– O que ele está fazendo aqui? – esbravejou Yuri se referindo a mim com desprezo. Em um momento como aquele eu só conseguia me recordar da doce Yuri que eu havia visto no jantar beneficente sendo brutalmente substituída pela jovem arrogante que eu havia conhecido na casa do Sungmin.

– Ele é o garoto que eu salvei e como ele precisava de abrigo e é um de nós, eu o trouxe para cá. Isso porque ele conseguiu me localizar sozinho, então acho que ele pode ser muito útil para nós – explicou Jongwoon novamente com sua calma imperturbável que começava a me irritar. Nenhuma pessoa normal ficava tão calma assim de uma hora para outra.

– Ele é um de nós? – perguntou a mais velha com expressão de desdém, me apontando com o indicador direito – Ele é um de nós? – a repetição de sua pergunta vinha acompanhada de tanto desdém, que era possível palpa-lo no ar.

– Você querendo ou não, sou um incomum como qualquer um de vocês, garota Pikachu – retruquei com desdém.

– Isso era para ser uma piada? Porque eu não achei graça menino... – ela se interrompeu pensativa – Qual é mesmo seu poder? - franzi o cenho indignado e balancei a cabeça negativamente – Isso não importa, o que importa é que quando eu liguei para você Yesung, era para você despistar esse garoto, não trazê-lo para cá – disse a morena reassumindo sua pose séria e arrogante.

– Por que ela te chama de Yesung? – perguntei calmamente para o rapaz de cabelos bem negros e espetados em direção ao solo.

– Porque eu canto bem – respondeu ele sorrindo jovialmente.

– Sério que você canta? – perguntei abrindo um sorriso entusiasmado – Eu também canto... Quer dizer, no chuveiro né? Mas eu gosto de cantar, acho que canto bem até, mas sempre fui muito tímido para entrar em competições da escola – finalizei fazendo uma careta.

– Se eu for falar de todas as competições de canto que já ganhei ficaremos aqui o dia inteiro – disse o jovem animadamente.

– Omo! Dá pra alguém prestar atenção em mim? – perguntou a jovem perdendo a calma e pousando em sequência suas mãos em sua fina cintura.

– Ah, sim! Onde estávamos? – perguntei um tanto inocente pousando meus olhos em sua face.

– Eu estava brigando com ele e ele estava tentando se explicar – respondeu a jovem indicando Jongwoon sutilmente com os olhos.

– Aigo! Não tenho nada a explicar – retrucou o hyung de imediato fechando a cara e formando um mimado e fofo bico – Ele é um amigo do Minnie e é um incomum, isso são motivos suficientes para eu salvá-lo quantas vezes forem necessárias.

– Omo! Não fique chamando o Sungmin hyung de Minnie – retruquei franzindo o cenho irritado. Infelizmente quando me dei conta de minhas palavras, que haviam sido bem sonoras, fiz uma careta assustada, mas já era tarde demais para dizer qualquer outra coisa.

– Por que não? – perguntou Jongwoon me encarando com aqueles olhos profundos e bem delineados pela maquiagem, obrigando-me a desviar o olhar para o chão, em uma tentativa vaga de não me perder naqueles olhos.

– Ya! – escutei um grito ecoar ao longe, capturando a atenção de todos, mas quando procuramos o dono da voz, ele surgiu na minha frente acompanhado de uma névoa negra – O que você está fazendo aqui? – berrou um teletransportador loiro apontando seu indicador esguio para a minha face.

Seu tom até tentava ser intimidador, mas ser mais alto que ele, acabava com qualquer ameaça que ele pensasse em fazer e tudo o que fiz, foi dar-lhe um forte tapa na mão.

– Não aponte esse dedo magro para a minha face! – esbravejei deixando o rapaz momentaneamente sem reação.

– Omo! Você não tem o direito de estar aqui e muito menos de me bater! – esbravejou o garoto de volta.

– E quem você também acha que é? – perguntei aos berros, mas foi então que reconheci aquela franja loura. Ela estava um pouco diferente da última vez que eu havia me encontrado com seu dono, na verdade estava muito diferente, seu cabelo estava seco e quebradiço, parecia palha, mas ainda mantinha o mesmo tom bem claro de loiro... – Você! – berrei em um sobressalto – Você tentou sequestrar o... – mas fui interrompido por ele.

