– Quanto tempo Park Jung-su, você não mudou nada – disse a minha Taeyeon tirando lentamente o capuz de sua cabeça, revelando aos poucos suas belas e delicadas feições.

– É uma pena que eu não possa dizer o mesmo – respondi friamente, recuperando um pouco da dignidade que me restava. Meu corpo pingava por causa da chuva, mas aquele não era o momento mais apropriado para chover, então fiz tudo que estava ao meu alcance.

Inspirando o ar com força para os pulmões, podendo sorver por ligeiros segundos o doce perfume que Taeyeon usava e também a brisa gélida que vinha em companhia da chuva, me concentrei no tempo a minha volta. Minhas íris assumiram uma coloração branca e por pensamento, fui controlando a chuva até pará-la com completo. Taeyeon me abriu um sorriso que se misturava a jovialidade e malícia. Era incrível como ela pouco havia mudado, e as gotas de chuva que molharam sua face, faziam com que sua pele brilhasse mais ainda. É claro que depois de tantos anos desde nosso último encontro, não havia como ela se manter igual, mas suas feições pouco haviam mudado e as poucas linhas de expressão estavam bem escondidas pela maquiagem forte.

Eu nunca havia a visto tão pálida, começando por seus lábios que quase se confundiam a sua pele clara e lisa como a porcelana. Além disso, ela havia mudado o cabelo. Eles estavam nos ombros, em um corte repicado e estavam em um tom bonito de dourado. Sua franja estava jogada para a direita e seus olhos castanhos escuro, estavam com um brilho diferente. Ela havia se tornado uma mulher sedutora, muito diferente da minha pura e inocente Taeyeon.

– Sempre tão gentil – a ironia de sua voz era quase palpável e seu olhar profundo e analítico parecia me penetrar, mas me mantive sério diante daquela jovem que me sorria com malícia, pois havia uma pergunta a solta em minha mente, depois de tantos anos, o que ela queria comigo?

– O que você quer Taeyeon? – perguntei asperamente e indo logo ao ponto principal. Sua presença insólita me causa grande desconforto e quanto menos tempo eu passe com ela, melhor seria para mim.

– Por que a pressa Jung-su? – questionou ela dando alguns passos calculados para o lado e parando em um ponto que pudesse me encarar. A encarei de volta acelerando sutilmente minha respiração. Seu sorriso presunçoso fazia-me sentir raiva, mas antes que eu me pronunciasse, ela prosseguiu com sua fala – Tudo bem, também não estou com tempo e paciência para joguinhos. Eu vim até você Jung-su com um pedido de desculpas – disse ela se esgueirando para mim - Eu sei que fui uma garota muito , mas agora eu sou uma nova pessoa e estou disposta a fazer uma aliança com você.

– Aliança? Por que eu faria uma aliança com você? – retruquei rapidamente estufando o peito e deixando minha postura de forma mais perfeita possível, para passar-lhe minha imponência diante de sua pequena e insignificante existência.

– Fiquei sabendo que encontrou a quinta criança, um diferente com poderes magníficos e um futuro brilhante pela frente. Ouvir dizer até que ele seria o Adão da nova espécie, que seus filhos seriam grandes diferentes como vocês, grandes e assassinos... – disse Taeyeon deixando todo o clima de mistério no ar.

Foi inevitável não rir.

– Poderes magníficos? Adão? Estamos falando do mesmo diferente?

– Não ria Jung-su – esbravejou Taeyeon se afastando com um carranca irritada - Por anos e anos fomos oprimidos e explorados por esses comuns inúteis, mas agora finalmente o garoto predestinado a mudar tudo isso nasceu, mas pelo o que vejo, o Heechul não viu nada com o pequeno não é mesmo? E quais são seus poderes hein? Por que você ri dessa forma insolente? Diga-me de uma vez, eu posso ajudar a treiná-lo.

