– Mas mestre, o senhor Donghae é apenas uma criança... - argumentou o loiro recebendo um olhar de desaprovação não apenas da loira, que sempre era nomeada líder dos grupos que saiam do acampamento, mas também recebeu o olhar indignado do homem que ele julgava ser seu mestre.

– Eu quero que o traga para mim, imediatamente – ordenou ele com sua voz grave e firme, fazendo o rapaz abaixar a cabeça como forma de submissão.

– Voltaremos o mais breve possível – disse a loira finalizando com uma curta reverência e deixou a tenda na frente. A ruiva a seguiu com um sorriso animado nos lábios, enquanto o rapaz observava ao chão pensativo – Leve-nos ao Donghae – ordenou a loira parando defronte com o rapaz que encarava ao chão.

Seus olhos amendoados finalmente saíram do gramado e observaram a jovem loira a sua frente, que por manter seus olhos sempre bem delineados pela maquiagem negra, fazia de seu olhar algo frio, até mesmo cruel. Notando a relutância do mais novo do trio, C.L cerrou os punhos e suspirou pesadamente. Hyukjae ainda encarrou a loira por breves segundos antes de tocar seu ombro direito e esticar a mão direita para a jovem ruiva.

– Por favor, não perca nenhuma parte do meu corpo – pediu a ruiva pousando a mão esquerda sobre a do loiro e fechou os olhos sendo seguida por uma sensação forte de queimação e borbulhar no estômago, que rapidamente tomou conta de seu corpo fazendo-a desaparecer.


***


– Omo! Eu posso manipular o gelo? - perguntou o garotinho de durante a tarde usava um charmoso topete em seu cabelo castanho escuro, mas que agora estava totalmente desorganizado, observando atentamente aquela bola de gelo ser oferecida a ele. Heechul que sorria animadamente por ter ganhado um pupilo a quem poderia ensinar tudo o que sabia sobre o controle da água, nem que fosse em outro estado físico, apenas assentiu com a cabeça – Não quero manipular o gelo – disse Pedro recuando para perto do seu protetor, Leeteuk, e agarrando-lhe um dos braços.

O sorriso do jovem de cabelos compridos e traços afeminados, lentamente desapareceu de sua face, ele não esperava por tal reação, ninguém ali esperava. Atônito pela resposta do garoto, Heechul que estava inclinado para frente, derrubou a bola de gelo de sua mão e arrumou a postura. O braço livre de Leeteuk passou pelas costas de Pedro em um meigo abraço e antes que qualquer um criasse coragem para se pronunciar, os olhos Heechul buscaram o chão e ele voltou para a cozinha de cabeça baixa sem dizer uma palavra sequer. Pedaços da bola de gelo voaram pelo ar e deslizaram pelo piso de cor clara deixando um rastro de água pelo chão.

– Vamos Pedro – disse o líder tomando o menor nos braços novamente e o levou até seu quarto.

KangIn e Kyuhyun seguiram com o líder para o quarto do menor, enquanto Siwon foi atrás de Heechul, mas no mesmo instante em que Leeteuk pousava o corpo de Pedro no macio colchão, três figuras se materializavam no banheiro social do saguão.

– Aish! - resmungou Bom apoiando-se ligeiramente na pia de mármore, mas recuperado o fôlego perdido durante o teletransporte, ela pousou seus olhos escuros e enormes em seus parceiros – Qual o apartamento onde o mini Donghae está?

– Não sabemos, por isso você veio – respondeu a loira friamente, passando seus olhos pelo banheiro e tentando de alguma forma reconhecê-lo, mas por fim desistiu – Vamos, não temos tempo a perder – completou ela séria e deu as costas para os outros seguindo em direção a saída.


P.O.V – Pedro on

– Como você se sente Pedro? - perguntou o líder ajeitando o grosso cobertor marrom, que ele havia pegado no meu guarda-roupa, em cima do meu corpo.

– Eu não quero controlar o gelo Park – respondi com a voz chorosa e baixa, ainda sentindo aquele frio estranho que parecia colado em minha pele, e a cada segundo que se passava, ele a forçava adentrando ao meu frágil corpo e congelando meus ossos.