– Você não devia estar aqui, então fique quieto e venha comigo – esbravejou o loiro tocando bruscamente meu ombro esquerdo. Ainda tentei me livrar de sua mão, enquanto escutava a voz lenta de Jongwoon gritar um sonoro ‘espera’, mas em uma fração de segundos, desapareci no ar juntamente com o rapaz.

A sensação de ser teletransportado por alguém como aquele jovem era bem diferente de ser teletransportado pela internet. Com ele eu sentia uma queimação na barriga que rapidamente se espalhava pelo corpo inteiro, muito diferente da sensação de ser jogado no meio de um furação. Quando consegui tirar sua mão de mim, estávamos em um luxuoso banheiro.

– Omo! O que você vai fazer comigo? – perguntei recuando.

– Como está o Donghae? Aconteceu algo com ele? Por que estava no acampamento? Aconteceu alguma coisa com o Donghae? – perguntou ele novamente mudando completamente sua expressão, que de irritada passou para preocupada.

– Donghae? – perguntei franzindo o cenho pensativo, só então me lembrei do Pedro – Eu não fui até o acampamento de vocês por causa disso, eu... Espera, você conhece o Donghae? – perguntei arqueando uma sobrancelha – Quer dizer que depois de tentar sequestra-lo e levar uma surra do líder agora você está preocupado com o Donghae? – agora eu estava ficando desconfiando.

– Aquilo foi algo impensado e de qualquer forma, você que se exploda com seus problemas, mas se não quiser arrumar mais, fique longe do Yesung, da Yuri e principalmente do Sungmin, eles não são o tipo de gente para alguém como você – disse ele cheio de desprezo e simplesmente desapareceu deixando uma fumaça densa e negra para trás.

– Como se eu quisesse ficar perto do Sungmin – retruquei com desdém e analisei melhor aquele limpo e claro banheiro – Onde estou? – pensei alto olhando em volta e corri para a saída. Quando abri a porta reconheci de imediato o saguão do prédio do tio Heechul – Mas...

P.O.V – KyuHyun off


P.O.V – Pedro on

– Se o Heechul hyung souber que vocês estão me levando para almoçar fora, ele vai brigar com os dois muito, muito, muito – argumentei parecendo uma criança pequena, enquanto novamente seguia entre os dois mais velhos, só que dessa vez em um táxi, em direção a um restaurante, já que eu havia passado tempo demais no hospital esperando o Leeteuk me dar alta e já estava no horário do almoço.

– Eu não estou nem ai para aquela Cinderela, ela que venha e tente me dar uma bronca que eu vou incendiá-lo – retrucou tio KangIn irritado.

– Isso não é coisa que se faça tio KangIn, Heechul hyung é um bom hyung, ele só quer o meu melhor – disse fazendo um beicinho mimoso com o lábio inferior.

– Só quer o seu melhor... Aham, até parece que ele, egoísta e mesquinho da maneira que é, quer o bem de alguém. Aprenda uma coisa sobre o Heechul, Pedro, ele só se importa consigo mesmo e jamais admite estar errado, prova disso é ele lhe chamar de Donghae o tempo inteiro. Ele é extremamente cabeça dura.

– Assim como você – disse Simão que até então se mantinha calado com a cabeça encostada na janela do táxi e os olhos vagando perdidos pelas construções.

– E você fique quietinho dongsaeng, porque mesmo você me acompanhando, a Cinderela só veio implicar comigo, não falou um A para você, enquanto pra mim ele passou um sermão do tamanho da bíblia. Aish! Como alguém pode ser assim? – questionou o mais velho.

– Eu disse que ele gostava do Simão – respondi dando de ombros.

– Mas eu aguento ele há mais tempo, ele devia gostar mais de mim – retrucou o mais velho, fazendo o meu olhar e de Simão recaírem sobre sua face um tanto surpresos – O quê? Estou falando alguma mentira? Quando eu, o Leeteuk hyung e a Cinderela nos conhecemos nem imaginávamos que teria um quarto garoto como nós.

– Omo! Pare de sentir ciúmes de seus hyungs – retrucou Simão fechando a cara.

– Eu? – perguntou tio KangIn indignado, mas antes que ele fizesse um drama digno de novela das oito ou Simão lhe jogasse algumas verdades na cara, coisa que eu gostaria de ver, o veículo parou na frente de um movimentado restaurante.

– Chegamos – anunciou o ajusshi.