– Ajudar a treiná-lo? Está falando sério? – perguntei em meu tom de deboche e balancei a cabeça negativamente – Não, tudo isso só passa de uma ilusão sua, o pequeno é apenas um diferente, nada além. De onde você tirou tudo isso hein? De algum livro de ficção?

– Está recusando minha aliança?

– Não está óbvio?

– Você quem sabe Jung-su, eu só estava tentando te ajudar – respondeu a jovem dando de ombros.

– Espera – pedi segurando gentilmente seu braço direito - Como soube que encontrei mais um diferente? – questionei a Taeyeon por dois motivos únicos, primeiro aquilo era algo muito curioso, ainda mais depois de um grupo de incomuns passarem a nos perseguir por causa do menor e segundo eu não podia deixá-la ir, não ainda. Eu precisava de mais tempo com ela.

– As notícias correm rápidas entre os incomuns, a grande maioria deles ficou sabendo do nascimento do garoto e muitos o vêem com um Deus, que veio para libertá-los da opressão, mas se você diz que ele é apenas um garoto, então deve estar certo, você sempre está certo Park Jung-su.

– Taeyeon... – disse em um tom leve de ameaça.

– Faça-me o favor Jung-su – respondeu ela movendo o corpo bruscamente para longe de mim.

Ainda estiquei minha mão esquerda para ela, em uma vaga tentativa de chamá-la, mas acabei desistindo. Voltando a cabeça para baixo com expressão derrotada, senti algumas gotas geladas de água cair em minha nuca. Havia voltado a chover. Depois desse encontro inusitado, procurei por Siwon por mais alguns minutos, mas ele simplesmente havia desaparecido.

P.O.V – LeeTeuk off


P.O.V – Pedro on

Tio KangIn realmente havia ficado magoado por eu ter ajudado ao Heechul e não a ele, mas depois que lhe expliquei que aquilo fazia parte do meu plano genial para ficar com os doces, ele acabou cedendo. Então ele veio com a idéia que se eu conseguisse atravessar o piso novamente, eu poderia muito bem pegar os doces na calada da noite, mas eu sentia que ia me machucar.

– Claro que não Pedro, você pode levitar com a telecinese, você não vai despencar como da última vez e quando tiver pegado tudo, você pode levitar de novo e atravessar o piso sem problema algum – disse tio KangIn que estava sentado na cadeira de sua escrivaninha.

– É, mas eu nunca fiz isso sabe? Levitar. Eu sempre me foquei em mover as coisas sem o auxílio das mãos, levitar a mim mesmo nunca pareceu possível – contra-argumentei projetando o lábio inferior levemente para frente, formando um triste e fofo bico.

– Então é o momento de tentarmos – retrucou tio KangIn erguendo-se da cadeira com animação.

– Nem pensar – protestei de imediato me encolhendo na cama do mais velho – Eu já tenho muito em que me concentrar, principalmente nos campos de proteção, acho muito mais legal que atravessar as coisas, vou tentar desenvolver essa habilidade antes de qualquer uma.

– Você pode atravessar a matéria sólida e prefere ficar fazendo inúteis campos de força? – perguntou o tio alcoólatra indignado.

– Não são inúteis.

– De qualquer forma, você poderia roubar um cassino com esses poderes.

– O que? – perguntei me engasgando com a própria saliva.

– Você está pequeno demais para isso, mas quando crescer um pouco mais, te levarei para conhecer minha cidade natal e então vamos fazer um arrombo em Vegas – disse o mais velho esbanjando animação.

– Vegas? Las Vegas? Tipo, Estados Unidos?

– Você não é o único americano Pedro, e a propósito, meu nome real é Jordan, mas acabei adotando o Kim YoungWoon por todos dizerem que eu possuía traços coreanos e por fim acabei adotando o pseudônimo KangIn para atuar como um herói, tipo o nome do Superman sabe? Ter um codinome sempre é bom e KangIn tem um significado especial.