– Não se preocupe Pedro, ficara tudo bem – falou o mais velho sentando ao meu lado na cama e me envolvendo em um forte abraço.

Imediatamente encostei minha cabeça em seu peitoral e abracei sua cintura, buscando não apenas seu calor, como também sua proteção, seu conforto.

– Oi para você também Pedro – finalmente se pronunciou o nerd que há tanto tempo eu não via com um sorriso torto a adornar-lhe os lábios e sentando-se na ponta da cama, ao lado dos meus pés.

– Kyu – disse em meio a um sorriso sem me mover para não perder as caricias do líder que calmamente alisava meus cabelos – Por onde andou? Faz tanto tempo que não... - eu continuaria com minhas palavras se não fosse pelo barulho de uma alta explosão vindo do lado de fora do apartamento.

O líder foi o primeiro a correr em direção à porta da minha varanda e abri-la. Tio KangIn atravessou a porta em seguida. Eu e Kyu trocamos olhares por alguns instantes, mas o som de uma nova explosão nos fez saltar da cama e correr em direção à varanda.

– Vocês não vão a lugar nenhum – disse tio KangIn aparecendo repentinamente na minha porta e a fechou, mas assim que ele saiu, a abrimos a tempo de vê-lo se jogar da varanda.

– Tio KangIn – gritamos por impulso, nos inclinando sobre a varanda, mas o mais velho sabia muito bem o que estava fazendo, pois após um giro no ar, ele parou a centímetros do chão, provavelmente usando de sua telecinese, e deixou que seus pés tocassem o calçamento.

Mal tivemos tempo de respirar aliviados e vimos uma forte chama cobrir o mais velho vindo de outro ponto do corredor que se estendia da portaria ao saguão. Perdi o fôlego ao ver tio KangIn ser coberto por aquela forte chama incandescente, mas meus olhos curiosos buscaram na escuridão pela fonte de tal ato, conseguindo capturar a imagem de uma bela jovem de cabelos vermelhos que apontava as palmas de suas mãos para o mais velho, de onde saia todo aquele fogo.

– Pedro! Faça alguma coisa! – berrou Kyu no meu ouvido acompanhado de um forte tapa em meu ombro direito, mas o que ele queria que eu fizesse? Que saltasse do décimo andar e fosse salvar o tio KangIn? Na teoria era uma ideia muito bonita, mas na prática eu temia não conseguir parar como o mais velho havia feito – Se não você não vai fazer nada, eu faço – resmungou o nerd enraivecido e saiu correndo para a porta do apartamento.

Ainda atônito, voltei meus olhos para o tio KangIn, pensando em algo que eu pudesse fazer, mas milagrosamente vi o fogo recuar. Claro, tio KangIn também era capaz de manipular o fogo, eu só não tinha certeza se aquilo o tornava imune ao elemento, mas vendo a chama recuar aponto de ser possível visualizar ao mais velho, que só estava com as roupas chamuscadas, cheguei a conclusão que a resposta era sim, mas ainda sim eu precisava fazer algo, então corri para o elevador social e depois para o de serviço, mas vendo que ambos estavam descendo, corri para as escadas.

Uma incomum nova atacando ao tio KangIn, por mais perverso que parecia ser, era empolgante saber que no mundo haviam tantas pessoas assim, estranhas como eu, mas conforme descia aquelas escadas intermináveis, meus pensamentos tomaram um rumo completamente diferente e muito menos otimista. Será que a jovem também era alcóolatra como o tio KangIn e ele estavam brigando por uma garrafa de vodka? Onde estava o líder e os outros numa hora como essa? Tive tanto tempo para pensar em respostas, que no segundo andar me joguei no chão ofegante. Que raios de escadas intermináveis eram aquelas? Pensei sem vontade alguma para me levantar, mas uma voz em minha cabeça me mandou levantar sobre o pretexto que tio KangIn precisava de mim e eu não podia decepcioná-lo, então muito preguiçosamente desci os lances de escadas restantes e deixei a escadaria exausto. Ainda parei por segundos apoiado as mãos nos joelhos, só naquele momento reparei que todo o frio que eu sentia antes, havia simplesmente desaparecido, mas lembrando-me de tio KangIn, tomei fôlego e corri em direção ao saguão.