Depois que Simão pagou ao homem, descemos do táxi e eu fiquei encarando a fachada do restaurante. Ele possuía um nome inglês de bom gosto e suas enormes portas de madeira polida e vidro transparente que de tão limpo era possível ver seu reflexo nele, lhe davam ostentação, mas o restaurante preferido do Heechul hyung ainda era o melhor.

– Sua grande oportunidade de conhecer pessoas de sua idade, ou quase, então tente ser normal e não atravessa nenhuma cadeira, por favor – pediu Simão em um sussurro.

Fiz uma careta e acompanhei aos dois. Simão havia feito reserva naquele restaurante e após sermos guiado pelo maitre até uma mesa em uma enorme sacada, ficamos esperando a convidada do maior chegar. Ainda com suas palavras sobre ser ‘normal’ na cabeça, olhei em volta e comecei a me entediar. A sacada era bonita, mas ficava no primeiro andar do restaurante, então estávamos a poucos metros do chão, deixando a vista entediante. Observando aos talheres prateados em cima da mesa, pousei a mão direita sobre o pano e comecei a tremula-los pela telecinese, enquanto movia os dedos indicador e médio.

– Bom dia sunbae – disse uma jovem em meio a uma curta reverência quase me fazendo pular da cadeira pelo susto – Eu peço desculpa pela demora, o trânsito não estava nada bom – disse a bela jovem de longos cabelos castanhos e belas feições coreanas, sentando-se ao lado do Simão e defronte comigo – Oh! Bom dia oppa, bom dia dongsaeng – disse ela abrindo um sorriso e fazendo uma curta reverência pra mim e tio KangIn.

– Bom dia noona – respondi com um sorriso abobalhado quando seus olhos pousarem em minha face.

– Deixe de ser mal educado Pedro! – resmungou tio KangIn me dando uma cotovelada – Faça uma reverência para a garota.

– Oh! – falei um tanto atônito por não conhecer esse lado cavalheiro do mais velho e me levantei um pouco desajeitado – É um prazer conhecê-la – disse completando com uma polida reverência.

– Que amor, quem é ele? – perguntou a jovem voltando-se encantada para Simão.

– Afilhado do Heechul hyung, é o Donghae, que assim como você veio da América.

– Sério? – agora seus olhos voltavam-se para mim que apenas assenti com a cabeça – Mas de qual delas você veio? De qual país é? Eu nasci nos Estados Unidos como minha mãe, mas vim para a Coréia ainda pequena.

– Oh! Estados Unidos... Eu nasci mais para baixo, no Brasil – disse fazendo um beicinho fofo.

– Já ouvi falar e muito do Brasil, sempre quis ir para o Carnaval brasileiro, é uma pena que minha mãe nunca tenha deixado, mas agora que estou desfilando logo começarei a viajar e essa sem dúvidas é a melhor parte.

– O que vão pedir? – perguntou o garçom entregando um cardápio a mais para a bonita jovem.

Foi então que abri o meu. Vendo aquelas letras estranhas e confusas, tentando de alguma forma fazer sentido, cheguei a conclusão que as aulas de Simão e tio KangIn não estavam funcionando muito bem e minha expressão confusa devia estar muito em evidência, porque Simão que estava do outro lado da mesa, riu baixo e voltou-se para a jovem.

– Krystal, você fala inglês fluente, estou certo? - perguntou ele com um sorriso malicioso nos lábios. Recebendo a confirmação da garota, ele prosseguiu – Então como uma boa dongsaeng você poderia ajudar o Pedro com o alfabeto coreano? Ele não sabe ler nada em hangul.

– Aprendeu coreano da forma romanizada? - perguntou ela recaindo seus olhos sobre minha face com um leve sorriso a delinear seus lábios. Apenas assenti com a cabeça, afinal, ela não acreditaria mesmo se eu contasse que havia aprendido por um notebook e uma luz mágica... – Seu padrinho fala francês... - comentou ela passando seus olhos sutilmente pela mesa, enquanto pensava – Mas ele deve ser muito ocupado mesmo... Então eu aceito, mas terá que me acompanhar na minha sessão de fotos hoje à tarde, você quer vir comigo dongsaeng? - perguntou ela sorrindo para mim, mas foi inevitável não fazer uma careta.

– Não sei se o hyung-nim aprova isso e além do mais, uma sessão de fotos...? - completei entortando os lábios, para deixar bem claro que eu achava aquilo entediante. Krystal podia ser uma moça bem bonita, mas aquele programa parecia cansativo.