– E qual seria?

– Pessoa forte, robusta, achei que seria uma boa – respondeu o mais velho sorrindo – Mas vamos que estou sentindo o cheio da comida do Heechul hyung daqui, ele está fazendo kimchi, consegue sentir? – perguntou ele sorvendo o ar com força pelas narinas, enquanto caminhava para a porta.

Não respondi, apenas o segui para o térreo indo em direção a cozinha e de fato tio KangIn estava certo, um dos pratos que Heechul estava fazendo, era o kimchi, que a propósito, era exageradamente condimentado, mas no fundo, no fundo, até que era bom. Mal nos sentamos nas banquetas em volta do alto e polido balcão, quando o líder entrou na casa batendo a porta. De cabeça baixa, ele bufava inúmeras vezes enquanto atravessava a sala.

– O que aconteceu Leeteuk? – perguntei inocentemente, sendo repreendido por Heechul que nem sequer nos dera atenção, simplesmente estava concentrado no fogão.

– Leeteuk hyung – corrigiu ele rapidamente em alto e bom som – Você tem que começar a tratar aos seus hyungs com respeito e antes que pergunte, eu completo, hyung é a forma como um garoto chama um garoto mais velho, então toda vez que for falar com um de nós trate de falar corretamente.

Bufei baixinho revirando os olhos, formalidades e mais formalidades, qual era o real sentimento delas? Nunca as compreendi e vivia muito bem em uma sociedade sem elas.

Ajusshi – soltou tio KangIn sutilmente em meio a um espirro forçado.

Pela primeira vez Heechul hyung nos direcionou um pouco de atenção, mas foi soltando a colher de madeira com força e nos fitando com um terrível olhar. Seus olhos semicerrados e carranca irritada falavam por tudo, não foi preciso nem ele abrir a boca para que eu me encolhesse no meu lugar e apontasse discretamente com o indicador para o tio KangIn.

– Ei! – protestou o alcoólatra de imediato quando percebeu meu ato.

– O Siwon foi atrás daqueles incomuns que nos atacaram e vocês estão brigando por causa de simples termos? – falou o líder parando com as mãos apoiadas na bancada de granito.

– Ele é tão teimoso... – comentou Heechul dando de ombros e voltando a se concentrar no nosso jantar de odor tão estonteante que entorpecia qualquer um a quilômetros de distância – Mas ele ficará bem.

– Assim espero – soltou o líder rispidamente.

– Ahh tio Kangin, eu queria lhe perguntar algo – disse fazendo uma curta pausa esperando que seus olhos distraídos pousassem em minha face – Quais são os poderes de vocês quatro? Tipo, nome por nome.

– Seu dom estranho de sentir as coisas no ambiente tem nome líder? – perguntou tio KangIn abrindo um sorriso animado.

– Não que eu saiba – respondeu ele se rendendo a um sorriso torto.

– Vão lavar as mãos enquanto coloco a comida nas tigelas – ordenou Heechul desligando o fogo de uma das panelas.

Fiz uma careta sem vontade de me levantar, mas com tio KangIn se levantando tão rapidamente e me dando um tapa na cabeça, não tive opção a não ser segui-lo para o enorme banheiro com a entrada embaixo da escadaria. Isso era outro ponto interessante da casa do líder, todos os cômodos eram grandes e espaçosos, principalmente espaçosos, já que sua casa não possuía muitos móveis de decoração e adornos, como lembrancinhas de aniversários e vasos com flores.

Não demorou para que a mesa estivesse repleta das mais diversas comidas e mesmo sem ter pegado o jeito ainda, me aventurei a comer com aqueles pauzinhos de nome hashi, se não estou enganado. A refeição foi longa e repleta de conversas paralelas sobre assuntos dos quais eu desconhecia e assim que terminamos, Heechul lavou a louça e foi para o seu luxuoso apartamento no carro do líder. Um grande paradoxo as atitudes do Heechul hyung, mas preferi não contestar.