– Tio KangIn – gritei quando vi uma forte labareda de fogo atravessar o saguão e ir em direção ao elevador onde... – Kyu! – gritei mais uma vez em completo desespero ao ver o mais velho ali, completamente vulnerável. Sem perceber corri em direção ao nerd e me coloquei entre ele e o fogo, vendo que o mais velho apenas se encolhia e cobria a face diante do perigo iminente.

Senti o calor daquela bola de fogo mordiscar minhas orelhas e pescoço, enquanto um cheiro de queimado invadia o ar. A adrenalina era tamanha que mesmo com um pressentimento horrível quanto aquilo tudo, me importei apenas em abraçar ao Kyu em uma vaga tentativa de protegê-lo, mas subitamente essa sensação incomoda foi substituída pelo frescor de um vento frio e quando ofeguei cansado, notei que saiu vapor da minha boca. Me afastei de Kyu no mesmo instante e soltei o ar pesadamente pela boca mais uma vez, tendo o mesmo resultado, era vapor condensado.

– Pe-Pedro...? – perguntou o nerd fazendo-me encara-lo com um sorriso, ele estava bem, sem nenhuma queimadura, mas sua careta assustada me preocupou – Vo-vo-você está com frio?

Franzi o cenho confuso, eu acabava de salvar a vida dele ou pelo menos impedir que ele ficasse um pouco tostado e ele me perguntava se eu estava com frio? Mas ao notar que o mais velho olhava para o meu ombro direito e não para a minha face, rapidamente voltei os olhos para o local sendo impossível não conter o grito pelo susto.

– Meu Deus! Eu estou congelando – gritei batendo no meu ombro que estava coberto por uma camada fina de gelo, mas não só o meu ombro como também parte das minhas costas, a parte de trás da minha cabeça e minhas orelhas, estavam recobertas por aquela fina camada de gelo.

Conforme eu batia no gelo, ele se quebrava e caia no chão. Enquanto Kyu me ajudava com aquele gelo, tio KangIn usava de sua velocidade para derrubar a jovem de cabelos ruivos e tio Heechul tentava dialogar com uma coreana de cabelos loiros, mas ela apenas o atacava lançando estacas e mais estacas que ele apenas desviava com um movimento de mãos.

– Pare com isso Lee Chaerin! – escutei ele ordenar aos berros, irritado, fazendo todos, até mesmo tio KangIn, paralisar onde estava.

Por segundos vi uma interrogação se formar na face da jovem, que mesmo pela distância me era familiar, e sua cabeça pendeu levemente para a direita, enquanto ela franzia a testa. Não sei ao certo o que se passou cabeça de Chaerin, mas momentaneamente ela deixou sua máscara de garota fria cair, representando apenas uma careta confusa.

– Você... – começou ela que estava do lado de fora do saguão sem tirar os olhos do hyung-nim que estava na entrada do mesmo, mas então a voz alta e grave de Leeteuk a interrompeu em meio a um grito desesperado vindo de algum lugar do lado de fora do prédio.

– Eles querem o Donghae! – avisou ele, fazendo meus olhos se arregalarem e os demais olhares caírem sobre minha face.

– Eu... – disse recuando para perto do nerd, mas magicamente a figura de Hyukie se formou diante de mim acompanhado de sua costumeira fumaça densa e negra. Ainda escutei um ‘você’ abafado por parte de Kyu que estava um pouco atrás de mim, mas simplesmente ignorei encarando ao loiro que deixava uma gota de suor escapar-lhe pela testa e ofegava demonstrando todo o seu cansaço.

– Me desculpe por isso Donghae – disse o mais velho com tristeza no olhar e me abraçou fortemente. Antes que eu conseguisse entender seu pedido de desculpas, ou que alguém pudesse intervir naquele abraço, nossos corpos desaparecerem deixando apenas um rastro de fumaça negra.