– Omo! Não seja impertinente Donghae! Você também devia ser modelo, tem uma pele tão bonita... Está decidido, você vai com a Krystal dongsaeng e ficará com ela quanto tempo for necessário, quando acabar a sessão de fotos você nos liga que vamos buscá-lo – disse tio KangIn que estava ao meu lado.

– E quanto aos pedidos... - disse Simão que estava com o menu aberto frente a face. Como eu não saberia mesmo o que pedir, ele pediu por nós dois, enquanto os outros fizeram seus próprios pedidos.

Depois de nossa deliciosa refeição me despedi dos hyungs e segui com a noona para o seu ensaio fotográfico. Embora eu desconfiasse muito das intenções de tio KangIn e Simão, assim que a jovem abriu sua agenda e pegou uma caneta, me esqueci disso e me concentrei no alfabeto que ela tentava me ensinar. Infelizmente assim que chegamos ao estúdio onde aconteceria a ensaio, ela acabou me deixando de lado e como um dongsaeng comportado fiquei apenas a observando enquanto ela fazia inúmeras poses.

– Isso não é pra mim – disse ao notar que ela voltava para o local das fotos com a quinta roupa diferente.

– Entediado? - perguntou uma voz masculina que quase me fez saltar da banqueta onde estava sentado, mas imediatamente reconheci aquela voz e busquei pela face do jovem, que me encarou sorrindo – O Heechul hyung pediu que eu o buscasse – disse Dongwoon com um sorriso animado em seus lábios.

– Dongwoon hyung! - exclamei entusiasmado saltando da banqueta e parei defronte com o maior sem saber se lhe dava um abraço ou fazia uma simples reverência, mas antes que eu conseguisse me decidir, suas palavras repassaram em minha mente e franzi o cenho confuso – O Heechul hyung?

– Também achei estranho quando ele disse que você estava em um ensaio fotográfico e ele mesmo teria vindo aqui, se não fosse uma reunião com o pessoal das filiais... Mas você não estava doente Donghae? O hyung disse que de manhã você estava com febre... - informou o maior juntando as sobrancelhas na base da testa e encostou o dorso de sua mão direita em minha testa, mas rapidamente tirei sua mão.

– Eu estou bem hyung e irei com você, só espere que eu me despeça da Krystal, não quero que ela fiquei preocupada achando que fugi.

– Não demore – respondeu o mais velho enterrando as mãos no bolso de sua calça social.

Embora eu quisesse ir embora de uma vez, tive que esperar o fotógrafo parar com as fotos para avisar a noona que eu estava indo embora. Ela obviamente não queria deixar que eu fosse, mas ao indicar o Dongwoon e dizer que o meu próprio padrinho havia me apresentado ele como sendo seu sócio, ela acabou permitindo que eu fosse, mas disse que mandaria uma mensagem para o seu sunbae avisando disso. Apenas concordei e me despedi de Krystal com uma polida reverência.

– Pronto hyung – disse indo aos saltos ao encontro do maior.

– Donghae, você se lembra da minha ideia de te levar a um fliperama? - perguntou o maior afrouxando o nó de sua gravata preta. Apenas agitei a cabeça positivamente – O que acha de passarmos em um antes de irmos para a empresa? - perguntou ele com um sorriso maroto a adornar-lhe os lábios. Minha resposta não poderia ser outra.

– Até que enfim uma ideia boa – respondi sorrindo e o acompanhei animadamente para o seu carro.

O que era para ser alguns minutos acabou virando horas depois que encontramos uma dessas raridades no centro da cidade. Quando deixamos o fliperama a noite já havia caído e em vez de seguirmos direto para a empresa do hyung-nim, passamos primeiro em uma sorveteria.

– Se o hyung já vai nos matar mesmo, pelo menos seremos felizes antes de morrer – esse foi o argumento que Dongwoon fez para me convencer a ir à sorveteria, o que não deixava de ser uma verdade.

– Mas quando entrará para a escola? - perguntou o mais velho sentado defronte comigo em uma das mesas brancas com toalha de mesa azul escuro, tudo combinando com a decoração do lugar – Já foi matriculado em alguma?

– Não sei bem hyung – disse em meio a uma colherada no meu enorme sundae de chocolate – Na verdade nem sei por quanto tempo morarei com o hyung-nim, então por enquanto estou sem um rumo certo, mas em breve conversarei com o hyung-nim a respeito de tudo isso, pois não quero ficar atrasado na escola, mas também sei que ele sabe o que é melhor para mim.