Depois de um breve momento de ócio assistindo televisão, escovei os dentes e segui para o meu quarto. Afundei meu corpo no colchão e deixei meus pensamentos correrem soltos pelo cômodo. Aos poucos eu me adaptava aquela nova vida, mas ainda havia tanto a acontecer antes que eu me entendesse com todos os hyungs, se é que um dia viveríamos em paz. Meus músculos relaxavam à medida que meus pensamentos se perdiam dentre os móveis. Quando menos se esperava, meu corpo jazia inerte no colchão macio. A bela sensação do sono, como flutuar nas nuvens e sentir a garoa molhar delicadamente a face, mas minha paz não demorou em cessar.

Um vento frio cortou minha face, fazendo-me abrir os olhos. Embora estivesse com minha visão levemente embaçada, consegui reconhecer o local a minha volta, como sendo o meu escuro e sólido quarto. A porta estava entreaberta e o feixe de luz que adentrava, me trazia certo conforto, mas aquele frio a minha volta me incomodava e rapidamente passei os olhos pela janela, imaginando que eu havia esquecido-a aberta, mas ela estava muito bem fechada. Embora improvável, achei que a culpa pudesse ser da porta e até comecei a descobrir minhas pernas com o intuito de ir fechá-la, mas uma alva mão entrou em meu campo de visão, empurrando a porta para trás.

Encolhi paralisado de medo e observei aquela figura de branco entrar no meu quarto. Ao mesmo tempo em que eu queria gritar por socorro ou simplesmente correr mais rápido do que o tio KangIn, aquele ser fantasmagórico me encantava com seus belos traços orientais. Uma jovem coreana de tez tão clara quanto ao leite e lábios e bochechas róseos e delicados como as pétalas de uma flor, acabava de entrar no meu quarto sem pedir licença. Em contraste com sua pele, seus cabelos eram bem negros e estavam presos em um coque, deixando seus belos traços mais em evidência. Se aproximando sorrateiramente de mim, enquanto eu encostava minhas costas na cabeceira da cama, ela simplesmente sentou ao meu lado e sorriu de modo doce e jovial.

– Diga ao Siwon que eu... – sua voz superava e muito o canto dos pássaros, ela me passava uma sensação de paz incrível, mas aquele nome citado me intrigava. Durante sua curta pausa, notei que seu sorriso doce e encantador, ia sendo substituído por um sorriso torto e malicioso - ...agradeço por ele ter me matado – disse a jovem em meio a uma risada maléfica, passando por uma rápida metamorfose. Sua face começou a envelhecer com super aceleração e diante dos meus olhos ela havia se tornado uma velhinha horrenda e de risada muito macabra. Acordei aos berros e notei a figura do líder entrar correndo no meu quarto. Visivelmente ele estava muito afobado, mas não liguei, apenas estiquei os braços de forma sugestiva e esperei que ele sentasse ao meu lado para que eu o abraçasse.

– Mais um pesadelo? – perguntou o líder afagando carinhosamente meus cabelos bagunçados.

– Por que eles não acabam? – perguntei de modo inocente, sentindo os olhos umedecerem. Aquele terror que eu sentia por dentro estava me consumindo. Durante o dia eu me mantinha relativamente animado e disposto a lutar contra aquele quarteto mesmo sendo provável que eu apanharia, mas meus sonhos haviam se tornado pesadelos e às vezes eu sentia medo de que quando acordasse, não encontraria o líder.

– Talvez seja apenas uma fase difícil, você está impressionado com o que vê diariamente conosco e fica tendo esses pesadelos a noite, talvez seja melhor parar com o treinamento, talvez você devesse ter uma vida normal... – disse o líder deixando as palavras ecoarem soltas pela minha mente.