Quando voltamos a aparecer, Hyukie se afastou rapidamente e eu olhei em volta curioso, mas antes mesmo de conseguir reconhecer aquele local escuro senti duas mãos pesadas agarrarem meus pulsos com força. Encarei aqueles dois rapazes assustado e reconhecer suas faces não foi nenhum pouco animador.

– Nos reencontramos – disse o mais alto e também o mais forte, com um sorriso de escárnio para mim.

O homem de ferro e o transmorfo, logo os dois caras que deviam me detestar por causa de nossos encontros anteriores, me seguravam pelo braço, mas por que Hyukie estava fazendo aquilo comigo? Por que ele estava literalmente me entregando para aqueles dois? Respirando ofegante pelo medo e pela angustia, pousei meus olhos na face do loiro e gritei por seu apelido, mas ele apenas balançou a cabeça negativamente e fitou ao gramado desaparecendo logo em sequência.

– Vamos levá-lo ao mestre - disse o maior para o outro que apenas concordou e juntos ele começaram a me arrastar por um extenso campo.

Diante da traição de Hyukie, fiquei sem qualquer tipo de reação, apenas deixei que meu corpo fosse arrastado pelo campo, até mesmo reconhecer aquele lugar foi difícil, mas quando meu raciocínio lerdo conseguiu decifrar as palavras do maior, comecei a me debater. Como assim iam me levar para o mestre deles? Eu não queria conhecer o mestre deles.

– Me solte! – berrei tentando me soltar da forma convencional, mas vendo que era inútil já que ambos eram muito fortes, pelo menos em relação a um garoto magrelo de doze anos, recorri à segunda ideia que me passou pela cabeça. Expirei fortemente fazendo um campo de força dissipar do meu corpo junto com o ar. Como eu havia previsto, os rapazes voaram pelo gramado e eu caí sentado, mas assim que me coloquei de pé, escutei uma voz grave e fria que me fez paralisar.

– O machuque, ele não conseguira usar seus poderes se estiver ferido – disse uma voz masculina, fazendo-me virar para trás tentando ver alguma relação em estar ferido e não conseguir usar meus poderes, mas assim que meus olhos pousaram na face de um homem de sorriso diabólico, senti um soco tão forte em minhas costelas da direita, que escutei apenas os estalos dos meus ossos e cai no chão gritando e gemendo pela dor - Muito bem Doojoon – disse o homem com um sorriso sádico no canto dos lábios – Traga-o para mim.

Enquanto eu me contorcia no chão tentando de todas as formas conter meus gritos e grunhidos de dor, escutei o barulho de metal deslizando ao meu lado. Meus olhos foram rápidos o suficiente para capturar a imagem de Doojoon, o maior e mais alto, fazendo seu braço direito voltar ao estado normal. “Maldito homem de ferro” – resmunguei em pensamento, mas aquele que havia me derrubado foi obrigado a me pegar nos braços e carregar até onde o homem que parecia ser o mestre do Hyukie estava parado.

– Yesung – escutei o mesmo homem dizer assim que o Doojoon me colocou no chão ao lado de uma enorme e alta tora de madeira que parecia bem fixa no chão.

No mesmo instante um rapaz de cabelos bem negros e espetados se prontificou na frente da multidão que formava um círculo em minha volta e fez uma coisa completamente fora do comum. Não que eu fosse muito normal e convivesse com pessoas mais normais ainda, longe disso, mas o que o jovem fez, foi espetacular aos meus olhos. Parando defronte comigo, ele esticou a mão para o ar e puxou ao meu encontro fazendo uma corda negra simplesmente aparecer e enrolar-se em mim e na madeira como se fosse uma cobra. Ele me prendeu tão forte que gemi pela dor nas minhas costas, mas tudo o que o jovem fez, foi abaixar a cabeça e dar as costas.