– Como pode ter certeza disso, se ao menos sabe se continuara a morar com ele? - perguntou o mais velho me encarando confuso – Quando o Heechul se alto pronuncia seu padrinho, isso deixa muitas coisas no ar, a começar pelos seus pais, quem são eles Donghae? Por que veio de outro país para ser cuidado pelo Heechul hyung?

Lambi os lábios para tirar o sorvete e aproveitei desses preciosos segundos para pensar, coisa que eu não estava fazendo direito e poderia me colocar em uma má situação se eu não fosse mais cauteloso com minhas palavras.

– Aí que está hyung, sou órfão e por isso que o Heechul me adotou, na verdade acho que ele usa o termo 'padrinho' porque talvez ache o termo 'pai' muito forte, não sei ao certo, mas conhecendo ao Heechul o tanto que eu conheço, não duvido nada que para ele ser chamado de pai, seria a mesma coisa que ser chamado de velho e ele ter me buscado em outro país... Bem, ele é um hyung extravagante não? - perguntei fazendo um sorriso crescer na face do maior.

– Muito extravagante, tanto que ele namorou a mãe daquela modelo que você observa sabia? - perguntou o maior fazendo-me franzir o cenho surpreso.

– O Heechul hyung namorando? Estamos falando da mesma pessoa?

– Claro que estamos e na época a Jessica era uma modelo como a filha.

– E o que aconteceu entre eles? - perguntei me inclinando para cima da mesa me beliscando de curiosidade.

– Isso você tem que perguntar a ele, agora vamos dongsaeng, termine rápido – disse ele acelerando seu próprio ritmo.

Como na empresa não havia mais ninguém além dos guardas de vigilância, assim que terminamos nossos sorvetes, seguimos para o apartamento do Heechul. Lembro-me que ainda chamei o maior para subir, eu estava com medo de encarar ao hyung-nim sozinho, mas ele disse que tinha um jantar importante para ir e me deixou na portaria. O ajusshi que estava de porteiro era o mesmo das duas vezes que eu havia usado o telefone e antes mesmo que eu me identificasse ou ao menos acenasse para ele, ele destravou o portão menor.

– Então você conseguiu mesmo fugir... - comentou ele enquanto eu entrava cabisbaixo dentro do prédio – Seu padrinho está muito preocupado, então se eu fosse você, já ligaria daqui avisando que cheguei.

Apenas sorri para o homem e apressei meus passos em direção ao saguão, mas assim que adentrei a ele, senti uma tontura, que fez tudo ao meu redor girar. Por segundos tive a sensação de sentir o almoço na boca, mas rapidamente tudo foi voltando ao seu lugar. Com medo de ter outra dessas tonturas, praticamente corri em direção ao elevador e apertei os dois botões. Não demorou para que o elevador parasse no saguão vazio e novamente sentindo um pouco de tontura acompanhado por uma dor de cabeça, entrei no elevador.

Enquanto subia para o andar do hyung acompanhado de uma música lenta, comecei a sentir frio, muito frio. Era como se houvesse me jogado dentro de uma geladeira. Quando a porta se abriu eu tremia descontroladamente e esfregava os braços com força, em uma tentativa vaga de me esquentar. Ainda nesse meu estado estranho caminhei para a porta, mas não foi preciso bater, ela abriu sozinha.

– Pedro – disse o líder abrindo a porta com o semblante preocupado e ao me ver tremendo de frio, me puxou para dentro do apartamento e me envolveu em seus braços fortes. Aquilo foi muito estranho, pois ao mesmo tempo em que eu queria tremer pelo frio, eu estava estático por estar nos braços do líder e embora sentisse o frio ao meu redor, seu corpo e principalmente seus braços que estavam descobertos, me transmitiam calor – Você está bem? - perguntou ele fechando a porta de qualquer jeito e me confortou mais ainda em seus braços.

– Frio... - foi tudo o que respondi.

– Eu lhe disse para ficar com a Krystal - resmungou tio KangIn do sofá da sala de estar. Só então meus olhos vagaram pelo apartamento buscando pelos hyungs, mas não havia ninguém na sala além do tio KangIn.

– Eu vou abaixar sua temperatura – disse o líder separando-se de mim, mas o impedi entrelaçando meus braços em sua cintura e afundando minha face em seu peitoral forte.