Ele estava mesmo sugerindo tudo aquilo? Eu gostaria de ver sua face, para ser qual era sua expressão diante daquelas palavras, mas na penumbra eu pouco conseguiria extrair algo de sua face, ainda mais o conhecendo como eu o conhecia, ele provavelmente estava sério, mas eu não deixaria o assunto parar naquele ponto.

– Não Leeteuk – falei apertando mais ainda meus braços em volta de sua fina cintura – Mesmo que isso fosse possível, eu não quero ter uma vida normal, eu quero apenas viver com vocês, meus quatro amigos diferentes em todos os sentidos possíveis – disse finalizando com um torto sorriso e uma vaga tentativa de fitar a face do líder.

Em uma fração de segundos, percebi um sorriso delinear os lábios do mais velho, mas talvez não tenha passado de um ato de minha imaginação. De qualquer forma, ele encostou as costas na cabeceira da cama e me acomodei ao lado dele. Sua presença sempre acalmava meu coração e acabava com meus pesadelos. Deitado ao seu lado, eu pude finalmente dormir em paz.

O dia amanheceu com uma fina garoa. As nuvens densas impediam com que o sol em toda vitalidade aquecesse a terra e quando abri os olhos relutante, senti o frio anormal presente no quarto. O líder não estava mais presente, o que fez com que uma carranca desapontada se formasse imediatamente em minha face, mas ao escutar o barulho da garoa, me esqueci completamente disso e corri para a escrivaninha. Com um sorriso torto a delinear meus lábios, apoiei ambas as mãos sobre a escrivaninha e dei uma espiada no lado de fora.

Embora nublado, o dia não deixava de ser lindo. Depois de escovar os dentes e vestir uma camiseta de mangas longas por cima da minha camiseta branca, segui para a cozinha. Eu estava com sede e um pouco sonolento, mas devo admitir que não imaginava encontrar aquela cena na cozinha. O líder e tio KangIn estavam preparando o café da manhã juntos, como aquilo era possível? Pigarreie alto atraindo a atenção de ambos que estavam voltados para o fogão.

– Bom dia Pedro, estamos quase terminando seu café da manhã – anunciou o líder com um sorriso gentil e duas belas covinhas a adornar suas bochechas.

– Aqui está pronto – disse tio KangIn retirando uma frigideira do fogão.

Antes que me sentasse em uma das banquetas, fiquei na ponta dos pés para tentar ver o que tio KangIn havia feito...

– Panqueca e ovos mexidos com bacon – disse o líder animado levando uma torre de panquecas para o balcão.

Fiz uma careta intencional enquanto o líder pegava o melado do armário.

– Vocês sabem que eu nasci no Brasil né? Brasil, não Estados Unidos ou Canadá.

– E? – soltou tio KangIn levitando uma das panquecas até seu prato.

– Nada – soltei abaixando a cabeça.

Leeteuk arrumou um prato para mim ao mesmo tempo em que eu escutava o roncar do motor de um carro. Depois que Siwon havia simplesmente saído no carro do Heechul hyung, eu possuía esperanças que fosse ele, mas ao invés disso quem entrou na casa falando sem parar, foi o próprio Heechul hyung.

– Omo KangIn, como você pode fazer ovos mexidos com bacon para o Donghae? Quer deixá-lo gordinho como você?

– O que você disse? – perguntou tio KangIn espreitando os olhos para o hyung que acabava de entrar na cozinha.

– Por favor, vamos começar a manhã com um pouco de paz – pediu o líder que até então estava entretido com sua panqueca.

Na verdade as palavras do hyung faziam muito sentindo, ainda mais considerando que o líder havia arrumado um prato cheio de ovo e bacon para mim, mas ele não insistiu no assunto, apenas revirou os olhos e parou ao meu lado.

– Termine logo que vamos para a cidade.

– Fazer? – perguntou tio KangIn se acomodando na banqueta que ficava na lateral esquerda da mesa.