– Hoje é o início de uma nova era! – disse o mestre daquele grupo sendo seguido por uma grande quantidade de chamas que foram acessas da direita para esquerda como uma onda. As tochas iluminaram aqueles diversos rostos que comemoraram as palavras do homem, mas nada fizeram para me ajudar. Passando os olhos por aquelas faces, foi fácil reconhecer Hyukie, que no momento em que nossos olhos se encontraram ele abaixou a cabeça – A nossa criança está pronta, ela possuí agora os cinco poderes que nos libertaram de nossos inimigos, aqueles que um dia nos prenderam, morrerão diante de nossa fúria! Ninguém mais nos olhara dos pés a cabeça com desprezo, porque nós somos a nova espécie predestinada a comandar o mundo e aqui está a nossa criança que nos libertará para um mundo mais justo! – disse ele sendo seguido por salva de palmas e gritos animados, enquanto eu apenas grunhia pela dor – Diga Donghae! Diga a todos quais são seus poderes!

– Eu até diria se vocês me soltassem – retruquei cerrando os dentes com força, escutando a risada alta e debochada do homem, mas por mais que minhas costelas latejassem, aquela sua risada me irritou de uma maneira, que tudo ao meu redor ficou mais lento. As tochas se tornaram borrões amarelos e sentindo uma pontada na minha cabeça, fechei os olhos por uma fração de segundos e meu corpo caiu no chão atravessando facilmente aquelas cordas de sombras.

Escutei o som da surpresa dos jovens, mas eles se surpreenderiam mais, muito mais, pensei cerrando os punhos e me ergui em um salto, mas fui parado no ar.

– Você acha mesmo que eu o traria para cá caso não pudesse controla-lo? – pergunto o mestre que embora possuísse olhos puxados como de qualquer coreano, havia uma coisa diferente em seus olhos, como se ele pertencesse à outra etnia, além é claro do tom bronzeado de sua pele, mas não tive tempo de pensar nisso, porque ele me arremessou de volta ao tronco – Eu não quero machuca-lo Donghae, eu quero apenas que você se una a nós – disse ele se aproximando com a mão direita espalmada em minha direção, era óbvio que ele estava usando a telecinese para paralisar o meu corpo daquela forma, eu só não sabia que ele era capaz daquilo – Como pode ver todos aqui somos como você, e todos temos um sonho em comum, o sonho de poder usar nossos poderes sem nos preocupar em sermos chamados de aberrações ou sermos perseguidos por lunáticos que querem usar nossos poderes para fins próprios. Então tudo o que peço a você é que nos ajude a vencer esta batalha.

– Eu estou sendo treinado para proteger essa sociedade hipócrita de pessoas como você – disse cerrando os dentes com força e lembrando-me das palavras semelhantes que um dia Leeteuk havia me dito, e usando de toda a minha força, soltei um forte campo de força na direção daquele homem que voou pelos ares me libertando de sua prisão telecinética, mas antes que pudesse cantar vitória, fui atingindo no rosto por um soco tão forte, que desmaie no gramado úmido.

Quando voltei a abrir os olhos, senti o lado esquerdo da minha face latejar. A escuridão a minha volta girava sem controle, pelo menos a dor das costelas havia cessado, mas eu senti que havia deslocado o maxilar. E novamente eu me encontrava amarrado junto ao tronco, só que dessa vez meus ombros, minha barriga e meus pés estavam amarrados, como se tudo aquilo fosse páreo para a minha intangibilidade, mas como eu ainda estava aéreo e com dor, apenas balancei a cabeça e soltei um baixo grito quando vi um garoto sentado no gramado. Ele parecia ser um coreano bem jovem, de traços fofos e infantis, mas quando me viu acordar, ele se levantou do chão, sem tirar seus olhos curiosos da minha, e parou defronte comigo demonstrando ser mais alto que eu.

– Você é diferente de tudo o que já senti – disse ele me encarando sério.

Franzi o cenho confuso.

– Jongjin, entre! – escutei Doojoon ordenar para o rapaz.

O rapaz que parecia jovem demais para entrar em uma batalha sádica organizada por um cara mais sádico ainda abaixou o olhar imediatamente parecendo triste, mas voltando a fitar minha face, ele ensaiou um sorriso e saiu correndo para uma das barracas.

– Muito bem, todos dormem em barracas quentinhas enquanto eu, a salvação de tudo, fico amarrado em um poste – disse totalmente irônico para o meu guarda-costas e carrasco que havia me derrubado as duas vezes. Se eu quisesse fugir, primeiro teria que me livrar dele.

