria se divertindo.

– Eu precisava fazer isso – respondeu ele rindo.

– Aigo, vou ao banheiro arrumar – disse em tão frio e autoritário e sai marchando sem rumo.

Ainda ouvi seus protestos dizendo que minha franja estava bonita e alinhada, mas eu conseguia sentir os fios fora do lugar e jamais andaria pelo salão daquela forma. Mancharia minha imagem certinha de afilhado do Heechul. E não estou sendo vaidoso, estou sendo apenas egocêntrico. Tem uma grande diferença ok? Sem muita dificuldade, cheguei ao banheiro masculino. Vasculhei o local sutilmente com os olhos, mas tudo o que encontrei foi um loiro de costas, muito ocupado com o secador de mãos. Ignorei sua imagem e parei defronte ao espelho analisando minha franja. De fato ela estava bem arrumada, mas fiz questão de arrumar no lugar os três fios que haviam se deslocado para outras direções. Com um sorriso satisfeito, voltei-me para a porta, mas dei de cara com o jovem loiro que até pouco secava as mãos. Quando o vi de costas, tive as esperanças que ele fosse algum ocidental que como eu estava perdido na Coréia do Sul, mas ele possuía traços marcantes de coreano.

– Senhor Donghae, é uma honra que nos encontremos novamente – disse o jovem de franja loira, maxilar avantajado, olhos bem delineados pela maquiagem preta e com um sorriso abobalhado em seus lábios pálidos. Sua pele brilhava de tão branca que estava.

– Senhor? Você sabe quantos eu tenho? - perguntei franzindo o cenho confuso, nem minha mãe que tinha todo o respeito por mim, me chamava de tal forma – Eu não sou como aqueles caras que tem cara de vinte, mas tem seus quarenta – disse apontando o polegar direito levemente para porta, fazendo um sorriso encantado e nervoso surgir nos lábios do mais velho.

– Oh! Desculpe o meu equívoco senhor, mas é que conversando tranquilamente com o senhor, não consigo chamá-lo de outra forma a não ser senhor, não uma pessoa tão magnífica e iluminada quanto o senhor pequeno Donghae.

– Oh meu Deus, eu vou ficar complexado dessa forma... - falei para mim mesmo em um pensamento alto e voltei a me concentrar naquela figura esguia a minha frente. Eu nunca tinha ouvido tantas vezes a palavra ‘senhor’ na mesma fala – É complexado que se diz né? - perguntei franzindo o cenho, mas ao notar sua expressão de desentendimento, balancei a cabeça negativamente e mudei de assunto - Meu nome não é Donghae... - comecei tentando explicar-lhe toda aquela confusão de nomes que Heechul havia feito, quando reconheci aquela franja – Espera, você não é o homem que tentou me raptar na minha casa? - perguntei acelerando minha respiração pelo risco que corria em estar sozinho com ele, sem dúvidas aquele era o jovem.

– Na verdade sim, mas aquilo foi impensado senhor, o meu mestre decidiu que fosse melhor que você ficasse sob a tutela dos quatro diferentes, eles poderiam te... - subitamente ele se interrompeu levando ambas as mãos à boca – Eu não devia dizer isso, esqueça tudo o que eu disse senhor Donghae, por favor, eu sou apenas um servo inútil que faz coisas erradas demais para ser levado em conta.

– Não, não, agora você vai ter que me explicar isso direito – disse espreitando os olhos para o loiro, que sutilmente recuou – Quem é seu mestre? - perguntei dando um passo em sua direção – O que ele quer comigo? E porque me deixar com o quarteto? - perguntei parando bem próximo ao loiro, mas devido ao meu tamanho, eu não ficava tão intimidador quanto eu desejava, então resolvi apelar para outra coisa – Eu sou um ser divino de muita luz, você não pode mentir para um ser divino de muita luz – falei fazendo um leve bico de criança mimada.

– Desculpe-me senhor, desculpe-me, mas eu não posso dizer nada.

– Muito menos o seu nome?

– Lee Hyukjae, senhor, mas me chamam pelo nome de Eunhyuk. Eu estou destinado inteiramente a lhe servir e proteger. Quando precisar de mim, basta me ligar – disse ele puxando um cartão pequeno e rústico de dentro de seu blazer preto.

Tomei o pequeno papel em mãos e ele simplesmente desapareceu deixando uma fumaça negra a se dissipar no ar. Um cara estranho e com veneração por mim, havia acabado de me entregar o número de seu celular... Qual era o problema dos coreanos? Pensei enterrando o cartão no bolso da minha calça luxuosa demais para combinar com minha pessoa, mas vaidosa o suficiente para ser harmônica a minha franja. E aquele era só o começo do jantar beneficente.