– Oras, hoje é o jantar beneficente, ele precisa arrumar esse cabelo.

– Arrumar? – perguntei com a voz rouca e esganiçada, levantando bruscamente minhas mãos ao cabelo.

Não sei qual era o problema que o Heechul hyung tinha com o meu cabelo castanho e bagunçado, mas não tive escolhas a não ser seguir com ele para a cidade. Leeteuk e tio KangIn foram também deixando a casa completamente sozinha, mas nenhum deles parecia preocupado com isso. Visivelmente eu estava triste e contrariado de ter que ir a um cabeleireiro, mas quem disse que minha opinião contava? E para completar a cabeleireira do luxuoso salão no qual fomos parar era conhecida do Heechul hyung.

– Aigo Heechul oppa, o que veio fazer aqui? Seu cabelo está tão lindo como sempre – disse ela com um gigantesco e mágico sorriso.

– Vim trazer meu afilhado – respondeu o hyung em um tom semelhante de animação, enquanto me puxava sutilmente para frente dele – Quero que cuide dos fios do Donghae, como se estivesse cuidando dos meus e, por favor, quero uma grande surpresa e que dê um jeito nessa jubinha – completou ele bagunçando mais ainda meus cabelos.

Resmunguei algo inaudível enquanto a risada de tio KangIn se fazia alta no ar.

– Farei de tudo para que ele fique tão lindo quanto você Heechul oppa – respondeu a jovem de longos cabelos negros e ainda ostentando seu sorriso animado.

– Nós voltaremos em breve, se comporte Donghae – pediu Heechul hyung, ou melhor, ordenou o mais velho e deu as costas. Ainda perguntei para onde ele ia, mas ele me ignorou.

Leeteuk e tio KangIn se despediram com acenos e fui obrigado a seguir a jovem. Ela me conduziu até o primeiro andar do salão animada. O local era realmente muito grande e embora fosse de manhã, o movimento era crescente e só quando me sentei em uma das confortáveis cadeiras em um sala reservada, ela me disse algo de realmente útil.

– Vamos escurecer um pouco esses fios? – perguntou ela tão animada quanto apresentadora de programa infantil. Minha reação não podia ser diferente, levei as mãos à cabeça em meio a uma careta assustada.


***


– Como ele está digno! – exclamou Heechul hyung maravilhado com minha nova imagem que eu mesmo não havia visto – Vista isso e desça, os seus hyungs querem vê-lo – disse o hyung me entregando uma sacola de compras.

Eu estava cansado, com fome e curioso sobre meu novo cabelo, mas tudo o que fiz foi seguir a ordem do Heechul na esperança que ele me levasse para almoçar, já que estava passando do horário. A jovem que havia me torturado fazendo inúmeras coisas com meu cabelo sem deixar com que eu o visualizasse, apenas para aumentar a tortura, me indicou o banheiro para onde segui. As roupas de Heechul faziam-me parecer um nerd refinado de filme norte-americano, só faltava meu suéter ser xadrez, mas mesmo assim coloquei minhas roupas simplistas na sacola e deixei o banheiro, fazendo Heechul hyung ter mais um de seus ataques dizendo como eu estava lindo. Ele parecia mais minha mãe, quando eu arrumava uma roupa nova.

– Venha Donghae – disse ele animadamente me puxando pela mão escadaria abaixo. Tive que apressar meus passos para não cair e quando finalmente me reafirmei no piso, escutei a voz do líder soar encantadora no ar.

– Ohhh! É o nosso Pedro? – perguntou ele encantado e surpreso.

Tio KangIn estava igualmente surpreso. Não era possível que todo mundo me via, menos eu. Acabando com o mistério de uma vez, me livrei da mão do hyung e corri para frente de um dos espelhos que não estava sendo ocupado. Ao pousar meus olhos em minha imagem refletida, paralisei fazendo bico. Que raios de cabelo super arrumado era aquele?


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