– Fique quieto, todos estão dormindo – disse ele fechando a cara. Com sua fala automaticamente bocejei, fazendo-o me espreitar com os olhos – E nem pense em tentar fugir porque estamos no meio de uma floresta e é noite, nem com todos os seus poderes você conseguiria encontrar o caminho de casa antes que o encontremos.

– Veremos – retruquei com desdém.

– O que você disse? – perguntou ele se aproximando perigosamente e muito masoquista da minha parte repeti em alto e bom som o que havia dito bem na face dele, fazendo imediatamente um soco estourar em minha barriga, mas não um soco normal, e sim um soco de punho de aço – Isso é para você aprender a ficar calado.

Ofeguei sem fôlego e o vi se afastar. Praguejei aquele rapaz novamente, mas havia um alguém que observava todo nosso diálogo de perto e quando me dei conta de sua presença, ele saia das sombras ao meu lado com uma comprida adaga em mãos que ele fez questão de passar sua lâmina fria e afiada em minha bochecha esquerda.

– Ai! Por que fez isso? – questionei reconhecendo o mestre do traidor do Hyukie, sentido o sangue quente escorrer pela minha bochecha e o cheiro forte de sal e ferrugem invadir minhas narinas.

– Isso é pouco devido ao que você me fez na frente de todos do acampamento. Você sabe o quão... – mas ele simplesmente se interrompeu me observando surpreso – Regeneração? Então foi por isso que você conseguiu usar seus poderes tão rápido mesmo depois do DooJoon ter quebrado suas costelas? – perguntou ele com um sorriso. E realmente o incomodo na minha face desapareceu junto com a dor do corte que eu mentalmente pedia que cessasse – Isso é incrível, o que mais consegue fazer? Você voa? É veloz? Diga-me, diga-me de uma vez.

– Eu não... – comecei uma resposta arrogante, pensando em ganhar tempo para conseguir derrubar aquele homem e me soltar tudo no mesmo instante, mas fui surpreendido quando ele me apunhalou na barriga.

– Você não pensava em fugir, pensava? – perguntou ele como se tivesse lido meus pensamentos no exato momento em que eles eram formulados. O misterioso homem de cabelos bem negros, curtos e arrepiados, aproximou sua face da minha parando seus lábios ao lado do meu ouvido esquerdo, enquanto forçava mais a lâmina para dentro do meu corpo, fazendo-me gemer baixinho – Ninguém daquele seu grupinho possui o mesmo dom que você, a começar pelo inútil do Kyuhyun, então colabore comigo e eu os deixarei viver.

– Nunca! – disse apertando os dentes com força para não gritar.

O homem fez uma careta contrariada e puxou a afaga de uma vez, fazendo meu sangue jorrar pelo ferimento.

– Você quem sabe, mas não diga que eu não avisei – retrucou ele arrogante enquanto limpava a lâmina da adaga em minha própria camiseta. Feito isso, ele sorriu com o lado direito da boca e deu as costas seguindo em passadas pesadas até sua própria tenda.

Naquele momento senti que eu ia morrer. Eu não sabia como me regenerar, aquilo era algo que simplesmente acontecia, mas aquele golpe na barriga havia sido tão forte, que senti meus olhos lagrimejarem e o ar faltar dos pulmões. Eu ia morrer, esse era o meu único pensamento enquanto via meu sangue molhar a roupa que Heechul havia comprado durante uma manhã na qual eu era torturado por uma cabelereira. Nunca imaginei que eu morreria tão cedo, ainda mais de forma tão banal, mas se a morte era acolhedora, eu aceitaria descansar em seus braços, mas uma figura loira simplesmente apareceu diante de mim acabando com minha linha de raciocínio.

– Shiu! – pediu Hyukie com o indicador sobre os lábios e olhou para o lado nervoso, mas DooJoon estava caminhado para a tenda maior, que se bem eu me recordava era o refeitório, então ele se voltou para mim novamente – O que aconteceu com você? – perguntou ele tocando a minha bochecha esquerda onde meu sangue secava, mas rapidamente ele balançou a cabeça negativamente, como se precisasse focar em uma coisa e não entrar em outros assuntos - Eu vou ajuda-lo – disse ele tocando meus ombros e fechou seus olhos para se concentrar melhor.