– Omo! Não me deixe! - choraminguei sentindo meu corpo vibrar pela baixa temperatura.

– Mas eu... - o líder tentou se explicar, mas como não fiz menção de solta-lo, ele levou suas mãos as minhas e tirou delicadamente de sua cintura. Pensei em protestar, mas antes que conseguisse, ele me pegou nos braços – Vou levá-lo para o seu quarto – informou ele, fazendo-me passar o braço esquerdo por seus ombros e esconder minha face em seu pescoço quente, mas ele mal deu alguns passos sendo seguido por tio KangIn, que agora parecia preocupado, e foi detido por Heechul hyung que vinha aos berros da sala de TV.

– Eu vi! Eu vi! Eu vi! - disse ele surgindo animado na sala de jantar, mas ao ver o líder me carregando, pendeu a cabeça para o direito endurecendo sua expressão – Aish! Solte-o Jung-su hyung, você atrapalha minha demonstração dessa forma.

– O que aconteceu? - perguntou Simão entrando também correndo na sala de jantar, sendo seguido pelo nerd do Kyu que há tanto tempo eu não via.

– Omo! Ele está tremendo muito – retrucou o líder, mas Heechul não se comoveu.

– Desça-o de uma vez – ordenou ele. Leeteuk me pareceu relutante, mas depois de alguns instantes, ele me avisou que me desceria, e só depois que assenti com a cabeça, ele deixou que meus pés tocassem o chão. Por causa do tênis, não consegui sentir a temperatura do piso, mas mesmo assim encarei ao hyung-nim com uma cara de quem acaba de acordar – Omo Donghae, não faça essa cara, pois eu sei explicar porque está sentindo-se assim.

– E por que não me sinto bem hyung-nim? - perguntei inocentemente, enquanto sentia a sala balançar ao meu redor tentando me derrubar, mas a muito custo consegui me concentrar naquela face de sorriso desperto que me encarava.

– Eu consigo manipular a água... – disse ele espalmando a mão direita e fazendo uma bola de água se formar diante de mim a centímetros a cima de sua palma – Mas você vai mais além - disse ele fazendo sua pequena bola tomar forma sólida - Você consegue manipular o gelo – neste instante a bola caiu em sua mão e com um sorriso entusiasmado ele me ofereceu o meu quinto poder.

P.O.V – Pedro off


O ambiente mudava completamente. Do apartamento luxuoso, claro e movimentado no coração da cidade, éramos bruscamente teletransportado para um acampamento simplista, no meio de uma densa floresta. O acampamento estava movimento, principalmente por aqueles que possuíam poderes ligados à luz, que com a escuridão da noite se exibiam aos demais. Mas nada das conversas, risadas e até mesmo caras feias, era importante. O que merecia atenção estava acontecendo em uma barraca escura, onde sentado em uma poltrona enorme, um homem se perdia em seus próprios pensamentos. O cotovelo estava apoiado sobre o braço da poltrona e sua mão direita estava sob o queixo, enquanto seus olhos se misturavam a escuridão, dando lhe a incerteza do olhar, mas tudo levava a crer que eles vagavam se direção certo pela alta tensa. Apenas um filete de luz entrava pela porta semiaberta da tenda, mas era impossível dizer a identidade do homem pensativo, talvez nem fosse mesmo um homem... Subitamente ele fechou os olhos e vimos à silhueta de sua cabeça pender para trás. Quando volto a si, sua voz grave e masculina chamou por um nome.

– DooJoon – disse ele fazendo o rapaz que protegia a entrada da tenda entrar apressado e parar com postura rígida a sua frente – Traga C.L, Bom e Eunhyun – ordenou ele. O rapaz alto e robusto concordou com a cabeça e deu as costas.

Não demorou para que dois jovens loiros e uma garota de cabelos com vermelho e enormes olhos que lhe deixavam com aspecto fofo, entrassem na barraca. Cada um carregava uma expressão. O rapaz parecia inquieto, a ruiva sorria de forma meiga ansiosa pelo o que viria, afinal, nem todos eram chamados a presença de seu ‘mestre’ e quanto a loira, essa demonstrava frieza e confiança, tanto que foi a primeira a falar.

– Por que nos chamou mestre? – perguntou C.L cautelosamente.

– O Donghae está pronto, traga-o para mim! - ordenou o homem.