Quis protestar, mas quando puxei o ar para os pulmões desaparecemos. Quando aparecemos de volta, cai em direção ao mais velho pela falta de amarras em meu corpo, não sei como ele conseguiu, mas as cordas ficaram para trás e ele me apoiou para que eu não caísse.

– Sai Hyukie! – gritei empurrando-o para trás ao lembrar-me de tudo o que ele havia me feito passar - Seu idiota! Eu nunca mais quero vê-lo na minha vida! Fique longe de mim seu monstro, inútil, pedófilo! Sai daqui! – esbravejei deixando com que algumas lágrimas escorressem por minhas bochechas, mas avancei para Hyukie lhe despejando uma porção socos e tapas no tórax.

– Acalme-se Donghae, eu preciso ver o corte do seu rosto – pediu ele colocando as mãos frente ao tórax para defender-se dos meus golpes, mas continuei sem me importar se estava o machucando ou não, simplesmente precisava descontar toda a raiva que eu sentia naquele loiro infeliz – Donghae! – disse ele bravo agarrando aos meus pulsos e me puxou para si pressionando seus lábios contra os meus em uma tentativa de me parar... E devo confessar que deu muito certo, pois de forma alguma eu imaginava que Hyukie me atacaria com seus lábios nervosos mais uma vez. Infelizmente não tive tempo de aproveitar de seus lábios ou simplesmente fechar os olhos, pois ao notar que eu havia parado de estapeá-lo, devido a minha surpresa, ele me afastou ofegante e abriu os olhos enquanto soltava os meus pulsos lentamente – Por favor, me deixe cuidar de você.

Ofeguei passando meus olhos despertos por sua face preocupada e o abracei chorando.

– Omo! Não faça mais isso comigo Hyukie – pedi escondendo minha face em seu peitoral que era protegido pelo seu casaco de frio preto que eu já havia usado uma vez.

– Eu prometo Donghae, ninguém nunca mais tocará você – disse ele alisando meus cabelos com cuidado – Agora me deixe ver seus machucados – pediu ele me afastando cuidadosamente de si.

No mesmo instante levei a minha mão a barriga, mas o corte havia se fechado restando apenas o rasgo na camiseta. Hyukie passou a mão delicadamente pelo meu rosto, mas parou surpreso ao notar que estava tudo em ordem.

– Eu me regenero Hyukie.

– Aigo! – exclamou ele irritado – E por que você não me avisou antes? Eu estava morrendo de preocupação ao vê-lo ser machucado pelo Doojoon hyung, quase entrei na briga correndo sério risco de morrer e você se regenerando de tudo.

– Se você não fosse tão inútil e incompetente, você não teria me levado para o seu mestre psicopata – retruquei com desdém.

– É, mas isso já passou – disse ele calmando seu tom rapidamente, ao perceber que meus argumentos eram bem maiores que os dele - O que importa é que eu o trouxe em segurança de volta para casa – disse ele tocando minha face com ambas as mãos.

– Mas você poderá voltar para a sua? – perguntei tocando suas mãos frias e esguias.

Seus olhos imediatamente buscaram pelo chão.

– Eu ficarei bem Donghae.

– Por favor Hyukie, venha comigo, conheça os meus hyungs, eles vão te aceitar pelo simples fato de ser um incomum, o único problema é se o Leeteuk resolver treiná-lo, então você apanhará bastante, mas ele possui o poder de cura, qualquer hematoma que ele criar em você o Heechul hyung o obrigará a curá-lo – falei tudo de uma vez entusiasmado ao pensar que poderíamos morar juntos e quem sabe até frequentar a mesma escola.

– Eu vou te proteger com a minha vida, mas não posso me juntar ao seu grupo – disse ele soltando minha face cabisbaixo e recuando para longe de mim - Não posso – sussurrou ele tristonho e desapareceu deixando apenas sua fumaça negra para trás.